Ao saber que a matriarca havia acordado, Estela surta e sequestra os netos, chamando pelos nomes dos filhos.— Bobozinho, o papai tá longe? — Enzo pergunta com carinha de choro.— Não, Arthur, já chegaremos — a avó puxa o menino pelo braço. A garotinha solta sua mão.— Canxadu. — Valentina se senta no meio da trilha, coloca as mãozinhas no chão e descansa o rosto em cima.— Vamos, filho. Só mais um pouquinho.Estela carrega os dois, um de cada lado, até que chegam à sua antiga casa, o local em que era feliz com seu marido e filhos, mesmo sendo incrivelmente pobres. A casa havia sido locada por um casal jovem, sem filhos.Sara e seu marido estão conversando no quintal quando veem a senhora chegar com as duas crianças e tomar conta da casa como se fosse dela. A jovem tenta retirar a mulher de dentro da casa, mas as crianças estão chorando e pedindo pela mãe.Por fim, um vizinho vê a confusão e diz que, até pouco tempo, aquela senhora morava ali, mas não sabia quem eram as crianças. Como
Aquela lata velha que Laís chamava de carro não pegou novamente esta manhã, o pequeno Ford Ka dos anos 2000 era uma verdadeira dor na bunda da sua dona. “Mas é tão fofo!”, era o ela respondia quando perguntavam o porquê de ela não dar fim na tortura do bebedor de gasolina. Xingando seu carro mentalmente, a jovem pede um carro pelo aplicativo de celular. Ser assistente da presidência lhe dava algumas regalias. A “carona” não demora a chegar, assim que entra no carro, as imagens começam a embaçar do lado de fora da janela, ela se perde em pensamentos, repassando a agenda do dia.Às seis em ponto, desce em frente ao número 1407 na Avenida Paulista. O prédio comercial reinava com suas janelas espelhadas em meio à selva de pedra de São Paulo. Ao chegar em frente à porta principal, coloca luvas brancas de algodão, começando a inspeção. Cada canto da recepção é verificado e a luva continua intacta.Ao entrar no elevador privativo da presidência, tudo está impecável! Chegando ao andar 45, co
Laís e Allana sobem para o telhado. Havia dois meses que o novo jardim urbano havia sido inaugurado e tinha virado uma verdadeira febre entre os funcionários da Castro Wang Ilimitada.O jardim era um oásis para Laís. Um lugar onde os funcionários podiam comer rodeados pela natureza, coisa rara na selva de pedras da grande São Paulo. Aquele pedacinho de céu a lembrava de quando eram pequenas e moravam no interior das Minas Gerais rodeadas de seus pais e avós. A voz da irmã a tira de seus pensamentos saudosistas. — Como estão nossos chefes adoráveis hoje? — diz Allana com deboche.A irmã mais velha fez uma cara de desaprovação, olhando para os lados pra ter certeza de que estão sozinhas.— Fala baixo! Alguém pode escutar!A caçula a olha com um olhar zombeteiro.— Ainda está cedo, estamos sozinhas.— Run! Estão ótimos, isso me fez lembrar... — Laís tira as chaves do bolso. — Você vai à lavanderia de sempre, pega as roupas do Senhor Arthur, leva pra casa dele, depois leva isso nesse end
Ao final do expediente, Laís está arrumando suas coisas para ir embora, estava exausta, já fazia um tempo que os irmãos exigiam cada vez mais a sua presença em suas salas, seja para preparar café ou para consertar gravatas. No fundo, ela se sentia bem com aquilo. Os sorrisos do Arthur, os olhares de Augusto... só de pensar, sentia um arrepio na espinha.— Mana... Mana...A voz da irmã a tira de seu transe.— Oi!— Aqui a nota da lavanderia. Você me deve 300 reais.Laís mexe na gaveta, tira o dinheiro e o entrega à irmã.— Aqui a resposta da vítima... ops! Moça! — Allana fala, levantando uma pesada cesta de frutas, colocando-a em cima da mesa.Laís olha e diz sem pensar:— Ele não come essas frutas, é alérgico à quatro delas e as outras... não passam no padrão de qualidade.— Ela mandou um bilhete. — A outra respira fundo.— Vou entregar — Laís arrasta a cesta e entra no escritório de Arthur.— Senhor, chegou a resposta da senhorita. A morena coloca a cesta de frutas em cima da mesa e
Ao final do expediente, Laís está arrumando suas coisas para ir embora, estava exausta, já fazia um tempo que os irmãos exigiam cada vez mais a sua presença em suas salas, seja para preparar café ou para consertar gravatas. No fundo, ela se sentia bem com aquilo. Os sorrisos do Arthur, os olhares de Augusto... só de pensar, sentia um arrepio na espinha.— Mana... Mana...A voz da irmã a tira de seu transe.— Oi!— Aqui a nota da lavanderia. Você me deve 300 reais.Laís mexe na gaveta, tira o dinheiro e o entrega à irmã.— Aqui a resposta da vítima... ops! Moça! — Allana fala, levantando uma pesada cesta de frutas, colocando-a em cima da mesa.Laís olha e diz sem pensar:— Ele não come essas frutas, é alérgico à quatro delas e as outras... não passam no padrão de qualidade.— Ela mandou um bilhete. — A outra respira fundo.— Vou entregar — Laís arrasta a cesta e entra no escritório de Arthur.— Senhor, chegou a resposta da senhorita. A morena coloca a cesta de frutas em cima da mesa e
Allana entra no escritório às 10 horas trazendo uma mala com as coisas de sua irmã.— Suas coisas, mana.— Obrigada, vou deixar aqui do lado.— Explicou ao pai que vou passar uns dias fora?— Sim, mas ele não ficou muito feliz, disse que conversaria melhor com você quando voltasse para casa, mas não deixou de sair com a nova namorada, o que você deveria fazer ao invés de se matar de trabalhar — ela se aproxima da irmã. — Podíamos morar mais perto do trabalho, pegar duas horas de trem e mais 40 minutos em um ônibus pra chegar aqui e depois ir pra faculdade tá acabando comigo.— É só você acordar mais cedo e vir de carro comigo!— Deus, Laís, aquela lata velha não funciona. Nem sei como ainda te deixam circular com aquilo nas vias públicas. — A morena interrompe a irmã.— Morar aqui é caro, onde você acha que vamos achar um lugar pra morar com nossos salários? Teríamos que comer na rua todas as noites, e eu não tenho grana pra isso.— E você só tem dinheiro pra literatura hot — ri.— De
Laís volta para sua mesa nervosa, sente-se inquieta. Augusto também iria começar um relacionamento, e ela não conseguia disfarçar a insatisfação. Olha pro relógio, é quase hora do almoço, quer sair dali, precisa de um tempinho sozinha. Vai para a cobertura, deita-se na espreguiçadeira e se lembra da noite anterior, como seu corpo se sentiu à vontade dormindo ao lado de seus homens, como se sentiu feliz acordando ao lado deles, mas, pelo visto, não passaria disso.Olhando pro céu, diz para si mesma: — Sonhos não viram realidade!Ao final dos cinco dias, o trabalho está pronto. Laís sente a carne “desprender de seus ossos”, chega à sua casa tarde da noite, e o pai não está. Arrasta-se pelos estreitos corredores e se joga na cama, está cansada, exausta emocional e fisicamente. Toma um banho relaxante e vai para a cama, segundos depois, adormece. Acorda no horário de costume e se arruma; em cima da mesa, um bilhete do pai dizendo que iria dormir na casa da namorada.— Eu ainda não sei por
Laís decide ir até o saguão do prédio, magicamente, as flores e o tapete vermelho haviam sumido, ela pisca duas vezes pra ter certeza de que não havia sonhado, vai então parar o estacionamento, entra no carro e coloca a cabeça no volante, sente-se a mulher de 50 tons de cinza com aquela proposta, porém não era só um bilionário atrás dela, e sim dois. Esse tipo de situação jamais passou por sua cabeça...Quer dizer, só em seus sonhos molhados. O que ela iria fazer? Certo, aceitou sair com os dois, mas e depois, o que faria?Na realidade, gostava dos dois. O telefone toca.— Onde está? — Augusto pergunta.— No estacionamento.— Volte agora! Temos trabalho a fazer.— Estou voltando. — Cadê o fofo de minutos atrás? Esse ser só pode ser bipolar — Laís pensa, saindo do carro e voltando para a presidência.Os funcionários começam a chegar. Ela pega seus gravadores e sua agenda e segue para a sala de Augusto.— Sua agenda, senhor.Ele escuta com a maior atenção, procurando os olhos dela, que