— Alô.— Que horas você volta? — Jean perguntou em um tom baixo.— Estou almoçando com antigos colegas de trabalho. Ainda não terminamos. Por quê? — O barulho no salão privado estava alto, então me levantei e fui para fora enquanto respondia.— Você está aproveitando bem, não é? Deixou o filho comigo e foi se divertir.Fiquei sem palavras. Esse homem estava claramente tirando vantagem da situação, mas ainda assim agia como se tivesse sido prejudicado. Com um pouco de coragem vinda do álcool, retruquei:— Você não perdeu os primeiros anos da vida dele? Agora que tem a chance de compensar, está reclamando?— Esquece, não vou discutir com você. Onde você está almoçando? Vou levar ele para aí. Ele está chorando, chamando pela mãe, e ninguém consegue acalmá-lo.Exatamente como eu imaginei. Era hora do cochilo de Saulinho, e ele estava agitado por não me ver por perto. Vendo que o almoço estava quase no fim, respondi com o nome do restaurante e o orientei:— Quando chegar, me avise. Vou lá f
— Só estou dizendo que, pelo jeito que ele olha para você, parece que ainda não desistiu de te conquistar. — Disse Jean.Era até engraçado. Ele estava no carro, a uma distância considerável, e ainda assim se achava capaz de interpretar o olhar de outra pessoa.Não consegui conter o tom de ironia ao responder:— Então o problema é com os seus olhos. Ele já tem namorada, Jean.— Tem mesmo?— Tem, sim. Agora dirija logo! — Do lado de fora, vários ex-colegas de trabalho olhavam na nossa direção. Eu não queria virar o centro das atenções ou o assunto dos curiosos. Só queria sair dali o mais rápido possível.Finalmente, Jean ordenou ao motorista que seguisse. Ao mesmo tempo, ele subiu os vidros do carro, isolando-nos do mundo lá fora.No meu colo, meu filho, cansado de tanto chorar, acabou adormecendo rapidamente. Ele se aconchegou em mim, a respiração suave, e eu o mantive firme nos meus braços.Jean estendeu a mão na minha direção.— Deixa que eu seguro ele.— Não precisa. Assim, deitado n
Eu permaneci com o rosto imóvel, sem dizer nada. Olhando para o espelho todos os dias, eu sabia muito bem o que esses dois anos tinham feito comigo. Não há mulher que passe pela maternidade sem envelhecer. As celebridades só conseguem manter a aparência porque têm pessoas para dividir o trabalho de criar os filhos, gastam fortunas em tratamentos faciais, e investem em exercícios e cuidados constantes.Já comigo, mesmo nos momentos mais difíceis, quando contratei ajuda, a maior parte da responsabilidade ainda recaía sobre mim.Fiquei em silêncio por um longo tempo antes de murmurar:— E você não se importa que eu tenha envelhecido? Que eu esteja feia?Jean riu, e seu tom ficou leve, quase brincalhão:— Claro que me importo. Mas o que posso fazer? Você é a mãe do meu filho.Franzi as sobrancelhas, irritada.— O que você quer dizer com isso? Ainda diz que não está com pena de mim?Ele riu de novo, mas desta vez com um ar mais carinhoso:— Estou brincando. Eu não me importo. Na verdade, eu
Jean sorriu e disse:— Não precisa duvidar, esse realmente é um dos motivos.O quê? Ele está me pressionando para registrar o casamento só por causa disso?Fiquei paralisada, encarando-o sem palavras, completamente incrédula.— Vamos, vou levar vocês para cima. — Ele disse, levantando-se calmamente.Jean, ainda consciente da presença do motorista no carro, não tentou mais nada, mas pegou Saulinho do meu colo e nos acompanhou até o apartamento.No elevador, ele me observava fixamente, com um olhar intenso e cheio de ternura. Eu me senti desconfortável com a profundidade do olhar dele e perguntei, tentando desviar a tensão:— Por que está me olhando assim?— Estou aproveitando para te olhar direito. Antes, quando não estávamos bem, eu tinha medo de te encarar por muito tempo e acabar te irritando. — Ele respondeu com seriedade, deixando-me ainda mais sem graça.Quando entramos no apartamento, ele colocou Saulinho, que ainda dormia profundamente, no sofá. Aproveitei o momento para me afas
Estar ao lado de Jean trazia uma sensação de conforto indescritível, como se eu fosse envolvida por uma brisa suave e acolhedora.— Eu te amo, e isso já é razão suficiente para você merecer o meu amor. — Disse ele.Essas palavras fizeram meu coração inflar. Uma autoconfiança inexplicável tomou conta de mim. Nossos olhares se cruzaram por alguns instantes, e, constrangida, acabei desviando o olhar, piscando rapidamente.— Mas eu não sou ninguém agora… — Confessei em voz baixa.Embora estivesse começando a trabalhar em um novo projeto, a doença da minha avó e os cuidados com meu filho pequeno me obrigariam a colocar novamente meus planos profissionais em pausa.— Você criou o nosso filho sozinha. Isso já é algo enorme. Não se pressione tanto. Além disso, com o seu talento, retomar sua carreira é só uma questão de tempo. — Jean respondeu, com firmeza.Sorri para ele, um pouco mais aliviada.— Você confia tanto assim em mim?— Claro que sim. — Jean virou-se para mim e segurou minhas mãos e
Levantei-me para responder ao brinde e, ao olhar para Jean, sorri antes de dizer:— Nestes dois anos, vocês, com certeza, também tiveram que se preocupar muito com ele. Obrigada por tudo.— Não foi nada. — Pablo respondeu com seu típico bom humor. — Ele não nos torturou tanto assim. Toda a pressão foi para os funcionários dele. Dois anos inteiros funcionando como uma máquina, sem parar um segundo. Quando você for beber com o pessoal da empresa dele, vai precisar levantar um brinde em nome de todos eles.Olhei para Jean e senti meu coração apertar. Bela já tinha mencionado algo assim antes, mas ouvir isso de seus amigos agora fazia tudo parecer ainda mais doloroso. Minha tentativa de protegê-lo, de afastá-lo em nome de um "bem maior", acabou sendo o que mais o machucou.Mesmo assim, ele nunca reclamou. Continuou me amando como sempre, sem nenhuma mágoa, sem nenhum ressentimento. Uma onda de emoção passou por mim, e, sem pensar, peguei a garrafa de vinho e enchi nossos dois copos.Jean f
— E daí? Fazer amor com minha esposa não precisa de hora marcada. — Jean respondeu com um sorriso antes de me beijar.Virei o rosto, desconfortável.— Que cheiro forte de álcool…Ele parou e cheirou a si mesmo. Parecia também não estar satisfeito. Eu pensei que ele já estivesse impaciente, mas, para minha surpresa, ele segurou minha mão e me puxou para levantar.— Vamos, precisamos nos lavar.Apesar de seu jeito descontraído, percebi que ele também tinha suas preocupações. Não queria que nossa primeira vez juntos, depois de dois anos, fosse marcada por uma má impressão.Ele tentou me pegar no colo, mas eu, temendo que ele pudesse perder o equilíbrio, resisti. Entre brincadeiras e empurrões, Jean acabou me pegando no colo de qualquer maneira, me segurando como se eu não pesasse nada.— Já disse que não estou bêbado… — Ele murmurou, rindo.Eu sabia que não tinha como escapar daquela tarde, então suspirei e lembrei a ele:— Nosso filho ainda está no hospital. Tia Julia está cuidando dele.
Dizia que o casamento era o túmulo do amor, mas ainda era melhor ser enterrado com dignidade do que apodrecer ao relento. Depois de mais de dois meses de trabalho árduo, finalmente terminei de costurar, com minhas próprias mãos, o meu vestido de noiva.Sob a luz do abajur, ele parecia tão branco e elegante, brilhando com um esplendor indescritível. Uma verdadeira obra-prima.Eu já podia me imaginar, em poucos dias, caminhando pelo corredor vestida de noiva, em direção ao homem que amava. Só de pensar nisso, eu quase sorria nos meus sonhos. Dos 19 aos 25 anos, foram seis longos anos de amor. Finalmente, meu relacionamento seria "enterrado" no altar.Mas, ao acordar certa manhã, tudo desmoronou. Todos os meus sonhos se transformaram em pó.— Kiara, o Sr. Davi veio ao ateliê esta manhã para buscar o vestido. Ele o levou para casa? — Perguntou minha assistente, Tatiana, ao telefone, com a voz cheia de curiosidade.Eu tinha acabado de acordar e ainda estava meio grogue. Ao ouvir aquilo, fra