Cap. 7: Caminhos ligados
Lavínia fixou seu olhar no homem em meio à surpresa e se agachou, tentando se esconder rapidamente após reconhecer que era o mesmo da noite passada.
— O que está fazendo, senhorita? — o motorista da ambulância perguntou.
— Ele está vindo? Ele não pode me ver! — ela rangeu entre os dentes.
— Na verdade, ele está pedindo aos carros para se afastarem. — ele disse com o olhar fixo no rapaz.
Então Lavínia se levantou e avistou Zen já a alguns metros, batendo na lateral de cada carro, avisando para abrirem caminho.
O trânsito estava caótico, os carros buzinando freneticamente. A sirene da ambulância cortava o ar, um som estridente que ecoava pelas ruas. O motorista finalmente pôde seguir viagem enquanto Lavínia observava Zen até passar por ele, mas ele não tinha visto que ela estava na ambulância.
Assim que chegaram ao hospital, houve tempo do pai de Lavínia ser atendido e finalmente estar fora de risco de vida. Naquele momento, ela estava sentada na recepção, presa em seus pensamentos, se lembrando do rapaz que tinha ajudado abrir caminho para ambulância passar, mas seus devaneios foram interrompidos quando sua amiga Zara veio ao seu encontro acompanhada por sua mãe.
— Temos o recrutamento, falta menos de vinte minutos, adiamos? — Zara perguntou ansiosa. — Nenhum deles ainda sabe quem você é, tem todas aquelas apresentações após os exames e a entrevista. Você sabe escolher os melhores profissionais.
— Verdade, além disso, tenho que me apresentar aos que já foram selecionados e aprovados e fazer todo aquele discurso de boas-vindas que eles sempre esperam por sermos uma empresa tão prestigiada. — ela comentou comprimindo os lábios. — Ainda assim… é melhor adiar para outro dia, não é tão importante assim.
— Vá! — sua mãe disse de forma abrupta. — Seu pai não vai ficar bem se te ver aqui agora, além disso, você tem que resolver esse assunto. Sei que seu pai não está indo bem em seus casos, mas acredito que é só uma fase. Sei que é por minha causa, não desista dele ainda. — sua mãe completou apreensiva.
— Então… qualquer problema me avise, eu vou estar aqui se for necessário. — ela avisou com pressa, seguindo com sua amiga para a empresa.
Zen, por sua vez, tinha se atrasado para o horário da entrevista. Pensou que seria desclassificado pelo atraso, mas também não estava se importando. Ele tinha se arrumado com as roupas padrões, exceto o blazer, e em vez do tênis social, ele estava usando o tênis novo para corrida e a camisa semiaberta, revelando apenas sua clavícula.
Ele acabou chamando a atenção da maioria das candidatas, além de atrair olhares de desaprovação dos candidatos masculinos. Mas tudo que ele fazia era se sentar de forma relaxada enquanto esperava, entediado, encarando seu relógio de pulso.
Lavínia tinha acabado de chegar ao elevador quando foi recebida por Samuel, um dos seus parceiros de negócios, um homem alto, de porte atlético e de gênio forte tanto quanto sua beleza.
— Vocês estão atrasadas! — ele avisou com frieza ao mesmo tempo que as cumprimentava com uma breve reverência.
— Como estão as coisas? — Lavínia perguntou.
— Está indo bem, a entrevista ainda não começou. Os candidatos estão se encaixando nos primeiros critérios, contudo, um deles chegou atrasado.
— Desclassifique! — Lavínia avisou com frieza.
— Sim, vou fazer isso assim que subirmos. A primeira regra é não se atrasar. Achei audacioso ele entrar mesmo sabendo que não poderia mais participar. — ele comentou enquanto entravam na cabine do elevador.
Assim que chegou ao andar, ao sair, Lavínia acabou deixando cair a prancheta com o nome dos candidatos, o que chamou a atenção de todos que estavam no corredor ainda esperando para serem chamados para a sala de entrevista. Antes mesmo que pudesse se levantar, ela apertou os olhos, mantendo os joelhos apoiados no chão.
— Lavínia, está tudo bem? — seu amigo Samuel perguntou, franzindo o cenho.
— Apenas… que merda! — ela resmungou baixinho ao mesmo tempo que Zara, puxada por Lavínia, agachava no chão próxima a ela. — Ele está aqui, apenas fiquem de acordo com tudo que eu fizer! — ela avisou em seguida, se levantando.
— O que está falando? — Samuel perguntou confuso.
— Apenas sigam e concordem com o que eu disser. — ela avisou em seguida, se levantando.
— Obrigada, senhora Morrys e senhor Devan. — ela disse com a voz trêmula, cumprimentando os dois amigos formalmente e fazendo uma breve reverência que fez eles recuarem, encarando-a assustados. — Eu sinto muito por ter derrubado os documentos de vocês, espero que isso não afete na minha entrevista! — ela disse em uma pausa dramática, fingindo realmente estar desesperada para não ser desclassificada.
— Céus… — murmurou Zara Morrys, encarando Samuel Devan.
— Ah… entendi! — suspirou Samuel, sorrindo de canto com um olhar malicioso.
— Você já começou a demonstrar o quanto é inútil para a nossa empresa. Espero que seus conhecimentos sejam realmente bons para que possamos ignorar esse ocorrido! — Samuel asseverou enquanto Lavínia abaixava a cabeça, apertando as pálpebras e os lábios.
— Acho melhor você pegar leve. — sussurrou Zara em alerta.
— Estou sendo obediente ao nosso tubarão nos negócios. — ele disse indiferente.
— Eu sinto muito, senhor. — Lavínia disse rangendo os dentes, em seguida indo em direção aos candidatos.
— A seleção já está começando aqui fora. Um chega atrasado e a outra é estabanada. Sempre tem os que não se encaixam, mas querem tentar a sorte. — um dos rapazes resmungou quando Lavínia se aproximou, se juntando a eles.
Zen ainda estava sem reação, observando-a enquanto ela fazia de conta que não o via. Passando por entre os candidatos, ficou na última fileira, um pouco mais atrás de Zen, entre os últimos candidatos, a fim de se esconder.
Cap. 8: a chefa vira funcionário?— Bom dia a todos! — começou Samuel a discursar. — Sejam bem-vindos à Alpha Corp Advogados, uma das empresas mais prestigiadas. Como vocês sabem esse prestígio não é de graça, e temos critérios rigorosos. Por isso, as avaliações já começam no momento em que vocês entram na empresa. — Ele comentou, encarando Zen, que se mantinha com postura ereta e séria, demonstrando indiferença. — Por isso, o candidato Zen Obedon pode se aproximar, por favor. — Ele chamou, sem saber qual dos candidatos era. Então, Lavínia viu o mesmo rapaz dar um passo à frente e percebeu que ele seria desclassificado.— Sim? — Zen disse ao passar na frente de todos, seguindo de forma despreocupada. A maioria já estava segurando o riso, sabendo qual seria o resultado.— Bom… você se atrasou… — Samuel arrastou a voz quando viu Lavínia dando pulos silenciosos com a mão estendida, balançando o dedo negativamente. — Você sabe que há punições para quem se atrasa. Tenha cuidado… neste mome
Cap. 9: Gato e Rato.Lavínia ficou constrangida por ter se alterado, em seguida se sentou sorrindo desconcertada e pedindo desculpas a todos, ao mesmo tempo que Zen continuava concentrado em seus papéis.— Se ela o ajudar, ele não vai passar no teste. — Samuel respondeu os observando com atenção.— Ele está fazendo sozinho sem nem prestar atenção nela, só não sei o que está acontecendo, ela claramente está desconfortável e irritada.— Relaxa, quando tudo isso acabar eu te conto, você vai ficar surpreso com a fofoca. — Zara sussurrou para Samuel.— O que está acontecendo? Lavínia deveria estar aqui na frente. — um dos homens pergunta impaciente se levantando junto com mais outros dois que demonstram indignação.— Senhores, vocês podem conversar lá fora se tiverem alguma dúvida, eu posso fiscalizar enquanto vocês resolvem qualquer problema. — o chefe de RH avisou então eles saíram imediatamente, mal perceberam seu olhar sombrio em direção a Lavínia e Zen.Quando saíram, Zara inventou um
10: por que ele não consegue emprego?Lavínia hesitou por um momento, franzindo o cenho. Uma ligação daquele homem era realmente algo muito inusitado.— Alpha Corp advogados…— Dispenso formalidades. — ela ouviu a voz ríspida, mas calma do outro lado da linha. — Boa noite, senhora Bayer.— Boa noite, senhor Romanov. — ela respondeu sem vontade.— Estive pensando em sua empresa alguns dias. Vocês têm ido bem, mas soube que está buscando parcerias nos negócios. Eu gostaria de poder conversar com você e pensar em uma forma de nos unirmos. Podemos ser uma potência inabalável.— O senhor sempre rejeitou a parceria de negócios. Me lembro que alguns anos atrás você até mesmo humilhou a nossa empresa, dizendo que não iríamos evoluir e que não éramos bons advogados. Sei que crescemos além do esperado, mas ainda não é motivo para querer uma parceria, mesmo que estejamos avançando para ser uma empresa de advocacia de excelência.— Você está certa, meu contato não é em vão. Na verdade, soube que
Cap. 11: Respira e finge.Ela foi obrigatoriamente levada para a sala de reunião e, assim que todos se acomodaram em suas cadeiras, ela se pôs de pé em frente a todos com um olhar rígido.— Somos uma rede de advogados e, como vocês sabem, a empresa Romanov, mesmo sendo uma das que está no topo da economia do país, deu indícios de que também pode ter algum trabalho ilegal. E vocês todos sabem, então não entendo o motivo de estarem causando toda essa comoção. O que vocês querem? Que futuramente, quando tudo isso cair na mídia, continuemos os mesmos? Estamos avançando sem os Romanov, mas se fizermos parte e carregarmos uma associação como essa, seremos destruídos junto com essa empresa um dia! — ela asseverou, e foram as últimas palavras ouvidas naquela sala. Então, se retirou seguindo para seu escritório. Ainda assim, um dos acionistas bateu à sua porta.— Entre! — ela avisou.— Senhora Bayer, ainda temos uma dúvida sobre essa questão. O senhor Romanov ligou para mim, então eu pedi para
Cap. 12: antipatia por você.O chefe de RH apenas observou Bayer sem dizer muito. Continuou organizando os papéis e, após guardá-los na gaveta de forma despreocupada, permaneceu em silêncio enquanto ela esperava ansiosa por uma resposta.— Estou desatualizado do assunto. O que você está querendo, senhora Bayer? — perguntou, calmo e sereno, como se ela tivesse chegado de forma amigável.— Você sabe como eu prezo por cada contratação. O que pensou que estava fazendo ao aprovar alguém que eu não permitiria entrar na empresa? — questionou, irritada.— Não sei do que está falando — respondeu ele, confuso.— O funcionário Zen Obedon, isso te diz algo?— Ah... Ele não é um dos seus funcionários, realmente. Zen Obedon vai trabalhar na área de saúde mental, sabe? Desde que entrei nessa empresa, há três anos, tenho percebido que os funcionários estão sob uma carga de trabalho e uma pressão psicológica altíssimas vindo da sua parte. Horas extras, casos exaustivos e raras folgas. A Alpha Corp Adv
Cap. 13: Relacionamento secreto.— Me empresta a chave do seu carro, eu preciso levá-la a um hospital. — ele pediu com um olhar de súplica. — Ele me contou que você falhou, essa foi a primeira falha depois de anos, mas ele não tolera falhas, você sabe. E agora está desobedecendo... O que foi? Foi com essa mulher que você passou a noite? — E se for? — ele perguntou, irritado. — Ela já lhe trouxe problemas e agora está fazendo de novo, mesmo que de forma inconsciente. — ele avisou, entregando a chave a Zen. — Eu não vou fugir, vou enfrentar o problema que arrumei. — Boa sorte. Você sabe que eu tento te ajudar o máximo que consigo, mas já não tenho controle dessa situação. Você tem sido descuidado, não posso me meter em coisas de família. — ele disse, em seguida se virando e indo embora.Zen colocou Lavínia deitada no banco de trás e seguiu para o hospital, suspirando pesadamente várias vezes, demonstrando preocupação. Quando finalmente chegou ao hospital, ela foi atendida, enquanto
Cap. 14: Interessado na sua vida.— Lavínia sempre foi uma mulher muito difícil de lidar, então era de se esperar que ela escondesse seu relacionamento para que seus pais não interferissem. Ela deve gostar muito de você. — comentou o médico. — Ela pensa que está protegendo as pessoas quando esconde as coisas e, por isso, pode não ter te contado sobre o que aconteceu há dois meses. Ela estava cheia de machucados, e estava óbvio que tinha sido agredida por alguém a ponto de perder a criança, mas ela diz que tinha caído. — Queda? — ele perguntou, com uma aura sombria se apossando de seu semblante. — Enfim... ela perdeu a criança ainda no primeiro trimestre, estava para fazer três meses. Faz dois meses, e ela não teve os devidos cuidados ou veio ao hospital para fazer exames. Agora que ela está aqui, posso fazer isso, e se não for muito incômodo, conto com sua ajuda para o bem-estar dela. — o médico pediu apreensivo. — Você é próximo dela? — Zen perguntou, desconfiado. — Sou um amigo
Cap. 15: quem te puniu?— Não estou dizendo nada, chegamos. Apesar de você estar exausta, ainda temos que trabalhar mais tarde — ele avisou, sua voz carregada de um cansaço que contrastava com a tensão crescente entre eles. Enquanto ela abria a porta do carro, um sorriso irônico curvou seus lábios.— Boa sorte para você. Eu não preciso me preocupar com isso. Apenas vá. Você não precisa descansar e devolver esse carro que está acima das suas expectativas de vida? E só para avisar, já vai dar nove horas — ela disse com uma arrogância que beirava a crueldade, virando-lhe as costas com desprezo.Ele observou-a se afastar, a figura esguia desaparecendo no portal do prédio.“Quem olha até pensa que ela é alguma coisa, além de uma mulher que monta nas costas de sua amiga rica” pensou, e um amargo sorriso curvando seus lábios. Antes que pudesse dar partida, a porta do carro se abriu e três homens entraram, sentando-se nos bancos de trás. A calma com que o fizeram era mais aterrorizante que q