2

A manhã seguinte se iniciou com as colegas de quarto sendo despertadas pelo sinal. Naquele dia, um sábado, não era necessário acordar cedo, mas durante a semana o despertar naquele horário, às 5 da manhã, era obrigatório. Dali meia hora, haveria a oração matinal na capela e até às seis e meia, serviam o café da manhã. No fim de semana não havia atividades e a instituição permitia a saída dos estudantes, desde que retornassem até às 19. A biblioteca, piscina e quadra de esportes também ficavam abertas; havia muito o que fazer ali mesmo.

Alex se levantou e iniciou a organização de seus pertences, enquanto Elloá continuou deitada, usando o celular. Antes de saírem para o café, faltando vinte minutos para encerrar a distribuição, Alex ligou para os pais; Lucca não atendeu, ainda não estava acordado.

Para as amigas, no grupo de mensagens intitulado “Bests”, Alex enviou uma foto retirada no espelho do banheiro, onde ostentava seu uniforme de dia não letivo. 

O uniforme consistia em uma camisa polo branca de tecido macio, com o brasão do Instituto São Bartolomeu bordado no peito em fios dourados. A camisa era combinada com uma saia plissada azul marinho que caía até um pouco acima dos joelhos. Meias brancas até a altura das canelas e sapatos pretos fechados completavam o conjunto. Alex também usava um suéter azul marinho com o mesmo brasão bordado na manga, um complemento opcional para os dias mais frescos.

Alexandra tinha a pele negra, que contrastava lindamente com o branco impecável da camisa polo. Seus olhos castanhos brilhavam com uma mistura de excitação e nervosismo pelo início dessa nova fase de sua vida. Seus cabelos curtos e bem cuidados para manter a saúde dos fios progressivados, estavam penteados em um coque baixo, um estilo prático, mas elegante. Seus lábios se curvaram em um sorriso confiante para a foto, refletindo sua determinação em aproveitar ao máximo a oportunidade que tinha diante de si.

Depois de enviar a foto, Alex olhou para Elloá, que ainda estava imersa no celular. Ela também vestia o uniforme, mas havia substituído a meia e o sapato por sandálias de dedo.

— Pronta para ir tomar café? — Alex perguntou, ajustando o suéter no corpo.

— Quase, só mais um minuto. — Elloá respondeu, finalmente levantando-se da cama.

As duas se prepararam e saíram do quarto, prontas para enfrentar o primeiro dia de um fim de semana no prestigiado Instituto São Bartolomeu.

O Buffet estava impecável como no dia anterior, contendo opções que Alex nunca havia visto. O ambiente estava ainda mais cheio e naquele dia, sentiram-se observadas. A maioria dos estudantes não usavam uniforme; como o fim de semana era o único momento onde a vestimenta não era obrigatória, eles aproveitavam para ostentar suas roupas de grife. Ignorando os olhares e burburinhos, as garotas se sentaram à mesma mesa do jantar, mas não passaram muito tempo conversando em paz como no dia anterior.

Elas mal haviam se sentado quando um grupo de adolescentes ricas, vestindo roupas de luxo, se aproximou da mesa. À frente do grupo estava Camila, uma das líderes sociais do Instituto São Bartolomeu, conhecida por seu jeito arrogante e pela maneira como ditava as regras não escritas do colégio. Ela usava um vestido de seda que parecia brilhar à luz da manhã, acompanhado de uma bolsa que, sozinha, custava mais do que um semestre inteiro de estudo.

— Meninas, estão vendo a mesma coisa que eu?  — Camila disse, com um sorriso desdenhoso nos lábios, seus olhos avaliando Alex e Elloá de cima a baixo.

As amigas se entreolharam, tentando ignorar o desconforto, mas era impossível. Alex manteve a calma, mas Elloá já demonstrava sinais de impaciência.

— Acho que sim, Camila. — Disse outra garota, Marcela, que usava um colar de pérolas que parecia ter sido tirado de um catálogo de joias. — Essas duas coisinhas esquisitas… são as únicas que ainda estão de uniforme. Que coisa mais... trágica.

— Vocês sabem que não precisam usar isso nos fins de semana, certo? — Camila continuou, fingindo preocupação. — Ou será que é a única roupa decente que vocês têm?

As palavras dela foram acompanhadas de risos zombeteiros das outras garotas, que começaram a cochichar entre si, trocando olhares de cumplicidade. Alex sentiu o rosto esquentar, mas antes que pudesse responder, Elloá se levantou da mesa abruptamente.

— Vamos, Alex. Não temos tempo para isso. — Elloá disse, pegando a bandeja e se afastando em direção à saída.

Alex hesitou por um momento, seu instinto era defender a amiga e a si mesma, mas optou por seguir Elloá, sabendo que isso só atrairia mais atenção indesejada. Enquanto saíam, puderam ouvir as risadas do grupo ecoando pelo refeitório.

As duas caminharam em silêncio pelos corredores do instituto até chegarem à biblioteca de seu bloco, onde se refugiaram. Ali, entre livros e silêncio, puderam recuperar a compostura, mas sabiam que aquele era apenas o começo das dificuldades que enfrentariam naquele ambiente elitista.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo