TORCENDO POR NÓS
TORCENDO POR NÓS
Por: Josy Ribeiro
01

Sarah olhou em seu relógio de pulso e viu que passava das nove, estava aflita, desejando que aquele ensaio infernal de casamento terminasse logo. Havia trabalhado a madrugada inteira no bufê da senhora Rose Marrie em pé, servindo mesas. Por isso, estava tão exausta. 

Aquele era o ensaio de casamento de sua melhor amiga, Maryene, e Sarah era uma das madrinhas. Aceitou o convite apenas pelo fato de serem quase irmãs, mas sempre soube que sua amiga não pouparia grana e luxo, e para isso ela contratou como cerimonialista Eva Beneth, a mais requisitada do momento.

Desde o início, Sarah não conseguia se sair nada bem com a senhora Beneth. Ela até se esforçava para fazer tudo certinho, mas tinha dificuldades, pois delicadeza não era o seu forte, além de não estar acostumada com todas aquelas regras de etiqueta, o que despertava uma certa implicância da parte de Eva, que nunca estava satisfeita com o seu desempenho e não poupava esforços para demonstrar sua antipatia, como neste exato momento:

— Postura, Sarah! Postura! — falou com seu tom de voz autoritário que sempre usava.

Sarah relatava sobre as provocações de Eva, entretanto, Mary acreditava que fosse a imaginação de sua amiga. Então, respirou fundo a fim de aliviar a tensão que lhe consumia, abaixou a cabeça e bufou enquanto reclamava baixinho para que a senhora Eva não lhe ouvisse ou diria que reclamar também não era nada delicado. Ajeitou sua postura ao lado de Charles, o avô de Mary, um senhor já idoso, porém forte e simpático.

— Casamentos são bem cansativos — reclamou Charles, soltando o ar.

— Eu só queria tomar um bom banho e descansar.

— Falta pouco, espero, pois minha artrose não vai suportar ficar tanto tempo em pé.

Ela o olhou preocupada.

— Você está se sentindo bem?

O viu levar a mão à região lombar.

— Estou bem. Só preciso que isso acabe logo!

Então, Sarah bufou, concordando. Amava sua amiga, mas desejava mais do que tudo não ser madrinha naquele casamento. Seu orçamento estava apertado, e encomendar um vestido importado como todas as outras madrinhas também não cabia em suas finanças. Mas a pior parte de tudo isso foi ter que aceitar ficar no altar ao lado de Antony Sillve, o padrinho escolhido por Breno. O conhecia dos tempos do colégio, haviam cursado o ensino médio juntos, foram tempos terríveis dos quais Sarah não gostava de se recordar.

"Flashback"

Dez anos atrás...

Antony Sillve, o garoto mais popular da escola, sempre rodeado pelas garotas mais lindas e pelos rapazes do time de futebol, como agora. A jovem loira de olhos verdes e de uniforme dobrado na altura do estômago, mostrando seu piercing de brilhante, se colocou ao seu lado.

— Oi, Antony... Parabéns pelo jogo...

O rapaz parou sorridente e deixou uma piscadela para a jovem, que abriu um largo sorriso. Rapidamente, outras duas moças tão antipáticas quanto a primeira se uniram a ele para enaltecê-lo. Logo, mais três rapazes tão populares quanto aparecem deixando alguns comentários sobre o jogo.

Sarah estava no canto encostada na parede, naquele tempo ainda usava seus aparelhos e óculos, vaidade não era seu forte. 

Observou a cena se sentindo irritada, odiava pessoas como eles, cheios de si, que se achavam os melhores em tudo e esfregavam na cara dos outros o quão zero à esquerda eram.

Mary e Breno surgiram vindo do pátio principal da escola. Eles, que já se paqueravam, chegaram próximo do grupinho popular e Breno ainda cumprimentou o craque do time, seu primo, num toque de antebraços e cotovelos, parabenizando Antony.

Sarah ainda revirou os olhos, se virando de costas, logo ouviu Mary a chamar pelo nome."

Não podia negar que Antony sempre jogou muito bem, até foi descoberto por um "olheiro", desses que procuram prodígios para investir em suas carreiras. Por isso, se mudou com a família para o Sul, pois havia sido contratado para jogar em um time júnior profissional. 

Assim, nunca mais o viu. Mas seus amigos sempre traziam notícias, e toda a cidade enaltecia o jogador que estava fazendo carreira pelo país  afora. Agora, jogava para um time profissional, às vezes Sarah via alguma notícia nas redes sociais, a mais recente delas era a de especulações sobre um possível relacionamento entre Antony e Lara Bittencourt. Porém, Breno negava, o que era patético, pois estava óbvio demais, e Sarah rebatia, aliás, se fizesse algum comentário negativo a respeito de Antony, seus amigos saiam logo em defesa do jogador, até chegavam a dizer que ela tinha mesmo era ciúmes, e isso a deixava mais irritada.

Semanas atrás...

— O jogador Antony Sillve foi visto em uma festa particular no iate de Daniel Martins, convidados como a atriz Camila Ferreira e a modelo Lara Bitencourt também foram vistos...— Sarah leu em voz alta a notícia postada por um perfil especializado em fofocas.

Ela estava em um almoço com Breno e Mary para decidirem o cardápio do casamento.

— E o que tem de mal nisso, ele só estava se divertindo? — Breno se apressou em defender o primo.

Sarah revirou os olhos.

— Nada, eu não esperava menos do espetacular jogador, afinal, caras como ele levam suas vidas de forma promíscua e tóxica.

Breno insistiu.

— Sarah, não seja injusta. O coitado leva a vida se dedicando ao trabalho, merece alguns minutos de diversão... e aí não diz nada sobre orgia se é isso que você está pensando.

— Coitadinho...— soltou irônica.

Atualmente, as outras madrinhas eram todas ricas e elegantes. A família de Mary pertencia à elite social da cidade. Sarah era a mais simples de todas naquele momento. Não havia conseguido passar em casa para se trocar. Por isso, se destacava com sua calça jeans, que lhe atrapalhava bastante nos movimentos, e seu All Star predileto preto. As outras usavam roupas caras e provavelmente tinham passado horas no salão de beleza. 

Após o ensaio de treino da entrada dos padrinhos, todos partiram para a segunda etapa. A senhora Eva Beneth deu as instruções para que cada um se posicionasse em seu devido lugar no altar. Mais uma vez, destacou sobre as posições dos padrinhos num tom insistente:

— O lado direito pertence ao padrinho, e o esquerdo reservado à madrinha! Por favor, não confundam isso! — disse, dando uma olhada nada discreta para Sarah, que sempre se confundia.

Pode ouvir alguns cochichos sob os olhares esnobes das amigas de Mary. Então respirou fundo, não se sentia confortável com todas aquelas regras inúteis. Mas também que diferença faria estar à direita ou à esquerda?

Pensou baixinho, completamente enfadonha de tudo aquilo.

Mas o fato era que sempre se atrapalhava, sendo alvo daqueles olhares. Sua maior vontade naquele momento era a de sair correndo daquele lugar, se afastar daquelas pessoas. Mas ficaria por sua amiga.

Enfim, a senhora Eva anunciou o término do ensaio. Dispensou a todos, agradecendo pela dedicação, afinal, este era o último encontro de preparação, pois o casamento seria no próximo sábado.

— Pessoal, sábado será o grande dia em que nossos queridos Breno e Maryene subirão ao altar. Então, não se esqueçam do que viram durante os ensaios.

Eva Beneth era aplaudida e ovacionada por todos. Afinal, diziam que era a melhor.

Quando os aplausos cessaram, Eva continuou:

— Muito obrigada a todos pela dedicação, alguns muito e outros pouco, é claro! — ela disse, olhando Sarah por cima dos ombros.

Em resposta, revirou os olhos mais uma vez, já estava cansada daquilo tudo.

— O que essa mulher tem contra mim? — Sarah perguntou baixinho para Mary.

Sua amiga esboçou um leve sorriso em resposta, pois acreditava que fosse um exagero.

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