03

Arrumei a saia do meu vestido rosa claro, bonito sem deixar de lado o sutil e sóbrio. Com meu cabelo ruivo, fiz um coque torcido na minha cabeça. Dei uma última olhada, dando uma volta suave; os Louboutins pretos que decidi calçar eram confortáveis. Então não teria problemas para caminhar.

Peguei minhas coisas e saí apressada. Lá fora encontrei meu filho terminando seu cereal. Eu não tinha intenção de comer nem um pedaço, nada. Tanto nervosismo fluindo em minhas veias, bombeando excessivamente meu coração, me tornava um robô. Forçando cada sorriso, tentava que Isaac não percebesse o horrível nervosismo que invadia meu ser.

- Querido, apresse-se.

Dei-lhe alguns minutos, depois pegou sua mochila e saímos voando. Durante o trajeto, nem a música de fundo, nem sua conversa sobre carros esportivos diminuíram o medo que sentia. Minhas respostas eram robóticas, sem o mínimo interesse no que ele falava.

O sinal mudou para vermelho naquele momento.

- Quando eu crescer, poderei ter um carro? - perguntou.

- Sim, claro.

- Mamãe, por que você está tão bonita? - perguntou de repente.

Eu o olhei com um sorriso meio torto.

- Obrigada, pensei que parecia assim todos os dias, mas você tem razão - acariciei seu cabelo escuro e ele arrumou imediatamente as mechas que desarrumei -. Vou fazer uma entrevista.

»Vou entrevistar seu pai, Isaac«.

—Legal. Você virá me buscar?

—Não sei —torci os lábios —. Mas caso eu não possa, direi a Kelly para passar por você.

—Tudo bem, pelo menos diga à tia Kelly para me comprar um sorvete na saída, tá? —implorou juntando as mãos, admirei de soslaio aqueles olhinhos azuis —. Por favor, por favor, por favor...

—Tá bom.

Não precisava implorar, raramente negava alguma coisa a ele, porque não resistia àqueles safiras brilhando.

Ao chegar na escola, ele soltou o cinto de segurança. Ele me beijou com doçura. Enchi meus pulmões com seu aroma, recuperando uma coragem firme com seu abraço. Urgida para acumular coragem, prolonguei o abraço.

—Eu te amo, te amo infinitamente, Isaac. —declarei afetada.

—Eu também, mamãe. Mas você está me sufocando...

Entre risadinhas, eu o liberei.

—Desculpa, seja bonzinho. Embora eu nem precise dizer isso, você sempre é, meu amor. —soltei apertando sua bochecha.

Ele bufou baixinho e olhou para o relógio em seu braço esquerdo.

—Vou perder a aula da senhora Patterson... —pronunciou com certa preocupação.

—Bom, vai lá. Tenha um bom dia.

—Boa sorte na entrevista. —expressou e fechou a porta do carro.

Inspirei fundo, tentando oxigenar minha mente. Quando ele saiu de vista, agarrei o volante e continuei dirigindo.

Ao pé do enorme prédio de noventa andares, senti um vertigem perigoso, a forma impiedosa como serpenteou através de mim. Assim que o visse, ficaria paralisada, tinha a premonição de que ao observá-lo, não suportaria a arranhadura por dentro. Quis subir a janela do carro e voltar para casa, ligar para Anastasia e explicar que estava indisposta.

Talvez uma contingência na escola de Isaac soasse crível. Não, não era verdade. Só uma covarde absoluta era capaz de inventar essa mentira.

Enfrentaria a situação.

Um jovem de expressão indefinível se aproximou inclinando-se em minha janela.

—Bom dia, em que posso ajudá-la?

Devolveu a saudação e peguei minha identificação no painel. Mostrei-lhe, falando ao mesmo tempo a ladainha de palavras que costumava dizer com tom formal.

—Mariané Lombardi, jornalista da revista Magnani, venho para a entrevista com Ismaíl Al-Murabarak. Onde estaciono o carro?

—Você poderia descer aqui, eu cuido do resto —me piscou um olho, eu franzi a testa, hesitante —. É que sou o manobrista.

A inscrição em seu uniforme atestava que ele era funcionário da empresa automotiva.

—Ah, entendi.

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