— Como assim? Você vem pra cá a trabalho? — Perguntei.— Não, eu pedi demissão! — Nina soltou a bomba, mas logo anunciou com empolgação. — Vou voltar pra Saurimo pra trabalhar. Agora a gente vai poder se ver sempre!— Pediu demissão? Por quê? Tem a ver com aquela vez que você veio aqui conversar com o headhunter ano passado?— Sim, exatamente. Fechamos tudo. O salário é melhor, e claro que eu ia aceitar. Além disso, ficar aqui na minha cidade natal, sendo obrigada pela minha família a ir em encontros arranjados, estava me enlouquecendo!Eu entendi bem o que ela queria dizer. Muitas pessoas deixam suas cidades natais justamente para escapar dos parentes e daquela rede social sufocante onde todo mundo conhece todo mundo. A vida já é difícil o bastante sem precisar lidar com as cobranças e expectativas da família.— Parabéns! Quem busca o melhor sempre avança. Eu apoio você. Quando você vem? — Perguntei, já animada com a ideia de ter uma amiga por perto novamente.— Semana que vem! E eu t
Meu estômago revirava de um jeito estranho, e eu achei que fosse só fome. Pensei comigo mesma que, assim que a reunião terminasse, eu precisava comer algo urgentemente. Mas quando o encontro chegou ao fim e eu me levantei, mal consegui dar dois passos. Uma tontura repentina tomou conta de mim. Minha visão ficou turva, minha cabeça parecia pesar uma tonelada e minhas pernas fraquejaram.Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, desabei. A última coisa que ouvi antes de perder completamente a consciência foram os gritos de Lucas e Tatiana, que correram na minha direção.Depois disso, tudo ficou em branco. Quando abri os olhos novamente, eu já estava deitada em uma cama de hospital.— Kiara, você acordou! — Tatiana exclamou, aliviada, enquanto se aproximava de mim com um sorriso. — Você nos deu um baita susto! Do nada, simplesmente desmaiou. Se não fosse o Sr. Lucas te segurar a tempo, você teria batido a cabeça na porta de vidro.Eu ainda estava meio atordoada. Minha mente
Lucas e Tatiana me levaram até o quarto. Era uma suíte espaçosa e confortável, digna de um hospital de alto padrão.— Kiara, eu posso ficar com você essa noite. — Tatiana disse rapidamente, ao notar a cama de acompanhante ao lado.Franzi a testa e recusei prontamente:— Não precisa. Eu não estou tão mal assim. Consigo me virar sozinha. E, com sorte, talvez até receba alta hoje mesmo, à tarde.No fundo, eu não queria ficar internada, de jeito nenhum. Ainda mais depois de ter encontrado Jean no corredor. Aquele lugar começou a me sufocar.Eu temia que, se continuasse ali, acabasse esbarrando nele de novo. E, se isso acontecesse, e ele continuasse com aquela frieza, como se eu fosse uma desconhecida, meu coração provavelmente não aguentaria mais um golpe.Ainda pior seria se, fragilizada pela doença, eu não conseguisse me segurar e acabasse dando o primeiro passo, tentando conversar, tentando segurá-lo mais uma vez. Se isso acontecesse, eu sabia que a relação entre nós, que já estava comp
— O que houve? Já posso ter alta? — Perguntei assim que abri os olhos.Tatiana balançou a cabeça.— Não, o médico chegou.Virei-me rapidamente e vi dois médicos entrando no quarto.— Srta. Kiara, aqui está o resultado dos seus exames. — O médico me entregou o relatório, mas antes que eu pudesse sequer entender o que estava escrito, ele soltou a bomba. — Você está grávida. O desmaio provavelmente foi causado por um desconforto típico do início da gestação.Meu mundo parou. Por um momento, era como se eu tivesse levado um choque. Meus ouvidos zumbiam, e minha mente estava completamente vazia. Olhei para o médico, incrédula:— O quê? Eu estou... grávida?— Sim, é um início de gestação. Mas seu estado de saúde não é dos melhores. Você está com pressão alta, anemia e colesterol elevado. Imagino que esteja trabalhando muitas horas, dormindo pouco e se alimentando mal. Nesse ritmo, seu corpo pode não suportar bem a gravidez. Se você decidir ter o bebê, precisará cuidar muito melhor da sua saú
— Tatiana, essa notícia precisa ficar em segredo, entendeu? — Olhei firme para Tatiana, minha expressão séria, quase severa.Tatiana franziu a testa, hesitante.— Kiara, você não vai contar para o Sr. Jean? É algo tão importante...— Segredo! — Interrompi, reforçando com um tom mais firme.Ela imediatamente fechou a boca e assentiu em silêncio, sem insistir.— O que o médico disse sobre os meus problemas de saúde? — Perguntei. Agora que eu tinha decidido ter o bebê, já havia incorporado o papel de mãe. Eu precisava garantir que meu corpo estivesse saudável para cuidar dessa nova vida. Durante a consulta anterior, estava tão chocada que nem tinha prestado atenção nos detalhes.— Você está exausta por excesso de trabalho e falta de descanso. O médico disse que sua pressão está alta, você tem colesterol elevado e está anêmica.— Entendi. Preciso dormir bem. E peça uma refeição reforçada. Quando eu acordar, quero comer direito.Depois de dar essas instruções, me virei e me deitei novamente
Aquela voz familiar me tirou qualquer dúvida: não era um sonho, nem um engano. Era Jean. O mesmo Jean que, durante o dia, fingira que eu não existia, incapaz de sequer lançar um olhar na minha direção.Meu coração disparou, confuso e desordenado, enquanto sua mão firme segurava meu braço para me impedir de cair. Mas, ao lembrar de como ele havia agido mais cedo, a mágoa tomou conta de mim. Sem pensar duas vezes, desvencilhei-me do toque dele.— O que você está fazendo aqui no meio da noite? Quer me matar de susto, aparecendo assim como um fantasma? — Repreendi, sem esconder minha irritação.— Desculpe. — Ele pediu desculpas, com aquele tom gentil e quase cauteloso que eu conhecia tão bem. Por um instante, parecia o Jean de antes, aquele que sempre me tratava com cuidado.Era como se o homem frio e distante do corredor, mais cedo, fosse outra pessoa completamente diferente.— Só queria saber como você está. — Ele explicou, em voz baixa.Engoli em seco, tentando controlar a ansiedade que
Jean foi embora, mas eu passei a noite inteira sem conseguir dormir. Quando finalmente peguei no sono, já era madrugada, e acabei acordando bem tarde no dia seguinte.Depois que o médico fez a ronda, aproveitei para perguntar sobre meu estado de saúde. Ele disse que, com repouso e cuidados, eu ficaria bem. Assim, pedi alta imediatamente. Eu não podia continuar no hospital, temia que um novo encontro com Jean complicasse ainda mais as coisas.Ao voltar para o apartamento recém-alugado, senti uma mistura de alívio e inquietação. O lugar era muito mais espaçoso e iluminado do que o anterior, e até Higger, meu cachorro, parecia animado com a mudança. Assim que me viu, ele correu até mim, pulando e latindo de alegria.— Kiara, descanse um pouco. Eu levo o Higger para passear. — Tatiana disse, atenciosa como sempre. Ela já havia pego a coleira do cachorro e, antes que eu pudesse responder, saiu pela porta com ele.Sentei-me no sofá, sentindo uma leve exaustão no corpo. Minha mão, quase por r
Apesar de estar com a cabeça cheia de preocupações, quando Bela perguntou o que eu queria almoçar, percebi que a fome havia chegado. Imediatamente, lembrei-me dos pratos do Bom Sabor, que eu sempre adorei.— Só os de sempre, os que eu gosto. Se for fácil para você... — Pedi, sem cerimônia, mas com uma leve risadinha.— Certo, vou pedir para o chef preparar.— Obrigada, Bela! Você é a melhor! — Respondi, com um tom manhoso, tentando agradá-la.— Hmpf! Não pense que só porque está me bajulando, eu vou deixar de te dar um sermão quando chegar aí! — Bela respondeu com falsa seriedade antes de desligar.Tatiana voltou do passeio com Higger logo depois e perguntou sobre o almoço.— Não precisa se preocupar, a Bela vai trazer um banquete pra gente. — Expliquei.— Bela vem pra cá? Então, devo voltar para a empresa?— Não precisa. Almoce connosco primeiro.Por volta das onze e meia, Bela chegou carregada com os pratos preparados pelo chef do Bom Sabor. A apresentação impecável e o aroma delicio