Capitulo 4

Ao final do expediente, Laís está arrumando suas coisas para ir embora, estava exausta, já fazia um tempo que os irmãos exigiam cada vez mais a sua presença em suas salas, seja para preparar café ou para consertar gravatas. No fundo, ela se sentia bem com aquilo. Os sorrisos do Arthur, os olhares de Augusto... só de pensar, sentia um arrepio na espinha.

— Mana... Mana...

A voz da irmã a tira de seu transe.

— Oi!

— Aqui a nota da lavanderia. Você me deve 300 reais.

Laís mexe na gaveta, tira o dinheiro e o entrega à irmã.

— Aqui a resposta da vítima... ops! Moça! — Allana fala, levantando uma pesada cesta de frutas, colocando-a em cima da mesa.

Laís olha e diz sem pensar:

— Ele não come essas frutas, é alérgico à quatro delas e as outras... não passam no padrão de qualidade.

— Ela mandou um bilhete. — A outra respira fundo.

— Vou entregar — Laís arrasta a cesta e entra no escritório de Arthur.

— Senhor, chegou a resposta da senhorita. 

A morena coloca a cesta de frutas em cima da mesa e o chefe faz uma careta.

— Eu sou alérgico a algumas delas e as outras... Meu Deus! Onde ela comprou isso? Na xepa da feira?

Ela ri contido.

— Aqui o bilhete.

Arthur corre os olhos no papel e diz rindo:

— Pode dar as frutas para quem precisa. O que você mandou pra ela?

— Um colar com uma gema incrustada de diamantes.

— Quanto custou?

— Na faixa senhor, 20 mil. 

— Hummm, e ela me manda uma cesta de frutas velhas? Que seja! Separe na minha agenda os dias de 1 a 3 de março, vou com ela para Noronha. Faça as reservas.

Ela faz um esforço pra sorrir.

— Mais alguma coisa, senhor? Está quase na hora de ir pra casa e eu...

— Não, pode ir!

Ela sai da sala com a cara fechada. Irritada, arrasta aquela cesta de frutas odiosa. “Deve ser outra vaca magrela peituda”, pensa e encosta a cesta na mesa. Em seguida, vai à sala do outro irmão e b**e calmamente.

— Entra!

— Senhor, eu gostaria de saber se ainda vai precisar de mim.

— Não, pode ir

Laís dá as costas, batendo o pé e vai pra sua mesa. Arrumando as coisas pra sair, escuta Augusto dando um grande grito, ela se assusta, pois o chefe nunca foi capaz de fazer essas coisas. “O que foi agora?”, questiona-se, enquanto corre até lá, e outro está desesperado no celular.

Faz um sinal, pedindo pra chamar Arthur.

Minutos depois, Laís e Arthur estão ansiosos olhando para Augusto, que ainda estava em ligação. Finalmente ele desliga o telefone.

— Estava ao telefone com o presidente da Muldes Montadora e eles vão comprar as outras cinco montadoras menores que indicamos, porém a diretoria só aprovou a compra se ela acontecer em 5 dias.

Arthur dá um pulo.

— O quê? Você está maluco? Isso é trabalho para três meses, não cinco dias!

— Bom, recomendo que você desmarque os compromissos e traga algumas peças de roupas, pois moraremos aqui nos próximos dias.

— Eu não acredito em você.

— É uma emergência, o que você queria que eu fizesse? 

Arthur sai nervoso da sala do irmão, balançando a cabeça.

Augusto faz uma cara de irritado, olha para Laís e diz:

— Preciso de toda nossa equipe agora na sala de reuniões. Providencie os arquivos das montadoras menores, temos isso tudo nos arquivos. Ah, e também os balancetes — ele para e pensa, tira a chave do bolso e mostra para Laís. — Depois, vá à minha casa e traga algumas roupas e objetos pessoais que não tenho aqui. No meu closet há vários futons e travesseiros.

Ele olha pra ela e, só de imaginar dormindo ao seu lado em um futon, sente um arrepio na espinha.

— E... Vou precisar de você nesses dias em período integral, então, passe na sua casa e traga suas coisas. Se não tiver futon, pode pegar um dos meus.

Ela o olha confusa.

— Bem, dê comida ao meu cachorro e aos meus peixes. Vou ligar para a tratadora, ela vai cuidar deles amanhã. — Ele esqueceu que ela nunca havia entrado no seu apartamento, e isso lhe causou um pouco de desconforto. — Você sabe que o apartamento fica no andar em cima do Arthur. Use o elevador privativo. Aqui está o cartão.

— Sim, senhor. 

Ela sai e entra no escritório do irmão, que está bufando.

— Ele inventa esses negócios malucos, e eu que tenho que pagar o pato. Ao contrário dele, eu tenho uma vida, sábia?

— É um projeto de bilhões, senhor, teremos uma comissão muito boa. É só um pequeno sacrifício de alguns dias, vale a pena!

— Não o defenda! Quando começamos, precisávamos desse tipo de coisa e fazíamos, mas agora não somos amadores. Temos um nome, construímos um império com centenas de funcionários, não precisamos mais disso! 

— Não estou defendendo, só mostrando minha opinião — Laís dá um sorriso, e desmonta Arthur. — A nossa empresa é conhecida por solucionar problemas que ninguém mais conseguiria, e o senhor e seu irmão são os únicos loucos o suficiente para fazerem algo desse tamanho em um tempo tão curto, por isso pagam tão bem pelos seus serviços. 

Arthur passa as mãos pelos cabelos, arrumando-os em um coque alto.

— Você tem razão!

— Eu irei até a casa de seu irmão pegar alguns objetos pessoais. Vai precisar de algo?

Ele sorri.

— Preciso de um futon, pegue um do meu irmão — ambos sorriem. — Pijama. Ah, eu não durmo sem meus travesseiros com penas de ganso argentino, preciso também das minhas vitaminas, meus produtos de cabelo e ah… Necessito de meus cremes para o rosto, mãos, corpo, pés e meu secador profissional... — A lista era interminável. A mulher anotava, imaginando como traria aquilo tudo.

Por fim, rumou ao apartamento dos irmãos. Foi primeiro ao apartamento de Arthur, ela já estava acostumada a entrar ali, levando e trazendo roupa da lavanderia, arrumando o local para encontros românticos e até mesmo “limpando” o local e tirando qualquer vestígio da vítima anterior até que a próxima chegasse. O apartamento estava impregnado com o cheiro do homem. 

Ela foi direto ao seu quarto, abrindo algumas malas e colocando os pertences de seu chefe. Na mesinha de cabeceira, pegou algumas coisas que estavam entre as camisinhas, olhando pra cama, pegou os travesseiros, abraçando-os.

— Hum o cheiro dele! — sussurrou. Em seguida, embalou tudo e colocou no lado de dentro da porta e foi para o andar de cima.

Ela pegou o elevador privativo na sala de Arthur e foi ao apartamento de Augusto.

O Castro mais novo era totalmente diferente do irmão. Seu apartamento tinha poucos móveis e os que tinha possuíam algo clássico ou retrô. Não existia um só grão de poeira; na parede principal, uma coleção imensa de espadas antigas, e, no canto da sala, uma armadura samurai completa. Isso era fascinante. Um dado novo sobre o chefe que não conhecia. Segundos depois, um pequeno cachorro — um Lulu da Pomerânia — veio latindo aos seus pés, pedindo carinho.

— Seu dono não para de me surpreender. Como um homem que tem uma armadura samurai em casa tem uma coisa tão fofinha como você? Vem, vamos comer. — Laís coloca comida para o animalzinho, que agradece dando pequenos pulinhos.

Ao chegar ao quarto imenso, observa a cama gigante bem no meio. A janela sem cortinas ocupa toda lateral do prédio, no lado oposto da janela. Há um aquário gigante em toda a parede, dentro dele, três carpas Koi Raras — uma branca, uma preta e uma laranja —, as três nadavam livremente. A assistente as olha maravilhada e se senta na cama, admirando o balé dos peixes até que o pequeno Lulu a “acorda” com seus latidos finos. Ela pega o cão no colo e coloca comida para os peixes, à direita fica o closet.

As camisas sociais estão enfileiradas por ordem de cor; os sapatos, muito parecidos, com pequenos detalhes diferenciando um do outro; em cada gaveta, uma etiqueta: relógio, gravata, abotoaduras, naquele pequeno espaço estão todos os segredos de Augusto. Laís sente uma necessidade de abrir todas elas para descobrir algo sombrio do chefe, mas acha melhor não, vai que encontra algo que não quer... Uma lembrança de uma amante secreta ou o vestígio de um amor antigo... O amargor do ciúme passa por sua boca, então, repete o processo do apartamento do outro chefe: malas e pertences pessoais dentro delas, embalando tudo minuciosamente.

Ela coloca tudo no elevador e desce para o estacionamento, olha para o relógio... Já é tarde. Chama um carro pelo aplicativo e pede para o motorista esperar no estacionamento próximo ao elevador; com certa dificuldade, coloca as malas no carro, o motorista ajuda. Chegando ao escritório, o porteiro e mais dois assistentes sobem com tudo. Assim que o elevador chega ao andar, tudo está uma loucura, pessoas correndo de um canto pro outro, papéis, um burburinho só. Ela se acomoda na sua mesa, encomenda jantar para trinta pessoas e começa a correr de um lado pro outro como os demais. Às 3h da manhã, alguns dormiam em suas mesas, outros tinham ido embora.

Augusto, Arthur e Laís ainda estavam a todo vapor, cada número, cada dado, cada centavo deveria ser verificado. Neste momento, Augusto está na décima xícara de café, e Arthur olha pro irmão e diz com voz de súplica:

— Preciso de três ou quatro horas de sono, por favor.

— Vai você, preciso terminar isso aqui. 

— Não, nós todos precisamos de descanso!

— Não, eu preciso…. — Antes de terminar a frase, o mais velho o interrompe.

— Guto, eu disse AGORA!

— Mas, Tuko...

— Agora! — ambos se olham com raiva.

Laís solta uma pequena risada, chamando a atenção dos irmãos.

— Me desculpem, nunca vi vocês chamando um ao outro por apelidos. — Arthur ri.

— A gente só se chama assim em casa, não é nada profissional chamar o irmão de Guto. E enquanto eu tento tirar esse cabeça dura dessa mesa, você poderia abrir os futons na minha sala.

Laís abre dois futons na sala Arthur, que entra pouco tempo depois de pijama e cabelos molhados.

— Cadê o do meu irmão? 

— Na sala dele.

— Não tem necessidade, posso dormir na mesma sala que meu irmão.

— Aliás, podemos dormir os três na mesma sala.

Laís se surpreende ao ouvir a voz do chefe mais novo na porta da sala do irmão. Automaticamente seu rosto fica vermelho, Augusto veste uma camiseta com os dizeres Fuke You e uma calça de moletom. O coração da jovem quase sai pela boca.

Arthur ri alto:

— Você ainda tem essa blusa? Eu te dei você tinha quantos anos, 15?

— É velha, porém confortável. Ela me lembra que você me manda eu me foder todos os dias.

— Foi uma brincadeira.

— Sei... — Ele olha pro pijama de seda do mais velho. — Tô vendo que o filhinho da mamãe foi comprar pijamas.

— Lógico, minha mãe tem bom gosto, por isso comprei 100 iguais.

— Você gasta dinheiro de forma inútil seu fútil!!! Ih! Rimou.

— E você é um mão de vaca canguinha! Pois é, não rimou — Arthur fala rindo.

— Sou controlado, não vou dar mil dólares em roupa pra dormir.

— Melhor que vestir a mesma camiseta por quase 15 anos. Mais um ano, a camiseta pode votar.

Laís não se segura e solta uma gargalhada, vendo os dois irmãos discutindo de forma tão infantil.

Os dois olham para Laís com curiosidade.

— Me desculpem, vocês parecem eu e minha irmã brigando. — Então, ela se lembra de que não pediu à irmã suas coisas pessoais. — Eu preciso de um banho.

— Pode usar meu banheiro — diz Arthur com uma voz suave cheia de segundas intenções. Augusto fica irritado.

Laís pegou sua bolsa e seguiu pro banheiro, por sorte, tinha uma escova de dentes, shampoo e condicionador. Toma banho, lava os cabelos e escova os dentes. Como iria dormir sem camisola? Ela sai do banheiro de saia e camisa social, coloca a bolsa no chão, os irmãos já haviam colocado os 3 futons um ao lado do outro. Isso a fez sorrir, porém seus pensamentos não a deixaram notar o olhar desejoso de Augusto ao ver a secretária com os cabelos molhados e com 3 botões da blusa abertos. Arthur entra na sala e se depara com a mesma cena e sente seu corpo acender.

Laís diz sem graça:

— E eu esqueci de pedir à minha irmã para trazer roupas.

— Quer um pijama emprestado? — Arthur diz apressadamente.

— Não, obrigada.

— Eu jamais deixaria você dormir com a roupa com que trabalhou o dia todo — ele abre a mala e tira um pijama preto do mesmo material do seu.

— Eeeee... Eu também tenho camisetas se você se sentir mais confortável — diz Augusto, querendo se mostrar solícito.

— Este está perfeito — ela sorri e volta pro banheiro.

Os cabelos volumosos e escuros soltos, a pele morena num pijama de seda... existe algo mais sexy?

— Delícia — balbucia Arthur.

— O que você disse, Tuko?

— Nada, Guto!

— Vamos dormir? Onde eu me deito? — Laís diz sorridente.

— No meio! — Os irmãos respondem juntos.

Ela se deita de bruços, fecha os olhos e logo pega no sono, não percebe que os dois machos alfas ao seu lado não paravam quietos. Ela, deitada assim de cabelos molhados espalhados no travesseiro, tão bela, tão inocente, era de tirar qualquer ser humano do sério!

Arthur se virou pronto pra atacar e dá de cara com o irmão olhando nos seus olhos. Ele solta um grunhido entre os dentes e recua, virando-se pro canto novamente, Não podia fazer nada com o irmão ali, só lhe restava dormir, porém algo passou por sua cabeça: e se Augusto se aproveitar dele ter ido dormir e atacar Laís? Isso não deixaria, de jeito nenhum!!!!

Ele se vira e encara o Castro mais novo com ódio nos olhos, Augusto devolve o olhar com sangue nos olhos!

Ali estava declarada a guerra pelo coração de Laís

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