Depois de me acalmar na estrada, finalmente consegui retomar o controle e continuar dirigindo.Quando cheguei em casa, Nina me olhou com curiosidade e perguntou:— Você não saiu antes de mim? Por que chegou só agora? Achei que tivesse ido almoçar com a Bela.Balancei a cabeça e respondi:— Não, só peguei trânsito. Vim dirigindo devagar.Coloquei no chão a caixa que estava carregando. Era o último conjunto de itens pessoais que eu havia trazido do escritório.Nina percebeu que algo estava errado e se aproximou, preocupada:— Você está bem? Está triste por ter vendido a empresa? Eu sei que essa marca foi o seu maior projeto, seu sonho de anos. Deve ser difícil deixar tudo para trás assim, de repente...Suspirei, tentando disfarçar o cansaço emocional:— É claro que dói um pouco. Foram muitos anos de dedicação, mas já está feito. Não adianta ficar remoendo.— Então, o que houve?Olhei para o sofá e, sentindo o peso do dia nas costas, me joguei ali, completamente exausta. Depois de respira
Enquanto olhava pela janela do avião, vendo a cidade que eu tanto amava desaparecer lentamente no horizonte, as lágrimas começaram a cair como uma tempestade que eu não conseguia controlar.A jovem que estava sentada ao meu lado percebeu meu estado e, sem dizer nada, estendeu um lenço de papel.— Obrigada. — Agradeci, tentando sorrir, mas minha voz estava embargada.Ela apenas assentiu, respeitando meu espaço, e eu me concentrei em acalmar meu coração. Precisava aprender a esconder essa dor, a enterrá-la onde ninguém pudesse alcançá-la.A longa viagem me exauriu física e emocionalmente. No final, acabei adormecendo, mergulhando em um sono agitado que, por algumas horas, me deu alívio do sofrimento.Dois anos depois.Era Natal mais uma vez. Bela veio para a Inglaterra para passar o feriado comigo e, claro, para ver seu afilhado, Jackson.Fui ao aeroporto buscá-la, levando Jackson no carrinho de bebê. Assim que vi minha melhor amiga aparecer, acenei animadamente.Jackson, sentado no carr
Nesses dois anos, sonhei incontáveis vezes com Jean me encontrando. No sonho, ele me via cuidando de Jackson sozinha, vivendo uma vida difícil e exaustiva. Ele segurava meu pescoço com força e dizia:— Kiara, eu não te disse que, se fosse embora, você precisava estar bem? Caso contrário, eu te traria de volta!E todas as vezes eu acordava assustada, com o coração disparado. Mas o que me deixava mais frustrada era perceber que aquilo não passava de um sonho.Por que era apenas um sonho? Por que não podia ser real?Eu sentia falta dele. Às vezes, me pegava imaginando como ele reagiria ao descobrir que tinha um filho. Outras vezes, sonhava com um futuro onde nos reconciliávamos, vivendo como uma família de verdade, sem segredos, sem barreiras.Como seria bom...Bela ouviu meus devaneios e assentiu com firmeza:— Eu acho que isso pode acontecer! Ele ainda está solteiro, sabia? Aposto que também não esqueceu você.Ri com desdém, mas por dentro meu coração acelerou.— Como assim? Talvez ele
Jean não sabia se eu estava solteira, se eu era feliz, mas continuava esperando no mesmo lugar, pronto para romper qualquer amarra e assumir a responsabilidade pela minha “vida quebrada”.Ele, com certeza, temia que, caso se casasse, algum dia recebesse notícias minhas. Descobrisse que eu não estava bem, que vivia sozinha, e quisesse reatar comigo, mas ficasse preso às obrigações de sua nova família, incapaz de avançar ou recuar.Pensando nisso, depois de dar banho no meu filho e colocá-lo para dormir, voltei para a sala.Bela ainda estava acordada. Ela estava na varanda, observando a vista noturna.Quando me viu, ela virou-se surpresa e comentou:— O Natal aqui na Inglaterra também é muito elegante, não é?Assenti com a cabeça:— É sim. Mas acho que nós, que estamos longe de casa durante as festas, ainda precisamos celebrar mais intensamente.— O meu afilhado já está dormindo? — Bela perguntou, com um sorriso.— Sim. Ele não dormiu muito durante o dia, então agora consegui colocá-lo p
Eu ainda não tinha respondido quando Bela insistiu:— Você não acha que isso é muito injusto com o Jackson? O pai dele está vivo, mas ele nem sabe disso.— Eu não pensei no futuro... Pelo menos, por enquanto, não tenho coragem... — Murmurei, hesitante. No fundo, o que eu mais temia era que Jean tentasse disputar a guarda do meu filho.Eu queria esperar Jackson crescer um pouco mais, até ele ter idade suficiente para entender e fazer suas próprias escolhas. Se fosse inevitável, pai e filho poderiam se conhecer no futuro.— Mas agora é justamente o momento em que ele mais precisa de um pai por perto. Perder essa fase da infância será um arrependimento para os dois pelo resto da vida.A voz de Bela era calma, mas suas palavras ecoaram pesadas no meu coração.— Vou pensar melhor sobre isso. Você deve estar cansada hoje. Vá descansar cedo. Amanhã saímos para passear. — Disse, tentando encerrar o assunto, já que minha mente estava uma bagunça.Bela ficou comigo por quatro dias antes de segui
Bela e Nina vieram juntas me buscar no aeroporto. Eu empurrava o carrinho com uma mão e carregava a bagagem com a outra, mas de longe já as vi acenando animadas.— Bem-vinda de volta! Saulinho, vem cá, deixa eu te pegar! — Bela foi a primeira a me cumprimentar, mas não esperou que eu me aproximasse. Correu até o carrinho e tirou o pequeno Jackson de lá.Nina, por sua vez, nem olhou para mim. Foi direto até o menino, inclinando-se para observá-lo de perto.— Ué, não dizem que filho homem puxa à mãe? Mas esse aqui... é a cópia do pai! — comentou Nina, com um tom divertido.Bela arqueou as sobrancelhas, sorrindo:— Não falei? Não estou exagerando nem um pouco.— É mesmo! — Concordou Nina, com sua habitual falta de filtro. — Só de colocar esse menino na frente do Sr. Jean, ele nem vai precisar de teste de DNA para saber que é filho dele.As pessoas ao nosso redor começaram a olhar, atraídas pelo tom alto e espontâneo de Nina.Eu, completamente ignorada pelas duas, resolvi protestar:— Você
— Vá para casa cuidar do seu filho. Deixe que eu fico aqui com sua avó. Você precisa descansar, dormir um pouco. Amanhã você traz o Saulinho para vê-la. Não faz diferença esperar uma noite. — Disse tia Julia, com um tom gentil, mas firme.Eu estava prestes a responder quando o celular vibrou no meu bolso. Peguei para ver quem era. Bela. Meu primeiro pensamento foi que Saulinho havia acordado e que elas não estavam conseguindo lidar com ele.— Bela, já estou voltando para casa. — Disse rapidamente assim que atendi.Do outro lado, houve uma pausa. Bela parecia hesitante, até gaguejante.— Kiara, eu... hã, então...A maneira como ela falava me deixou imediatamente em alerta. Um frio percorreu minha espinha.— Bela, o que houve? — Perguntei, a voz começando a tremer.Antes que ela pudesse responder, ouvi um barulho do outro lado, como se o celular tivesse mudado de mãos. E, então, uma voz que eu não ouvia há tanto tempo, mas que nunca deixara de ecoar nos meus sonhos, soou do outro lado da
Enquanto eu olhava para a tela do celular, as lágrimas começaram a escorrer sem que eu pudesse controlá-las. Na minha mente, as palavras que Bela tinha dito antes ecoaram novamente.Se eu realmente escondesse a verdade da criança para sempre, impedindo que pai e filho se conhecessem e se reconhecessem, isso seria muito injusto para ele. Na verdade, seria cruel. Não importa o quanto eu me esforce para ser uma boa mãe, nunca poderei preencher o vazio deixado pela ausência de um pai.Além disso, Jean claramente era um pai maravilhoso, alguém que amava o filho mais do que tudo.Voltei à realidade e respondi à mensagem da minha amiga:— Estou chegando.No entanto, quando finalmente cheguei ao condomínio, hesitei. Minhas pernas tremeram, e a coragem que ainda restava em mim desapareceu. Eu não consegui subir. Não fazia muito tempo que eu tinha vivido ali, mas já fazia dois anos desde que tinha ido embora.O ambiente do condomínio tinha mudado. As instalações estavam diferentes. Dei duas volt