Jean olhou para mim e, ao perceber minha expressão descrente, riu.— O que foi? Não acredita no poder de encantamento do seu filho?— Você está dizendo que eu… que eu “mãe pelo filho”? — Perguntei hesitante, um tanto desconfortável com a ideia.— Um pouco. — Ele respondeu, com um sorriso provocador.Fiquei sem palavras, sentindo-me ligeiramente embaraçada. Isso nunca foi minha intenção.— Sua família não acha que eu tive o filho de propósito para usá-lo como uma forma de pressão, acha? — Perguntei, preocupada. Se fosse esse o caso, seria uma grande mal-entendido, e eu precisava esclarecer isso.Jean balançou a cabeça com leveza, seu tom carregado de uma calma que quase beirava a exasperação.— Kiara, você está sendo sensível demais. Se você quisesse usar o filho para conseguir algo, teria feito isso quando descobriu que estava grávida. Ou, no máximo, logo depois que ele nasceu. Assim, você não precisaria ter passado por tudo sozinha nesses dois anos.Suas palavras me deram um alívio im
— Como assim? Com Jean por perto, ninguém se atreveria a te humilhar. — Bela disse com convicção, cruzando os braços como se estivesse completamente certa.Fiquei em silêncio por um momento, pensando no pedido de casamento de Jean. Já que estava com elas, talvez fosse uma boa oportunidade para ouvir suas opiniões.— Quando ele nos trouxe de volta, foi bem direto e sério sobre casamento.— O quê? Casamento?! Você está dizendo que ele já te pediu em casamento? — Bela exclamou, arregalando os olhos em puro choque.— Não foi exatamente um pedido… Ele apenas disse, com muita seriedade, que deveríamos nos casar. Até mencionou que, se fizermos isso, os nossos avós poderão partir sem arrependimentos.Ao repetir as palavras de Jean, percebi novamente como tudo parecia… casual. Ele apresentou várias razões para o casamento, mas nenhuma delas parecia genuinamente romântica ou emocional.Nina, que estava ouvindo com atenção, franziu o cenho.— Isso soa… meio impessoal. Ele chegou a se declarar par
Percebi os olhares insistentes de Jean pelo retrovisor e, desconfortável, virei a cabeça para olhar pela janela, fingindo não notar.Ele pareceu sorrir levemente e, após um breve silêncio, perguntou:— Sobre o que eu propus ontem… Já pensou? O prazo acabou.Meu coração deu um salto. Virei-me para encarar seu perfil, tentando ganhar tempo com uma desculpa qualquer.— Eu… ainda é muito cedo. Minha cabeça nem está funcionando direito.Jean riu suavemente e, surpreendentemente, não insistiu. Apenas continuou dirigindo calmamente.Quando chegamos ao hospital, desci do carro com Saulinho nos braços, enquanto Jean pegava do porta-malas várias sacolas de produtos caros e suplementos nutritivos.— Não precisava disso tudo. Minha avó mal consegue comer alguma coisa agora. — Falei, sentindo-me sem graça.— É só uma questão de educação. — Ele respondeu, sem dar muita importância. Enquanto caminhávamos para o setor de internação, ele abaixou o tom de voz e acrescentou. — Ontem à noite, meus pais co
Eu estava irritada. Se, por um lado, a atitude de Jean poderia ser interpretada como responsabilidade, por outro, era difícil não sentir que ele estava me desrespeitando, tomando decisões sem meu consentimento.— Jean, eu ainda não aceitei! Como você pode decidir isso sozinho? — Ignorei o olhar de tia Julia e de minha avó, endireitei a postura e o confrontei diretamente.Mas Jean permaneceu calmo, com uma naturalidade quase exasperante. Olhou para mim e respondeu:— Você está hesitando demais, pensando em mil coisas. Então, por que não deixar que tia Julia e sua avó deem a opinião delas diretamente?Dito isso, ele virou-se para tia Julia e perguntou com seriedade:— Tia Julia, você aprova que eu e Kiara fiquemos juntos?— Bem… — tia Julia ficou completamente surpresa com a pergunta e, sem saber como responder, olhou automaticamente para minha avó.Minha avó, que estava deitada na cama, levantou uma das mãos trêmulas, como se quisesse falar.Imediatamente me inclinei para perto dela, se
Depois de dois anos, voltar à empresa foi como entrar em um lugar familiar, mas com novas histórias. Muitos rostos eram novos, mas também reencontrei alguns antigos colegas. Tatiana, por exemplo, ainda estava lá, agora ocupando o cargo de assistente da Nina e chefe da secretaria.Quando ela me viu, ficou surpresa por um momento, mas logo seu rosto se transformou em pura alegria.— Kiara! Você voltou! — Ela exclamou, correndo até mim e segurando meu braço com entusiasmo. — É você mesmo! Finalmente se lembrou de nós! Dois anos sumida, sem nenhuma notícia!Nina, que tinha vindo me receber na entrada da empresa, riu ao ouvir o comentário de Tatiana.— Olha só, sua antiga equipe está te acusando de ser uma ex-chefe cruel e sem coração.Eu sorri, concordando com a cabeça.— Sim, sim, foi mal. Hoje o almoço é por minha conta. Tatiana, veja quem dos antigos funcionários pode ir e convide todos.— Certo! Vou organizar tudo! — Disse Tatiana, animada, antes de sair apressada.Quando entrei na sal
— Alô.— Que horas você volta? — Jean perguntou em um tom baixo.— Estou almoçando com antigos colegas de trabalho. Ainda não terminamos. Por quê? — O barulho no salão privado estava alto, então me levantei e fui para fora enquanto respondia.— Você está aproveitando bem, não é? Deixou o filho comigo e foi se divertir.Fiquei sem palavras. Esse homem estava claramente tirando vantagem da situação, mas ainda assim agia como se tivesse sido prejudicado. Com um pouco de coragem vinda do álcool, retruquei:— Você não perdeu os primeiros anos da vida dele? Agora que tem a chance de compensar, está reclamando?— Esquece, não vou discutir com você. Onde você está almoçando? Vou levar ele para aí. Ele está chorando, chamando pela mãe, e ninguém consegue acalmá-lo.Exatamente como eu imaginei. Era hora do cochilo de Saulinho, e ele estava agitado por não me ver por perto. Vendo que o almoço estava quase no fim, respondi com o nome do restaurante e o orientei:— Quando chegar, me avise. Vou lá f
— Só estou dizendo que, pelo jeito que ele olha para você, parece que ainda não desistiu de te conquistar. — Disse Jean.Era até engraçado. Ele estava no carro, a uma distância considerável, e ainda assim se achava capaz de interpretar o olhar de outra pessoa.Não consegui conter o tom de ironia ao responder:— Então o problema é com os seus olhos. Ele já tem namorada, Jean.— Tem mesmo?— Tem, sim. Agora dirija logo! — Do lado de fora, vários ex-colegas de trabalho olhavam na nossa direção. Eu não queria virar o centro das atenções ou o assunto dos curiosos. Só queria sair dali o mais rápido possível.Finalmente, Jean ordenou ao motorista que seguisse. Ao mesmo tempo, ele subiu os vidros do carro, isolando-nos do mundo lá fora.No meu colo, meu filho, cansado de tanto chorar, acabou adormecendo rapidamente. Ele se aconchegou em mim, a respiração suave, e eu o mantive firme nos meus braços.Jean estendeu a mão na minha direção.— Deixa que eu seguro ele.— Não precisa. Assim, deitado n
Eu permaneci com o rosto imóvel, sem dizer nada. Olhando para o espelho todos os dias, eu sabia muito bem o que esses dois anos tinham feito comigo. Não há mulher que passe pela maternidade sem envelhecer. As celebridades só conseguem manter a aparência porque têm pessoas para dividir o trabalho de criar os filhos, gastam fortunas em tratamentos faciais, e investem em exercícios e cuidados constantes.Já comigo, mesmo nos momentos mais difíceis, quando contratei ajuda, a maior parte da responsabilidade ainda recaía sobre mim.Fiquei em silêncio por um longo tempo antes de murmurar:— E você não se importa que eu tenha envelhecido? Que eu esteja feia?Jean riu, e seu tom ficou leve, quase brincalhão:— Claro que me importo. Mas o que posso fazer? Você é a mãe do meu filho.Franzi as sobrancelhas, irritada.— O que você quer dizer com isso? Ainda diz que não está com pena de mim?Ele riu de novo, mas desta vez com um ar mais carinhoso:— Estou brincando. Eu não me importo. Na verdade, eu