— Corey, entenda uma só coisa: homem casado só dorme na casa de uma mulher que não seja a sua... Uma única mulher e uma única casa.
— Posso saber em qual? — Cruzou os braços e já começou a ficar irritado.
— A da sua mãe, óbvio. No mais, dormir no apartamento da melhor amiga está proibido. É assim que os relacionamentos são, bobão. — Me movimentei para deixar a cumbuca vazia no chão e fingi prestar atenção nas notícias.
— Tá dizendo que eu não vou ser bem vindo aqui quando me casar? Você vai me excluir da sua vida? — Agora sim estava irritado.
— É uma das consequências... Eu posso lidar com os boatos de que nós dois transamos, mas não posso lidar com o de que eu serei sua amante. Tudo tem limite. Você continuar vindo aqui só vai fazer as pessoas falarem mais bobagens do que já falam — expliquei, paciente.
— As pessoas que importam sabem muito bem que nunca tivemos nada — replicou em um tom mais alto, indignado.
— A sua noiva agora é uma das pessoas que importam, e ela não tem noção de como funciona a nossa vida, e mesmo que soubesse, não ia concordar jamais. — Olhei para Corey e também aumentei o tom de voz. — Nenhuma mulher quer seu homem dormindo sem camisa na cama de outra, com a tal outra deitada pertinho do corpo dele. Ou seja, ela odiaria a ideia de te imaginar dormindo comigo agarradinha a você. Como as coisas funcionam entre nós dois.
O homem balançou a cabeça em negação, inconformado com minhas palavras. No fundo ele sabia que eu estava certa, afinal, sempre estive.
Se eu dissesse em voz alta que aquele casamento era um erro, ele iria debater mas no final concordaria. Corey sabia que havia feito escolhas por impulso, que não estava certo sobre o que realmente queria. Mal conhecia a garota que pediu em casamento. Mal se conheciam para ter certeza do que estava sentindo por ela.
— Uma vez eu fiz uma promessa — começou, olhando para uma parede qualquer do apartamento, focando em algo fixo. — Eu jurei nunca te deixar, em situação alguma. Prometi que seria o seu Corey para o resto da vida. Então não vou deixar que uma união matrimonial me faça quebrar essa promessa. Se for preciso, se for pra ser desse jeito, eu não dou prosseguimento a isso. Cancelo tudo, pelo simples fato de você ser a pessoa mais importante da minha vida. — Levou seus olhos até mim. — Eu amo você, Chloe, e nunca vou me afastar por motivo nenhum. Será sempre nós dois e nossa dinastia. Ninguém vai ser capaz de acabar com ela.
Engoli em seco digerindo cada palavra que ele disse.
Corey se levantou do sofá, tirando meus pés de cima de si, gentilmente, e andou em direção ao meu quarto, me deixando sozinha com seu caminhão de palavras despejados sobre mim.
Ele teria a capacidade de cancelar o noivado, um futuro casamento e uma vida nova ao lado de uma mulher que aparentemente amava, por mim? Por uma promessa feita a tantos anos atrás, por uma relação que nós criamos e que, realmente, nada poderia quebrar?
Bom, éramos muito parecidos em uma coisa. A fidelidade reinava sobre nós.
Eu jamais deixaria Corey de lado pois o amava e o tinha como minha única base forte diante ao mundo. Não era só por ele ser o meu porto seguro durante todos os anos desde que minha mãe morreu, mas sobre saber que o amor que eu sentia era grande o suficiente para nunca abandoná-lo, assim como ele nunca soltou minha mão quando senti medo e nunca me deixou para trás em situação alguma.
Ele me cuidou sempre, desde que tínhamos cinco anos. Corey nunca havia virado as costas para mim, porque nós éramos a família um do outro. Mesmo que o sangue que corria em nossas veias eram diferentes, nada poderia mudar o fato de que, em alma, tínhamos a maior ligação já existente.
Escorreguei meu corpo pelo estofado e fechei os olhos quando deitei. Respirei forte e inspirei ainda mais pesado. Eu não estaria pronta jamais para lidar com a ausência dele na minha vida, e por um único momento, eu quis incentivar Corey a terminar tudo com a noiva.
Poderia colocar tantos contras em sua cabeça que ele desistiria de tudo, mas eu o amava, sempre amei, e não faria nada que lhe levasse a sofrer.
Corey tomou uma decisão. Ele queria se casar, e eu, como melhor amiga, ia ajudá-lo com isso e com todos os dilemas que viriam a seguir. Porque era esse o meu trabalho. Eu tinha o dever de cuidar dele e de manter sua vida em ordem, mesmo que isso significasse minha ruína e minha dor eterna.
Estava digitando as últimas palavras do relatório que precisava ser entregue na manhã seguinte quando escutei o barulho da porta da sala se abrindo.Droga. Ele era sempre tão barulhento.Levantei o olhar para a porta fechada do meu quarto e Corey me encarou com o cenho franzido, como se perguntasse internamente quem estava às quase duas da manhã no meu apartamento.— Olha só, não sai desse quarto de jeito nenhum! — ordenei, me levantando rapidamente para correr até a sala e impedir a desgraça de acontecer.— Mas quem é? A Mia? — Elevou o tronco e se apoiou nos cotovelos, ficando em uma posição tão sexy e provocativa.Ah se não fosse o Corey...— Provavelmente — menti.Caminhei com passos apressados até a sala, rezando internamente para conseguir mandar o homem ir embora antes que o teimoso do meu melhor amigo fosse atrás de mim, no entanto, quando cheguei no cômodo não mais escuro, iluminado pela luz do abajur, não precisou de dois segundos para ser pega pela cintura e jogada sobre a
— Muito interessante essa ceninha de vocês dois, Chloe. Você está namorando e não passou pela sua cabeça me contar?— Ele não é meu namorado, Corey. O que acontece entre nós é sexo casual, e só. — Puxei a camisola para cima, tentando não deixar que meus seios fossem vistos.— Sexo casual. Sério? Você gosta que ele faça sexo casual com você nessa mesinha? — Se aproximou ainda mais e praticamente me encurralou ali, espalmando as mãos sobre a madeira fria, lado a lado de meu corpo quase descoberto. — Me diz, quantas vezes ele já te comeu aqui? — Soou tão rude que eu quase não o reconheci. Corey não era assim.— Talvez quatro ou cinco vezes nessa mesa. Duas no sofá e três na bancada da cozinha — respondi no mesmo tom estúpido que ele. — Me comeu gostoso em cada canto do apartamento, só nunca foi para a minha cama porque ele não passa de sexo casual, de um cara que não vai durar muito tempo na minha vida, porque eu sou previsível, certo? Eu afasto os homens de mim.Corey estava tão perto,
O sol majestoso já estava se pondo quando cheguei na casa de Marisa Legard, ou melhor dizendo, na mansão Legard tão bem conhecida por mim. Havia muitos carros no estacionamento e um em especial me chamou a atenção. Era na cor rosa bebê, bem a cara da tal Lily. Conversei com a mulher uma única vez desde que Corey a apresentou. A loira me tratou como uma mera funcionária, e hoje, para sua surpresa, ela entenderia qual o meu posto na Família e qual o lugar que eu ocupava na mesa de jantar. Sim, isso era de grande importância, ela veria que sim.Não demorei para sair do táxi e caminhar em direção à escada, subindo lentamente cada degrau bem pintado para chegar até a porta de uns quatro metros, pesada e linda. A empurrei e adentrei o salão de entrada, avistando a imensa escada de mármore branco e os sofás chiquérrimos que adornavam o cômodo. Marisa tinha um dom incrível para decorar ambientes, não era atoa que iniciou sua carreira na Hayans como a designer de interiores que comandava
— É um prazer, Chloe.Estendi a mão para um aperto formal e ela retribuiu, parecendo muito gentil. Aproveitei para cumprimentar Lily também, com outro aperto de mão, e Corey não se contentou apenas com esse mesmo cumprimento que fui lhe dar, ele teve que me puxar pela cintura ignorando todas as pessoas ali, tocando minhas costas com a pele exposta pelo decote, e beijando meu rosto com uma demora perceptível e quase incômoda. Então, bem a contragosto, me desvencilhei dele para beijar Paul e Jason, meu pai adotivo e meu irmão do meio. Todos devidamente cumprimentados, e eu deixando bem destacado o meu papel ali. Se Lily achava que eu era só uma funcionária da Hayans e melhor amiga do seu noivo, percebeu que tinha se enganado.— Bom, todos estão no jardim. Vamos nos juntar a eles já que as majestades chegaram — Jason se referiu a mim e a mãe, saindo da cozinha acompanhado de Paul sem mais esperar.Fiquei intacta ao lado de Marisa enquanto um silêncio reinou por alguns segundos. A noi
Com toda a coragem que me sobrou, estufei o peito e dei mais alguns passos, fechando a porta atrás de mim. O cômodo estava do mesmo jeito que deixei quando me mudei há três anos. A cama de casal com o cobre leito branco e flores azuis estampando ele. Vários travesseiros na mesma estampa espalhados pela cama e poucos móveis espelhados pelo quarto. Sempre gostei de coisas simples e básicas. Uma cômoda e um armário grande eram suficientes para viver ali.Ainda trêmula, me aproximei de um criado mudo que nunca esteve ali antes, estranhando o móvel e seus "adornos".Havia três porta retratos em cima dele e pela escuridão do quarto não pude ver quais eram aquelas fotos. Não sei porquê preferi deixar só a luz da lua iluminar o cômodo, mas continuei sem acender a lâmpada. Quando estava próxima o bastante para identificar as fotografias, petrifiquei no lugar. Meus pés se fixaram no chão contra minha vontade, e meu corpo paralisou, quase junto à minha respiração.Que porra estava acontecen
Havia algo dentro de mim que me incomodava, algo como um bolo na garganta, um nó no cérebro e um aperto no peito, mas afinal, motivos não me faltavam para estar mal. Além do fato de ter tido um surto psicótico minutos antes, Jason já havia me lançado umas trezentas indiretas e sua língua enorme e afiada já havia proferido coisas cruéis, como sempre.Me remexi na cadeira de estofado macio e permaneci com a cara fechada, olhando para Lily e Corey que conversavam alegremente com a mãe da mulher, em uma mesa ao lado. Marisa se recusou a permanecer com eles, porém Paul foi bem expressivo e com apenas olhares os dois chegaram a conclusão de que desfazer das duas não era uma possibilidade. A garota tinha uma família pequena, chamou só algumas amigas para a festa e pelo que entendi, seu pai estava em uma viagem de negócios. Então, os meus pais, apesar de não estarem tão felizes, faziam a recepção das mulheres da melhor forma possível.— Chloe?Meu corpo deu um leve sobressalto ao ouvir a
Se dissesse que era novidade para mim as briguinhas dos três mosqueteiros, seria mentira. Durante toda a adolescência eles fizeram o meu inferno com isso, ou era Jason me enchendo o saco com sua chatice, ou Scott sempre querendo me ver andando na linha, ou Corey me mandando ficar longe dos dois porque eles eram problema e me olhavam com maldade. Só se juntavam de verdade no colégio, sempre que aparecia um interesse amoroso, ficavam em cima de mim como guarda costas impedindo que eu tivesse uma vida adolescente normal. Mesmo sabendo que pelas regras da Família eu não poderia me envolver com ninguém porque o meu casamento era decidido por eles, pelo menos uma parte, ainda assim eu queria vivenciar o primeiro beijo, as aventuras noturnas ao pular a janela, fugindo para encontrar alguém que me fizesse ter borboletas no estômago.Pude viver coisas das quais sonhei, no final, vivi até o que não imaginei. Quebrei todas as regras possíveis e fiz coisas que até hoje não acreditava. E era
— Você pediu a Lily em casamento porque a Família começou a planejar o seu? Está falando sério, Corey? Você é maluco?Enfim o empurrei para que se afastasse de vez. Mas era só o que me faltava!Claro que nenhum de nós gostava da ideia de deixar que a Família escolhesse em que ano e com quem nós deveríamos casar. Não era uma super regra deixar que eles escolhessem o pretendente, mas a data sim. Como Corey já estava beirando os trinta e não tinha arrumado ninguém, eles decidiram se intrometer, mas isso sempre foi o esperado.— A mamãe não aguentou e acabou me contando. Ela disse que não sabia quem seria a noiva, então com a convicção de que não seria alguém que me agradaria, fui atrás de uma pessoa por conta própria. Há regras que precisamos descumprir.Havia muitas regras para serem quebradas sim, mas agir por impulso quando o assunto era um casamento, de longe não seria a coisa mais sábia a se fazer.— Eu não acredito. Não consigo acreditar que você mal pensou em falar comigo sobre