— Estou sendo procurada?— Que nada! Ele não pode fazer isso, porque se ele colocar você, pode também pôr o dele na reta. — Por quê?— Saiba que há denúncias contra ele, só isso que posso dizer.— Obrigada, Coralina.— Disponha... e saiba que a Mafalda está querendo te matar também, espero que você nunca mais volte pra cá. Viva a sua vida de outra maneira, crie outra versão de você, mas jamais apareça nessa cidade outra vez. — Entendi, agradeço pelo retorno.E desliguei a linha. Com a minha cesta de flores, meu Walkman e minha única roupa, fui em direção à outro trem, para me afastar ainda mais dos meus primeiros erros. O cobrador das passagens me reconheceu.— Oi, tudo bem? Você não é a... — Não sou.— A Perfídia! Sorri amarelo.Ele me disse: Nossa, você está muito bem... para onde está indo?— Não sei.— E você lembra de mim?— Gabriel.— Exatamente. Eu era mais gordo na época. — Eu lembro.— Você tem lugar para ficar? — Tenho sim. — Não tem não...—
Achado no lixo, em um dia ensolarado, levara chuva, mas conseguiu ser resgatado. Do que estou falando? Daquele Walkman. Ouvi música o tempo inteiro, nos meus dias mais alegres aos mais escritos por linhas tortas, nunca de forma certa. O único problema é que ele deixou de me pertencer. Porque eu o esqueci ali, no banco do ônibus. Era o 48, a linha que ia da zona mais cosmopolita até a mais litoral. E, como saber onde o Walkman estaria. Em que momento ele seria de volta pra mim ou não seria? Naquele dia estava distraída. Maldito beijo que parece teia de aranha. Envolver-se era uma tarefa quase sempre de exilar a si. E quando se exila o que se é, dificilmente volta a se encontrar. Quando desci do ônibus, fiquei esperando na rodoviária. Para onde eu iria? Nunca tinha saído do meu lugar de naturalidade.Até que, quando me dei conta do Walkman, por sorte, o ônibus ainda estava lá, mas estava fechado. E foi difícil convencer o motorista a abri-lo.Então, esperei o motorista se
Quem nasceria da paz de um beija-flor? Luciana. A bela herdeira do trono fazendeiro, mas que queria se dedicar aos palcos. O curioso de sua história era que, naquele dia, ela iria se casar, com ninguém mais, ninguém menos que Tim. Não era sobre amor aquela história, era sobre ascender socialmente por pedaços e pedaços de terra e garantir para sempre uma boa herança entre filhos e netos. Eu já estive naquele lugar antes, mas não me pertenceu. Mafalda, estava com a pensão a todo vapor, já que muita gente indicava como o melhor lugar genérico para a comida caseira, principalmente com o dia da cerimônia, em que o buffet foi organizado pela dona Mafalda e sua trupe de inquilinos. Cheguei na cidade pela madrugada, de forma silenciosa e sorrateira. Fui para o meu aposento, agora, em cima da floricultura, uma casa bastante pequena e aconchegante, mas que não dava a ideia de moradia, parecia algo como um segundo andar. Contratei duas floristas para atender a demanda, não queria dar
A floricultura estava a todo vapor. A florista da praça apareceu por lá, a fim de encontrar algumas novas flores.Peguei algumas já embaladas e entreguei a ela. — Quanto custam, moça? — Nada, é apenas um presente. — Muito obrigada. — A florista sorriu e foi embora. — Espera. Ela parou um instante e eu perguntei: Você aceita trabalhar aqui?— Na sua loja? — Claro! E disse que ela poderia fazer seu expediente naquele dia mesmo. Ela me abraçou e eu retribuí. Apresentei a florista, chamada de Helena, às outras floristas chamadas de Maria e Juliana.E assim, voltei ao meu quarto. Na parede, vi um retrato em branco e preto. Eu era uma criança nele, mas as memórias não foram felizes. Devido a tanta miséria e tanta falta de sorte, eu não era uma criança com cor e vida, nem era cheia de imaginação. Só tinha o que havia de ter acontecido, uma vida miserável, sem um amor, sem família e sem um bom futuro. Às vezes, me imagino e suponho que era melhor nem nascera, mas
A cada esquina que se passa um pouco de nós é estacionado e nunca se esvai, nossos sonhos esmagados, nossa vida acaba dando certo, tão certo que pruma pro errado. A vida deveria ser mais gentil, mas ela esmaga a maior parte do tempo. As flores que plantei no dia anterior, que estavam na estufa, foram todas guardadas em um carro. Algumas delas tinham se formado, Maria me perguntou o porquê e respondi: Sei lá, elas nunca falam. Declarei aquele estabelecimento fechado, mas algumas coisas ficaram lá dentro, como o diário da babá da Luciana e a hipoteca da mansão. Que, inexplicavelmente o prédio pegou fogo logo após a minha saída.As rosas nunca diriam tal culpado, mas eu realmente mereceria um lugar que me pertencesse e me acolhesse da forma mais gentil, caso contrário, eu me tornaria o moinho de cada mundo.Por isso, na mesma época, mudei de estado, foi aí que conheci a produtora de cinema, deixei a floricultura e passei a investir no ramo da moda. Eu era boa nisso, boa em fazer
— Você pode me contar a última vez que viu o Jobim? — perguntou a moça com o gravador.— Claro! Ele me convidou para um jantar, por meio de mensagem de texto, enviada de um celular secreto. Mas antes, irei exatamente falar sobre como me sentia.Eu já via o meu coração que era doído em saber que não era compreendido. Via que não era somente eu que me sentia assim, mas havia alguém que eu projetei achando gostar de mim que me vendi ao seu coração.Meu coração já haveria de ser vendido às traças, mas ele não foi muito bem recebido, pois já estava machucado demais. Meu coração foi flechado em cheio no peito e talvez para sempre ali vá morar algo que talvez não aceite, mas sinto, sinto saudade do que nunca tive. Lembro que caminhava sobre as calçadas, o barulho do meu pé arrastado no chão não era imperceptível. As pedras andavam para lá e para cá. Havia um limão que me acompanhava descendo aquela imensa ladeira. Ele foi abandonado pelo vendedor das frutas da feira livre e seguiu sua d
O ator e produtor Jobim, estava próximo àqueles arredores de São Francisco, quando foi surpreendido por uma pergunta: Conhece Diana? — Qual Diana se trata? — Diana Perfídia, outrora Senhorita Pouplain. — Oh, céus! Minha doce Diana... por onde está?— Está mais próxima do que imagina. — Como assim? Precisamos ir até ela! — Tem que ver se ela ainda vai querer te ver, lembre-se que deu um bolo nela quando decidiram formalizar um encontro. — Como sabe disso, mocinha? — Prazer, eu me chamo Catarina Francisco, mas sou mais conhecida como a jovem do gravador. Eu fico catando histórias de pessoas para criar histórias inspiradas em formato de livros digitais. E acho que a história de vocês seria uma boa opção para uma fic.— Catarina, podemos marcar daqui há 15 minutos? Eu preciso fazer um breve xixi, você sabe, a bexiga de um idoso já não é mais a mesma.— Ok. Fico aqui te esperando. E enquanto Jobim ia em direção ao banheiro, Catarina prestava atenção na lanchonete escolhi
A sombra que você projeta, nem sempre é a sua imagem.”Taís pensou em verossimilhança na afirmação de um adulto. E ela sabia que isso era conversa que tinha alguma coisa por trás. No seu último aniversário, pediu de presente um passarinho, bem colorido e totalmente azul.Quando ganhou o passarinho, disse que cuidaria dele, com muito carinho. Ela criou o passarinho dentro de casa, o bichinho estava solto, mas se sentia preso. O passarinho começou a cada dia que se passava, por mais carinho que recebesse, mais acuado ficava. Ele estava triste e muito triste, mal conseguia cantar. A menina percebendo que o passarinho era calado pediu para que ele pudesse cantar. Mas o passarinho não cantava e Taís o achava bastante mudo e até falou a sua mãe. Um certo dia, o passarinho viu a janela aberta, tentou voar, mas de tristeza não conseguia. Taís o viu no chão e colocou em suas mãos, ele estava frio demais. Ela pediu para sua mãe esquentar o forno numa temperatura agradável e fazer um processo