Peguei meu copo de escovar dentes, enchi de água e comecei a escovar, sem dar uma única olhada para Maitê, mas senti que o olhar dela não desgrudava de mim. Ela me analisava de cima a baixo, depois de baixo a cima, como se tentasse encontrar algo errado.— Carolina, essa aqui é a Maitê. — A dona Malena resolveu apresentar.Com a boca cheia de espuma de pasta de dente, acenei com a cabeça para Maitê.Ela tinha um rosto redondo, mas não era gorda. Usava um vestido florido e estava maquiada. Ficava claro que tinha se arrumado com cuidado antes de vir.— Maitê, essa é a Carolina que você queria tanto ver. Eu não falei? Olha só como ela é linda! — Dona Malena comentou enquanto lavava roupas à mão.Quando nossos olhares se cruzaram, vi um lampejo de insegurança nos olhos de Maitê, mas ela não se deu por vencida:— Ela é novinha, claro que é bonita. Quando eu tinha a idade dela, não ficava atrás.Dona Malena fez uma careta, e Maitê revirou os olhos. A troca de farpas entre as duas me fez sorr
Levantei os olhos e vi o rosto firme e anguloso de George.Ele não só me segurou, como também aparou a melancia que eu estava carregando.Era uma daquelas cenas perfeitas, dignas de um filme romântico, em que tudo parece calculado para ser mágico. Mas, naquele momento, estava acontecendo comigo, na vida real.Ele me ajeitou e soltou suas mãos, mas assim que tentei me mover, uma dor aguda, como agulhas, subiu pelo meu tornozelo.Instintivamente, agarrei o braço dele.— Dói... — Murmurei.George seguiu meu olhar e viu que meu tornozelo, fino e pálido, já estava levemente inchado e avermelhado.— Torceu o pé? — Ele perguntou, com aquela voz grave e rouca que parecia ainda mais atraente de perto.Assenti com a cabeça, e no segundo seguinte, ele me devolveu a melancia e, sem hesitar, me pegou nos braços.Eu e Sebastião ficamos juntos por anos, mas ele nunca me carregou assim. Agora, com George me segurando dessa maneira, meu coração começou a bater mais rápido, e senti o suor brotar na pont
Há pouco tempo, o Sebastião também havia massageado meus pés. Naquele momento, eu me senti tocada, mas não da mesma forma que agora.Eu não sabia bem o motivo, talvez fosse a diferença na maneira como eles faziam a massagem.Quando o George estava quase terminando de massagear meus pés, ouvi do lado de fora a voz de dona Malena, gritando:— Escutem bem! Quem ousar prejudicar meus inquilinos não vai escapar fácil. Eu vou fazer da vida de vocês um inferno!— O que está acontecendo? — Perguntei baixinho.George tirou meus pés de seu colo e os colocou em outro banco de pedra. Quando ele se levantou, percebi que seu rosto estava um pouco vermelho.No começo, pensei que ele estivesse com calor, mas logo em seguida ele disse algo que me fez perceber que não era esse o motivo.— Da próxima vez, não use saia por aqui.Olhei para a minha saia: um vestido de seda azul royal, bem justo ao corpo e com uma fenda lateral.Do jeito que eu estava sentada, a fenda tinha subido um pouco, deixando boa par
Foi a primeira vez na vida que disse algo tão direto assim.George ficou levemente surpreso, mas logo respondeu, com uma frieza cortante:— Você está imaginando coisas.Fiquei em silêncio, claramente desconcertada.Ele então se virou e foi cortar a melancia. Cortava cada pedaço com precisão, alinhando-os no prato como se fossem soldados prontos para uma inspeção.Olhando para aqueles pedaços de melancia no prato, de repente me veio uma vontade de dar uma olhada no quarto dele.— Por que está só olhando para a melancia e não come? — Dona Malena se aproximou, me provocando.Comecei a perceber que dona Malena não era uma senhora qualquer. Quando queria xingar, ela era capaz de colocar as mãos na cintura e ser feroz. Quando se tratava de cuidar dos outros, era extremamente carinhosa. E, se o assunto fosse uma piada picante, não hesitava em soltar uma na hora.— Estou esperando a senhora! Você se esforçou tanto por mim agora há pouco, merece a maior fatia. — Brinquei, pegando o maior pedaço
Eu já estava aqui há alguns dias e, até agora, não vi nenhum filho ou filha da dona Malena vir visitá-la. Também não perguntei nada, afinal, parecia que ela já considerava tanto a mim quanto George como se fôssemos seus próprios filhos.Naquela noite, enquanto me preparava para dormir, recebi uma ligação da Luana. Ela queria saber quando eu voltaria.Eu respondi que ainda não tinha decidido. Disse que, morando nessa ruazinha, eu estava realmente feliz, a mais feliz que tinha sido desde que meus pais morreram.Na verdade, eu estava até pensando em prolongar minhas férias, ficando aqui até me cansar.— Você não quer ir embora por causa daquele militar, né? — Luana me provocou.Pensei nas poucas, mas intensas interações que tive com George, aquelas que sempre me deixavam com o coração acelerado.— Não é isso, mas é inegável que, quando ele está por perto, meu coração parece mais vivo.— Olha só! Parece que você está se recuperando rápido, hein? — Luana brincou.Fiquei em silêncio. Depois
Quão grande era esse problema?Eu não me desesperei e perguntei diretamente:— Vai com calma, me conta o que aconteceu.Ana explicou a situação: basicamente, a iluminação estava completamente fora do que foi projetado. Ou o problema era com a qualidade das luzes fornecidas pelo fabricante, ou era algo errado na instalação.— Se você já identificou esses dois problemas, é só procurar os responsáveis para resolver. Mesmo que eu volte, é isso que eu faria de qualquer jeito. — Respondi, em um tom tranquilo.— Querida, por favor, eu te imploro, volta! Eu não estou conseguindo lidar com isso sozinha. E nem sei o que deu no Sr. Sebastião esses dias, ele está indo ao parque quase todos os dias. E toda vez que ele aparece, surgem novos problemas. Eu estou quase enlouquecendo com isso. — O tom de Ana era quase de desespero, como se estivesse à beira das lágrimas.Lembrei da mensagem que Sebastião me enviou e não pude evitar pensar se ele não estava criando esses problemas de propósito, só para c
Era realmente o ponto mais alto. Através do vídeo, eu conseguia ver o parque de diversões iluminado. À primeira vista, não parecia haver nada de errado, mas o tom de fundo da iluminação havia mudado completamente em relação ao projeto original.A ideia inicial era que as luzes tivessem um degradê de azul, como o oceano passando da noite para o amanhecer. Agora, o azul era uniforme, sem nenhuma transição, e o tom era de um azul escuro intenso. Embora a cor fosse forte, faltava a alma, a essência que o projeto propunha.— O panorama é esse. Não sei se foi problema da equipe de instalação ou do fabricante das luzes. — A voz de Ana quebrou o silêncio.— Você já conversou com ambos? O que eles disseram?— A equipe de instalação afirmou que seguiu o projeto à risca. O fabricante também disse que produziu as luzes conforme o pedido. Nenhum deles admite ter cometido erro, por isso estou perdida, sem saber onde está o problema. — Ana estava claramente frustrada.— Carolina, você tem que voltar.
No salão de bilhar, Sebastião deu uma tacada, mas não acertou nenhuma bola.Pedro, que estava ao lado, balançou a cabeça, enquanto limpava o taco de sinuca.— A Carolina ainda não respondeu sua mensagem? Nem tentou entrar em contato?Sebastião permaneceu em silêncio. Pedro mirou a bola mais difícil na mesa e, com um estalo preciso, ela entrou na caçapa.— Estranho... Ela não costuma ser assim. Mesmo quando você fala aquelas coisas, ela não liga muito, nunca fez caso. O que será que deu nela agora? — Pedro estava intrigado.Sebastião se lembrou de quando Carolina foi ao salão jogar bilhar.— O que ela te perguntou aquele dia? — Ele questionou.Pedro encaçapou mais uma bola e, com um gesto despreocupado, sentou-se sobre a mesa de bilhar.— Já te falei, mano. Ela me perguntou sobre você, a Lídia e o Fernando, se aconteceu algo na época da escola. Eu disse que não, que estava tudo normal. Então, essa saída dela não tem nada a ver comigo. — Pedro se livrou da culpa rapidamente.— Eu não te