04

Peguei minhas coisas, saí do Nissan e permiti que ele tomasse meu lugar. O rapaz, com gentileza, explicou que estaria de olho na minha saída e traria o carro. Quis dar gorjeta, mas ele já tinha acelerado. Avancei até a entrada, segurando minha bolsa que levava o iPad, uma caneta e um caderno caso o tablet não tivesse carga, o que não tinha certeza se tinha verificado ontem à noite. Pelo menos as perguntas estavam escritas no papel, senão minha memória iria falhar.

O imponente edifício era atraente e moderno. Li em letras douradas: Al-Murabarak Inc., sobressaindo com soberba. Não era para menos, uma das melhores empresas automotivas merecia uma fachada imponente. As portas se abriram à minha frente quando estava a meio passo de atravessar a entrada. Lá dentro, todos se moviam agitadamente. Avistei a recepcionista e me aproximei apressadamente. Ela estabeleceu contato visual comigo enquanto seus olhos desciam para a identificação no meu peito.

- Bom dia, senhorita Lombardi. Em que posso ajudar? - Ela disse, sorrindo levemente.

Não havia mais necessidade de me apresentar.

- Bom dia, tenho uma consulta com o Sr. Al-Murabarak - expliquei, segurando a respiração.

Ela assentiu e digitou algo no computador antes de apertar um botão ao seu alcance - é o interfone.

- Aguarde um momento, a secretária ainda não chegou, mas vou informar o assistente dele.

- Sim, não se preocupe - dei de ombros.

Ela continuou fazendo o seu trabalho e logo falou com outra pessoa através do interfone.

- A jornalista chegou?

- Sim, Danna, preciso que avise ao Sr. Al-Murabarak.

- Entendido, ele acabou de entrar em seu escritório. Mais alguma coisa?

A recepcionista me olhou e eu neguei com a cabeça.

- É só isso, obrigada - depois de desligar, ela se voltou para mim - O escritório do chefe fica no penúltimo andar, é o número 89. Precisa que eu a acompanhe?

Engoli em seco, minha aversão a alturas me deixava sufocada.

Oitenta e nove?!

- Não, acho que posso ir sozinha, obrigada.

- Certo, tenha um bom dia.

- Igualmente - respondi, girando sobre mim mesma.

"Lá vamos nós, Mariané".

Dentro da caixa metálica, respirei fundo até me acalmar. Seria apenas um minuto, no máximo. Lá em cima, esqueceria a altura exorbitante. Alguém mais entrou, era uma mulher. Estudei-a sem poder evitar: cabelo preto, olhos cinzentos com delineado perfeito e vestindo um terno peculiar.

"Você é Mariané?" perguntou, olhando para mim com surpresa.

Nunca a tinha visto antes, então fiquei assustada por ela saber meu nome. Bati mentalmente em mim mesma ao lembrar que estava usando um crachá com meus dados, mas ela nunca olhou para a identificação.

"Como você sabe meu nome?"

"Bem, está escrito aqui", apontou para o meu peito.

"Sim, mas por que você perguntou então?"

"Esqueça..."

"Não, quem é você?" insisti.

Começamos a subir.

"Darrelle Al-Murabarak", disse ela sem me olhar.

Meu coração deu um salto. Preferiria não ter perguntado. Ela era aquela de quem Ismaíl me falou uma vez, diferente dele, separados, ou pelo menos não havia um relacionamento próximo entre eles.

"Eu..."

"Você não precisa me dizer nada", apressou-se a dizer, levando uma mão à testa. "Estou ciente da situação, mas não esperava te encontrar assim, não imaginei te conhecer em um elevador por acaso. Ismaíl nunca nos apresentou ao meu pai e a mim. O que você está fazendo aqui?"

Fiquei em silêncio por alguns segundos, enquanto processava a informação. Foi difícil juntar uma resposta.

"Trabalho na Magnani, vim entrevistar seu irmão", expliquei com a voz trêmula.

"Sinto muito pelo que aconteceu com você, não deve ter sido fácil..."

"Aprendi a viver com isso, não se preocupe", interrompi desconfortável.

Não queria sua pena, seu pesar, que continuasse falando sobre uma apreensão que ela não conhecia como eu. Ela não entendia o que era caminhar sobre minas, queimar a cada passo que dei. Ela não podia sentir a explosão que me deixou em ruínas, das quais ainda havia queimaduras infernais; então não precisava fingir se colocar no meu lugar.

"Fiquei brava com Ismaíl. Você era apenas uma criança, ele não deveria ter se envolvido com você sabendo que isso arruinaria sua vida, que era um pecado imperdoável."

"Não sei por que você sente isso, você nem estava lá para testemunhar. Por favor, pare de falar sobre um assunto que não lhe diz respeito", cuspi, atingida pelas lembranças.

"Você está certa, foi imprudente da minha parte", admitiu envergonhada. "Não começamos com o pé direito, o que acha de recomeçarmos do início?"

Franzi a testa, esperando um contra-ataque, talvez que ela me ignorasse depois de confrontá-la. Mas aconteceu exatamente o oposto: Darrelle insistia em ser amigável.

Não tive escapatória.

"Mariané Lombardi, jornalista da Magnani", apresentei-me respirando fundo.

"Darrelle Al-Murabarak, prazer em conhecê-la, Mariané. E eu fico por aqui", acrescentou quando chegamos ao 70º andar. "Espero nos vermos novamente, então até logo."

"Até breve."

Ela saiu assim que as portas se abriram.

O dia continuava estranho.

Ao chegar ao andar indicado, deparei-me com mais luxo espalhado pelo lugar, cada centímetro gritava limpeza e uma obsessão quase doentia pela perfeição.

Era agora ou nunca.

Supus que a garota de óculos com armações brancas que vinha em minha direção com um tablet em mãos era a assistente. Ela se apresentou como tal, fiz o mesmo pela quarta vez em menos de trinta minutos.

"Pode entrar, senhorita Leombardi."

"Obrigada."

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