— Sr. Lucas, não sei se estou entendendo errado, mas a sua preocupação comigo parece ir além de uma relação comum entre colegas de trabalho. — Eu o encarei com um olhar educado e formal.Lucas ficou surpreso, claramente desconcertado. Depois de alguns segundos, ele levou a mão ao nariz, um gesto que não deixava dúvidas de seu nervosismo.— Eu realmente admiro você. — Ele respondeu, após uma breve pausa. — E você sabe que eu não sou preso a esses conceitos tradicionais. Não me importo com o fato de você já ter sido casada ou de ter namorado antes.Por dentro, senti uma pontada desconfortável. Não esperava que ele fosse tão direto.— Agradeço pela sua admiração, mas, depois de tudo o que passei, realmente não tenho mais expectativas em relação a relacionamentos. — Sorri, mas foi um sorriso amargo. Eu queria deixar claro para ele, sem dar margem para mal-entendidos.— Kiara, eu não sou como eles. Meus pais vivem no exterior, estão divorciados há anos e cada um segue sua vida, sem nunca in
— Como assim? Você vem pra cá a trabalho? — Perguntei.— Não, eu pedi demissão! — Nina soltou a bomba, mas logo anunciou com empolgação. — Vou voltar pra Saurimo pra trabalhar. Agora a gente vai poder se ver sempre!— Pediu demissão? Por quê? Tem a ver com aquela vez que você veio aqui conversar com o headhunter ano passado?— Sim, exatamente. Fechamos tudo. O salário é melhor, e claro que eu ia aceitar. Além disso, ficar aqui na minha cidade natal, sendo obrigada pela minha família a ir em encontros arranjados, estava me enlouquecendo!Eu entendi bem o que ela queria dizer. Muitas pessoas deixam suas cidades natais justamente para escapar dos parentes e daquela rede social sufocante onde todo mundo conhece todo mundo. A vida já é difícil o bastante sem precisar lidar com as cobranças e expectativas da família.— Parabéns! Quem busca o melhor sempre avança. Eu apoio você. Quando você vem? — Perguntei, já animada com a ideia de ter uma amiga por perto novamente.— Semana que vem! E eu t
Meu estômago revirava de um jeito estranho, e eu achei que fosse só fome. Pensei comigo mesma que, assim que a reunião terminasse, eu precisava comer algo urgentemente. Mas quando o encontro chegou ao fim e eu me levantei, mal consegui dar dois passos. Uma tontura repentina tomou conta de mim. Minha visão ficou turva, minha cabeça parecia pesar uma tonelada e minhas pernas fraquejaram.Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, desabei. A última coisa que ouvi antes de perder completamente a consciência foram os gritos de Lucas e Tatiana, que correram na minha direção.Depois disso, tudo ficou em branco. Quando abri os olhos novamente, eu já estava deitada em uma cama de hospital.— Kiara, você acordou! — Tatiana exclamou, aliviada, enquanto se aproximava de mim com um sorriso. — Você nos deu um baita susto! Do nada, simplesmente desmaiou. Se não fosse o Sr. Lucas te segurar a tempo, você teria batido a cabeça na porta de vidro.Eu ainda estava meio atordoada. Minha mente
Lucas e Tatiana me levaram até o quarto. Era uma suíte espaçosa e confortável, digna de um hospital de alto padrão.— Kiara, eu posso ficar com você essa noite. — Tatiana disse rapidamente, ao notar a cama de acompanhante ao lado.Franzi a testa e recusei prontamente:— Não precisa. Eu não estou tão mal assim. Consigo me virar sozinha. E, com sorte, talvez até receba alta hoje mesmo, à tarde.No fundo, eu não queria ficar internada, de jeito nenhum. Ainda mais depois de ter encontrado Jean no corredor. Aquele lugar começou a me sufocar.Eu temia que, se continuasse ali, acabasse esbarrando nele de novo. E, se isso acontecesse, e ele continuasse com aquela frieza, como se eu fosse uma desconhecida, meu coração provavelmente não aguentaria mais um golpe.Ainda pior seria se, fragilizada pela doença, eu não conseguisse me segurar e acabasse dando o primeiro passo, tentando conversar, tentando segurá-lo mais uma vez. Se isso acontecesse, eu sabia que a relação entre nós, que já estava comp
— O que houve? Já posso ter alta? — Perguntei assim que abri os olhos.Tatiana balançou a cabeça.— Não, o médico chegou.Virei-me rapidamente e vi dois médicos entrando no quarto.— Srta. Kiara, aqui está o resultado dos seus exames. — O médico me entregou o relatório, mas antes que eu pudesse sequer entender o que estava escrito, ele soltou a bomba. — Você está grávida. O desmaio provavelmente foi causado por um desconforto típico do início da gestação.Meu mundo parou. Por um momento, era como se eu tivesse levado um choque. Meus ouvidos zumbiam, e minha mente estava completamente vazia. Olhei para o médico, incrédula:— O quê? Eu estou... grávida?— Sim, é um início de gestação. Mas seu estado de saúde não é dos melhores. Você está com pressão alta, anemia e colesterol elevado. Imagino que esteja trabalhando muitas horas, dormindo pouco e se alimentando mal. Nesse ritmo, seu corpo pode não suportar bem a gravidez. Se você decidir ter o bebê, precisará cuidar muito melhor da sua saú
— Tatiana, essa notícia precisa ficar em segredo, entendeu? — Olhei firme para Tatiana, minha expressão séria, quase severa.Tatiana franziu a testa, hesitante.— Kiara, você não vai contar para o Sr. Jean? É algo tão importante...— Segredo! — Interrompi, reforçando com um tom mais firme.Ela imediatamente fechou a boca e assentiu em silêncio, sem insistir.— O que o médico disse sobre os meus problemas de saúde? — Perguntei. Agora que eu tinha decidido ter o bebê, já havia incorporado o papel de mãe. Eu precisava garantir que meu corpo estivesse saudável para cuidar dessa nova vida. Durante a consulta anterior, estava tão chocada que nem tinha prestado atenção nos detalhes.— Você está exausta por excesso de trabalho e falta de descanso. O médico disse que sua pressão está alta, você tem colesterol elevado e está anêmica.— Entendi. Preciso dormir bem. E peça uma refeição reforçada. Quando eu acordar, quero comer direito.Depois de dar essas instruções, me virei e me deitei novamente
Aquela voz familiar me tirou qualquer dúvida: não era um sonho, nem um engano. Era Jean. O mesmo Jean que, durante o dia, fingira que eu não existia, incapaz de sequer lançar um olhar na minha direção.Meu coração disparou, confuso e desordenado, enquanto sua mão firme segurava meu braço para me impedir de cair. Mas, ao lembrar de como ele havia agido mais cedo, a mágoa tomou conta de mim. Sem pensar duas vezes, desvencilhei-me do toque dele.— O que você está fazendo aqui no meio da noite? Quer me matar de susto, aparecendo assim como um fantasma? — Repreendi, sem esconder minha irritação.— Desculpe. — Ele pediu desculpas, com aquele tom gentil e quase cauteloso que eu conhecia tão bem. Por um instante, parecia o Jean de antes, aquele que sempre me tratava com cuidado.Era como se o homem frio e distante do corredor, mais cedo, fosse outra pessoa completamente diferente.— Só queria saber como você está. — Ele explicou, em voz baixa.Engoli em seco, tentando controlar a ansiedade que
Jean foi embora, mas eu passei a noite inteira sem conseguir dormir. Quando finalmente peguei no sono, já era madrugada, e acabei acordando bem tarde no dia seguinte.Depois que o médico fez a ronda, aproveitei para perguntar sobre meu estado de saúde. Ele disse que, com repouso e cuidados, eu ficaria bem. Assim, pedi alta imediatamente. Eu não podia continuar no hospital, temia que um novo encontro com Jean complicasse ainda mais as coisas.Ao voltar para o apartamento recém-alugado, senti uma mistura de alívio e inquietação. O lugar era muito mais espaçoso e iluminado do que o anterior, e até Higger, meu cachorro, parecia animado com a mudança. Assim que me viu, ele correu até mim, pulando e latindo de alegria.— Kiara, descanse um pouco. Eu levo o Higger para passear. — Tatiana disse, atenciosa como sempre. Ela já havia pego a coleira do cachorro e, antes que eu pudesse responder, saiu pela porta com ele.Sentei-me no sofá, sentindo uma leve exaustão no corpo. Minha mão, quase por r