01

"Sob a chama ardente que consome nossas memórias, o que uma vez chamamos de amor se reduz a cinzas. Eu pronuncio teu nome em um sussurro trêmulo, quase mudo. As palavras são levadas pelo vento, sem eco, sem retorno, e eu fico com a quebra da minha voz, segurando lágrimas que prometi nunca derramar. Há uma tempestade interna, desagradável, arrancando o pouco que resta de mim. Mas eu me agarro à metade de nós dois que é esperança, ternura, inocência, amor: Ele é um sussurro na tempestade."

***

A tempestade estava fazendo das suas lá fora. Abracei-me, envolvendo os braços ao redor de mim. Provavelmente a luz voltaria quando a tempestade acalmasse. Saí tropeçando, ainda sonolenta. Dirigi-me ao quarto do Isaac e o encontrei adormecido. Da moldura do seu quarto, observei-o com um meio sorriso. Ele era uma criança incrível, não se abalava com os estrondos dos relâmpagos ou trovões. Mas o pequeno corajoso que dormia profundamente também era sensível a alergias a gatos e cachorros. Além de ter medo do escuro, mas quando dormia profundamente, não tinha medo de estar tudo sombrio ao seu redor. Entre coragem e medos, como todo ser humano, havia uma criança maravilhosa e inteligente.

Avancei sorrateiramente, não querendo acordá-lo, ele ficava ranzinza quando interrompia seus doces sonhos. Consegui me enfiar na cama com ele e o abracei. Ele apenas murmurou enquanto dormia e continuou cochilando. Deixei o telefone na mesinha e tentei dormir, ignorando que lá fora tudo estava tremendo.

...

De manhã, fui vítima de um jovem distribuindo beijos em todo o meu rosto. Assim eram as minhas manhãs; devolvi o gesto fazendo cócegas nele. Ele se contorceu sob o meu corpo como uma minhoca, quando me cansei, recebi a sua vingança. No final, eu o aconcheguei de propósito, ele ficava de mau humor quando eu dizia que ele ainda era o meu bebê, não importa se já tinha sete anos.

—Mamãe! —ele resmungou, com raiva, suas sobrancelhas grossas franzidas.

—Você pode ficar bravo se quiser, mas você é o pequeno da mamãe. —eu assegurei apenas para vê-lo irritado.

Ele estreitou os olhos, parecendo muito com Ismaíl.

—Eu não posso ser um bebê, lembre-se que sou o mais inteligente da minha classe. —ele declarou com o queixo erguido.

A cena matinal mais engraçada.

—Claro, não posso esquecer que tenho o filho mais inteligente deste planeta. Sobre isso, vá se arrumar, ou vamos nos atrasar para a escola e um garoto sabichão como você evita atrasos. —eu disse com doçura.

Ele abriu os olhos horrorizado. Sim, Isaac Lombardi odiava a falta de pontualidade. Por isso ele tinha um enorme relógio na parede do seu quarto, outro na mesinha e apenas para ter certeza de que ambos estavam marcando a hora correta, um no seu pulso esquerdo.

Sacudi divertida a cabeça e saí em direção ao meu quarto, eu precisava começar a me arrumar. Como todas as segundas-feiras, meu turno começava às nove em ponto. O que significava que eu estava contando os minutos, a boa notícia é que há alguns meses Kelly me incentivou a dirigir, aprendi rápido e tirei minha carteira de motorista, agora eu não pegava mais ônibus nem ficava histérica só porque todos os táxis estavam ocupados.

—Vamos tomar café! —eu avisei, terminando de fazer os ovos mexidos.

Meu filho apareceu arrumadinho, com o cabelo arrumado, o uniforme impecável. Do meu lugar, pude sentir seu perfume delicioso. Como um verdadeiro homenzinho, ele se sentou no banquinho e cruzou as mãos sobre a bancada. Assim como seu pai, sua maior falha era ser impaciente, isso transparecia até pelos poros.

—Aqui está, torradas e ovos mexidos, queridinho. —deixei o prato na frente dele e antes de pegar o meu, me inclinei para deixar um beijo em sua bochecha —. Mas como você está cheiroso, filho.

—Por favor, você pode passar a pasta de amendoim? —ele perguntou com voz irritada.

Revirei os olhos e passei o pote de pasta de amendoim para ele. Mas lhe dei um olhar de advertência porque não tinha gostado daquele tom de voz.

—Acho que hoje podemos fazer algo diferente, talvez dar um passeio. O que você acha? —eu propus dando uma mordida na torrada que eu espalhei geleia vermelha."

Ele olhou para mim por cima dos cílios e voltou ao que estava fazendo, quase me ignorando. Espere, ele acabou de fazer isso. Limpei minha garganta para chamar sua atenção.

- Estou falando com você, Isaac. - repreendi com uma expressão séria.

- Eu sei, não quero sair para passear.

Ele nem mesmo fez contato comigo.

- Por quê?

- É estranho, só eu e você. Meus colegas saem com seus pais, mas eu só com você - ele soltou um bufão e depois me olhou com olhos de cachorrinho - Quando poderei conhecer meu pai? Por que você não tem uma foto dele, mãe? - Ele perguntou em um tom baixo, mas que ainda soava exigente.

Eu sabia que ele insistiria nesse assunto. Não adiantou evitá-lo por anos. Fingir que ele não existia, apagá-lo de sua vida, nada funcionou. E eu temi desde o dia em que ele nasceu, tive medo de que chegasse o dia em que ele fizesse a mesma pergunta.

Com um enorme nó na garganta, a ponto de ser dilacerante, deixei o café da manhã pela metade.

- N-não é hora de falar sobre esse assunto. Então termine de comer e sem mais perguntas, Isaac. - Eu consegui dizer com a voz trêmula.

Eu tinha perdido o apetite. Então eu me levantei e expliquei que iria pegar as chaves do carro.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo