— Alguém precisando de uma carona?— Anthony falou sorrindo.
Ela ficou mais irritada por ele ficar lindo sorrindo. No entanto, fingiu de desentendida. — Entre no carro, por favor — Antony pediu. E mesmo usando um tom de voz gentil desta vez, Sarah não estava disposta a entrar naquele carro de forma alguma. Então, simplesmente ignorou e deu alguns passos à frente, caminhando devagar, enquanto tornava a teclar no seu telefone. Precisava de um Uber. Notando que ela o ignorava, seguiu com o carro. — Prometi a Mary que a levaria. Sarah nem olhou para trás e disse: — Tudo bem se eu não for, afinal, você é ótimo com mentiras. Antony sabia que tinha vacilado contando aquela mentira, mas tinha um bom motivo e precisava dizer isso a ela. — Sarah! — chamou novamente.— Por favor— repetiu. Ela não se conteve, parou onde estava e riu ao se lembrar. — Então quer dizer que somos quase irmãos?— falou com tom de voz irônico. Ele também parou o carro bem ao seu lado. Antony olhou timidamente para frente e depois para ela. — Podemos conversar sobre isso. Mas, por favor, venha comigo. Ela não podia negar que aceitar aquela carona era a decisão mais sensata a se tomar. Antony, no entanto, não esperou por uma resposta, desceu do carro e deu a volta, apenas para lhe abrir a porta. Aquilo era novidade. Nunca nenhum homem havia feito isso, talvez fosse para tentar convencê-la de que realmente era um bom moço, mas ela não estava disposta a ceder tão fácil. — Eu posso abrir a porta — falou e se virou para entrar no veículo, apressou-se em fechar a porta antes que ele fizesse, ignorando completamente. Dentro do carro, ela respirou fundo, aquela tensão familiar por estar tão próxima dele a tomava novamente. Ele deu a volta, ainda confuso com a instabilidade da moça. Entrou no carro, colocou o cinto e seguiu viagem. Durante o trajeto, ainda arriscou algum tipo de diálogo, porém Sarah não parecia interessada, nem ao menos o encarou. Mesmo assim, insistiu. — Juro que tenho uma boa justificativa para mentir — mas ela permaneceu indiferente. — Eu disse aquelas coisas… Então, de repente, Sarah o interrompeu, ainda atenta à sua frente: — Você não me deve explicações. Pararam num semáforo e ele aproveitou para olhá-la por um instante. Percebia o quanto estava irredutível e não podia negar que ficava a cada instante mais interessado. — Você é sempre assim?— Antony perguntou e não pôde conter um sorriso de leve. Porém, aquilo a deixou ainda mais irritada. — Assim como? — Impulsiva. Não me dá uma chance sequer de esclarecer tudo. Então, ela o encarou finalmente: — Esclarecer o quê, você mentiu descaradamente, Antony. Disse que éramos amigos de infância, quando na verdade você nem se quer se lembra de mim. Ele bufou, realmente não conseguia lembrar dela. Breno ainda tentou ajudá-lo, disse coisas da época da escola, entretanto, Antony não fazia ideia de quem fosse Sarah Carter. — Olha, quanto a isso, eu juro que já tentei mil vezes me lembrar de você. Breno me disse que havíamos estudado no mesmo colégio. Mas… eu não me lembro. — Nós estudamos juntos no colegial, por três anos... Antony franziu a testa, parecia estar fazendo uma enorme força para se recordar. — Não é possível, eu não me lembro de nenhuma Sarah Carter, e te juro que tenho me esforçado para recordar. Sarah se virou para a janela e preferiu observar a paisagem local. Antony não se lembraria mesmo, pois nunca lhe enxergou naquele tempo. Era uma jovem tão insignificante. Por isso, soube que não conseguiria dizer nada sobre o passado para ele, na verdade, aquele assunto havia mexido com ela, e por um instante havia se esquecido de que ele tinha algo para esclarecer. Então, Sarah entendeu tudo, talvez ele estivesse lhe enrolando para que se esquecesse do episódio com o repórter. Aquela ideia a deixou irritada. De repente, Antony freou o carro. Ela sentiu seu corpo sendo levemente lançado levemente para frente. Ao parar, ele simplesmente se virou, ficando de frente para ela. Os olhos dela se arregalaram de surpresa. Então, Antony falou primeiro: — Ah, não... Não acredito! — Ele disse com voz aflita. — Nós tivemos alguma coisa juntos, é isso? É por isso que você me despreza? Eu devo ter sido um canalha que não se recorda de alguém com quem transou! Sarah ficou vermelha, aquela hipótese era a mais improvável de todas. Antony estava pensando que talvez tivessem feito sexo. Claro que não! Naquele tempo, ela nem pensava nessa possibilidade, era tão ingênua, já ele havia tido tantas experiências, a ponto de não se lembrar de quem levava para sua cama. Sarah bufou. — Não! Não tivemos nada juntos. Não transamos, fique tranquilo. Antony a encarou, respirou aliviado e relaxou na poltrona. Entretanto, imediatamente percebeu o quanto sua reação foi indelicada e se explicou: — Não! Eu não me sinto aliviado por não termos tido nada. Você é uma mulher maravilhosa, tenho certeza de que teria sido uma experiência inesquecível, mas é este o meu problema, não me lembro de nada! Ela já estava farta de qualquer assunto que fosse com ele. Então o ignorou, olhando para a janela. Vieram lembranças da sua adolescência… para isso você precisaria ter me notado… e nunca aconteceu… Pensou ela. Notou que ele ligou o carro e continuou a dirigir. O clima havia ficado mais tenso e nenhum dos dois dizia nenhuma palavra. Felizmente, haviam chegado ao espaço onde a festa acontecia. O silêncio entre ambos parecia mais constrangedor que antes. Antony desligou o carro lentamente. Antes de entregar as chaves ao manobrista, ele a segurou pelo braço carinhosamente, pedindo para que ela se virasse para ele. — Sarah! Eu sei que lhe devo explicações e um pedido de desculpas. Ele havia se aproximado um pouco mais, a outra mão que estava livre tocou seu outro braço, era como se estivesse presa nos braços dele, e ficou tensa com tal possibilidade. Antony ainda continuou: — e… prometo que até o fim desta noite irei me retratar. Os olhos dele estavam fixos nos dela. De uma forma insana, pôde jurar que ele fosse lhe beijar. Sarah ficou petrificada numa mistura de emoções, seu corpo tremia e suas pernas fraquejavam. E quando de repente Antony se afastou, conseguiu respirar, ainda sentindo o calor da mão quente sobre seu antebraço, onde ele tocou. Enquanto se dirigiam para a festa, Sarah colocou seus pensamentos em ordem rapidamente. E repetiu para si mesma que ele não passava de um galanteador barato.A festa parecia bastante animada. Aquele era um espaço ao ar livre e rodeado de árvores. Logo na entrada tinha uma fonte de água com uma maravilhosa cascata. Trata-se de um ambiente semelhante aos belos jardins típicos dos castelos europeus. No centro do gramado, uma banda cantava ao vivo muitas músicas animadas e vários casais se esbaldaram na pista de dança, se divertindo. Os noivos faziam o cumprimento de mesa em mesa e estavam radiantes com a felicidade estampada em seus rostos. Mary caminhava segurando a barra do vestido longo por onde passava, sempre atenciosa com seus convidados. Antony conduziu Sarah de braços dados, acreditando ter finalmente conseguido uma trégua. Quando, na verdade, ela pensava em se livrar dele o mais breve possível, Ele a apresentou a todos os seus amigos e familiares. Caminharam até uma das mesas, onde os pais dos noivos estavam acomodados. Clara, a mãe de Mary, era uma mulher fina e elegante, sempre tratava Sarah como se fosse um membro da família. Re
A dança terminou e todos os convidados aplaudiram e assobiaram, empolgados com o belo espetáculo assistido. Naquele instante, a orquestra se despediu, afastando-se do palco sob os aplausos de todos, e uma enorme cortina de fumaça preencheu o ambiente. A voz de um dos mais famosos DJs da cidade invadiu o palco, levando os convidados ao delírio com seu som eletrônico dançante. Já era noite, e várias luzes coloridas enfeitavam a pista de dança quando todos começaram a pular, se divertindo com o show. Após dançarem algumas músicas, Sarah se sentiu exausta, havia ultrapassado toda a sua cota daquela noite, precisava se sentar, pois os seus pés estavam doendo. Gentilmente, se despediu, percebendo a decepção no semblante de Antony, que provavelmente não havia desistido de sua conquista. Mary abandonou o marido e acompanhou sua amiga. — Vou com você, Sarah. Acho que preciso de uma bebida. — Eu também estou com muita sede — disse, apoiando-se em seus ombros — Meus pés estão me matando. As
Quando finalmente Antony largou Sarah, ela precisou de alguns minutos para se recompor. Há muito tempo não era beijada assim, há muito tempo mesmo! Se recuperar estava sendo difícil, seu corpo simplesmente não lhe obedecia, sentia o sangue pulsar em cada parte de suas veias, era como se estivesse completamente embriagada, seu cérebro não associava nada naquele momento. Apenas conseguiu ficar sóbria quando ele a soltou lentamente. No entanto, ainda estavam próximos, as mãos dele permaneciam em sua cintura, segurando firme, e um belo par de olhos verdes lhe observavam de forma intensa, sem desviar o foco nem sequer por um instante. Quando Antony sorriu e revelou seus dentes perfeitos, ela pôde sentir um alívio por ele manifestar alguma reação que quebrasse aquele momento tenso que se instaurou. Só então perceberam que estavam sozinhos ali naquele momento. Seus amigos e a inconveniente Keytte haviam desaparecido. Por isso, Antony parecia tão satisfeito, enfim conseguiu se livrar daquela m
Antony estacionou bem próximo à praia do Aurora, que apesar de estar vazia naquela noite, se tratava de um dos mais belos pontos turísticos da cidade. Segurando sua mão, ele a conduziu até a areia enquanto carregava uma garrafa com uma das mãos e duas taças entre os dedos com a outra. O clima estava perfeito, ela sentia a brisa do mar brincar com seus cabelos. Seu penteado já havia se desprendido, mas também não se importava nem um pouco. A lua brilhava naquela imensidão negra do céu estrelado. Se livraram de seus calçados enquanto caminhavam, enfiando os pés na areia. Ele dobrou suas calças até os joelhos, também se livrou do terno, da gravata e agora usava apenas sua blusa de baixo que estava desabotoada, exibindo seu físico perfeito. Antony estava à vontade saltando as ondas que se quebravam na orla, ele sorria em completa alegria. — Isso é muito bom! — gritou em voz alta. Sarah, no entanto, permanecia tímida, mas estava satisfeita, apenas observando-o tão natural, demonstrand
Antony ficou confuso, não havia entendido o motivo de Sarah mudar tão repentinamente. Ambos estavam curtindo o momento, ela estava completamente rendida, eram adultos, desejavam um ao outro, mas de repente ela o rejeitou. Sarah se levantou bastante agitada, talvez envergonhada também, pois não conseguia encarar enquanto usava a desculpa de estar à procura de suas sandálias. O vento continuava balançando os seus cabelos, cobrindo o seu rosto e escondendo sua expressão. — Sarah, o que houve, eu fiz algo errado? — ele perguntou angustiado. Ela o ignorou, sentia muita vergonha, afinal não sabia o que lhe dizer. Antony não iria entender que transar com ele seria a experiência mais incrível de sua vida, porém a mais dolorosa, pois não se veriam mais. Ele se levantou e foi até ela. — Sarah, por favor me diga, o que aconteceu? A segurou delicadamente pelo antebraço. Ela parou naquele momento e respirou fundo. — Eu não estou pronta. Então, Antony também respirou fundo e soltou o ar. —
Já era domingo à tarde e Sarah apenas se levantou porque seu celular apitou por várias vezes. Pensou que talvez pudesse ser ele, Antony, que tivesse conseguido seu número com Breno, mas as mensagens eram todas de Mary, que insistia em falar com ela, mas ignorou sua amiga. Precisavam de tempo para conversarem, tinham muito assunto para colocarem em dia e naquela manhã queriam dormir e descansar. Já era tarde quando despertou. Ainda com dificuldade de abrir os olhos por causa da claridade, esticou os braços e finalmente conseguiu pegar seu telefone. A decepção foi notória em sua expressão, novamente todas as mensagens que tinha em seu telefone eram de Mary e não de Antony. Era compreensível, pois ela mesma havia deixado claro que tudo tinha acabado. Já sua amiga estava enlouquecida de curiosidade para saber o que havia acontecido entre eles. Então, resolveu atendê-la: Ligação On — BOA TARDE, donzela! Me desculpe, mas eu precisava saber de tudo. Estou te ligando há horas, você faz ide
Aquela era a voz dele, Antony Sillve. Sarah tinha certeza. Não havia como se esquecer. Seu tom era alegre, provavelmente naquele instante estava sorrindo, revelando aquelas covinhas nas bochechas. Ela foi tomada por uma mistura de sentimentos, não desejava vê-lo, se lembrou de que não estava nada apresentável, sua aparência não era das melhores, depois de trabalhar em pé por quase dezoito horas servindo mesas, não tinha como estar melhor. Muitas das vezes ela ajudava até mesmo na cozinha do bufê, como nesta manhã, e sabia que o cheiro de gordura misturado com flores e café ainda estava impregnado em suas roupas, afinal Maryene não lhe deixou nem ao menos passar em casa para tomar um banho e se trocar. Seu cabelo era a pior parte, ela se sentia como o solzinho da Rihappy, todo desgrenhado. O desespero foi tomando conta de seu peito, Antony não podia lhe ver assim, ela não se parecia nada com a madrinha bela e elegante daquele dia do casamento, agora estava pálida, devia ter emagrecido
Quando chegou até o seu carro, Sarah se recusou a olhar para trás. Sabia que ele estava lhe seguindo, mas não fazia ideia do que ele queria. Amaldiçoou mil vezes por nunca colocar suas chaves de forma acessível, sempre as jogava de qualquer maneira dentro da bolsa. Agora precisava vasculhar cada bolso, e estava muito aflita, pois sabia que ele estava se aproximando. — Droga... Droga, onde coloquei estas chaves? — sussurrou para si mesma. — Sarah! Ela o ignorou mais uma vez. Conseguiu encontrar as chaves e abriu o carro, mas sentiu a mão dele tocar seu braço, impedindo-a de entrar. — Sarah, por que você está me ignorando? — Ele perguntou, um pouco nervoso. Ela o encarou com uma expressão séria. Afinal, que direito ele tinha de segurá-la? Mas agora sabia que não tinha como fugir daquela conversa. Antony continuou: — Acho que precisamos conversar. Sarah bufou, depois abaixou a cabeça, recusando-se a encará-lo, o que o deixou ainda mais irritado. — Será que você pode, pelo menos