Terminei de preparar a mamadeira, fechei bem a tampa e comecei a agitá-la. Enquanto isso, olhei para Jean e disse:— Essas perguntas que você está fazendo… só posso responder assim. Se você insiste em me culpar por não ter te contado, eu realmente não sei como te explicar. Mas, na época, nas circunstâncias em que eu estava, não dava para te dizer. Além disso… Quando descobri que estava grávida, minha saúde não estava boa. Eu tinha tomado medicamentos por causa de uma doença, e os médicos não garantiam que o bebê nasceria saudável. Naquele momento, minha ideia era esperar para ver. Eu queria manter a gravidez até fazer exames mais completos, e, se algo desse errado, talvez fosse necessário interromper. Por conta de tudo isso, optei por não te contar.Depois de terminar, estendi a mamadeira para meu filho e, virando-me para Jean, disse:— Senta aí. Para de ficar andando de um lado para o outro. Deixa ele tomar o leite tranquilo.Jean voltou para a sala com o pequeno nos braços e se sento
Jean relutou para sair. Antes de ir, ele abraçou Saulinho novamente, deu-lhe um beijo carinhoso e falou com ele por um bom tempo, em um tom tão doce que parecia querer compensar todo o tempo perdido.Ele só saiu quando Nina e Bela voltaram.— E aí? Como foi? Vocês conversaram sobre tudo? — Bela perguntou, enquanto colocava a comida que tinha trazido para mim sobre a mesa.Sorri de leve, mantendo a calma, e respondi:— Foi tranquilo. Ele parece não ter intenção de disputar a guarda do pequeno. Só pediu para que, depois que eu levasse o menino para visitar minha avó amanhã, ele também pudesse levá-lo para conhecer o Mestre Auth.Nina assentiu, concordando.— Faz sentido. Os avós de ambos os lados esperavam que vocês tivessem filhos. Agora que isso aconteceu, é natural que eles queiram conhecer a criança.Bela, no entanto, parecia mais curiosa.— E para você? Ele não falou nada? Não fez nenhuma declaração?— Que tipo de declaração? — Perguntei, sem entender.— Você sabe do que eu tô falan
Eu segurei a mãozinha de Saulinho, tentando acalmá-lo enquanto tia Julia o distraía com seu jeito doce. Felizmente, meu filho tinha um temperamento alegre e corajoso. Bastaram algumas palavras carinhosas e promessas de brinquedos e guloseimas para que ele se animasse e deixasse de resistir.Entramos no quarto. Minha avó estava acordada. Apesar da fraqueza evidente, o rosto dela se iluminou ao ver o bisneto. Com esforço, ela levantou a mão, chamando-nos para nos aproximarmos.Tia Julia, com cuidado, levou Saulinho até a cama. A mão frágil e magra da minha avó tocou a mãozinha pequena e macia de Saulinho. A cena era tão simbólica que parecia carregar o peso da continuidade da vida, da conexão entre gerações.Ao observar aquilo, senti um nó na garganta. Não consegui conter a emoção, e meus olhos se encheram de lágrimas.Ficamos no quarto por um bom tempo. Meu filho brincou com minha avó, trazendo um pouco de alegria para aquele momento. Mas o corpo dela já não tinha forças. Não demorou mu
Tia Julia franziu a testa, claramente intrigada.— O que isso significa? Será que eles querem te aceitar?— Não é possível... — Balancei a cabeça, rejeitando a ideia antes mesmo de considerá-la. Minha intuição me dizia que não era esse o caso.Se fosse tão simples assim, se bastasse “mãe pelo filho”, então o que teria sido aquele término de partir o coração que Jean e eu enfrentamos anos atrás? Se a família Auth realmente quisesse me aceitar, por que tudo aquilo teria acontecido? Eu não sabia o que eles queriam, mas uma coisa era certa: Jean não estava me dando a chance de fugir dessa situação.Meia hora depois, Jean chegou ao hospital e nos encontrou. Como eles tinham brincado juntos no dia anterior, Saulinho reconheceu Jean imediatamente. Assim que Jean estendeu os braços, o pequeno levantou os dele sem hesitar e se jogou no colo do pai.Senti uma pontada de ciúmes. O vínculo sanguíneo realmente era algo impressionante. Mesmo sem terem convivido, eles já estavam tão conectados, tão à
Quando eles viram o neto, ficaram tão emocionados que lágrimas brilharam em seus olhos. Não conseguiam esconder a euforia e o carinho, tanto que mal conseguiam terminar as frases.— Querido, veja só! É igualzinho ao Jean quando era pequeno! Meu Deus, é impressionante como ele se parece! — Sra. Auth, normalmente tão calma e elegante, estava visivelmente emocionada. Sua voz tremia de excitação, algo raro de se ver.O Sr. Auth, sempre sério e reservado, também não conseguiu esconder a emoção. Ele ficou olhando fixamente para o bebê nos braços de Jean por um longo tempo antes de finalmente assentir e dizer:— É mesmo muito parecido, mas parece mais esperto do que o Jean era nessa idade.Jean imediatamente protestou, fingindo indignação:— Vocês estão tirando o amor que tinham por mim e passando para o neto!Sra. Auth riu de leve, sem dar muita atenção à queixa dele. Ela se aproximou e, com uma doçura quase inesperada, falou com o bebê:— Meu amor, eu sou sua vovó. Posso te pegar no colo um
O peso que carreguei no peito durante toda a manhã finalmente começou a se dissipar. Senti meu corpo relaxar aos poucos, mas ainda estava ligeiramente tensa.Jean percebeu e se aproximou, falando em um tom baixo e tranquilo:— Daqui a pouco vou levar o pequeno para o jardim do meu avô. Você… quer ir junto?Levantei os olhos para ele, ponderando. Algo dentro de mim dizia que isso não seria apropriado. Mestre Auth tinha deixado claro, anos atrás, que era contra o nosso relacionamento. Ele já tinha uma nora em mente, alguém que considerava ideal para Jean, e eu concordei em me afastar para não criar mais problemas.Agora, dois anos depois, eu aparecia novamente, com um filho nos braços, pegando todos de surpresa. Ir até o Mestre Auth poderia parecer uma afronta, como se eu estivesse forçando a situação ou me exibindo.— Acho melhor não. — Respondi, baixando o tom de voz. — E se ele ficar irritado? Não quero ser a responsável por algo assim.Jean me olhou por um momento, depois assentiu.—
— Seu irmão levou ele para o jardim do seu avô, para conhecer o bisavô. — Expliquei.— Ué, e por que você não foi junto?— Fiquei com medo de irritar o Mestre Auth. — Admiti, sorrindo sem jeito. — Afinal, eu escondi de vocês que tive o filho.Ao mencionar isso, segurei a mão de Amélia e perguntei diretamente:— Você sabe o que seus pais realmente pensam sobre isso? Para ser sincera, estou bem apreensiva. Mas sua mãe parece estar sendo… gentil demais comigo.— Ah, Kiara, que preocupação boba! — Amélia deu uma risada e, com um leve tapa na minha mão, me puxou para sentarmos em um banco no jardim. — Você não faz ideia do que aconteceu nesses dois anos.Curiosa, fiquei em silêncio, esperando que ela continuasse.— Desde que você foi embora, meu irmão virou um maníaco por trabalho. Sete dias por semana, vinte e quatro horas por dia. Ele só pensava em trabalhar! — Amélia começou, gesticulando com empolgação. — E aí teve a Emilia. Você lembra dela, né? Pois então, ela começou a perseguir meu
Amélia me puxou sem dar a menor chance de recusar, e antes que eu percebesse, já estávamos no pequeno jardim.Jean estava parado na porta e, ao me ver, acenou com a mão:— O vovô quer falar com você. Ele tem algo para dizer.Caminhei até ele, mas antes que eu abrisse a boca, Amélia perguntou:— Mano, onde está o meu sobrinho?— Está com o vovô. — Jean respondeu com calma.Amélia imediatamente acelerou o passo e entrou na casa. Eu e Jean ficamos lado a lado, caminhando um pouco atrás.— O que o vovô quer falar comigo? Ele está bravo? — Perguntei em voz baixa, com certa preocupação.— Fica tranquila, ele não está bravo. Na verdade, ele adorou o Saulinho. Quando o Saulinho o chamou de “bisa”, ele ficou tão emocionado que não cabia em si de felicidade! — Jean respondeu, tentando me tranquilizar.Quando ele se virou para mim e sorriu, seus olhos brilharam. Era como se pequenas estrelas tivessem se alojado em suas íris.Aquela expressão tão familiar trouxe à tona memórias do passado, de quan