A festa parecia bastante animada.
Aquele era um espaço ao ar livre e rodeado de árvores. Logo na entrada tinha uma fonte de água com uma maravilhosa cascata. Trata-se de um ambiente semelhante aos belos jardins típicos dos castelos europeus. No centro do gramado, uma banda cantava ao vivo muitas músicas animadas e vários casais se esbaldaram na pista de dança, se divertindo. Os noivos faziam o cumprimento de mesa em mesa e estavam radiantes com a felicidade estampada em seus rostos. Mary caminhava segurando a barra do vestido longo por onde passava, sempre atenciosa com seus convidados. Antony conduziu Sarah de braços dados, acreditando ter finalmente conseguido uma trégua. Quando, na verdade, ela pensava em se livrar dele o mais breve possível, Ele a apresentou a todos os seus amigos e familiares. Caminharam até uma das mesas, onde os pais dos noivos estavam acomodados. Clara, a mãe de Mary, era uma mulher fina e elegante, sempre tratava Sarah como se fosse um membro da família. Recebeu-a em um carinhoso abraço. — Querida, você está muito linda! — Obrigada, senhora Clara! — Aliás, você sempre foi muito linda, minha filha. Ela sorriu timidamente, reagindo ao elogio carinhoso. Antony cumprimentou as senhoras da mesa, sempre atencioso, dando um beijo em cada uma delas. Jim, o seu tio, foi o primeiro homem a se manifestar. — Na verdade, vocês dois formaram um belo casal! Jim era o pai de Breno, tinha Antony como seu filho. Sarah não o conhecia muito bem, se viram poucas vezes, mas assim como todos naquela família, era um homem bastante gentil. Clara continuava com seus elogios: — Você teve sorte, grande Antony, Sarah, além de ser tão bela, é uma moça incrível! — Percebi, senhora Clara, realmente tirei a sorte grande, ela é simplesmente maravilhosa! — Antony disse, olhando para ela. Ele percebeu o quanto os elogios a deixavam tímida, demonstrando pela primeira vez sua vulnerabilidade. Não entendia o motivo pelo qual aquela mulher mexia tanto assim com ele. Talvez fosse toda a expectativa que havia guardado desde o primeiro momento em que Breno descreveu Sarah para ele, aquilo despertou uma curiosidade em conhecê-la. Então, avistaram os noivos, se despediram de todos e foram ao encontro de seus amigos. Mary não conseguia esconder sua aflição, estava curiosa para saber se os dois haviam se acertado. Com a demora que tiveram para chegar, tinha esperanças de que tivessem se entendido. Sarah, no entanto, disfarçou cinicamente, não queria falar sobre aquele assunto, mas sabia que seria impossível se livrar da inquisição de Maryene. Sentiu Mary lhe arrastar pelo braço, fingindo que precisava de sua ajuda para ajustar seu vestido. Mas queria mesmo se afastar um pouco para que pudesse encher sua amiga de perguntas. — Não me olhe desse jeito, Maryene! — Sarah sussurrou enquanto lhe acompanhava. Ela já estava fazendo beicinho. Naqueles anos de amizade, as duas se conheciam bem. Quando Mary queria descobrir algo, conseguia persuadir qualquer um. — Isso não é justo, você tem que me contar tudo! — Não tenho nada para contar, sinto muito — Sarah falou rispidamente. — Mas ele não para de te olhar, está muito interessado em você! — Mesmo de costas enquanto Sarah mexia em seu vestido, sua amiga observava tudo, os olhos de Antony sempre estavam à procura de algo, e era visível que esse algo se chamava Sarah Carter. De repente, os rapazes se aproximaram, fazendo às damas um convite para dançar. Mary, claro, se jogou nos braços do marido animada, mas Sarah demorou alguns segundos para responder. Estava ciente de que teria que dançar a valsa, afinal se preparou para isto naqueles longos ensaios, mas não estava pronta para outra dança. Sempre foi atrapalhada, era do tipo que tropeçava nas coisas e se desequilibrava facilmente, e na dança não era diferente. Percebendo a insegurança em seu rosto, Antony se aproximou de seus ouvidos e sussurrou. — Prometo conduzi-la. O charme dele a envolveu, e quando caiu em si, já estava o seguindo até o centro. A banda acaba de cantar um famoso single da década de 90. Várias pessoas dançavam divertidamente, mas alguns abandonaram a pista na medida em que o ritmo terminava e assim novos casais se aproximavam a fim de se entregarem ao ritmo romântico escolhido pela orquestra. Os homens entrelaçaram seus braços em suas parceiras, enquanto iniciava o som de um cover do cantor americano Bruno Mars - When I was your man. Ela observava sua amiga, admirando o quanto estava feliz. Mary enterrava seu rosto no peito de Breno enquanto balançava em um ritmo completamente apaixonado. Breno era carinhoso e a conduzia pela cintura, demonstrando todo seu amor. De repente, ela sentiu as mãos de Antony tocarem suas costas, permitindo mais uma vez o contato de pele com pele. Se arrependeu pela escolha daquele vestido tão nu na parte de trás. Se ao menos tivesse previsto aquilo, provavelmente teria ficado com outro modelo mais comportado. E seu nervosismo a fazia perder o equilíbrio, e quase pisou em seu pé, ficando mortificada. Mas ele sorriu de forma natural, deixando-a um pouco mais confortável. — Gostaria de conhecê-la mais — falou próximo de seu ouvido. Ela tentou ignorá-lo, mas era cada vez mais difícil. — Já sabe que dançar não é o meu forte. Anthony sorriu novamente. — Você não deveria se subestimar. Está indo bem. Desta vez, foi ela quem sorriu. Percebeu que não era impossível ter uma conversa natural com ele. — Você é um bom mentiroso! Ele ignorou a ênfase em sua última palavra, adorou vê-la sorrindo. Então, seus olhos se prenderam um no outro de forma fixa, ambos não conseguiram se desviar. Estava visível que havia uma atração entre eles. — E fica ainda mais linda quando sorri… Sarah se perdeu por um instante em seus lábios, Antony era sedutor ao extremo, e sabia que precisava ter cuidados. Por isso, impediu que seu corpo se colasse ao seu. A música seguia em um ritmo lento, e assistir Breno e Mary aos beijos como se existissem apenas os dois naquele lugar não ajudou. Quando Sarah virou o rosto, seus lábios quase se tocaram, ela sentiu seu rosto queimar, ele, no entanto, pareceu gostar. — Me perdoe — ela pediu num impulso, ainda envergonhada. Mas ele não se importava, na verdade, beijá-la era tudo que desejava. — Não precisa pedir perdão. — Falou de uma forma sincera que a incomodou. — Sarah, somos adultos. Ela respirou fundo. A confiança dele era irritante. — Anthony, acho que dançar com você não foi uma boa ideia… Ela falou, se soltando de seus braços para sair. Sarah sentiu seu corpo balançar de um lado para outro na medida em que se desequilibrou. Seus pés tinham escorregado de dentro das sandálias. Oh! Céus, de novo não! E antes que atingisse o chão. Aquelas mãos fortes lhe seguraram mais uma vez. Não havia nada que ela fizesse que não lhe colocasse nos braços dele. Completamente desconcertada, ela o encarou. — Obrigada... Mais uma vez. Percebeu que já estava em segurança, ou talvez não estivesse, pois o chão parecia ser mais inofensivo do que aquele lindo par de olhos verdes e corpo musculoso que a segurava. — Parece que segurá-la é minha missão nesta terra — ele se gabou. — E você bem que está se divertindo com isso. — Claro, não é todos os dias que uma mulher tão linda cai em meus braços. Duas vezes. Ela sentiu vontade de rir daquela frase clichê. Então, a música finalmente acabou para o alívio dela. E antes que continuassem a conversa, o mestre de cerimônias anunciou que seria o momento da dança do casamento. Todos os casais se afastaram da pista para que primeiramente os recém-casados iniciassem a valsa tradicional, sozinhos. Após alguns minutos de valsa, o ritmo da música se modificou. Breno improvisou alguns passos de foxtrote, levando os convidados à loucura. Logo, os padrinhos foram convidados a entrar na pista como já haviam ensaiado. Sarah encarou Antony temerosa. Sentia-se insegura, pois não haviam ensaiado juntos nem ao menos por uma vez sequer, apesar de ter percebido que ele dançava muito bem. As lembranças de minutos atrás vinham em sua mente. Aquelas mãos firmes lhe segurando e a conduzindo ao som de um cover do Bruno Mars e, por fim, aquele contato que quase se tornou um beijo. Para sua completa surpresa, Antony estava com um sorriso natural, como se nada tivesse acontecido. Ela o seguiu para o centro da pista de dança novamente e todos os casais de padrinhos iniciaram juntos o espetáculo tão esperado. Antony era habilidoso, os passos precisos, então Sarah se sentiu aliviada.A dança terminou e todos os convidados aplaudiram e assobiaram, empolgados com o belo espetáculo assistido. Naquele instante, a orquestra se despediu, afastando-se do palco sob os aplausos de todos, e uma enorme cortina de fumaça preencheu o ambiente. A voz de um dos mais famosos DJs da cidade invadiu o palco, levando os convidados ao delírio com seu som eletrônico dançante. Já era noite, e várias luzes coloridas enfeitavam a pista de dança quando todos começaram a pular, se divertindo com o show. Após dançarem algumas músicas, Sarah se sentiu exausta, havia ultrapassado toda a sua cota daquela noite, precisava se sentar, pois os seus pés estavam doendo. Gentilmente, se despediu, percebendo a decepção no semblante de Antony, que provavelmente não havia desistido de sua conquista. Mary abandonou o marido e acompanhou sua amiga. — Vou com você, Sarah. Acho que preciso de uma bebida. — Eu também estou com muita sede — disse, apoiando-se em seus ombros — Meus pés estão me matando. As
Quando finalmente Antony largou Sarah, ela precisou de alguns minutos para se recompor. Há muito tempo não era beijada assim, há muito tempo mesmo! Se recuperar estava sendo difícil, seu corpo simplesmente não lhe obedecia, sentia o sangue pulsar em cada parte de suas veias, era como se estivesse completamente embriagada, seu cérebro não associava nada naquele momento. Apenas conseguiu ficar sóbria quando ele a soltou lentamente. No entanto, ainda estavam próximos, as mãos dele permaneciam em sua cintura, segurando firme, e um belo par de olhos verdes lhe observavam de forma intensa, sem desviar o foco nem sequer por um instante. Quando Antony sorriu e revelou seus dentes perfeitos, ela pôde sentir um alívio por ele manifestar alguma reação que quebrasse aquele momento tenso que se instaurou. Só então perceberam que estavam sozinhos ali naquele momento. Seus amigos e a inconveniente Keytte haviam desaparecido. Por isso, Antony parecia tão satisfeito, enfim conseguiu se livrar daquela m
Antony estacionou bem próximo à praia do Aurora, que apesar de estar vazia naquela noite, se tratava de um dos mais belos pontos turísticos da cidade. Segurando sua mão, ele a conduziu até a areia enquanto carregava uma garrafa com uma das mãos e duas taças entre os dedos com a outra. O clima estava perfeito, ela sentia a brisa do mar brincar com seus cabelos. Seu penteado já havia se desprendido, mas também não se importava nem um pouco. A lua brilhava naquela imensidão negra do céu estrelado. Se livraram de seus calçados enquanto caminhavam, enfiando os pés na areia. Ele dobrou suas calças até os joelhos, também se livrou do terno, da gravata e agora usava apenas sua blusa de baixo que estava desabotoada, exibindo seu físico perfeito. Antony estava à vontade saltando as ondas que se quebravam na orla, ele sorria em completa alegria. — Isso é muito bom! — gritou em voz alta. Sarah, no entanto, permanecia tímida, mas estava satisfeita, apenas observando-o tão natural, demonstrand
Antony ficou confuso, não havia entendido o motivo de Sarah mudar tão repentinamente. Ambos estavam curtindo o momento, ela estava completamente rendida, eram adultos, desejavam um ao outro, mas de repente ela o rejeitou. Sarah se levantou bastante agitada, talvez envergonhada também, pois não conseguia encarar enquanto usava a desculpa de estar à procura de suas sandálias. O vento continuava balançando os seus cabelos, cobrindo o seu rosto e escondendo sua expressão. — Sarah, o que houve, eu fiz algo errado? — ele perguntou angustiado. Ela o ignorou, sentia muita vergonha, afinal não sabia o que lhe dizer. Antony não iria entender que transar com ele seria a experiência mais incrível de sua vida, porém a mais dolorosa, pois não se veriam mais. Ele se levantou e foi até ela. — Sarah, por favor me diga, o que aconteceu? A segurou delicadamente pelo antebraço. Ela parou naquele momento e respirou fundo. — Eu não estou pronta. Então, Antony também respirou fundo e soltou o ar. —
Já era domingo à tarde e Sarah apenas se levantou porque seu celular apitou por várias vezes. Pensou que talvez pudesse ser ele, Antony, que tivesse conseguido seu número com Breno, mas as mensagens eram todas de Mary, que insistia em falar com ela, mas ignorou sua amiga. Precisavam de tempo para conversarem, tinham muito assunto para colocarem em dia e naquela manhã queriam dormir e descansar. Já era tarde quando despertou. Ainda com dificuldade de abrir os olhos por causa da claridade, esticou os braços e finalmente conseguiu pegar seu telefone. A decepção foi notória em sua expressão, novamente todas as mensagens que tinha em seu telefone eram de Mary e não de Antony. Era compreensível, pois ela mesma havia deixado claro que tudo tinha acabado. Já sua amiga estava enlouquecida de curiosidade para saber o que havia acontecido entre eles. Então, resolveu atendê-la: Ligação On — BOA TARDE, donzela! Me desculpe, mas eu precisava saber de tudo. Estou te ligando há horas, você faz ide
Aquela era a voz dele, Antony Sillve. Sarah tinha certeza. Não havia como se esquecer. Seu tom era alegre, provavelmente naquele instante estava sorrindo, revelando aquelas covinhas nas bochechas. Ela foi tomada por uma mistura de sentimentos, não desejava vê-lo, se lembrou de que não estava nada apresentável, sua aparência não era das melhores, depois de trabalhar em pé por quase dezoito horas servindo mesas, não tinha como estar melhor. Muitas das vezes ela ajudava até mesmo na cozinha do bufê, como nesta manhã, e sabia que o cheiro de gordura misturado com flores e café ainda estava impregnado em suas roupas, afinal Maryene não lhe deixou nem ao menos passar em casa para tomar um banho e se trocar. Seu cabelo era a pior parte, ela se sentia como o solzinho da Rihappy, todo desgrenhado. O desespero foi tomando conta de seu peito, Antony não podia lhe ver assim, ela não se parecia nada com a madrinha bela e elegante daquele dia do casamento, agora estava pálida, devia ter emagrecido
Quando chegou até o seu carro, Sarah se recusou a olhar para trás. Sabia que ele estava lhe seguindo, mas não fazia ideia do que ele queria. Amaldiçoou mil vezes por nunca colocar suas chaves de forma acessível, sempre as jogava de qualquer maneira dentro da bolsa. Agora precisava vasculhar cada bolso, e estava muito aflita, pois sabia que ele estava se aproximando. — Droga... Droga, onde coloquei estas chaves? — sussurrou para si mesma. — Sarah! Ela o ignorou mais uma vez. Conseguiu encontrar as chaves e abriu o carro, mas sentiu a mão dele tocar seu braço, impedindo-a de entrar. — Sarah, por que você está me ignorando? — Ele perguntou, um pouco nervoso. Ela o encarou com uma expressão séria. Afinal, que direito ele tinha de segurá-la? Mas agora sabia que não tinha como fugir daquela conversa. Antony continuou: — Acho que precisamos conversar. Sarah bufou, depois abaixou a cabeça, recusando-se a encará-lo, o que o deixou ainda mais irritado. — Será que você pode, pelo menos
Quando Sarah chegou em casa, lembrou-se de que era o aniversário de casamento de seus pais. Eles estavam em um almoço romântico, seu pai havia cozinhado, Tonny era um homem romântico e várias vezes Sarah desejou encontrar alguém que lhe tratasse com tanto amor, como ele tratava sua mãe. — Oi, minha filha! — Sua mãe lhe saudou com um lindo sorriso. Ela se aproximou e beijou seus pais. — Sente-se, Sarinha, almoce com a gente, hoje é o nosso aniversário — Tonny disse, lhe mostrando a cadeira vazia, esbanjando um sorriso de felicidade. Ela se lembrou de que desde manhã não tinha comido nada, mas também não existia apetite. Como se alimentaria enquanto o mundo estava caindo em sua cabeça? Precisava mesmo de um bom banho e descansar um pouco. Abraçou os pais, felicitando-os pelo dia tão especial. — Não estou com fome, papai — ela respondeu, tentando esconder ao máximo sua tristeza. Meire lhe encarou com uma expressão preocupada. — Minha filha, você está muito magra, parece que não te