— Senti sua falta, ué. — Respondi, sorrindo.Nós três subimos no carro e seguimos direto para o restaurante da família de Bela.Eu e Nina já havíamos comido no Bom Sabor antes — foi naquela ocasião em que encontramos Emilia, que fez questão de bancar a superior e pagou a conta. Era impossível não lembrar daquele episódio.Assim que nos sentamos, pedi um café em vez de vinho, e fiz um pequeno brinde para agradecer a chegada da minha velha amiga. Mas não demorei muito com formalidades. Assim que os pratos começaram a ser servidos, fui direto ao ponto.Ao ouvir minha intenção.Nina arregalou os olhos, surpresa, enquanto alternava o olhar entre mim e Bela:— Hoje não é 1º de abril, é?— Claro que não. — Respondi, rindo. — Nina, não estou brincando. Quero mesmo vender minha empresa e, mais do que isso, quero que você assuma o cargo de vice-presidente.Nina ficou em silêncio por alguns segundos, tentando processar o que eu estava dizendo.— Vice-presidente? Mas... por quê? Você está precisan
Bela foi rápida e eficiente. Não sei como ela conseguiu convencer sua família, mas a família Gomes concordou em adquirir minha empresa.Quando a notícia começou a circular, os colegas de trabalho ficaram inquietos, imaginando que algo grave estivesse acontecendo. Imediatamente pedi ao departamento de RH que publicasse um comunicado, garantindo que não haveria demissões injustificadas e que todos deveriam manter discrição sobre o assunto.No fundo, eu temia que Jean ainda estivesse prestando atenção em mim e que qualquer movimento chamasse sua atenção.O processo de compra foi tranquilo. Para facilitar e como forma de retribuir os anos de amizade e apoio de Bela, baixei o preço da empresa. O pai de Bela, sempre prático, transferiu o valor da compra no mesmo dia em que assinamos o contrato.Quando abri minha conta e vi aquela longa sequência de zeros, senti um misto de alívio e vazio. Aquela empresa era fruto de anos de trabalho árduo, mas também carregava as marcas da minha história com
Depois de um breve silêncio, Jean perguntou, hesitante:— É mesmo por esse motivo?Parecia que ele estava começando a acreditar na minha história.— Claro, e qual outro motivo seria? — Respondi com firmeza, mantendo a calma no tom.Ainda bem que estávamos falando pelo telefone. Se fosse cara a cara, eu provavelmente já teria me entregado de tão nervosa.— Achei que você estivesse tentando me evitar, querendo ir embora de vez. — Sua voz era fria, mas havia um traço de descontentamento nela.Meu coração deu um salto, mas forcei um sorriso e respondi, tentando soar despreocupada:— Você está pensando demais. Faz tempo que terminamos. Se eu quisesse te evitar, já teria desaparecido há muito tempo.Houve outro momento de silêncio do outro lado. Eu sabia que deveria encerrar a conversa ali. Quanto mais falássemos, maior a chance de eu dizer algo errado e me trair.Mas, justo quando abri a boca para dizer “até mais”, ele falou de novo:— Você se mudou?Meu coração quase parou. A resposta fico
Depois de me acalmar na estrada, finalmente consegui retomar o controle e continuar dirigindo.Quando cheguei em casa, Nina me olhou com curiosidade e perguntou:— Você não saiu antes de mim? Por que chegou só agora? Achei que tivesse ido almoçar com a Bela.Balancei a cabeça e respondi:— Não, só peguei trânsito. Vim dirigindo devagar.Coloquei no chão a caixa que estava carregando. Era o último conjunto de itens pessoais que eu havia trazido do escritório.Nina percebeu que algo estava errado e se aproximou, preocupada:— Você está bem? Está triste por ter vendido a empresa? Eu sei que essa marca foi o seu maior projeto, seu sonho de anos. Deve ser difícil deixar tudo para trás assim, de repente...Suspirei, tentando disfarçar o cansaço emocional:— É claro que dói um pouco. Foram muitos anos de dedicação, mas já está feito. Não adianta ficar remoendo.— Então, o que houve?Olhei para o sofá e, sentindo o peso do dia nas costas, me joguei ali, completamente exausta. Depois de respira
Enquanto olhava pela janela do avião, vendo a cidade que eu tanto amava desaparecer lentamente no horizonte, as lágrimas começaram a cair como uma tempestade que eu não conseguia controlar.A jovem que estava sentada ao meu lado percebeu meu estado e, sem dizer nada, estendeu um lenço de papel.— Obrigada. — Agradeci, tentando sorrir, mas minha voz estava embargada.Ela apenas assentiu, respeitando meu espaço, e eu me concentrei em acalmar meu coração. Precisava aprender a esconder essa dor, a enterrá-la onde ninguém pudesse alcançá-la.A longa viagem me exauriu física e emocionalmente. No final, acabei adormecendo, mergulhando em um sono agitado que, por algumas horas, me deu alívio do sofrimento.Dois anos depois.Era Natal mais uma vez. Bela veio para a Inglaterra para passar o feriado comigo e, claro, para ver seu afilhado, Jackson.Fui ao aeroporto buscá-la, levando Jackson no carrinho de bebê. Assim que vi minha melhor amiga aparecer, acenei animadamente.Jackson, sentado no carr
Nesses dois anos, sonhei incontáveis vezes com Jean me encontrando. No sonho, ele me via cuidando de Jackson sozinha, vivendo uma vida difícil e exaustiva. Ele segurava meu pescoço com força e dizia:— Kiara, eu não te disse que, se fosse embora, você precisava estar bem? Caso contrário, eu te traria de volta!E todas as vezes eu acordava assustada, com o coração disparado. Mas o que me deixava mais frustrada era perceber que aquilo não passava de um sonho.Por que era apenas um sonho? Por que não podia ser real?Eu sentia falta dele. Às vezes, me pegava imaginando como ele reagiria ao descobrir que tinha um filho. Outras vezes, sonhava com um futuro onde nos reconciliávamos, vivendo como uma família de verdade, sem segredos, sem barreiras.Como seria bom...Bela ouviu meus devaneios e assentiu com firmeza:— Eu acho que isso pode acontecer! Ele ainda está solteiro, sabia? Aposto que também não esqueceu você.Ri com desdém, mas por dentro meu coração acelerou.— Como assim? Talvez ele
Jean não sabia se eu estava solteira, se eu era feliz, mas continuava esperando no mesmo lugar, pronto para romper qualquer amarra e assumir a responsabilidade pela minha “vida quebrada”.Ele, com certeza, temia que, caso se casasse, algum dia recebesse notícias minhas. Descobrisse que eu não estava bem, que vivia sozinha, e quisesse reatar comigo, mas ficasse preso às obrigações de sua nova família, incapaz de avançar ou recuar.Pensando nisso, depois de dar banho no meu filho e colocá-lo para dormir, voltei para a sala.Bela ainda estava acordada. Ela estava na varanda, observando a vista noturna.Quando me viu, ela virou-se surpresa e comentou:— O Natal aqui na Inglaterra também é muito elegante, não é?Assenti com a cabeça:— É sim. Mas acho que nós, que estamos longe de casa durante as festas, ainda precisamos celebrar mais intensamente.— O meu afilhado já está dormindo? — Bela perguntou, com um sorriso.— Sim. Ele não dormiu muito durante o dia, então agora consegui colocá-lo p
Eu ainda não tinha respondido quando Bela insistiu:— Você não acha que isso é muito injusto com o Jackson? O pai dele está vivo, mas ele nem sabe disso.— Eu não pensei no futuro... Pelo menos, por enquanto, não tenho coragem... — Murmurei, hesitante. No fundo, o que eu mais temia era que Jean tentasse disputar a guarda do meu filho.Eu queria esperar Jackson crescer um pouco mais, até ele ter idade suficiente para entender e fazer suas próprias escolhas. Se fosse inevitável, pai e filho poderiam se conhecer no futuro.— Mas agora é justamente o momento em que ele mais precisa de um pai por perto. Perder essa fase da infância será um arrependimento para os dois pelo resto da vida.A voz de Bela era calma, mas suas palavras ecoaram pesadas no meu coração.— Vou pensar melhor sobre isso. Você deve estar cansada hoje. Vá descansar cedo. Amanhã saímos para passear. — Disse, tentando encerrar o assunto, já que minha mente estava uma bagunça.Bela ficou comigo por quatro dias antes de segui