Capitulo 2

Laís e Allana sobem para o telhado. Havia dois meses que o novo jardim urbano havia sido inaugurado e tinha virado uma verdadeira febre entre os funcionários da Castro Wang Ilimitada.

O jardim era um oásis para Laís. Um lugar onde os funcionários podiam comer rodeados pela natureza, coisa rara na selva de pedras da grande São Paulo. Aquele pedacinho de céu a lembrava de quando eram pequenas e moravam no interior das Minas Gerais rodeadas de seus pais e avós. A voz da irmã a tira de seus pensamentos saudosistas. 

— Como estão nossos chefes adoráveis hoje? — diz Allana com deboche.

A irmã mais velha fez uma cara de desaprovação, olhando para os lados pra ter certeza de que estão sozinhas.

— Fala baixo! Alguém pode escutar!

A caçula a olha com um olhar zombeteiro.

— Ainda está cedo, estamos sozinhas.

Run! Estão ótimos, isso me fez lembrar... — Laís tira as chaves do bolso. — Você vai à lavanderia de sempre, pega as roupas do Senhor Arthur, leva pra casa dele, depois leva isso nesse endereço.

Laís tira uma caixinha azul Tiffany do outro bolso com todas as informações anotadas em um papel.

— Esse é o endereço da nova vítima? — pergunta Allana, segurando a caixa com cuidado.

— Sem gracinhas, ele não é assim. Só não achou alguém que realmente o entenda, oras!

 Allana fuzila a irmã com os olhos.

— Ah tá, o grande Arthur Castro, o advoGATO mais galinha de São Paulo agora é um incompreendido.

A assistente a olha mais feio ainda. Allana continua:

— Sabe por que ele apronta? Porque tem você pra limpar! — sacode a caixinha e pergunta: — O que tem aqui?!

— Um colar com uma gema de mutano e pequenos diamantes.

— E ele nem teve o trabalho de escolher, estou certa? — a outra balança a cabeça em sinal afirmativo. — Viu? Um canalha de marca maior!

Laís fica vermelha de raiva.

— Sim, mas não fale dele assim. Ele é simpático, bonito, atencioso, inteligente, divertido e tem um sorriso de derreter qualquer Iceberg — suspira.

— E é galinha, pervertido, sem coração, trata mulheres feito lixo não reciclável... realmente uma pessoa maravilhosa... Só não é melhor que o irmão!

Dessa vez, Laís se engasga com almoço.

— O que tem ele?!

— Você chega aqui às 5h para supervisionar a limpeza do prédio, simplesmente pelo fato de ele não querer um grão de poeira por onde passa. Você tem noção do quanto isso é no mínimo doentio?

— É uma das minhas atribuições!

— E o escritório? O cara tem mania de limpeza, TOC ou sei lá o quê. Você faz além do contratado e nunca recebeu um “obrigado”.

— Mana, eu já te disse e vou repetir, faço porque eu gosto. Além disso, o Senhor Augusto é leal, honesto, altivo, bondoso e...

— Se você me disser que quando ele sorri um iceberg se derrete, eu vou dizer que é mentira, pois nem a mãe dele deve ter visto aquele ser sorrindo — Allana solta uma risada escandalosa.

— Não dá pra conversar com você — Laís diz irritada. — Vou voltar pro meu trabalho. 

Allana grita para a irmã que já retorna para o trabalho:

— Eu vou chegar tarde. — A outra irmã faz um sinal com o dedo do meio e desce as escadas.

Voltando à sua mesa, ainda xingando a irmã baixinho, sem perceber que está sendo vigiada pela persiana.

Ver Laís de sua mesa era um dos passatempos favoritos de Augusto. 

A morena de 25 anos sempre foi charmosa, bem-vestida, discreta e muito profissional, com um par de pernas de levantar defunto em missa de sétimo dia, uma bunda arredondada que era um pecado, os seios fartos cobertos com a seda fina das blusas sociais. Os cabelos encaracolados ficavam presos em um coque no alto da cabeça e os óculos... Nossa! Quando ela usava óculos, era torturante! A morena trabalhava em sua empresa há cinco anos, e Augusto ficava louco só de imaginá-la nua na sua cama com olhos de desejo, enquanto ele estocava com força em meio suas pernas. 

Ele perdeu a conta de quantas vezes teve que se aliviar no banheiro pra não a atacar cada vez que ela se debruçava pra lhe entregar a papelada. Pensou, algumas vezes, em perguntar se ela tinha namorado, mas aquilo poderia ser visto como assédio, então, a coragem se esvaía. 

Antes da senhorita Magalhães pegar o posto, eles haviam tido vários problemas com o secretariado, pois Arthur sempre saía com as mesmas, e isso sempre gerava confusão quando o relacionamento acabava. Então, ele resolveu colocar um ponto final, fazendo o irmão prometer que não tocaria em Laís. Mas por que cargas d'água o irmão a havia stalkeado? Isso lhe causava um certo desconforto.

Seus pensamentos são interrompidos com batidas suaves na porta, e ele sabe muito bem quem é.

— Senhor Augusto, seu almoço — Laís entra com a bandeja e um sorriso sem graça. — Podia ter me dito que comeria aqui, eu compraria algo mais do seu gosto. Pedir por aplicativos nem sempre vem de acordo com o que queremos. 

— Você ia sair pra almoçar, eu não quis atrapalhar. 

— Não era nada sério, só fui ao terraço. E o senhor nunca atrapalha, conheço seus gostos — suas bochechas ganharam um tom rosado, mostrando timidez.

— Você sabe meus gostos?

Ela abre um grande sorriso, colocando uma mecha de cabelo rebelde atrás da orelha.

— Sim, lógico!

Augusto gostou da resposta e começou uma sabatina de perguntas.

— Meu prato favorito?

— Sushi de fugu.

— Filme favorito?

— A trilogia de O poderoso chefão.

— Número do meu sapato?

— 43.

— O lugar favorito?

— A casa de seus pais no interior de São Paulo.

— Minha flor favorita?

— O senhor é alérgico! Aliás, é alérgico a flores, amendoim, poeira, camarão, penicilina e algumas frutas. 

— Dia do meu aniversário?

— 19 de Dezembro.

— Bebida favorita?

— Água em dias normais; whisky em dia de comemorações; pinga do alambique de seus avós quando está nervoso e ama café em qualquer ocasião.

— Minha cor favorita?

— Preto.

— Bebida que eu odeio?

— Chá verde.

— A coisa que mais amo no mundo?

— Seus peixes.

Augusto a olha assustado, não imaginava que Laís soubesse tantas coisas sobre si mesmo.

— Agora... Por que tantas perguntas?

O Chefe fica vermelho.

— Nada... Nada...

Laís sorri satisfeita.

— Agora, levarei o almoço de seu irmão. Bom apetite!

Augusto pensa: “Como assim? Ela deve saber até a cor da minha cueca e eu não sei nada dela.” Sequer sabia que tinha irmã. Ele volta para a tela do computador, olha a rede social e tenta tirar o máximo de informações dali.

Laís passa por sua mesa em direção à copa e arrumar o almoço de Arthur na bandeja, ainda pensando no interrogatório de Augusto. Claro que sabia dessas coisas, havia pesquisado, pois tomava cuidado com o bem-estar do chefe! E claro que amava todas essas coisas, amava cada detalhe que vinha dele!

Ela olha pra salada do Castro mais velho e cata cada amendoim ali colocado. Os dois tinham as mesmas alergias.

— Eles teriam um choque anafilático se não fosse eu — pensa.

Arthur está envolvido na leitura de um processo de divórcio onde as duas partes são suas clientes.

Laís b**e na porta.

— Entra!

— Senhor, o seu almoço.

— Estava roxo de fome! — ele estende os braços como uma criança esperando ser alimentado por sua mãe. — Obrigado, parece delicioso, Anjo. Pega uma água no frigobar pra mim?

A assistente vai até o frigobar e se abaixa, Arthur se mexe na cadeira para poder ver melhor a bunda arredondada da moça. 

— Com gás ou sem gás?

— Com gás e bem gelada. 

Isso obrigava Laís a se debruçar ainda mais, deixando sua bunda grande e redonda mais evidente.

— Delícia! — o sussurro sai da boca de Arthur sem que ele perceba.

— O que foi?

— Não!... Minha salada está uma delícia, suculenta pra dizer a verdade. E como vai seu pai?

Ela volta com a garrafa na mão, abre e põe no copo.

— Bem! Já mandei entregar a encomenda para a senhorita, e suas roupas já devem estar em sua casa. Mais alguma coisa?

— Não, obrigado. — Ele sorri, deixando-a corada, e isso lhe traz satisfação. A assistente responde com um sorriso sem graça e saí o mais rápido possível.

Arthur a viu pela primeira vez no dia das entrevistas. A morena de pele bronzeada e olhos verdes, com covinhas no rosto quando sorri...

Isso! A mulher ganhou a vaga quando, ao final de uma pergunta, sorriu. Isso o deixou particularmente apaixonado, precisava dela para sua coleção, porém, no seu primeiro dia, o irmão também solicitou seus serviços justamente para acabar com a longa fila de assistentes que pediam demissão logo após saírem da cama do chefe.

Com seu irmão de olho, as coisas seriam diferentes. Ele não ia deixar que se aproximasse. Com o tempo, ele se afeiçoou à morena, sempre prestativa, sempre contente, sempre com ideias novas para organizar o fluxo de pessoas que apareciam em sua agenda.

Entretanto ele sempre teve vontade, era uma tortura ver aquele par de pernas desfilando por aí. Tortura maior era imaginar que outro homem estava socando com força naquela bunda redonda, e ele sem poder fazer absolutamente nada. Bem, olhar ele podia, e isso fazia... e como fazia! Imaginava que cor de calcinha ela estaria usando, sonhava em roubar cada uma delas e mantê-las como um tesouro secreto só para si.

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