Eu realmente não esperava que a dona Malena fosse tentar me arranjar um encontro. A imagem do rosto frio e impassível de George passou pela minha mente.Lembrei de como ele tinha recusado a troca de quarto de forma tão direta e fria, e isso despertou uma pontinha de diversão em mim. Respondi sem hesitar:— Claro, por que não?Eu disse que sim, mas, na verdade, era só dava boca pra fora, sem dar muita importância.Depois do café da manhã, peguei emprestada uma bicicleta da casa da senhora Dona Malena e saí para dar uma volta pela cidade.Quando voltei, já era fim de tarde, e eu trazia um cavalete de pintura a mais do que quando havia saído de casa.Sempre gostei de desenhar. Antes de meus pais morrerem, eles me colocaram em aulas de dança, pintura, caligrafia e até guitarra. Mas, com a partida deles, tudo aquilo foi interrompido, menos a pintura. Porque, para pintar, só é precisava uma folha de papel e uma caneta.Hoje, passei o dia explorando a cidade e desenhei uma nova versão de Cida
Ao ouvir a dona Malena me chamando, joguei o celular na cama e respondi:— Já estou pronta.Logo depois, tirei os sapatos, calcei um par de chinelos e abri a porta, saindo para o pátio. A primeira coisa que vi foi George enchendo vários baldes de água. Estavam todos enfileirados, e ele os enchia rapidamente. Quando um balde estava cheio, ele o levantava com uma facilidade impressionante. A força daquele homem era evidente, até mesmo através da camiseta, que revelava os músculos de seus ombros.— Está enchendo tanta água por quê? Vai faltar água? — Perguntei, me aproximando.A dona Malena olhou para os meus chinelos com uma leve reprovação e me lançou um olhar lateral, discreto.George não respondeu, então dona Malena explicou:— É só por precaução, caso falte água. — E deu um tapinha no braço de George. — Hoje à noite vou fazer Bacalhau com Natas. Vocês dois vão comprar o peixe, e aproveitem para pegar coentro e batata também.Era óbvio que ela não estava apenas nos mandando ao mercado
Nunca imaginei, em toda a minha vida, que um homem com quem eu tinha me encontrado apenas duas vezes me pediria em casamento. E, ao mesmo tempo, o homem com quem eu namorei por dez anos me traía, mantendo uma amante pelas minhas costas.Depois do choque inicial, eu sorri de lado e disse:— George, você não acha que isso é um pouco precipitado?A expressão de George permaneceu inalterada, séria como sempre.— Namorar não é para casar? Se você não quer namorar, então a gente casa logo.A lógica parecia impecável. Mas o problema estava na pessoa que dizia aquilo. Que pessoa normal propusera casamento assim, do nada, para alguém que mal conhecia?Nos livros, esse tipo de situação até podia ser comum, mas aquilo era a vida real.Eu arqueei as sobrancelhas, deixando um sorriso irônico escapar pelos lábios.— George, você fala assim com todas as mulheres que conhece em encontros arranjados?O sol poente iluminava nossas figuras, e a sombra de George parecia me envolver. Ele respondeu calmamen
Eu murmurei um "hum" em concordância:— Boa sugestão, vou pensar a respeito.— Tem que pensar sério. — Luana fez uma pausa antes de continuar. — Carolina, a melhor maneira de esquecer alguém e um relacionamento é rapidamente começar outro.— Tá bom, querida, entendi. — Desliguei o telefone e fiquei deitada na cama, perdida em pensamentos.Do lado de fora, ouvi os passos de George. Eu reconheceria aquele andar em qualquer lugar — firme, decidido.Pouco depois, ouviu-se o som da torneira aberta e depois a voz da dona Malena:— E a Carolina? Por que está só você?Não ouvi George responder. Só ouvi ele dizer:— Não coloca coentro no bacalhau.Essa frase me fez rir, e, enquanto eu ria, as lágrimas começaram a escorrer.Nesses últimos anos em que morei na Mansão Martins, eu comia coentro, mesmo não gostando. Mas, antes, quando vivia com meus pais, nunca suportei o cheiro.Apesar de ter me mudado para a mansão como noiva prometida de Sebastião, e de Cátia sempre me tratar como uma filha, eu s
Aquela noite, eu dormi profundamente, um sono tranquilo, até ser despertada pelos sons do lado de fora.Não era George falando, mas uma mulher com um sotaque típico da região.Pelo tom da voz, já dava para perceber que não era uma jovem. A voz das garotas costumava ser suave e clara, enquanto a das mulheres mais velhas tinha uma certa aspereza, um peso que vinha com o tempo.Eu sempre tive a capacidade de reconhecer as pessoas pelo som da voz, mas, ironicamente, passei dez anos sem perceber que o homem que eu amava era, na verdade, um tremendo canalha.Diziam que esquecíamos alguém quando parávamos de pensar nessa pessoa o tempo todo. Pelo visto, eu ainda não tinha chegado a esse ponto.Mesmo não amando mais Sebastião, ainda pensava nele, só que de outra forma. Era mágoa. E, às vezes, o ressentimento me fazia lembrar dele, mesmo quando eu não queria.Não me levantei. Fiquei ali deitada, com os ouvidos atentos à conversa lá fora.— Dona Malena, o George está por aí? — Perguntou a mulher
Peguei meu copo de escovar dentes, enchi de água e comecei a escovar, sem dar uma única olhada para Maitê, mas senti que o olhar dela não desgrudava de mim. Ela me analisava de cima a baixo, depois de baixo a cima, como se tentasse encontrar algo errado.— Carolina, essa aqui é a Maitê. — A dona Malena resolveu apresentar.Com a boca cheia de espuma de pasta de dente, acenei com a cabeça para Maitê.Ela tinha um rosto redondo, mas não era gorda. Usava um vestido florido e estava maquiada. Ficava claro que tinha se arrumado com cuidado antes de vir.— Maitê, essa é a Carolina que você queria tanto ver. Eu não falei? Olha só como ela é linda! — Dona Malena comentou enquanto lavava roupas à mão.Quando nossos olhares se cruzaram, vi um lampejo de insegurança nos olhos de Maitê, mas ela não se deu por vencida:— Ela é novinha, claro que é bonita. Quando eu tinha a idade dela, não ficava atrás.Dona Malena fez uma careta, e Maitê revirou os olhos. A troca de farpas entre as duas me fez sorr
Levantei os olhos e vi o rosto firme e anguloso de George.Ele não só me segurou, como também aparou a melancia que eu estava carregando.Era uma daquelas cenas perfeitas, dignas de um filme romântico, em que tudo parece calculado para ser mágico. Mas, naquele momento, estava acontecendo comigo, na vida real.Ele me ajeitou e soltou suas mãos, mas assim que tentei me mover, uma dor aguda, como agulhas, subiu pelo meu tornozelo.Instintivamente, agarrei o braço dele.— Dói... — Murmurei.George seguiu meu olhar e viu que meu tornozelo, fino e pálido, já estava levemente inchado e avermelhado.— Torceu o pé? — Ele perguntou, com aquela voz grave e rouca que parecia ainda mais atraente de perto.Assenti com a cabeça, e no segundo seguinte, ele me devolveu a melancia e, sem hesitar, me pegou nos braços.Eu e Sebastião ficamos juntos por anos, mas ele nunca me carregou assim. Agora, com George me segurando dessa maneira, meu coração começou a bater mais rápido, e senti o suor brotar na pont
Há pouco tempo, o Sebastião também havia massageado meus pés. Naquele momento, eu me senti tocada, mas não da mesma forma que agora.Eu não sabia bem o motivo, talvez fosse a diferença na maneira como eles faziam a massagem.Quando o George estava quase terminando de massagear meus pés, ouvi do lado de fora a voz de dona Malena, gritando:— Escutem bem! Quem ousar prejudicar meus inquilinos não vai escapar fácil. Eu vou fazer da vida de vocês um inferno!— O que está acontecendo? — Perguntei baixinho.George tirou meus pés de seu colo e os colocou em outro banco de pedra. Quando ele se levantou, percebi que seu rosto estava um pouco vermelho.No começo, pensei que ele estivesse com calor, mas logo em seguida ele disse algo que me fez perceber que não era esse o motivo.— Da próxima vez, não use saia por aqui.Olhei para a minha saia: um vestido de seda azul royal, bem justo ao corpo e com uma fenda lateral.Do jeito que eu estava sentada, a fenda tinha subido um pouco, deixando boa par