— Uma autora que não produz mais obras ou vendas, ainda pode ser chamado de autora?Camila também ficou irritada, disse:— Eu tenho várias ideias, mas você…Rosália interrompeu bruscamente:— Essas ideias suas não têm nada de especial, não vão vender! Se você as escrever, vai só perder tempo e desperdiçar o número de registro. Você acha que ainda é aquela ‘rainha do suspense’? Vamos ser francas, Camila. Você já passou do seu auge. Está na hora de encarar a realidade e reconhecer isso.— Mãe! — Júlia não aguentou ouvir mais e saiu rapidamente de trás da prateleira.Camila enxugou rapidamente as lágrimas que ameaçavam cair e forçou um sorriso: — Achou o tempero?Júlia balançou a embalagem de tempero na mão:— Aqui está. Já está ficando tarde, talvez o papai já tenha voltado da escola. Vamos pagar e ir para casa?— Vamos.Júlia se despediu em nome da mãe, sabendo que Camila não queria mais continuar ali:— Até mais, Sra. Rosália.Rosália sorriu levemente:— Claro, eu ainda vou dar mais u
E pelo que Júlia escutou da conversa entre a mãe e a editora, não havia nenhuma preocupação real da parte da Rosália, apenas pressão e manipulação emocional.Ela disse petulantemente:— Por favor, vai! Me deixa ler!— Tá bom, tá bom, te mando depois. Só espero que tenha paciência para ler tudo!— Prometo que sim!…Quando chegaram em casa, Gustavo estava no quintal, colocando as decorações de festa.Ele parecia um pouco confuso, então Júlia se aproximou e comentou:— Pai, tá meio torto, não tá? Desvia um pouco para esquerda.Camila desceu do carro, olhando com ceticismo:— Eu acho que tá muito alto. Abaixa um pouco.Gustavo seguiu o conselho, puxando a faixa decorativa mais para baixo, mas logo ouviu Camila de novo:— Agora está muito baixo. Sobe mais um pouco.Júlia observou e disse:— Acho que agora está bom.Mesmo assim, Gustavo ainda achava que algo estava estranho:— Será que tá torto?Camila olhou com atenção e percebeu:— Você trocou as faixas de lugar, não foi?Ele tossiu levem
Tudo o que precisava fazer era manter as aparências e evitar conflitos desnecessários.Rafael estava encarar disso, sempre adotando uma postura evasiva. Ele nunca tomava a iniciativa de resolver os problemas entre a namorada e a mãe. Jamais tocava no assunto, nem perguntava. Era como se ele estivesse sempre de olhos fechados para a situação.Por sua vez, Júlia sempre o compreendeu e nunca o pressionou. Por exemplo, nas férias, nunca o colocava em uma posição difícil de escolher entre ficar com ela ou com Fernanda, a mãe dele.Agora, olhando para trás, ela percebia que toda a sua paciência e compreensão não passavam de autoengano.Homens não valorizam isso, apenas se acostumam e começam a achar que é obrigação.Júlia suspirou:— Sim, senti falta dos meus pais, então comprei a passagem e voltei.Ela disse com simplicidade, mas Patrícia sabia que para Júlia reunir coragem para voltar para casa, não foi fácil.Patrícia cumprimentou:— Os seus pais estão bem? Faz tempo que não os vejo. Man
Júlia esboçou um leve sorriso:— Tudo bem, não precisa evitar o assunto.Mesmo dizendo isso, o ambiente ainda caiu em um silêncio constrangedor.De repente, o som de fundo do lado de Patrícia ficou mais barulhento:— Jú, vou ter que desligar, o jantar de família vai começar, minha mãe já está me procurando.— Claro.Após desligar, Júlia se preparava para guardar o celular, quando várias mensagens chegaram pelo WhatsApp.Era Lucas Santos.Ele havia enviado documentos sobre um processo internacional, com os recibos e um resumo do progresso atual. Também tinha alguns arquivos que precisavam da assinatura dela.Processos internacionais eram sempre mais complicados e demorados do que os nacionais, e ela estava surpresa com o andamento rápido.Júlia baixou os documentos e os assinou online antes de reenviar para Lucas.A resposta chegou quase que imediatamente, com uma mensagem em tom de brincadeira:[Confia mesmo assim em mim? E se eu te vendesse?]Júlia respondeu simplesmente:[Você não fa
Do outro lado da linha, uma voz feminina suave, cheia de gentileza, também desejava boas festas.José não pôde evitar imaginar Júlia segurando o celular, sorrindo ao lhe desejar.Fogos de artifício explodiam no céu, iluminando seu rosto sorridente.Ela deveria estar linda.…No dia seguinte, Júlia teve o privilégio de dormir até as 11h.O sol já havia subido, e a luz atravessava as cortinas, iluminando suavemente o quarto. Ela abriu os olhos, ainda sonolenta, e viu a sombra das árvores balançando do lado de fora, projetando formas irregulares na cortina.Será que o tempo estava bom?Ela se levantou, bocejando, e abriu as cortinas de uma vez só.O sol brilhava sobre a colina coberta de verde ao longe, cegando seus olhos por um momento.No quintal, Gustavo e Camila estavam sentados, aproveitando o calor do sol enquanto liam.Com sua audição aguçada, Gustavo percebeu o som da janela sendo aberta e sabia que Júlia já estava acordada. Sendo professor e muito disciplinado com o tempo, ele se
Nesse momento, era período de férias, então a maioria dos estudantes já estava de recesso, e o campus estava bem vazio.O segurança a notou parada na entrada e a olhou de cima a baixo:— Veio visitar algum professor durante as férias?Apesar das férias, os alunos do terceiro ano ainda tinham aulas, então alguns poucos estavam no colégio.Sem esperar resposta de Júlia, ele fez um gesto com a mão e, com uma leve tosse, disse:— Pode entrar, só tenta fazer pouco barulho para não atrapalhar as aulas.Certas horas, o silêncio era mesmo de ouro.Ela não estava ali para visitar ninguém, então nem foi até os prédios das salas de aula. Em vez disso, deu uma volta no pátio e, enquanto se preparava para ir embora, passou pela vitrine de honra da escola.E então, lá estava sua foto.Logo abaixo, uma legenda simples:Júlia Ferreira. Melhor aluna em Ciências no ENEM de 20xx da Cidade K. Aprovada no curso de Biologia da Universidade B.O vento começou a soprar mais forte, fazendo seus olhos arderem.
Gustavo já estava com o rosto completamente fechado:— Professora Renata, minha filha Júlia é uma menina ótima. Essas coisas que você falou, não importa de onde vieram, por favor, pare de comentar sobre isso no futuro! É tudo mentira! Eu até diria que é calúnia. Esse tipo de atitude não é de professor.Após dizer isso, Gustavo saiu a passos largos, com uma postura que transbordava indignação.Renata revirou os olhos:— Fez o que fez e não quer que as pessoas comentem? Ainda tem a audácia de dizer que ela é uma boa menina? Que piada! Estragando o ambiente da escola, sem a menor vergonha…Ela se lembrou de como Gustavo costumava ser presunçoso.Ele tinha uma filha que era a primeira em todas as disciplinas, acumulava prêmios em competições, era famosa não só no classe, mas em toda a escola.Em toda reunião, Gustavo fazia questão de mencionar Júlia, e seu sorriso de orgulho era inconfundível.Mas e agora?Entrou na Universidade B, e daí?No fim, não passou de um brinquedo para algum rico.
— Olha só! É a própria Júlia! Quando te vi no portão, achei que estava me confundindo!Laura Ramos, a vizinha fofoqueira e barulhenta, correu para se aproximar. O marido também dava aula na mesma escola que o pai de Júlia, e se mudaram para o mesmo bairro.Assim que viu Júlia, Laura a olhou dos pés a cabeça, sem deixar nada escapar:— Meu Deus! Como dizem, viver na cidade grande faz bem, né? Menina, você está ótima!Júlia ficou em silêncio.Ela continuou:— Olha só essa roupa, esse corpo, e esses sapatos… toda na moda!Laura então se aproximou mais e, com um sorriso malicioso, falou mais baixo:— Ouvi dizer que você tá se dando bem lá em Cidade J, com boas conexões… será que você não consegue apresentar um bom partido para minha filha?Júlia ficou confusa, perguntou:— Apresentar o quê?— Ah, sabe… um homem rico, tipo um bom partido. Minha filha é linda, tem um corpão, e ainda por cima tem só 22 anos!O rosto de Júlia ficou sério, e ela deu um passo para trás:— Sra. Laura, acho que vo