Naquela época, Camila quase entrou em depressão.Felizmente, com o apoio do marido e da filha, ela conseguiu sair dessa fase sombria, mas desde então, ela parou de usar a internet e trocou o celular por um modelo simples, daqueles só para fazer ligações.Dez anos se passaram, exceto um romance juvenil que escreveu, Camila não lançou mais nenhum livro novo.Camila virou e disse:— Ah, deixa para lá! E aí, gostou do sanduíche?— Sim, ainda tem o mesmo sabor de sempre.Júlia olhou para o rosto da mãe, querendo dizer algo, mas acabou desistindo:— Só o café estava um pouco quente demais.— É mesmo? Então espera um pouco para esfriar....Com a chegada da festa, a vida tranquila na pequena cidade começou a ganhar um toque de festividade.As árvores e os postes ao longo da rua estavam decorados com luzes coloridas.O mercadinho perto de casa estava lotado, com prateleiras quase vazias. Camila decidiu então ir até o grande supermercado no centro da cidade.Após estacionar o carro, ela e Júlia
Camila disse:— Acabei de lembrar que esqueci de pegar o tempero. Jú, vai ali na prateleira e pega um pacote para mim.— Tá bom.Júlia sabia que sua mãe quis afastá-la da conversa.Assim que a filha se afastou, Camila começou a falar:— Como eu disse mais cedo, ainda estou pensando.— Pensando? Eu te falei sobre isso há três meses! Na época, você também disse que ia pensar. Eu te dei tempo, mas até agora você não me deu uma resposta clara.Camila franziu a testa:— Trabalhamos juntas há anos, você sabe que meu forte são contos e novelas de suspense, com umas 200 ou 300 páginas. Agora você quer que eu mude e escreva romances online? Isso não tem nada a ver!— É tudo literatura, não tem essa de ‘não tem nada a ver’. Escrita é escrita, em qualquer formato!O tom da editora endureceu e o sorriso sumiu de seu rosto.Camila tentou explicar:— Primeiro, romances online geralmente são longos, com mais de mil páginas. Segundo os gêneros mais populares, como romances urbanos ou de casamento, não
— Uma autora que não produz mais obras ou vendas, ainda pode ser chamado de autora?Camila também ficou irritada, disse:— Eu tenho várias ideias, mas você…Rosália interrompeu bruscamente:— Essas ideias suas não têm nada de especial, não vão vender! Se você as escrever, vai só perder tempo e desperdiçar o número de registro. Você acha que ainda é aquela ‘rainha do suspense’? Vamos ser francas, Camila. Você já passou do seu auge. Está na hora de encarar a realidade e reconhecer isso.— Mãe! — Júlia não aguentou ouvir mais e saiu rapidamente de trás da prateleira.Camila enxugou rapidamente as lágrimas que ameaçavam cair e forçou um sorriso: — Achou o tempero?Júlia balançou a embalagem de tempero na mão:— Aqui está. Já está ficando tarde, talvez o papai já tenha voltado da escola. Vamos pagar e ir para casa?— Vamos.Júlia se despediu em nome da mãe, sabendo que Camila não queria mais continuar ali:— Até mais, Sra. Rosália.Rosália sorriu levemente:— Claro, eu ainda vou dar mais u
E pelo que Júlia escutou da conversa entre a mãe e a editora, não havia nenhuma preocupação real da parte da Rosália, apenas pressão e manipulação emocional.Ela disse petulantemente:— Por favor, vai! Me deixa ler!— Tá bom, tá bom, te mando depois. Só espero que tenha paciência para ler tudo!— Prometo que sim!…Quando chegaram em casa, Gustavo estava no quintal, colocando as decorações de festa.Ele parecia um pouco confuso, então Júlia se aproximou e comentou:— Pai, tá meio torto, não tá? Desvia um pouco para esquerda.Camila desceu do carro, olhando com ceticismo:— Eu acho que tá muito alto. Abaixa um pouco.Gustavo seguiu o conselho, puxando a faixa decorativa mais para baixo, mas logo ouviu Camila de novo:— Agora está muito baixo. Sobe mais um pouco.Júlia observou e disse:— Acho que agora está bom.Mesmo assim, Gustavo ainda achava que algo estava estranho:— Será que tá torto?Camila olhou com atenção e percebeu:— Você trocou as faixas de lugar, não foi?Ele tossiu levem
Tudo o que precisava fazer era manter as aparências e evitar conflitos desnecessários.Rafael estava encarar disso, sempre adotando uma postura evasiva. Ele nunca tomava a iniciativa de resolver os problemas entre a namorada e a mãe. Jamais tocava no assunto, nem perguntava. Era como se ele estivesse sempre de olhos fechados para a situação.Por sua vez, Júlia sempre o compreendeu e nunca o pressionou. Por exemplo, nas férias, nunca o colocava em uma posição difícil de escolher entre ficar com ela ou com Fernanda, a mãe dele.Agora, olhando para trás, ela percebia que toda a sua paciência e compreensão não passavam de autoengano.Homens não valorizam isso, apenas se acostumam e começam a achar que é obrigação.Júlia suspirou:— Sim, senti falta dos meus pais, então comprei a passagem e voltei.Ela disse com simplicidade, mas Patrícia sabia que para Júlia reunir coragem para voltar para casa, não foi fácil.Patrícia cumprimentou:— Os seus pais estão bem? Faz tempo que não os vejo. Man
Júlia esboçou um leve sorriso:— Tudo bem, não precisa evitar o assunto.Mesmo dizendo isso, o ambiente ainda caiu em um silêncio constrangedor.De repente, o som de fundo do lado de Patrícia ficou mais barulhento:— Jú, vou ter que desligar, o jantar de família vai começar, minha mãe já está me procurando.— Claro.Após desligar, Júlia se preparava para guardar o celular, quando várias mensagens chegaram pelo WhatsApp.Era Lucas Santos.Ele havia enviado documentos sobre um processo internacional, com os recibos e um resumo do progresso atual. Também tinha alguns arquivos que precisavam da assinatura dela.Processos internacionais eram sempre mais complicados e demorados do que os nacionais, e ela estava surpresa com o andamento rápido.Júlia baixou os documentos e os assinou online antes de reenviar para Lucas.A resposta chegou quase que imediatamente, com uma mensagem em tom de brincadeira:[Confia mesmo assim em mim? E se eu te vendesse?]Júlia respondeu simplesmente:[Você não fa
Do outro lado da linha, uma voz feminina suave, cheia de gentileza, também desejava boas festas.José não pôde evitar imaginar Júlia segurando o celular, sorrindo ao lhe desejar.Fogos de artifício explodiam no céu, iluminando seu rosto sorridente.Ela deveria estar linda.…No dia seguinte, Júlia teve o privilégio de dormir até as 11h.O sol já havia subido, e a luz atravessava as cortinas, iluminando suavemente o quarto. Ela abriu os olhos, ainda sonolenta, e viu a sombra das árvores balançando do lado de fora, projetando formas irregulares na cortina.Será que o tempo estava bom?Ela se levantou, bocejando, e abriu as cortinas de uma vez só.O sol brilhava sobre a colina coberta de verde ao longe, cegando seus olhos por um momento.No quintal, Gustavo e Camila estavam sentados, aproveitando o calor do sol enquanto liam.Com sua audição aguçada, Gustavo percebeu o som da janela sendo aberta e sabia que Júlia já estava acordada. Sendo professor e muito disciplinado com o tempo, ele se
Nesse momento, era período de férias, então a maioria dos estudantes já estava de recesso, e o campus estava bem vazio.O segurança a notou parada na entrada e a olhou de cima a baixo:— Veio visitar algum professor durante as férias?Apesar das férias, os alunos do terceiro ano ainda tinham aulas, então alguns poucos estavam no colégio.Sem esperar resposta de Júlia, ele fez um gesto com a mão e, com uma leve tosse, disse:— Pode entrar, só tenta fazer pouco barulho para não atrapalhar as aulas.Certas horas, o silêncio era mesmo de ouro.Ela não estava ali para visitar ninguém, então nem foi até os prédios das salas de aula. Em vez disso, deu uma volta no pátio e, enquanto se preparava para ir embora, passou pela vitrine de honra da escola.E então, lá estava sua foto.Logo abaixo, uma legenda simples:Júlia Ferreira. Melhor aluna em Ciências no ENEM de 20xx da Cidade K. Aprovada no curso de Biologia da Universidade B.O vento começou a soprar mais forte, fazendo seus olhos arderem.