Eu estava irritada. Se, por um lado, a atitude de Jean poderia ser interpretada como responsabilidade, por outro, era difícil não sentir que ele estava me desrespeitando, tomando decisões sem meu consentimento.— Jean, eu ainda não aceitei! Como você pode decidir isso sozinho? — Ignorei o olhar de tia Julia e de minha avó, endireitei a postura e o confrontei diretamente.Mas Jean permaneceu calmo, com uma naturalidade quase exasperante. Olhou para mim e respondeu:— Você está hesitando demais, pensando em mil coisas. Então, por que não deixar que tia Julia e sua avó deem a opinião delas diretamente?Dito isso, ele virou-se para tia Julia e perguntou com seriedade:— Tia Julia, você aprova que eu e Kiara fiquemos juntos?— Bem… — tia Julia ficou completamente surpresa com a pergunta e, sem saber como responder, olhou automaticamente para minha avó.Minha avó, que estava deitada na cama, levantou uma das mãos trêmulas, como se quisesse falar.Imediatamente me inclinei para perto dela, se
Depois de dois anos, voltar à empresa foi como entrar em um lugar familiar, mas com novas histórias. Muitos rostos eram novos, mas também reencontrei alguns antigos colegas. Tatiana, por exemplo, ainda estava lá, agora ocupando o cargo de assistente da Nina e chefe da secretaria.Quando ela me viu, ficou surpresa por um momento, mas logo seu rosto se transformou em pura alegria.— Kiara! Você voltou! — Ela exclamou, correndo até mim e segurando meu braço com entusiasmo. — É você mesmo! Finalmente se lembrou de nós! Dois anos sumida, sem nenhuma notícia!Nina, que tinha vindo me receber na entrada da empresa, riu ao ouvir o comentário de Tatiana.— Olha só, sua antiga equipe está te acusando de ser uma ex-chefe cruel e sem coração.Eu sorri, concordando com a cabeça.— Sim, sim, foi mal. Hoje o almoço é por minha conta. Tatiana, veja quem dos antigos funcionários pode ir e convide todos.— Certo! Vou organizar tudo! — Disse Tatiana, animada, antes de sair apressada.Quando entrei na sal
— Alô.— Que horas você volta? — Jean perguntou em um tom baixo.— Estou almoçando com antigos colegas de trabalho. Ainda não terminamos. Por quê? — O barulho no salão privado estava alto, então me levantei e fui para fora enquanto respondia.— Você está aproveitando bem, não é? Deixou o filho comigo e foi se divertir.Fiquei sem palavras. Esse homem estava claramente tirando vantagem da situação, mas ainda assim agia como se tivesse sido prejudicado. Com um pouco de coragem vinda do álcool, retruquei:— Você não perdeu os primeiros anos da vida dele? Agora que tem a chance de compensar, está reclamando?— Esquece, não vou discutir com você. Onde você está almoçando? Vou levar ele para aí. Ele está chorando, chamando pela mãe, e ninguém consegue acalmá-lo.Exatamente como eu imaginei. Era hora do cochilo de Saulinho, e ele estava agitado por não me ver por perto. Vendo que o almoço estava quase no fim, respondi com o nome do restaurante e o orientei:— Quando chegar, me avise. Vou lá f
— Só estou dizendo que, pelo jeito que ele olha para você, parece que ainda não desistiu de te conquistar. — Disse Jean.Era até engraçado. Ele estava no carro, a uma distância considerável, e ainda assim se achava capaz de interpretar o olhar de outra pessoa.Não consegui conter o tom de ironia ao responder:— Então o problema é com os seus olhos. Ele já tem namorada, Jean.— Tem mesmo?— Tem, sim. Agora dirija logo! — Do lado de fora, vários ex-colegas de trabalho olhavam na nossa direção. Eu não queria virar o centro das atenções ou o assunto dos curiosos. Só queria sair dali o mais rápido possível.Finalmente, Jean ordenou ao motorista que seguisse. Ao mesmo tempo, ele subiu os vidros do carro, isolando-nos do mundo lá fora.No meu colo, meu filho, cansado de tanto chorar, acabou adormecendo rapidamente. Ele se aconchegou em mim, a respiração suave, e eu o mantive firme nos meus braços.Jean estendeu a mão na minha direção.— Deixa que eu seguro ele.— Não precisa. Assim, deitado n
Eu permaneci com o rosto imóvel, sem dizer nada. Olhando para o espelho todos os dias, eu sabia muito bem o que esses dois anos tinham feito comigo. Não há mulher que passe pela maternidade sem envelhecer. As celebridades só conseguem manter a aparência porque têm pessoas para dividir o trabalho de criar os filhos, gastam fortunas em tratamentos faciais, e investem em exercícios e cuidados constantes.Já comigo, mesmo nos momentos mais difíceis, quando contratei ajuda, a maior parte da responsabilidade ainda recaía sobre mim.Fiquei em silêncio por um longo tempo antes de murmurar:— E você não se importa que eu tenha envelhecido? Que eu esteja feia?Jean riu, e seu tom ficou leve, quase brincalhão:— Claro que me importo. Mas o que posso fazer? Você é a mãe do meu filho.Franzi as sobrancelhas, irritada.— O que você quer dizer com isso? Ainda diz que não está com pena de mim?Ele riu de novo, mas desta vez com um ar mais carinhoso:— Estou brincando. Eu não me importo. Na verdade, eu
Jean sorriu e disse:— Não precisa duvidar, esse realmente é um dos motivos.O quê? Ele está me pressionando para registrar o casamento só por causa disso?Fiquei paralisada, encarando-o sem palavras, completamente incrédula.— Vamos, vou levar vocês para cima. — Ele disse, levantando-se calmamente.Jean, ainda consciente da presença do motorista no carro, não tentou mais nada, mas pegou Saulinho do meu colo e nos acompanhou até o apartamento.No elevador, ele me observava fixamente, com um olhar intenso e cheio de ternura. Eu me senti desconfortável com a profundidade do olhar dele e perguntei, tentando desviar a tensão:— Por que está me olhando assim?— Estou aproveitando para te olhar direito. Antes, quando não estávamos bem, eu tinha medo de te encarar por muito tempo e acabar te irritando. — Ele respondeu com seriedade, deixando-me ainda mais sem graça.Quando entramos no apartamento, ele colocou Saulinho, que ainda dormia profundamente, no sofá. Aproveitei o momento para me afas
Estar ao lado de Jean trazia uma sensação de conforto indescritível, como se eu fosse envolvida por uma brisa suave e acolhedora.— Eu te amo, e isso já é razão suficiente para você merecer o meu amor. — Disse ele.Essas palavras fizeram meu coração inflar. Uma autoconfiança inexplicável tomou conta de mim. Nossos olhares se cruzaram por alguns instantes, e, constrangida, acabei desviando o olhar, piscando rapidamente.— Mas eu não sou ninguém agora… — Confessei em voz baixa.Embora estivesse começando a trabalhar em um novo projeto, a doença da minha avó e os cuidados com meu filho pequeno me obrigariam a colocar novamente meus planos profissionais em pausa.— Você criou o nosso filho sozinha. Isso já é algo enorme. Não se pressione tanto. Além disso, com o seu talento, retomar sua carreira é só uma questão de tempo. — Jean respondeu, com firmeza.Sorri para ele, um pouco mais aliviada.— Você confia tanto assim em mim?— Claro que sim. — Jean virou-se para mim e segurou minhas mãos e
Levantei-me para responder ao brinde e, ao olhar para Jean, sorri antes de dizer:— Nestes dois anos, vocês, com certeza, também tiveram que se preocupar muito com ele. Obrigada por tudo.— Não foi nada. — Pablo respondeu com seu típico bom humor. — Ele não nos torturou tanto assim. Toda a pressão foi para os funcionários dele. Dois anos inteiros funcionando como uma máquina, sem parar um segundo. Quando você for beber com o pessoal da empresa dele, vai precisar levantar um brinde em nome de todos eles.Olhei para Jean e senti meu coração apertar. Bela já tinha mencionado algo assim antes, mas ouvir isso de seus amigos agora fazia tudo parecer ainda mais doloroso. Minha tentativa de protegê-lo, de afastá-lo em nome de um "bem maior", acabou sendo o que mais o machucou.Mesmo assim, ele nunca reclamou. Continuou me amando como sempre, sem nenhuma mágoa, sem nenhum ressentimento. Uma onda de emoção passou por mim, e, sem pensar, peguei a garrafa de vinho e enchi nossos dois copos.Jean f