Júlia chegou em casa e foi direto conferir a geladeira. Ainda tinha bastante coisa das compras de ontem.Decidiu preparar uma feijoada, um picadinho de carne, um arroz de forno, e para acompanhar, uma salada.Ela lavava e cortava os ingredientes com tanta destreza, o que deixou Victor, que não sabia cozinhar, impressionado.Ele disse:— Hoje em dia, a maioria das pessoas pede delivery ou come fora. É raro encontrar alguém que ainda cozinha em casa, como você.Júlia sorriu de leve:— Cada um tem seu jeito de viver. Eu só me acostumei a cozinhar para mim mesma.Victor observava o ambiente enquanto ela estava ocupada. A casa era pequena, mas bem-organizada e decorada com carinho.Na sala, havia uma estante pequena cheia de livros. Ele notou que eram livros técnicos, mas um em especial chamou sua atenção, pois era sobre física, algo que parecia destoar dos outros.Achou que olhar tanto o apartamento de uma garota era um pouco indelicado, ele desviou o olhar.Logo, os pratos estavam prontos
Apesar de a comida estar deliciosa, Victor não conseguia relaxar e comer à vontade.Mal terminasse de comer, já se apressou em se despedir e foi embora.A casa ficou subitamente silenciosa. Júlia começou a lavar a louça, mas as palavras de Bianca não saíam de sua cabeça.Úlcera no estômago…Com distraída, ela deixou um prato cair e quebrar.Ao tentar pegar os cacos, cortou o dedo. Sentindo a dor, as lágrimas começaram a cair sem que ela percebesse.Seis anos… Não foram seis dias, nem seis meses. Certos hábitos já estavam enraizados, e ao ouvir que Rafael estava no hospital, seu instinto foi se preocupar e querer ir vê-lo.Por sorte, a razão venceu o instinto.Júlia pensou que, com o tempo, iria se acostumar a não se preocupar mais e a não derramar mais lágrimas por ele.Eles passaram do amor ardente ao tédio de uma relação desgastada, até finalmente se separarem. Não sabia ao certo quando as rachaduras começaram a aparecer.Talvez tenha sido a primeira vez que ele quebrou uma promessa
No início de janeiro, o calor estava insuportável e o serviço meteorológico emitiu um alerta vermelho.A temperatura de 35 graus já havia persistido por uma semana, finalmente José conseguiu avançar em seu experimento após várias rodadas de cálculos e validações.Depois de muito esforço, ele conseguiu um momento para descansar, subiu as escadas até o sétimo andar para tirar um cochilo e recuperar as energias. De repente, ouviu um barulho vindo do apartamento em frente.Ele parou para abrir a porta por um momento. E se virou e olhou para a porta fechada, antes de bater suavemente:— Júlia, você está em casa?Nenhuma resposta. Ele bateu de novo.Ainda sem resposta.José hesitou por alguns segundos, considerando chamar a polícia, quando de repente ouviu o som da porta se destrancando.Júlia abriu a porta apenas o suficiente para aparecer por uma pequena fresta.Ela preguntou:— Algum problema?Seu rosto estava calmo, e ela parecia ter aberto a porta apenas pelas batidas inesperadas. Sua
Para Júlia, essa era uma oportunidade rara.— Se você se interessar, pode levar para casa e dar uma olhada com calma. Aqui tem todos os dados do experimento. — José colocou um pendrive na frente dela.Júlia levantou os olhos, seus olhos claros mostrando um leve brilho:— Obrigada, vou pensar com carinho.Às 10 horas, já era hora de Júlia voltar para casa.José a acompanhou até a porta.Júlia sorriu:— Eu moro logo em frente, não precisa me acompanhar.No entanto, José notou os dedos dela,onde havia um curativo, e comentou gentilmente:— Curativo não deve ficar muito tempo. Após passar um antisséptico, é melhor deixar a ferida exposto ao ar.Júlia encolheu instintivamente o dedo:— Obrigada. Vou fazer isso.José não insistiu mais, apenas fez um leve aceno de cabeça e então trouxe um pequeno vaso de suculentas cor-de-rosa:— Isso é para você.Júlia piscou surpresa, olhando para a planta com folhas gordinhas, que iam do verde ao rosa, realmente encantadora.Júlia não podia deixar de dizer
Depois de terminar a corrida matinal, Júlia tomou banho. Ao sair do bangeiro, percebeu que uma nova suculenta rosa havia se juntado às várias plantas verdes de formatos diferentes na varanda.Ela deu um leve toque na planta com o dedo, e a sensação macia e delicada lhe trouxe um certo alívio.O celular na mesa vibrou. Ela viu o nome de André Barbosa. Com curiosidade, atendeu o telefone:— Alô? Por que está me ligando a essa hora? Aconteceu algo?— Oi, Júlia, como você está?— Tudo bem. E você?Era a oportunidade perfeita!André se endireitou na cadeira e disse:— Ah, eu… não estou muito bem.Júlia franziu a testa:— O que houve?Ele disse:— Talvez seja o excesso de trabalho e umas bebidas a mais, meu estômago não está legal. Júlia, não sei o que está acontecendo, mas não consigo pensar em outra coisa além da sua sopa caseira… Estou com muita, muita vontade de tomar… Será que você pode fazer para mim?André não podia dizer que era Rafael quem queria a sopa, então estava sendo indireto
Lucas estava sentado no sofá, observando o jeito constrangido de André com um meio sorriso:— Você realmente não precisa se preocupar. Afinal, foi André que mentiu dizendo que queria a sopa, só assim Júlia a preparou. Ela mesma não vai aparecer por aqui.O rosto de Rafael ficou imediatamente sério, lançando um olhar frio para André:— Eu te mandei ir lá? Quem deixou você tomar essa decisão sozinho?André encolheu os ombros e deu uma leve tosse:— Eu só estava preocupado com sua saúde. Esses dias você quase não comeu nada, e se não fosse pela sopa da Júlia, você ainda estaria com fome agora…Rafael continuou com a expressão fria, sem responder.André continuou:— Aliás, eu fui à casa da Júlia hoje. Ela está morando num lugar bem pequeno e velho, sem elevador, e tem que subir sete andares todos dias. Dá para ver que as coisas não estão fáceis.André observou a reação de Rafael.Embora Rafael tivesse dito que ela merecia, não conseguiu esconder um rápido olhar de preocupação.Portanto, pa
Na biblioteca, Júlia estava focada em resolver duas provas, mas ficou presa na última questão.Ela pensou por um instante e se lembrou de ter visto um problema semelhante em algum livro. Levantou-se e foi até a seção de livros, começando a procurar o material e o tipo de problema que precisava.Após alguns minutos, encontrou o que estava procurando. Estava prestes a voltar para sua mesa quando outra obra chamou sua atenção.O título era Recombinação e Fusão de Sequências Genéticas.Júlia se lembrou do que José tinha comentado e pegou o livro instintivamente.Ela folheou as páginas e ficou surpresa ao descobrir que as ideias do livro coincidiam com as suas.Ela ficou cada vez mais envolvida, se esquecendo do tempo.Foi então que o celular em seu bolso vibrou.Uma notificação do WhatsApp apareceu na tela.Patrícia:【Adivinha onde estou?】Júlia achou que era algum tipo de brincadeira, pronta para responder, mas uma ideia passou por sua cabeça: 【Você está na universidade?!】Patrícia:【Bin
Rafael tentou aguentar ouvir por alguns segundos, mas logo desligou o celular e ativou o modo avião para garantir que não seria mais incomodado.Finalmente, com paz.Ao entrar em casa, ele sentiu um alívio imediato e soltou um suspiro pesado. Quando subiu as escadas, sem perceber, acabou indo parar na cozinha.Os utensílios estavam impecavelmente limpos, organizados em fileiras perfeitas.Na mente de Rafael, apareceu uma imagem clara, Júlia se movimentando pela cozinha. Ela costumava fazer uma sopa que levava horas para ficar pronta.Ela sempre preparava uma sopa, deixando os ingredientes de molho na noite anterior e cozinhando lentamente na manhã seguinte até tudo ficar macio.Rafael achava tudo isso um pouco exagerado e sempre sugeria que ela não se preocupasse tanto. Mas, invariavelmente, ao chegar do trabalho no dia seguinte, uma tigela quente e reconfortante de sopa estava à sua espera.Com o tempo, ele parou de insistir e simplesmente passou a gostar da comida e o cuidado que ela