Eu segurei a mãozinha de Saulinho, tentando acalmá-lo enquanto tia Julia o distraía com seu jeito doce. Felizmente, meu filho tinha um temperamento alegre e corajoso. Bastaram algumas palavras carinhosas e promessas de brinquedos e guloseimas para que ele se animasse e deixasse de resistir.Entramos no quarto. Minha avó estava acordada. Apesar da fraqueza evidente, o rosto dela se iluminou ao ver o bisneto. Com esforço, ela levantou a mão, chamando-nos para nos aproximarmos.Tia Julia, com cuidado, levou Saulinho até a cama. A mão frágil e magra da minha avó tocou a mãozinha pequena e macia de Saulinho. A cena era tão simbólica que parecia carregar o peso da continuidade da vida, da conexão entre gerações.Ao observar aquilo, senti um nó na garganta. Não consegui conter a emoção, e meus olhos se encheram de lágrimas.Ficamos no quarto por um bom tempo. Meu filho brincou com minha avó, trazendo um pouco de alegria para aquele momento. Mas o corpo dela já não tinha forças. Não demorou mu
Tia Julia franziu a testa, claramente intrigada.— O que isso significa? Será que eles querem te aceitar?— Não é possível... — Balancei a cabeça, rejeitando a ideia antes mesmo de considerá-la. Minha intuição me dizia que não era esse o caso.Se fosse tão simples assim, se bastasse “mãe pelo filho”, então o que teria sido aquele término de partir o coração que Jean e eu enfrentamos anos atrás? Se a família Auth realmente quisesse me aceitar, por que tudo aquilo teria acontecido? Eu não sabia o que eles queriam, mas uma coisa era certa: Jean não estava me dando a chance de fugir dessa situação.Meia hora depois, Jean chegou ao hospital e nos encontrou. Como eles tinham brincado juntos no dia anterior, Saulinho reconheceu Jean imediatamente. Assim que Jean estendeu os braços, o pequeno levantou os dele sem hesitar e se jogou no colo do pai.Senti uma pontada de ciúmes. O vínculo sanguíneo realmente era algo impressionante. Mesmo sem terem convivido, eles já estavam tão conectados, tão à
Quando eles viram o neto, ficaram tão emocionados que lágrimas brilharam em seus olhos. Não conseguiam esconder a euforia e o carinho, tanto que mal conseguiam terminar as frases.— Querido, veja só! É igualzinho ao Jean quando era pequeno! Meu Deus, é impressionante como ele se parece! — Sra. Auth, normalmente tão calma e elegante, estava visivelmente emocionada. Sua voz tremia de excitação, algo raro de se ver.O Sr. Auth, sempre sério e reservado, também não conseguiu esconder a emoção. Ele ficou olhando fixamente para o bebê nos braços de Jean por um longo tempo antes de finalmente assentir e dizer:— É mesmo muito parecido, mas parece mais esperto do que o Jean era nessa idade.Jean imediatamente protestou, fingindo indignação:— Vocês estão tirando o amor que tinham por mim e passando para o neto!Sra. Auth riu de leve, sem dar muita atenção à queixa dele. Ela se aproximou e, com uma doçura quase inesperada, falou com o bebê:— Meu amor, eu sou sua vovó. Posso te pegar no colo um
O peso que carreguei no peito durante toda a manhã finalmente começou a se dissipar. Senti meu corpo relaxar aos poucos, mas ainda estava ligeiramente tensa.Jean percebeu e se aproximou, falando em um tom baixo e tranquilo:— Daqui a pouco vou levar o pequeno para o jardim do meu avô. Você… quer ir junto?Levantei os olhos para ele, ponderando. Algo dentro de mim dizia que isso não seria apropriado. Mestre Auth tinha deixado claro, anos atrás, que era contra o nosso relacionamento. Ele já tinha uma nora em mente, alguém que considerava ideal para Jean, e eu concordei em me afastar para não criar mais problemas.Agora, dois anos depois, eu aparecia novamente, com um filho nos braços, pegando todos de surpresa. Ir até o Mestre Auth poderia parecer uma afronta, como se eu estivesse forçando a situação ou me exibindo.— Acho melhor não. — Respondi, baixando o tom de voz. — E se ele ficar irritado? Não quero ser a responsável por algo assim.Jean me olhou por um momento, depois assentiu.—
— Seu irmão levou ele para o jardim do seu avô, para conhecer o bisavô. — Expliquei.— Ué, e por que você não foi junto?— Fiquei com medo de irritar o Mestre Auth. — Admiti, sorrindo sem jeito. — Afinal, eu escondi de vocês que tive o filho.Ao mencionar isso, segurei a mão de Amélia e perguntei diretamente:— Você sabe o que seus pais realmente pensam sobre isso? Para ser sincera, estou bem apreensiva. Mas sua mãe parece estar sendo… gentil demais comigo.— Ah, Kiara, que preocupação boba! — Amélia deu uma risada e, com um leve tapa na minha mão, me puxou para sentarmos em um banco no jardim. — Você não faz ideia do que aconteceu nesses dois anos.Curiosa, fiquei em silêncio, esperando que ela continuasse.— Desde que você foi embora, meu irmão virou um maníaco por trabalho. Sete dias por semana, vinte e quatro horas por dia. Ele só pensava em trabalhar! — Amélia começou, gesticulando com empolgação. — E aí teve a Emilia. Você lembra dela, né? Pois então, ela começou a perseguir meu
Amélia me puxou sem dar a menor chance de recusar, e antes que eu percebesse, já estávamos no pequeno jardim.Jean estava parado na porta e, ao me ver, acenou com a mão:— O vovô quer falar com você. Ele tem algo para dizer.Caminhei até ele, mas antes que eu abrisse a boca, Amélia perguntou:— Mano, onde está o meu sobrinho?— Está com o vovô. — Jean respondeu com calma.Amélia imediatamente acelerou o passo e entrou na casa. Eu e Jean ficamos lado a lado, caminhando um pouco atrás.— O que o vovô quer falar comigo? Ele está bravo? — Perguntei em voz baixa, com certa preocupação.— Fica tranquila, ele não está bravo. Na verdade, ele adorou o Saulinho. Quando o Saulinho o chamou de “bisa”, ele ficou tão emocionado que não cabia em si de felicidade! — Jean respondeu, tentando me tranquilizar.Quando ele se virou para mim e sorriu, seus olhos brilharam. Era como se pequenas estrelas tivessem se alojado em suas íris.Aquela expressão tão familiar trouxe à tona memórias do passado, de quan
Eu sorri levemente após ouvir Amélia, mas não sabia como responder.— Mas agora está tudo bem. A casa finalmente ficou mais animada. — Amélia continuou, inclinando-se ligeiramente e me cutucando com o cotovelo. — Por que você não fica? Não vá embora. Meu irmão está esperando por você há tanto tempo. Além de você, ele não quer mais ninguém.Meu rosto esquentou imediatamente. Não esperava que a conversa fosse parar nesse ponto. Levantei os olhos discretamente para Jean, que estava sentado bem à minha frente. Para minha surpresa, ele também estava me olhando.Nossos olhares se encontraram por um breve momento, e meu coração acelerou. Senti uma confusão de emoções, mas rapidamente desviei o olhar e fingi estar concentrada na comida.Depois do almoço, Saulinho começou a esfregar os olhos. Ele estava claramente cansado. Afinal, tínhamos saído cedo, e ele passou a manhã inteira brincando e conhecendo pessoas.Inclinei-me para Jean e disse baixinho:— Ele está com sono. Vou levá-lo para casa p
O clima dentro do carro estava estranhamente sufocante. Nenhum de nós disse uma palavra, e o silêncio era preenchido apenas pela respiração tranquila e ritmada de Saulinho, que dormia profundamente no colo de Jean. Parecia que, nos braços do pai, o sono era ainda mais confortável.Depois de pouco mais de meia hora, o carro parou em frente ao prédio de Nina. Eu desci primeiro e me preparei para pegar Saulinho, mas Jean balançou a cabeça e recusou.— Ele está pesado. Eu levo ele lá para cima.— Não precisa, sério. Eu consigo. — Respondi, tentando recusar.Era plena luz do dia, e eu sabia que Nina provavelmente estava no trabalho. Se Jean subisse comigo, ficaríamos sozinhos no apartamento, apenas nós dois e meu filho dormindo. A lembrança da breve tensão no carro ainda estava viva na minha mente, e eu não conseguia me livrar da sensação estranha de que algo estava prestes a acontecer.Eu não queria que nossos encontros fossem definidos por impulsos ou emoções confusas. Ainda não sabia com