Lucas e Tatiana me levaram até o quarto. Era uma suíte espaçosa e confortável, digna de um hospital de alto padrão.— Kiara, eu posso ficar com você essa noite. — Tatiana disse rapidamente, ao notar a cama de acompanhante ao lado.Franzi a testa e recusei prontamente:— Não precisa. Eu não estou tão mal assim. Consigo me virar sozinha. E, com sorte, talvez até receba alta hoje mesmo, à tarde.No fundo, eu não queria ficar internada, de jeito nenhum. Ainda mais depois de ter encontrado Jean no corredor. Aquele lugar começou a me sufocar.Eu temia que, se continuasse ali, acabasse esbarrando nele de novo. E, se isso acontecesse, e ele continuasse com aquela frieza, como se eu fosse uma desconhecida, meu coração provavelmente não aguentaria mais um golpe.Ainda pior seria se, fragilizada pela doença, eu não conseguisse me segurar e acabasse dando o primeiro passo, tentando conversar, tentando segurá-lo mais uma vez. Se isso acontecesse, eu sabia que a relação entre nós, que já estava comp
— O que houve? Já posso ter alta? — Perguntei assim que abri os olhos.Tatiana balançou a cabeça.— Não, o médico chegou.Virei-me rapidamente e vi dois médicos entrando no quarto.— Srta. Kiara, aqui está o resultado dos seus exames. — O médico me entregou o relatório, mas antes que eu pudesse sequer entender o que estava escrito, ele soltou a bomba. — Você está grávida. O desmaio provavelmente foi causado por um desconforto típico do início da gestação.Meu mundo parou. Por um momento, era como se eu tivesse levado um choque. Meus ouvidos zumbiam, e minha mente estava completamente vazia. Olhei para o médico, incrédula:— O quê? Eu estou... grávida?— Sim, é um início de gestação. Mas seu estado de saúde não é dos melhores. Você está com pressão alta, anemia e colesterol elevado. Imagino que esteja trabalhando muitas horas, dormindo pouco e se alimentando mal. Nesse ritmo, seu corpo pode não suportar bem a gravidez. Se você decidir ter o bebê, precisará cuidar muito melhor da sua saú
— Tatiana, essa notícia precisa ficar em segredo, entendeu? — Olhei firme para Tatiana, minha expressão séria, quase severa.Tatiana franziu a testa, hesitante.— Kiara, você não vai contar para o Sr. Jean? É algo tão importante...— Segredo! — Interrompi, reforçando com um tom mais firme.Ela imediatamente fechou a boca e assentiu em silêncio, sem insistir.— O que o médico disse sobre os meus problemas de saúde? — Perguntei. Agora que eu tinha decidido ter o bebê, já havia incorporado o papel de mãe. Eu precisava garantir que meu corpo estivesse saudável para cuidar dessa nova vida. Durante a consulta anterior, estava tão chocada que nem tinha prestado atenção nos detalhes.— Você está exausta por excesso de trabalho e falta de descanso. O médico disse que sua pressão está alta, você tem colesterol elevado e está anêmica.— Entendi. Preciso dormir bem. E peça uma refeição reforçada. Quando eu acordar, quero comer direito.Depois de dar essas instruções, me virei e me deitei novamente
Aquela voz familiar me tirou qualquer dúvida: não era um sonho, nem um engano. Era Jean. O mesmo Jean que, durante o dia, fingira que eu não existia, incapaz de sequer lançar um olhar na minha direção.Meu coração disparou, confuso e desordenado, enquanto sua mão firme segurava meu braço para me impedir de cair. Mas, ao lembrar de como ele havia agido mais cedo, a mágoa tomou conta de mim. Sem pensar duas vezes, desvencilhei-me do toque dele.— O que você está fazendo aqui no meio da noite? Quer me matar de susto, aparecendo assim como um fantasma? — Repreendi, sem esconder minha irritação.— Desculpe. — Ele pediu desculpas, com aquele tom gentil e quase cauteloso que eu conhecia tão bem. Por um instante, parecia o Jean de antes, aquele que sempre me tratava com cuidado.Era como se o homem frio e distante do corredor, mais cedo, fosse outra pessoa completamente diferente.— Só queria saber como você está. — Ele explicou, em voz baixa.Engoli em seco, tentando controlar a ansiedade que
Jean foi embora, mas eu passei a noite inteira sem conseguir dormir. Quando finalmente peguei no sono, já era madrugada, e acabei acordando bem tarde no dia seguinte.Depois que o médico fez a ronda, aproveitei para perguntar sobre meu estado de saúde. Ele disse que, com repouso e cuidados, eu ficaria bem. Assim, pedi alta imediatamente. Eu não podia continuar no hospital, temia que um novo encontro com Jean complicasse ainda mais as coisas.Ao voltar para o apartamento recém-alugado, senti uma mistura de alívio e inquietação. O lugar era muito mais espaçoso e iluminado do que o anterior, e até Higger, meu cachorro, parecia animado com a mudança. Assim que me viu, ele correu até mim, pulando e latindo de alegria.— Kiara, descanse um pouco. Eu levo o Higger para passear. — Tatiana disse, atenciosa como sempre. Ela já havia pego a coleira do cachorro e, antes que eu pudesse responder, saiu pela porta com ele.Sentei-me no sofá, sentindo uma leve exaustão no corpo. Minha mão, quase por r
Apesar de estar com a cabeça cheia de preocupações, quando Bela perguntou o que eu queria almoçar, percebi que a fome havia chegado. Imediatamente, lembrei-me dos pratos do Bom Sabor, que eu sempre adorei.— Só os de sempre, os que eu gosto. Se for fácil para você... — Pedi, sem cerimônia, mas com uma leve risadinha.— Certo, vou pedir para o chef preparar.— Obrigada, Bela! Você é a melhor! — Respondi, com um tom manhoso, tentando agradá-la.— Hmpf! Não pense que só porque está me bajulando, eu vou deixar de te dar um sermão quando chegar aí! — Bela respondeu com falsa seriedade antes de desligar.Tatiana voltou do passeio com Higger logo depois e perguntou sobre o almoço.— Não precisa se preocupar, a Bela vai trazer um banquete pra gente. — Expliquei.— Bela vem pra cá? Então, devo voltar para a empresa?— Não precisa. Almoce connosco primeiro.Por volta das onze e meia, Bela chegou carregada com os pratos preparados pelo chef do Bom Sabor. A apresentação impecável e o aroma delicio
— Senti sua falta, ué. — Respondi, sorrindo.Nós três subimos no carro e seguimos direto para o restaurante da família de Bela.Eu e Nina já havíamos comido no Bom Sabor antes — foi naquela ocasião em que encontramos Emilia, que fez questão de bancar a superior e pagou a conta. Era impossível não lembrar daquele episódio.Assim que nos sentamos, pedi um café em vez de vinho, e fiz um pequeno brinde para agradecer a chegada da minha velha amiga. Mas não demorei muito com formalidades. Assim que os pratos começaram a ser servidos, fui direto ao ponto.Ao ouvir minha intenção.Nina arregalou os olhos, surpresa, enquanto alternava o olhar entre mim e Bela:— Hoje não é 1º de abril, é?— Claro que não. — Respondi, rindo. — Nina, não estou brincando. Quero mesmo vender minha empresa e, mais do que isso, quero que você assuma o cargo de vice-presidente.Nina ficou em silêncio por alguns segundos, tentando processar o que eu estava dizendo.— Vice-presidente? Mas... por quê? Você está precisan
Bela foi rápida e eficiente. Não sei como ela conseguiu convencer sua família, mas a família Gomes concordou em adquirir minha empresa.Quando a notícia começou a circular, os colegas de trabalho ficaram inquietos, imaginando que algo grave estivesse acontecendo. Imediatamente pedi ao departamento de RH que publicasse um comunicado, garantindo que não haveria demissões injustificadas e que todos deveriam manter discrição sobre o assunto.No fundo, eu temia que Jean ainda estivesse prestando atenção em mim e que qualquer movimento chamasse sua atenção.O processo de compra foi tranquilo. Para facilitar e como forma de retribuir os anos de amizade e apoio de Bela, baixei o preço da empresa. O pai de Bela, sempre prático, transferiu o valor da compra no mesmo dia em que assinamos o contrato.Quando abri minha conta e vi aquela longa sequência de zeros, senti um misto de alívio e vazio. Aquela empresa era fruto de anos de trabalho árduo, mas também carregava as marcas da minha história com