05

— Alguém precisando de uma carona?— Anthony falou sorrindo.

Ela ficou mais irritada por ele ficar lindo sorrindo. No entanto, fingiu de desentendida.

— Entre no carro, por favor — Antony pediu.

E mesmo usando um tom de voz gentil desta vez, Sarah não estava disposta a entrar naquele carro de forma alguma. Então, simplesmente ignorou e deu alguns passos à frente, caminhando devagar, enquanto tornava a teclar no seu telefone. Precisava de um Uber.

Notando que ela o ignorava,  seguiu com o carro.

— Prometi a Mary que a levaria.

Sarah nem olhou para trás e disse:

— Tudo bem se eu não for, afinal, você é ótimo com mentiras.

Antony sabia que tinha vacilado contando aquela mentira, mas tinha um bom motivo e precisava dizer isso a ela.

— Sarah! —  chamou novamente.— Por favor— repetiu.

Ela não se conteve, parou onde estava e riu ao se lembrar. 

— Então quer dizer que somos quase irmãos?— falou com tom de voz irônico.

Ele também parou o carro bem ao seu lado.

Antony olhou timidamente para frente e depois para ela.

— Podemos conversar sobre isso. Mas, por favor, venha comigo.

Ela não podia negar que aceitar aquela carona era a decisão mais sensata a se tomar. Antony, no entanto, não esperou por uma resposta, desceu do carro e deu a volta, apenas para lhe abrir a porta. Aquilo era novidade. Nunca nenhum homem havia feito isso, talvez fosse para tentar convencê-la de que realmente era um bom moço, mas ela não estava disposta a ceder tão fácil.

— Eu posso abrir a porta — falou e se virou para entrar no veículo, apressou-se em fechar a porta antes que ele fizesse, ignorando completamente.

Dentro do carro, ela respirou fundo, aquela tensão familiar por estar tão próxima dele a tomava novamente. Ele deu a volta, ainda confuso com a instabilidade da moça. Entrou no carro, colocou o cinto e seguiu viagem. Durante o trajeto, ainda arriscou algum tipo de diálogo, porém Sarah não parecia interessada, nem ao menos o encarou. 

Mesmo assim, insistiu.

— Juro que tenho uma boa justificativa para mentir — mas ela permaneceu indiferente. — Eu disse aquelas coisas…

Então, de repente, Sarah o interrompeu, ainda atenta à sua frente:

— Você não me deve explicações.

Pararam num semáforo e ele aproveitou para olhá-la por um instante. Percebia o quanto estava irredutível e não podia negar que ficava a cada instante mais interessado. 

— Você é sempre assim?— Antony perguntou e não pôde conter um sorriso de leve.

Porém, aquilo a deixou ainda mais irritada.

— Assim como?

— Impulsiva. Não me dá uma chance sequer de esclarecer tudo.

Então, ela o encarou finalmente:

— Esclarecer o quê, você mentiu descaradamente, Antony. Disse que éramos amigos de infância, quando na verdade você nem se quer se lembra de mim.

Ele bufou, realmente não conseguia lembrar dela. Breno ainda tentou ajudá-lo, disse coisas da época da escola, entretanto, Antony não fazia ideia de quem fosse Sarah Carter.

— Olha, quanto a isso, eu juro que já tentei mil vezes me lembrar de você. Breno me disse que havíamos estudado no mesmo colégio. Mas… eu não me lembro.

— Nós estudamos juntos no colegial, por três anos...

Antony franziu a testa, parecia estar fazendo uma enorme força para se recordar.

— Não é possível, eu não me lembro de nenhuma Sarah Carter, e te juro que tenho me esforçado para recordar.

Sarah se virou para a janela e preferiu observar a paisagem local.

Antony não se lembraria mesmo, pois nunca lhe enxergou naquele tempo. Era uma jovem tão insignificante. Por isso, soube que não conseguiria dizer nada sobre o passado para ele, na verdade, aquele assunto havia mexido com ela, e por um instante havia se esquecido de que ele tinha algo para esclarecer. Então, Sarah entendeu tudo, talvez ele estivesse lhe enrolando para que se esquecesse do episódio com o repórter. Aquela ideia a deixou irritada.

De repente, Antony freou o carro. Ela sentiu seu corpo sendo levemente lançado levemente para frente. Ao parar, ele simplesmente se virou, ficando de frente para ela.

Os olhos dela se arregalaram de surpresa.

Então, Antony falou primeiro:

— Ah, não... Não acredito! — Ele disse com voz aflita. — Nós tivemos alguma coisa juntos, é isso? É por isso que você me despreza? Eu devo ter sido um canalha que não se recorda de alguém com quem transou!

Sarah ficou vermelha, aquela hipótese era a mais improvável de todas. Antony estava pensando que talvez tivessem feito sexo. Claro que não! Naquele tempo, ela nem pensava nessa possibilidade, era tão ingênua, já ele havia tido tantas experiências, a ponto de não se lembrar de quem levava para sua cama.

Sarah bufou.

— Não! Não tivemos nada juntos. Não transamos, fique tranquilo.

Antony a encarou, respirou aliviado e relaxou na poltrona. Entretanto, imediatamente percebeu o quanto sua reação foi indelicada e se explicou:

— Não! Eu não me sinto aliviado por não termos tido nada. Você é uma mulher maravilhosa, tenho certeza de que teria sido uma experiência inesquecível, mas é este o meu problema, não me lembro de nada!

Ela já estava farta de qualquer assunto que fosse com ele. Então o ignorou, olhando para a janela. Vieram lembranças da sua adolescência… para isso você precisaria ter me notado… e nunca aconteceu… 

Pensou ela.

Notou que ele ligou o carro e continuou a dirigir. O clima havia ficado mais tenso e nenhum dos dois dizia nenhuma palavra.

Felizmente, haviam chegado ao espaço onde a festa acontecia. O silêncio entre ambos parecia mais constrangedor que antes. Antony desligou o carro lentamente. Antes de entregar as chaves ao manobrista, ele a segurou pelo braço carinhosamente, pedindo para que ela se virasse para ele. 

— Sarah! Eu sei que lhe devo explicações e um pedido de desculpas.

Ele havia se aproximado um pouco mais, a outra mão que estava livre tocou seu outro braço, era como se estivesse presa nos braços dele, e ficou tensa com tal possibilidade. Antony ainda continuou:

— e… prometo que até o fim desta noite irei me retratar.

Os olhos dele estavam fixos nos dela. De uma forma insana, pôde jurar que ele fosse lhe beijar. Sarah ficou petrificada numa mistura de emoções, seu corpo tremia e suas pernas fraquejavam. E quando de repente Antony se afastou, conseguiu respirar, ainda sentindo o calor da mão quente sobre seu antebraço, onde ele tocou.

Enquanto se dirigiam para a festa, Sarah colocou seus pensamentos em ordem rapidamente. E repetiu para si mesma que ele não passava de um galanteador barato.

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