O clima dentro do carro estava estranhamente sufocante. Nenhum de nós disse uma palavra, e o silêncio era preenchido apenas pela respiração tranquila e ritmada de Saulinho, que dormia profundamente no colo de Jean. Parecia que, nos braços do pai, o sono era ainda mais confortável.Depois de pouco mais de meia hora, o carro parou em frente ao prédio de Nina. Eu desci primeiro e me preparei para pegar Saulinho, mas Jean balançou a cabeça e recusou.— Ele está pesado. Eu levo ele lá para cima.— Não precisa, sério. Eu consigo. — Respondi, tentando recusar.Era plena luz do dia, e eu sabia que Nina provavelmente estava no trabalho. Se Jean subisse comigo, ficaríamos sozinhos no apartamento, apenas nós dois e meu filho dormindo. A lembrança da breve tensão no carro ainda estava viva na minha mente, e eu não conseguia me livrar da sensação estranha de que algo estava prestes a acontecer.Eu não queria que nossos encontros fossem definidos por impulsos ou emoções confusas. Ainda não sabia com
— O que foi...? — Minha voz saiu trêmula, quase gaguejando.Jean manteve o silêncio. Sua expressão era calma, mas nos olhos havia algo oculto: uma mistura de insatisfação e raiva contida. Ele continuava se aproximando, e eu, por reflexo, dava passos para trás.No entanto, sua mão segurava meu braço, e eu não conseguia me afastar muito. Ainda estava dentro do alcance dele.— O que você está fazendo? Se tem algo a dizer, diga logo. Não precisa me puxar assim. — Tentei soar firme, mas minha voz traiu meu nervosismo.Ele não respondeu. Apenas me encarava com aquele olhar frio e intenso, enquanto avançava mais um passo. Eu recuava automaticamente, até que minhas costas finalmente encontraram a parede. Agora, sem espaço para onde fugir, fiquei completamente presa. Meu coração disparou, e o calor subiu para o rosto.— Por que parou? Continue recuando. — Ele finalmente falou, com uma voz carregada de sarcasmo e provocação.O tom dele era como o de um predador brincando com sua presa, calmo e c
Eu quase ri da situação, mas minha voz saiu carregada de sarcasmo:— Compensar o quê? Você não deixou de aproveitar o prazer enquanto estávamos juntos, não é?As palavras escaparam antes que eu pudesse pensar. Quando vi Jean levantar uma sobrancelha, com um olhar claramente surpreso e intrigado, percebi o quão atrevido havia sido o comentário.— Eu… O que eu quis dizer foi… — Tentei me corrigir, desviando os olhos, mas ele me interrompeu com sua voz grave e baixa:— Então eu quero reviver aquele tipo de prazer.Meu cérebro deu um curto-circuito. Eu devo ter ouvido errado.— O… o quê? — Gaguejei, meus olhos arregalados.“Ele não pode estar falando sério! A luz do dia, com meu filho dormindo aqui do lado, e ele fala uma coisa dessas?”— Eu disse… — Jean inclinou os ombros e aproximou seu rosto ainda mais do meu. Seus olhos estavam carregados de algo que eu não queria sequer nomear. — Eu quero reviver aquele prazer. Ouviu bem agora?Meu coração disparou, e meu corpo inteiro ficou tenso. A
Fiquei ali parada, em completo estado de confusão, tentando processar tudo. Só então percebi que o Jean de agora não era o mesmo de antes. Ele havia mudado. Tornou-se mais difícil de compreender, mais direto, mais imprevisível.Respirei fundo, tentando me recompor. Olhei para o quarto, onde Saulinho ainda dormia profundamente, e ajeitei minha roupa antes de sair.Jean estava no terraço, com o vento bagunçando levemente seu cabelo. Ele parecia estar pensando em algo, talvez tentando se acalmar. Higger estava ao seu lado, andando ao redor dele com o rabo balançando animadamente.Hesitei por um momento, mas acabei me aproximando devagar.— Kiara, vamos nos casar. — Ele disse de repente, sem sequer se virar para me olhar. Sua voz era firme, direta, sem rodeios.Meu coração disparou. Fiquei completamente surpresa, olhando para a figura alta e imponente dele, sem saber como reagir.“Ele só pode estar brincando...”Finalmente, ele virou-se para mim. Seus olhos estavam calmos, mas carregavam u
Jean olhou para mim e, ao perceber minha expressão descrente, riu.— O que foi? Não acredita no poder de encantamento do seu filho?— Você está dizendo que eu… que eu “mãe pelo filho”? — Perguntei hesitante, um tanto desconfortável com a ideia.— Um pouco. — Ele respondeu, com um sorriso provocador.Fiquei sem palavras, sentindo-me ligeiramente embaraçada. Isso nunca foi minha intenção.— Sua família não acha que eu tive o filho de propósito para usá-lo como uma forma de pressão, acha? — Perguntei, preocupada. Se fosse esse o caso, seria uma grande mal-entendido, e eu precisava esclarecer isso.Jean balançou a cabeça com leveza, seu tom carregado de uma calma que quase beirava a exasperação.— Kiara, você está sendo sensível demais. Se você quisesse usar o filho para conseguir algo, teria feito isso quando descobriu que estava grávida. Ou, no máximo, logo depois que ele nasceu. Assim, você não precisaria ter passado por tudo sozinha nesses dois anos.Suas palavras me deram um alívio im
— Como assim? Com Jean por perto, ninguém se atreveria a te humilhar. — Bela disse com convicção, cruzando os braços como se estivesse completamente certa.Fiquei em silêncio por um momento, pensando no pedido de casamento de Jean. Já que estava com elas, talvez fosse uma boa oportunidade para ouvir suas opiniões.— Quando ele nos trouxe de volta, foi bem direto e sério sobre casamento.— O quê? Casamento?! Você está dizendo que ele já te pediu em casamento? — Bela exclamou, arregalando os olhos em puro choque.— Não foi exatamente um pedido… Ele apenas disse, com muita seriedade, que deveríamos nos casar. Até mencionou que, se fizermos isso, os nossos avós poderão partir sem arrependimentos.Ao repetir as palavras de Jean, percebi novamente como tudo parecia… casual. Ele apresentou várias razões para o casamento, mas nenhuma delas parecia genuinamente romântica ou emocional.Nina, que estava ouvindo com atenção, franziu o cenho.— Isso soa… meio impessoal. Ele chegou a se declarar par
Percebi os olhares insistentes de Jean pelo retrovisor e, desconfortável, virei a cabeça para olhar pela janela, fingindo não notar.Ele pareceu sorrir levemente e, após um breve silêncio, perguntou:— Sobre o que eu propus ontem… Já pensou? O prazo acabou.Meu coração deu um salto. Virei-me para encarar seu perfil, tentando ganhar tempo com uma desculpa qualquer.— Eu… ainda é muito cedo. Minha cabeça nem está funcionando direito.Jean riu suavemente e, surpreendentemente, não insistiu. Apenas continuou dirigindo calmamente.Quando chegamos ao hospital, desci do carro com Saulinho nos braços, enquanto Jean pegava do porta-malas várias sacolas de produtos caros e suplementos nutritivos.— Não precisava disso tudo. Minha avó mal consegue comer alguma coisa agora. — Falei, sentindo-me sem graça.— É só uma questão de educação. — Ele respondeu, sem dar muita importância. Enquanto caminhávamos para o setor de internação, ele abaixou o tom de voz e acrescentou. — Ontem à noite, meus pais co
Eu estava irritada. Se, por um lado, a atitude de Jean poderia ser interpretada como responsabilidade, por outro, era difícil não sentir que ele estava me desrespeitando, tomando decisões sem meu consentimento.— Jean, eu ainda não aceitei! Como você pode decidir isso sozinho? — Ignorei o olhar de tia Julia e de minha avó, endireitei a postura e o confrontei diretamente.Mas Jean permaneceu calmo, com uma naturalidade quase exasperante. Olhou para mim e respondeu:— Você está hesitando demais, pensando em mil coisas. Então, por que não deixar que tia Julia e sua avó deem a opinião delas diretamente?Dito isso, ele virou-se para tia Julia e perguntou com seriedade:— Tia Julia, você aprova que eu e Kiara fiquemos juntos?— Bem… — tia Julia ficou completamente surpresa com a pergunta e, sem saber como responder, olhou automaticamente para minha avó.Minha avó, que estava deitada na cama, levantou uma das mãos trêmulas, como se quisesse falar.Imediatamente me inclinei para perto dela, se