Há pouco tempo, o Sebastião também havia massageado meus pés. Naquele momento, eu me senti tocada, mas não da mesma forma que agora.Eu não sabia bem o motivo, talvez fosse a diferença na maneira como eles faziam a massagem.Quando o George estava quase terminando de massagear meus pés, ouvi do lado de fora a voz de dona Malena, gritando:— Escutem bem! Quem ousar prejudicar meus inquilinos não vai escapar fácil. Eu vou fazer da vida de vocês um inferno!— O que está acontecendo? — Perguntei baixinho.George tirou meus pés de seu colo e os colocou em outro banco de pedra. Quando ele se levantou, percebi que seu rosto estava um pouco vermelho.No começo, pensei que ele estivesse com calor, mas logo em seguida ele disse algo que me fez perceber que não era esse o motivo.— Da próxima vez, não use saia por aqui.Olhei para a minha saia: um vestido de seda azul royal, bem justo ao corpo e com uma fenda lateral.Do jeito que eu estava sentada, a fenda tinha subido um pouco, deixando boa par
Foi a primeira vez na vida que disse algo tão direto assim.George ficou levemente surpreso, mas logo respondeu, com uma frieza cortante:— Você está imaginando coisas.Fiquei em silêncio, claramente desconcertada.Ele então se virou e foi cortar a melancia. Cortava cada pedaço com precisão, alinhando-os no prato como se fossem soldados prontos para uma inspeção.Olhando para aqueles pedaços de melancia no prato, de repente me veio uma vontade de dar uma olhada no quarto dele.— Por que está só olhando para a melancia e não come? — Dona Malena se aproximou, me provocando.Comecei a perceber que dona Malena não era uma senhora qualquer. Quando queria xingar, ela era capaz de colocar as mãos na cintura e ser feroz. Quando se tratava de cuidar dos outros, era extremamente carinhosa. E, se o assunto fosse uma piada picante, não hesitava em soltar uma na hora.— Estou esperando a senhora! Você se esforçou tanto por mim agora há pouco, merece a maior fatia. — Brinquei, pegando o maior pedaço
Eu já estava aqui há alguns dias e, até agora, não vi nenhum filho ou filha da dona Malena vir visitá-la. Também não perguntei nada, afinal, parecia que ela já considerava tanto a mim quanto George como se fôssemos seus próprios filhos.Naquela noite, enquanto me preparava para dormir, recebi uma ligação da Luana. Ela queria saber quando eu voltaria.Eu respondi que ainda não tinha decidido. Disse que, morando nessa ruazinha, eu estava realmente feliz, a mais feliz que tinha sido desde que meus pais morreram.Na verdade, eu estava até pensando em prolongar minhas férias, ficando aqui até me cansar.— Você não quer ir embora por causa daquele militar, né? — Luana me provocou.Pensei nas poucas, mas intensas interações que tive com George, aquelas que sempre me deixavam com o coração acelerado.— Não é isso, mas é inegável que, quando ele está por perto, meu coração parece mais vivo.— Olha só! Parece que você está se recuperando rápido, hein? — Luana brincou.Fiquei em silêncio. Depois
Quão grande era esse problema?Eu não me desesperei e perguntei diretamente:— Vai com calma, me conta o que aconteceu.Ana explicou a situação: basicamente, a iluminação estava completamente fora do que foi projetado. Ou o problema era com a qualidade das luzes fornecidas pelo fabricante, ou era algo errado na instalação.— Se você já identificou esses dois problemas, é só procurar os responsáveis para resolver. Mesmo que eu volte, é isso que eu faria de qualquer jeito. — Respondi, em um tom tranquilo.— Querida, por favor, eu te imploro, volta! Eu não estou conseguindo lidar com isso sozinha. E nem sei o que deu no Sr. Sebastião esses dias, ele está indo ao parque quase todos os dias. E toda vez que ele aparece, surgem novos problemas. Eu estou quase enlouquecendo com isso. — O tom de Ana era quase de desespero, como se estivesse à beira das lágrimas.Lembrei da mensagem que Sebastião me enviou e não pude evitar pensar se ele não estava criando esses problemas de propósito, só para c
Era realmente o ponto mais alto. Através do vídeo, eu conseguia ver o parque de diversões iluminado. À primeira vista, não parecia haver nada de errado, mas o tom de fundo da iluminação havia mudado completamente em relação ao projeto original.A ideia inicial era que as luzes tivessem um degradê de azul, como o oceano passando da noite para o amanhecer. Agora, o azul era uniforme, sem nenhuma transição, e o tom era de um azul escuro intenso. Embora a cor fosse forte, faltava a alma, a essência que o projeto propunha.— O panorama é esse. Não sei se foi problema da equipe de instalação ou do fabricante das luzes. — A voz de Ana quebrou o silêncio.— Você já conversou com ambos? O que eles disseram?— A equipe de instalação afirmou que seguiu o projeto à risca. O fabricante também disse que produziu as luzes conforme o pedido. Nenhum deles admite ter cometido erro, por isso estou perdida, sem saber onde está o problema. — Ana estava claramente frustrada.— Carolina, você tem que voltar.
No salão de bilhar, Sebastião deu uma tacada, mas não acertou nenhuma bola.Pedro, que estava ao lado, balançou a cabeça, enquanto limpava o taco de sinuca.— A Carolina ainda não respondeu sua mensagem? Nem tentou entrar em contato?Sebastião permaneceu em silêncio. Pedro mirou a bola mais difícil na mesa e, com um estalo preciso, ela entrou na caçapa.— Estranho... Ela não costuma ser assim. Mesmo quando você fala aquelas coisas, ela não liga muito, nunca fez caso. O que será que deu nela agora? — Pedro estava intrigado.Sebastião se lembrou de quando Carolina foi ao salão jogar bilhar.— O que ela te perguntou aquele dia? — Ele questionou.Pedro encaçapou mais uma bola e, com um gesto despreocupado, sentou-se sobre a mesa de bilhar.— Já te falei, mano. Ela me perguntou sobre você, a Lídia e o Fernando, se aconteceu algo na época da escola. Eu disse que não, que estava tudo normal. Então, essa saída dela não tem nada a ver comigo. — Pedro se livrou da culpa rapidamente.— Eu não te
Eu desci do avião e, sem nem deixar as malas, fui direto para o parque de diversões. Ana também estava lá e, assim que me viu, me abraçou forte.— Carolina, que bom que você voltou!Dei um leve tapinha no ombro dela.— Vem, me acompanha para dar uma olhada em alguns pontos.Passei a noite anterior praticamente em claro, pensando nos possíveis problemas que poderiam surgir. Embora eu suspeitasse tanto da equipe de construção quanto dos fornecedores de iluminação, a chance de erro por parte deles não era tão grande. Afinal, se fosse algo sério, eles perderiam muito dinheiro e com certeza não queriam correr esse risco.Então, por mais que eu tivesse algumas desconfianças, a verdade é que eu não sabia exatamente onde estava o problema. Como não sou especialista técnica, precisava ir ao local para averiguar tudo pessoalmente.Fiquei o dia inteiro ligando e desligando as luzes, comparando os resultados com as projeções iniciais. Só parei às duas da manhã.— Carolina, você está com energia ac
Sebastião estava sentado na cadeira, vestindo um terno preto, com uma camisa branca por dentro e uma gravata com pequenos pontos de estrelas.Aquela gravata foi um presente meu de aniversário no ano passado. Ele nunca tinha usado, provavelmente porque não gostava. Mas agora, depois da nossa separação, ele resolve colocá-la.O semblante de Sebastião estava péssimo, e seus olhos não saíam de mim, carregados de uma fúria latente.Eu sabia bem o motivo de sua raiva, mas mantive a calma e perguntei:— Sr. Sebastião, o que deseja comigo?— Onde você esteve nos últimos dias? — A voz dele era fria como gelo.— Férias! — Respondi, ignorando o tom inquisitivo.Os dedos de Sebastião, que estavam pousados sobre a mesa, se contraíram um pouco.— Eu perguntei onde você esteve.— Na Cidade B! — Não tinha motivo para esconder, então disse o nome do lugar sem rodeios.Ele franziu ainda mais a testa, com uma expressão de confusão nos olhos, como se não soubesse o que era Cidade B. E de fato, com um nome