Faziam exatos dez dias que minha vida tinha virado um verdadeiro caos. Dez estressantes dias desde que Corey Legard havia anunciado que estava noivo e que planejava uma festa para marcar esse feito horrível.
Meu chefe era um desmiolado.
Não era preciso muita explicação para descrever um típico garoto rico que conseguia todas as mulheres que desejava. Corey foi assim a vida inteira.
Ele olhava para uma garota, sorria para ela e então conseguia arrancar sua calcinha. O grande problema é que ele não gostava de repetir a mesma mulher — mais clichê que isso impossível — e partia para outras assim que conseguia uma transa.
E então, o ciclo se iniciava mais uma vez...
Uma busca quase comparada à caça, um olhar terrivelmente sedutor, o sorriso que ouso dizer ser um dos mais lindos que já vi, a lábia sem igual que era sua marca registrada, e por fim e não menos importante, a foda. Com todas as etapas concluídas, ele partia mais uma vez para outra.
Corey parecia não cansar nunca, não conseguia parar uma semana sequer com a mesma pessoa e parecia não ter a capacidade de amar.
E então aconteceu.
Há tortuosos dez dias atrás, ele veio até meu apartamento dizendo que estava noivo, sem nem ter me contado que estava saindo com alguém. Eu recebi a notícia de que meu melhor amigo se casaria logo, e minha vida definitivamente virou um inferno infindável.
Porcaria!
Como é que ele decidiu se casar com alguém que conheceu há duas semanas?
Corey só podia estar tramando alguma gracinha pra cima de sua família, isso seria compreensível. No entanto, a mais afetada foi eu. Era Corey, merda, o meu coração que batia fora do peito. O único que eu amava imensamente e sem escrúpulos. Minha estrutura sólida em meio a um mar tempestuoso.
Era o meu Corey, que não sabia dar um único passo sem me consultar, nem mesmo era capaz de formar seus próprios looks para um jantar normal com a família sem pedir minha opnião.
Eu, definitivamente, não estava preparada para isso.
Deixei o corpo tombar na cama enorme e macia enquanto meus olhos lutavam para se fechar.
Não poderia ceder. Estava exausta por passar a noite toda tentando arrumar argumentos para convencer o dono de um castelo a permitir que a realização da festa de noivado fosse feita em seu lindo e majestoso estabelecimento.
Filha de uma puta.
A tal noiva de Corey não tinha limites, a bonitinha não sabia ouvir um "não", muito menos aceitava outras coisas que não fossem as desejadas por ela, e ainda por cima, eu como braço direito de seu noivo, fiquei com a obrigação de cuidar dos principais preparativos, como se fosse uma casamenteira ou organizadora de festas.
Inferno!
Eu era só a advogada dos Legards, não sabia nem mesmo usar um vestido, quem dirá escolher a melhor loja para a noiva provar o seu.
Tudo o que queria era estrangular aquela megera de cabelos tingidos e jogar seu corpo morto no lago da mansão. Pena não ser tão desequilibrada assim.
Contudo, a futura esposa de Corey Legard era um assunto delicado em toda a Família, não só para mim.
Não haveria facilidade alguma em encaixar uma garota como ela no nosso meio. Haviam regras, leis e segredos que deveriam ser guardados a sete chaves e que só poderiam ser passados à ela depois de seu batismo. Se é que ela conseguiria passar por ele.
Não era fácil. Não seria para nenhuma das mulheres que formavam a Família Legard.
Um batismo era obrigatório e necessário para todos os membros, no entanto, mulheres precisavam mostrar sua força e domínio, mais que os homens. A explicação não era tão convincente a princípio, mas ficava um pouco mais clara com o passar do tempo.
Contudo, alguém como Lily Crawford não seria psicologicamente capaz de passar por tanto.
Nunca foram provas iguais ou algo a qual poderíamos nos preparar, enquanto Green, uma das minhas únicas amigas próxima, foi convocada uma semana antes do ato, eu fui pega de surpresa no meio da madrugada, com dois homens da Família invadindo meu quarto e me levando até a ilha.
Enquanto Green passou por seus testes no meio de uma cidade movimentada e caótica, eu precisei sobreviver na escuridão e solidão das noites, rodeada de uma imensidão de árvores e perigo constante.
Cada uma era diferente da outra. Simples assim.
Foi por esse e mais muitos outros motivos que entrei para os Corvos, e Green para as Serpentes. Lily, no entanto, deveria se encaixar nos Anjos, mas estes não existiam na Família, então ela com toda a certeza não se encaixaria em lugar algum, muito menos ao lado de Corey.
— Bom dia, Chloe. Já são cinco da manhã, hora de levantar — Briana, meu despertador inteligente e única companhia pela manhã, falou.
Revirei os olhos pesados e suspirei derrotada. Era tão injusto não poder dormir por causa de uma vaca mimada.
— Porcaria! — Esfreguei os olhos e forcei meu corpo a se levantar e caminhar até o banheiro.
Tinha apenas uma hora para tomar um banho, colocar meu terno, ajeitar o cabelo, ir até a cafeteria perto do prédio e depois caminhar mais dois quilômetros até a empresa.
Hoje teria que fazer tudo em tempo recorde.
Não que não fizesse isso quase que todos os dias durante os últimos seis anos. O problema maior, contudo, era o mau humor proveniente das exigências da noiva de Corey. Eu a odiava sem nem ter trocado mais de dez palavras com ela.
Era ridículo pensar que estava com ciúmes do meu melhor amigo, mas realmente estava e não conseguiria esconder isso por tanto tempo.
Mesmo que ir para a Hayans fosse contra todas as minhas vontades, fiz toda a higiene necessária, tirei cinco minutos do meu curto tempo para meditar ainda nua, e depois de tentar encontrar um equilíbrio mental, escolhi o terno que mais valorizava minhas curvas.
Preto com alguns pequenos detalhes brancos. Mas, um Gucci.
Apesar de usá-lo apenas em reuniões importantes ou ocasiões especiais, precisei abrir uma exceção para deixar minha autoestima no alto mesmo.
Seria um porre encarar toda a ladainha da noiva, me sentindo um zero à esquerda.
Duas bolsas de olheiras enormes foi o que vi ao me olhar no espelho do banheiro, e sem muito tempo, passei uma fina camada do melhor corretivo para tentar disfarçar aquilo.
Corey não deveria nem sonhar que minhas noites estavam sendo péssimas. Odiava a ideia de ajudar com o casamento dele, mas a ideia de tê-lo em meu apartamento me fazendo tomar suco de maracujá a cada dez minutos, era pior.
Sempre foi assim. Sempre cuidamos um do outro, e um medo gigantesco me assolava enquanto imaginava que tudo mudaria do dia para a noite.
Ele se casaria em breve.
Corey estava em um caminho diferente agora. Ele começaria a viver de outro modo e não precisaria mais de uma melhor amiga para lhe dar conselhos ou para comprar até suas próprias cuecas. Toda essa merda seria transferida para uma só pessoa. Sua futura esposa. E ela não precisaria da minha ajuda para lidar com o homem que dormiria ao lado dela todos os dias.
Corey não precisaria mais de mim, e essa era minha pior constatação.
Nossa amizade acabou no momento em que Lily apareceu, tinha certeza disso. No entanto, ele parecia não estar muito convicto disso, e não sabia esconder.
Para ele, me perder também não era uma opção aceitável.
Talvez cerca de cem quilos de papéis estavam sobre minha mesa, todos com palavras que descreviam problemas não resolvidos. Problemas que eu deveria dar jeito.Havia muita coisa para ser solucionado na Revista, mas eu deveria ignorar toda a papelada para continuar cuidando dos preparativos de um casamento que não me agradava nem um pouco. Ainda tinha que convencer o dono do castelo e providenciar a aliança nas Joalherias Calisto. Deveria ser de lá, única e especialmente feita para Lily. Essa exigência não sei se foi mesmo de Corey ou dela.— Senhorita J. ?Ergui o olhar para ter o vislumbre de um homem moreno, sorriso perfeito e terno chiquérrimo, me encarando com apenas metade do corpo dentro da minha sala. A outra metade ele sempre deixava do lado de fora para aumentar ainda mais as fantasias eróticas dos outros funcionários.— Olá, Andrew. Em que posso ajudar?Fiz a pergunta ainda focada em meus papéis, fingi não sucumbir aos efeitos terrivelmente sedutores daquele monumento de ho
Jazz ressoando pelo apartamento inteiro e o cheiro suave de um ótimo vinho tinto me inebriando, essa era de longe a descrição da minha noite perfeita. Não precisava de muito para me sentir satisfeita, para sentir paz.Passei o dia inteiro me desdobrando em mil para fazer tudo o que era possível na Hayans. Fiz mais umas trezentas ligações para resolver assuntos do casamento e tive uns quinhentos picos de raiva em cada uma delas. Mas a noite me pertencia. Não me permitiria continuar sofrendo mais, os últimos dias tinham feito o belo trabalho de me deixar em cacos. Bastava.— Ah, e teve aquela vez que meu pai pegou o Scott transando com uma garota no escritório dele na mansão. Acho que nunca vi Paul Legard tão decepcionado... Sendo assim, meus irmãos ganham de mim em "motivos para serem deserdados" — concluiu, bebendo o último gole do líquido tinto em sua taça.Eu não deveria deixar Corey beber, mas o final de semana estava próximo então, foda-se.— Depois dessa noite as coisas ficaram
— Corey, entenda uma só coisa: homem casado só dorme na casa de uma mulher que não seja a sua... Uma única mulher e uma única casa.— Posso saber em qual? — Cruzou os braços e já começou a ficar irritado.— A da sua mãe, óbvio. No mais, dormir no apartamento da melhor amiga está proibido. É assim que os relacionamentos são, bobão. — Me movimentei para deixar a cumbuca vazia no chão e fingi prestar atenção nas notícias.— Tá dizendo que eu não vou ser bem vindo aqui quando me casar? Você vai me excluir da sua vida? — Agora sim estava irritado.— É uma das consequências... Eu posso lidar com os boatos de que nós dois transamos, mas não posso lidar com o de que eu serei sua amante. Tudo tem limite. Você continuar vindo aqui só vai fazer as pessoas falarem mais bobagens do que já falam — expliquei, paciente.— As pessoas que importam sabem muito bem que nunca tivemos nada — replicou em um tom mais alto, indignado.— A sua noiva agora é uma das pessoas que importam, e ela não tem noção de
Estava digitando as últimas palavras do relatório que precisava ser entregue na manhã seguinte quando escutei o barulho da porta da sala se abrindo.Droga. Ele era sempre tão barulhento.Levantei o olhar para a porta fechada do meu quarto e Corey me encarou com o cenho franzido, como se perguntasse internamente quem estava às quase duas da manhã no meu apartamento.— Olha só, não sai desse quarto de jeito nenhum! — ordenei, me levantando rapidamente para correr até a sala e impedir a desgraça de acontecer.— Mas quem é? A Mia? — Elevou o tronco e se apoiou nos cotovelos, ficando em uma posição tão sexy e provocativa.Ah se não fosse o Corey...— Provavelmente — menti.Caminhei com passos apressados até a sala, rezando internamente para conseguir mandar o homem ir embora antes que o teimoso do meu melhor amigo fosse atrás de mim, no entanto, quando cheguei no cômodo não mais escuro, iluminado pela luz do abajur, não precisou de dois segundos para ser pega pela cintura e jogada sobre a
— Muito interessante essa ceninha de vocês dois, Chloe. Você está namorando e não passou pela sua cabeça me contar?— Ele não é meu namorado, Corey. O que acontece entre nós é sexo casual, e só. — Puxei a camisola para cima, tentando não deixar que meus seios fossem vistos.— Sexo casual. Sério? Você gosta que ele faça sexo casual com você nessa mesinha? — Se aproximou ainda mais e praticamente me encurralou ali, espalmando as mãos sobre a madeira fria, lado a lado de meu corpo quase descoberto. — Me diz, quantas vezes ele já te comeu aqui? — Soou tão rude que eu quase não o reconheci. Corey não era assim.— Talvez quatro ou cinco vezes nessa mesa. Duas no sofá e três na bancada da cozinha — respondi no mesmo tom estúpido que ele. — Me comeu gostoso em cada canto do apartamento, só nunca foi para a minha cama porque ele não passa de sexo casual, de um cara que não vai durar muito tempo na minha vida, porque eu sou previsível, certo? Eu afasto os homens de mim.Corey estava tão perto,
O sol majestoso já estava se pondo quando cheguei na casa de Marisa Legard, ou melhor dizendo, na mansão Legard tão bem conhecida por mim. Havia muitos carros no estacionamento e um em especial me chamou a atenção. Era na cor rosa bebê, bem a cara da tal Lily. Conversei com a mulher uma única vez desde que Corey a apresentou. A loira me tratou como uma mera funcionária, e hoje, para sua surpresa, ela entenderia qual o meu posto na Família e qual o lugar que eu ocupava na mesa de jantar. Sim, isso era de grande importância, ela veria que sim.Não demorei para sair do táxi e caminhar em direção à escada, subindo lentamente cada degrau bem pintado para chegar até a porta de uns quatro metros, pesada e linda. A empurrei e adentrei o salão de entrada, avistando a imensa escada de mármore branco e os sofás chiquérrimos que adornavam o cômodo. Marisa tinha um dom incrível para decorar ambientes, não era atoa que iniciou sua carreira na Hayans como a designer de interiores que comandava
— É um prazer, Chloe.Estendi a mão para um aperto formal e ela retribuiu, parecendo muito gentil. Aproveitei para cumprimentar Lily também, com outro aperto de mão, e Corey não se contentou apenas com esse mesmo cumprimento que fui lhe dar, ele teve que me puxar pela cintura ignorando todas as pessoas ali, tocando minhas costas com a pele exposta pelo decote, e beijando meu rosto com uma demora perceptível e quase incômoda. Então, bem a contragosto, me desvencilhei dele para beijar Paul e Jason, meu pai adotivo e meu irmão do meio. Todos devidamente cumprimentados, e eu deixando bem destacado o meu papel ali. Se Lily achava que eu era só uma funcionária da Hayans e melhor amiga do seu noivo, percebeu que tinha se enganado.— Bom, todos estão no jardim. Vamos nos juntar a eles já que as majestades chegaram — Jason se referiu a mim e a mãe, saindo da cozinha acompanhado de Paul sem mais esperar.Fiquei intacta ao lado de Marisa enquanto um silêncio reinou por alguns segundos. A noi
Com toda a coragem que me sobrou, estufei o peito e dei mais alguns passos, fechando a porta atrás de mim. O cômodo estava do mesmo jeito que deixei quando me mudei há três anos. A cama de casal com o cobre leito branco e flores azuis estampando ele. Vários travesseiros na mesma estampa espalhados pela cama e poucos móveis espelhados pelo quarto. Sempre gostei de coisas simples e básicas. Uma cômoda e um armário grande eram suficientes para viver ali.Ainda trêmula, me aproximei de um criado mudo que nunca esteve ali antes, estranhando o móvel e seus "adornos".Havia três porta retratos em cima dele e pela escuridão do quarto não pude ver quais eram aquelas fotos. Não sei porquê preferi deixar só a luz da lua iluminar o cômodo, mas continuei sem acender a lâmpada. Quando estava próxima o bastante para identificar as fotografias, petrifiquei no lugar. Meus pés se fixaram no chão contra minha vontade, e meu corpo paralisou, quase junto à minha respiração.Que porra estava acontecen