Bela e Nina vieram juntas me buscar no aeroporto. Eu empurrava o carrinho com uma mão e carregava a bagagem com a outra, mas de longe já as vi acenando animadas.— Bem-vinda de volta! Saulinho, vem cá, deixa eu te pegar! — Bela foi a primeira a me cumprimentar, mas não esperou que eu me aproximasse. Correu até o carrinho e tirou o pequeno Jackson de lá.Nina, por sua vez, nem olhou para mim. Foi direto até o menino, inclinando-se para observá-lo de perto.— Ué, não dizem que filho homem puxa à mãe? Mas esse aqui... é a cópia do pai! — comentou Nina, com um tom divertido.Bela arqueou as sobrancelhas, sorrindo:— Não falei? Não estou exagerando nem um pouco.— É mesmo! — Concordou Nina, com sua habitual falta de filtro. — Só de colocar esse menino na frente do Sr. Jean, ele nem vai precisar de teste de DNA para saber que é filho dele.As pessoas ao nosso redor começaram a olhar, atraídas pelo tom alto e espontâneo de Nina.Eu, completamente ignorada pelas duas, resolvi protestar:— Você
— Vá para casa cuidar do seu filho. Deixe que eu fico aqui com sua avó. Você precisa descansar, dormir um pouco. Amanhã você traz o Saulinho para vê-la. Não faz diferença esperar uma noite. — Disse tia Julia, com um tom gentil, mas firme.Eu estava prestes a responder quando o celular vibrou no meu bolso. Peguei para ver quem era. Bela. Meu primeiro pensamento foi que Saulinho havia acordado e que elas não estavam conseguindo lidar com ele.— Bela, já estou voltando para casa. — Disse rapidamente assim que atendi.Do outro lado, houve uma pausa. Bela parecia hesitante, até gaguejante.— Kiara, eu... hã, então...A maneira como ela falava me deixou imediatamente em alerta. Um frio percorreu minha espinha.— Bela, o que houve? — Perguntei, a voz começando a tremer.Antes que ela pudesse responder, ouvi um barulho do outro lado, como se o celular tivesse mudado de mãos. E, então, uma voz que eu não ouvia há tanto tempo, mas que nunca deixara de ecoar nos meus sonhos, soou do outro lado da
Enquanto eu olhava para a tela do celular, as lágrimas começaram a escorrer sem que eu pudesse controlá-las. Na minha mente, as palavras que Bela tinha dito antes ecoaram novamente.Se eu realmente escondesse a verdade da criança para sempre, impedindo que pai e filho se conhecessem e se reconhecessem, isso seria muito injusto para ele. Na verdade, seria cruel. Não importa o quanto eu me esforce para ser uma boa mãe, nunca poderei preencher o vazio deixado pela ausência de um pai.Além disso, Jean claramente era um pai maravilhoso, alguém que amava o filho mais do que tudo.Voltei à realidade e respondi à mensagem da minha amiga:— Estou chegando.No entanto, quando finalmente cheguei ao condomínio, hesitei. Minhas pernas tremeram, e a coragem que ainda restava em mim desapareceu. Eu não consegui subir. Não fazia muito tempo que eu tinha vivido ali, mas já fazia dois anos desde que tinha ido embora.O ambiente do condomínio tinha mudado. As instalações estavam diferentes. Dei duas volt
— Explicar o quê? Ou acha que isso não tem absolutamente nada a ver comigo, então não preciso de explicação? — Jean perguntou em um tom calmo, como se estivesse tentando controlar qualquer emoção mais forte. Por causa do filho dormindo, até o volume da voz dele era baixo.Mas eu sabia que ele estava furioso.Senti meu coração apertar. Desviei o olhar e respondi em voz baixa:— Foi um acidente. Eu também não esperava engravidar. Naquela época, nós já estávamos separados há algum tempo.— Esse é o motivo pelo qual você escondeu isso de mim? — Jean rebateu, sem esconder sua insatisfação.Eu mordi os lábios, franzindo a testa, sentindo-me encurralada. No fundo, não havia muito o que explicar. Foi um acidente. Eu engravidei sem planejar. Só que, na hora, não tive coragem de interromper uma vida que estava começando, então decidi tê-lo. Não pensei muito além disso.Sentindo-me pressionada, acabei respondendo com um tom de desespero:— O que você quer ouvir? O filho já nasceu, já está aqui, e
O pequeno me abraçava pelo pescoço com força, soluçando entre os choros.Jean parecia nervoso e completamente perdido. Ele finalmente falou, com preocupação evidente:— Por que ele está chorando tanto? Ele está sentindo alguma coisa?Olhei para ele e percebi o quanto estava preocupado e ansioso. Aquele homem que, segundos atrás, parecia tão confiante e cheio de autoridade, agora exalava incerteza. Fazia todo sentido. Afinal, ele era apenas um pai que estava conhecendo o filho pela primeira vez.Minha postura mudou. Com um tom mais suave, expliquei:— Crianças pequenas ficam assim quando acordam. É normal, daqui a pouco ele se acalma.Jean assentiu, mas não saiu de onde estava. Ele ficou parado, observando cada movimento do menino com atenção, como se quisesse memorizar tudo.Depois de um tempo, os soluços de Saulinho começaram a diminuir. Ele levantou a cabeça do meu ombro e começou a olhar ao redor, curioso. O ambiente era estranho para ele, e o mesmo valia para as pessoas.Os olhinho
Terminei de preparar a mamadeira, fechei bem a tampa e comecei a agitá-la. Enquanto isso, olhei para Jean e disse:— Essas perguntas que você está fazendo… só posso responder assim. Se você insiste em me culpar por não ter te contado, eu realmente não sei como te explicar. Mas, na época, nas circunstâncias em que eu estava, não dava para te dizer. Além disso… Quando descobri que estava grávida, minha saúde não estava boa. Eu tinha tomado medicamentos por causa de uma doença, e os médicos não garantiam que o bebê nasceria saudável. Naquele momento, minha ideia era esperar para ver. Eu queria manter a gravidez até fazer exames mais completos, e, se algo desse errado, talvez fosse necessário interromper. Por conta de tudo isso, optei por não te contar.Depois de terminar, estendi a mamadeira para meu filho e, virando-me para Jean, disse:— Senta aí. Para de ficar andando de um lado para o outro. Deixa ele tomar o leite tranquilo.Jean voltou para a sala com o pequeno nos braços e se sento
Jean relutou para sair. Antes de ir, ele abraçou Saulinho novamente, deu-lhe um beijo carinhoso e falou com ele por um bom tempo, em um tom tão doce que parecia querer compensar todo o tempo perdido.Ele só saiu quando Nina e Bela voltaram.— E aí? Como foi? Vocês conversaram sobre tudo? — Bela perguntou, enquanto colocava a comida que tinha trazido para mim sobre a mesa.Sorri de leve, mantendo a calma, e respondi:— Foi tranquilo. Ele parece não ter intenção de disputar a guarda do pequeno. Só pediu para que, depois que eu levasse o menino para visitar minha avó amanhã, ele também pudesse levá-lo para conhecer o Mestre Auth.Nina assentiu, concordando.— Faz sentido. Os avós de ambos os lados esperavam que vocês tivessem filhos. Agora que isso aconteceu, é natural que eles queiram conhecer a criança.Bela, no entanto, parecia mais curiosa.— E para você? Ele não falou nada? Não fez nenhuma declaração?— Que tipo de declaração? — Perguntei, sem entender.— Você sabe do que eu tô falan
Eu segurei a mãozinha de Saulinho, tentando acalmá-lo enquanto tia Julia o distraía com seu jeito doce. Felizmente, meu filho tinha um temperamento alegre e corajoso. Bastaram algumas palavras carinhosas e promessas de brinquedos e guloseimas para que ele se animasse e deixasse de resistir.Entramos no quarto. Minha avó estava acordada. Apesar da fraqueza evidente, o rosto dela se iluminou ao ver o bisneto. Com esforço, ela levantou a mão, chamando-nos para nos aproximarmos.Tia Julia, com cuidado, levou Saulinho até a cama. A mão frágil e magra da minha avó tocou a mãozinha pequena e macia de Saulinho. A cena era tão simbólica que parecia carregar o peso da continuidade da vida, da conexão entre gerações.Ao observar aquilo, senti um nó na garganta. Não consegui conter a emoção, e meus olhos se encheram de lágrimas.Ficamos no quarto por um bom tempo. Meu filho brincou com minha avó, trazendo um pouco de alegria para aquele momento. Mas o corpo dela já não tinha forças. Não demorou mu