Patrícia gritou:— Júlia! Conta aí, quantas vezes eu te liguei? E você não atendeu nenhuma! Já faz quanto tempo? Se eu não tivesse ligado, você ia me deixar sem notícias até quando?Patrícia estava realmente irritada, falando sem parar.Júlia olhou as chamadas perdidas e viu uma sequência enorme, todas da Patrícia.Teve algumas vezes que ela quis retornar, mas acabou se distraindo e esqueceu.Se sentindo culpada, ela se apressou a pedir desculpas:— Desculpa, esses dias eu tava muito ocupado e acabei esquecendo… prometo que vou tentar evitar isso no futuro… não, vou parar de vez!Na verdade, desde o segundo dia em que Júlia entrou no laboratório, Patrícia já sabia.Ela e José nunca foram muito próximos.Quando crianças, até se davam bem, mas depois que ele foi estudar fora, a relação esfriou.Agora, ele era o ‘gênio da física’ intocável de quem todos falavam. A distância entre eles só aumentava com o passar do tempo.Após adultos, os encontros entre os dois podiam ser contados nos dedo
Amanda disse:— Vocês podem dar uma olhada, vejam se está certo.Andressa analisou cuidadosamente e assentiu: — Parece que está certo agora.Mas Alan, com sua vasta experiência, notou algo errado de imediato:— Esses dois números ainda estão errados.Júlia passava por perto, viu a longa sequência de números e rapidamente percebeu que os únicos dois valores do sétimo ponto estavam errados.Então disse:— Na linha 7, ambos os valores estão errados, não são 50 e 71, mas 50,2 e… 70,88.No dia a dia do laboratório, outros mantinham uma distância educada de Júlia. Não era uma rejeição, mas também não havia uma relação de proximidade.Mesmo com a simpatia de Andressa e a paciência de Alan, aquela distância natural, fruto de diferenças em formação, posição, idade e tempo de convivência, não desaparecia com algumas conversas ou refeições em grupo.Eles tratavam Arthur e Amanda de forma bem diferente de Júlia.Ao ouvir o que Júlia disse, os quatro se entreolharam, e o que viram nos olhos uns do
Alan tinha o mesmo pensamento e não se manifestou para defender Júlia.Amanda disse sarcasticamente:— É importante ter noção do próprio limite, sabia? Alguém da biologia querendo avaliar nos dados de física? Isso é ridículo…De repente, Arthur que estava focado no computador, interrompeu a conversa:— Eu refiz os cálculos, e a Júlia está certa!Amanda congelou, como se tivesse levado um susto.Andressa e Alan ficaram chocadas:— O quê?Arthur explicou:— Não é 50 e 71, e sim 50,2 e 70,88! Essa pequena diferença causou todos os erros nos valores seguintes.No mundo da ciência, pequenos erros podem causar grandes problemas.Alan foi direto até o computador, revisou os números e viu que, com os ajustes, todos os valores seguintes se corrigiram automaticamente.Seus olhos brilharam:— Agora está certo. O problema estava no sétimo ponto!Andressa também refez os cálculos e confirmou. Logo, olhou para Júlia com uma mistura de surpresa e admiração. Também havia uma pontinha de culpa, já que
Isso foi como…Um fazendeiro dizendo a um pecuarista como deveria alimentar o gado…Ninguém acreditaria nisso!Júlia olhou para Amanda, que ainda estava paralisada e falou calmamente:— Obrigada pelas orientações. Sei que a pesquisa precisa ser rigorosa e prática, isso é o básico. Mas também é importante ouvir e aceitar sugestões razoáveis, certo? No caso de hoje, o mais importante é validar a sugestão antes de tirar conclusões baseadas em opiniões.Seu tom foi tranquilo, como se estivesse apenas expondo um fato.Mas para Amanda, cada palavra parecia uma faca afiada, cortando profundamente.Não era uma bronca, mas doía como se fosse.O rosto de Amanda ficou quente como se estivesse em chamas....Depois de mais um dia exaustivo, Júlia chegou em casa, jogou-se no sofá e abraçou o travesseiro, logo pegou no sono.Enquanto uns lutavam contra o cansaço da rotina, outros aproveitavam as luzes da noite.Na pista de dança, sob luzes brilhantes e ao som de batidas intensas, Bruno Rocha deixava
Rafael estava claramente irritado, mal conseguia esconder a frustração. Ele olhou as horas, eram apenas nove da noite, e já havia recebido quatro ou cinco ligações de casa, três delas da sua mãe e uma da Viviane.Ela sabia que ele não atenderia, ela ligou uma vez e parou, como se quisesse mostrar que sabia a hora de parar.Mesmo assim, ele se sentia incomodado, especialmente por pensar que havia uma nova pessoa na casa, o que o irritava ainda mais.André olhou para o relógio:— Ainda é cedo, já vai embora?Rafael ficou em silêncio, mas André percebeu que, apesar de sua aparência tranquila, ele estava claramente no limite da paciência. Por isso, André não insistiu e falou:— O motorista da minha casa está lá embaixo. Vou pedir para ele te levar.— Valeu.André largou o copo de bebida e sorriu:— Vai ficar nessa formalidade comigo? Deixa que eu te acompanho até a porta.Rafael acenou com a mão:— Não precisa, podem continuar se divertindo.Observando a saída de Rafael, Bruno soltou uma
Rafael só se deu conta tardiamente de que Viviane era muito mais astuta do que ele imaginava.Antes, ele achava que aquela garota era pura e encantadora, ingênua e despreocupada. E no fim? Ele foi feito de bobo, enganado e manipulado por ela, chegando até a perder... Jú.Se não fosse por ela, como ele e Júlia poderiam ter chegado a esse ponto? Esse pensamento só aumentava o desprezo de Rafael, a ponto de ele evitar qualquer lugar onde Viviane estivesse.Ele já havia passado vários dias dormindo no escritório, e Viviane, sem coragem de ligar diretamente, usava Fernanda para insistir que ele voltasse para casa. Rafael, para não preocupar a mãe, teve que voltar à mansão, ainda que a contragosto.Mas, fora isso, não queria ter mais nada a ver com ela....Quando chegou à mansão, já passava das oito da noite. Ao abrir a porta, viu Viviane esperando na entrada, estendendo a mão para pegar seu casaco. Rafael desviou para o lado, passando direto por ela em direção à sala.Viviane ficou com as
Júlia foi despertada por batidas na porta. Ela se levantou de repente, certa de que alguém estava batendo à porta de sua casa.— Quem é? — Júlia perguntou com cautela, ainda atrás da porta.Essa noite, José ficaria no laboratório fazendo hora extra. Se realmente fosse algum bandido, ela não teria ninguém para protegê-la.As batidas pararam por um momento, mas quem estava do lado de fora não respondeu.Como Júlia não abria, ele voltou a bater.— Se você não falar, não vou abrir a porta. — Disse Júlia.— Jú. — Rafael deu uma risada amarga.Ela continuava teimosa como sempre:— O que você quer?Júlia franziu a testa automaticamente ao reconhecer a voz dele.— Deixa eu entrar, vamos conversar. Eu prometo que não vou fazer nada. Se você não confiar, pode deixar a porta só encostada... — Disse Rafael.— Não temos nada para conversar. — Júlia o interrompeu, deixando claro que não tinha intenção de abrir a porta.Depois disso, por mais que ele batesse ou implorasse, Júlia fingiu que não ouvia.
Ele tinha sido o primeiro a soltar sua mão, mas agora que ela estava prestes a aceitar a realidade e sair da sombra, ele de repente queria trazê-la de volta para o passado?Não era irônico?— Rafael, não me procure mais, não me obrigue a te odiar. — Disse Júlia.Sua firmeza, sua decisão, eram como uma faca, perfurando toda a confiança e segurança dele.— Jú... não faça isso... por favor? — Implorou Rafael!Júlia, porém, o encarava com a mesma expressão serena de antes:— Eu resolvi todos os obstáculos entre nós, até minha mãe concordou. Se você aceitar, podemos ir direto ao cartório e nos divorciar!— Não quero.O que ele chamava de "resolver" não passava de uma ilusão para si mesmo.— Jú...— Estou ocupada, preciso ir.Ela passou por ele, sem olhar para trás, e se afastou rapidamente.Rafael ficou ali, parado, sem se mover.As pessoas que iam para o trabalho durante o pico da manhã passavam por ele, mas ele parecia ter perdido a alma, com os olhos vazios, como se o mundo inteiro não i