— Muito interessante essa ceninha de vocês dois, Chloe. Você está namorando e não passou pela sua cabeça me contar?
— Ele não é meu namorado, Corey. O que acontece entre nós é sexo casual, e só. — Puxei a camisola para cima, tentando não deixar que meus seios fossem vistos.
— Sexo casual. Sério? Você gosta que ele faça sexo casual com você nessa mesinha? — Se aproximou ainda mais e praticamente me encurralou ali, espalmando as mãos sobre a madeira fria, lado a lado de meu corpo quase descoberto. — Me diz, quantas vezes ele já te comeu aqui? — Soou tão rude que eu quase não o reconheci.
Corey não era assim.
— Talvez quatro ou cinco vezes nessa mesa. Duas no sofá e três na bancada da cozinha — respondi no mesmo tom estúpido que ele. — Me comeu gostoso em cada canto do apartamento, só nunca foi para a minha cama porque ele não passa de sexo casual, de um cara que não vai durar muito tempo na minha vida, porque eu sou previsível, certo? Eu afasto os homens de mim.
Corey estava tão perto, de um jeito tão diferente do habitual que eu quase não raciocinei direito. Ele estava praticamente soltando fumaça pelo nariz, tão bravo que eu podia ver as veias de sua testa saltarem.
Que merda estava acontecendo?
— Eu te protegi uma vida inteira, Chloe. Tentei te cuidar para que nenhum otário conseguisse tocar em você de novo. Eu tentei, de todos os jeitos, não deixar que alguém viesse a te machucar novamente. Então por quê? Por que escolher alguém como ele para entregar a chave do seu apartamento e criar laços? — Gesticulou com as mãos enquanto falava, mas voltou a colocá-las sobre a mesa, me mantendo presa ali.
— Pare de jogar na minha cara as coisas que fez por mim, Corey! Pare de se fazer de santo o tempo todo e me colocar no lugar de vilã. Eu sei o que fez e sei que não deixou que as coisas desandassem, mas o que aconteceu no passado não pode definir o meu futuro. Eu não posso me privar de sentir prazer só porque um dia alguém tentou me machucar. E você sabe que é muito difícil alguém me desejar, ou seja, quando isso acontece eu não posso perder a oportunidade.
— Ah, Chloe, se você soubesse quantos homens te desejam e criam perversidades com você na cabeça deles — falou como se tivesse plena certeza de suas palavras. — Eles só não chegam até você porque têm medo. Uma mulher forte e altiva como você, assusta os que gostam de ser o que comanda a relação. Eles te querem mas sabem que você é boa demais pra eles, do tipo que não vai abaixar a cabeça para o machismo deles, que não vai largar seu cargo importante só para fazê-los se sentir bem recebendo mais que uma mulher. Você é inteligente, deveria entender isso. Agora, o Andrew é um aproveitador, ele gosta de usar as pessoas como escada e, principalmente, gosta de usar as mulheres para subir na vida. Ele já fez isso uma vez, o que impede de fazer de novo?
— Eu sou inteligente — respondi usando sua afirmação.
— É mesmo, e sei que vai acabar com essa merda antes que ele dê um jeito de pisar em você para crescer. Você é a mulher que ninguém consegue alcançar naquela empresa, se por um acaso ele resolver inventar coisas para os colegas dele, o filho da puta vai conseguir denegrir a sua imagem. — Seus olhos transmitiam preocupação e a voz já não era tão grave.
— Tenho certeza que ele também vai conseguir perder o emprego e não vai achar mais nenhum na vida.
Era algo óbvio. Se dissesse qualquer merda sobre mim, Corey o mandaria embora e faria com que o homem jamais voltasse a atuar em sua área de formação.
— Me preocupo mais com o que dizem sobre você. — Relaxou os ombros tensos e olhou para minhas pernas, arqueando as sobrancelhas em seguida.
— Se isso fosse verdade, daria um jeito naquelas vadias que dizem que transo com você para ter o cargo que tenho na empresa e na sua vida. — Levei as mãos até a barra da camisola e com certo esforço a abaixei para tapar qualquer coisa que Corey não devia ver.
— Te dou toda a autoridade para demitir cada uma delas — disse, voltando o olhar para meu rosto.
— Não ia ajudar de qualquer forma.
Não era segredo nenhum que se eu quisesse mandar todas aquelas insuportáveis embora, eu faria sem precisar pedir permissão, mas não mudaria nada já que as novatas fariam a mesma coisa, iam falar merda em cima de merda, como já faziam, apenas por eu me negar a usar o sobrenome dos meus pais adotivos.
Com a proximidade grande e os sentimentos bagunçados, tomei coragem para espalmar as mãos no peito desnudo de Corey e o empurrei minimamente para ter espaço e descer da mesa, tratando de seguir para meu quarto e terminar meu relatório, finalizando a conversa sobre minha vida íntima.
— Ei, eu amo você demais, Chloe. Não posso permitir que um desgraçado te machuque — disse assim que dei as costas para ele.
— Ele não vai — garanti seguindo para o cômodo anterior, retornando ao meu notebook e ao trabalho não concluído.
Corey demorou uns três minutos mas também chegou até a cama e se deitou no mesmo lugar de antes, no lado esquerdo.
Tentei esvaziar a mente e não pensar nos últimos acontecimentos, nem no noivado de meu melhor amigo, nem na festa que viria, nem em absolutamente nada que fosse relacionado a Corey.
Mas não deu.
Toda a minha vida era baseada nele, em nós e na nossa amizade. Eu cresci e fiz dele minha vida, meu motivos, meu incentivo. Tudo pra mim. Então as coisas em minha vida eram sobre Corey, sobre nossos segredos obscuros, e sobre a tal dinastia construída que ninguém seria capaz de destruir.
Era difícil explicar para mim mesma, mas eu teria que dar um jeito de esquecer tudo o criamos juntos para conseguir seguir em frente, e deixar ele seguir com sua nova família também.
Seguir caminhos totalmente opostos, se é que isso seria possível.
O sol majestoso já estava se pondo quando cheguei na casa de Marisa Legard, ou melhor dizendo, na mansão Legard tão bem conhecida por mim. Havia muitos carros no estacionamento e um em especial me chamou a atenção. Era na cor rosa bebê, bem a cara da tal Lily. Conversei com a mulher uma única vez desde que Corey a apresentou. A loira me tratou como uma mera funcionária, e hoje, para sua surpresa, ela entenderia qual o meu posto na Família e qual o lugar que eu ocupava na mesa de jantar. Sim, isso era de grande importância, ela veria que sim.Não demorei para sair do táxi e caminhar em direção à escada, subindo lentamente cada degrau bem pintado para chegar até a porta de uns quatro metros, pesada e linda. A empurrei e adentrei o salão de entrada, avistando a imensa escada de mármore branco e os sofás chiquérrimos que adornavam o cômodo. Marisa tinha um dom incrível para decorar ambientes, não era atoa que iniciou sua carreira na Hayans como a designer de interiores que comandava
— É um prazer, Chloe.Estendi a mão para um aperto formal e ela retribuiu, parecendo muito gentil. Aproveitei para cumprimentar Lily também, com outro aperto de mão, e Corey não se contentou apenas com esse mesmo cumprimento que fui lhe dar, ele teve que me puxar pela cintura ignorando todas as pessoas ali, tocando minhas costas com a pele exposta pelo decote, e beijando meu rosto com uma demora perceptível e quase incômoda. Então, bem a contragosto, me desvencilhei dele para beijar Paul e Jason, meu pai adotivo e meu irmão do meio. Todos devidamente cumprimentados, e eu deixando bem destacado o meu papel ali. Se Lily achava que eu era só uma funcionária da Hayans e melhor amiga do seu noivo, percebeu que tinha se enganado.— Bom, todos estão no jardim. Vamos nos juntar a eles já que as majestades chegaram — Jason se referiu a mim e a mãe, saindo da cozinha acompanhado de Paul sem mais esperar.Fiquei intacta ao lado de Marisa enquanto um silêncio reinou por alguns segundos. A noi
Com toda a coragem que me sobrou, estufei o peito e dei mais alguns passos, fechando a porta atrás de mim. O cômodo estava do mesmo jeito que deixei quando me mudei há três anos. A cama de casal com o cobre leito branco e flores azuis estampando ele. Vários travesseiros na mesma estampa espalhados pela cama e poucos móveis espelhados pelo quarto. Sempre gostei de coisas simples e básicas. Uma cômoda e um armário grande eram suficientes para viver ali.Ainda trêmula, me aproximei de um criado mudo que nunca esteve ali antes, estranhando o móvel e seus "adornos".Havia três porta retratos em cima dele e pela escuridão do quarto não pude ver quais eram aquelas fotos. Não sei porquê preferi deixar só a luz da lua iluminar o cômodo, mas continuei sem acender a lâmpada. Quando estava próxima o bastante para identificar as fotografias, petrifiquei no lugar. Meus pés se fixaram no chão contra minha vontade, e meu corpo paralisou, quase junto à minha respiração.Que porra estava acontecen
Havia algo dentro de mim que me incomodava, algo como um bolo na garganta, um nó no cérebro e um aperto no peito, mas afinal, motivos não me faltavam para estar mal. Além do fato de ter tido um surto psicótico minutos antes, Jason já havia me lançado umas trezentas indiretas e sua língua enorme e afiada já havia proferido coisas cruéis, como sempre.Me remexi na cadeira de estofado macio e permaneci com a cara fechada, olhando para Lily e Corey que conversavam alegremente com a mãe da mulher, em uma mesa ao lado. Marisa se recusou a permanecer com eles, porém Paul foi bem expressivo e com apenas olhares os dois chegaram a conclusão de que desfazer das duas não era uma possibilidade. A garota tinha uma família pequena, chamou só algumas amigas para a festa e pelo que entendi, seu pai estava em uma viagem de negócios. Então, os meus pais, apesar de não estarem tão felizes, faziam a recepção das mulheres da melhor forma possível.— Chloe?Meu corpo deu um leve sobressalto ao ouvir a
Se dissesse que era novidade para mim as briguinhas dos três mosqueteiros, seria mentira. Durante toda a adolescência eles fizeram o meu inferno com isso, ou era Jason me enchendo o saco com sua chatice, ou Scott sempre querendo me ver andando na linha, ou Corey me mandando ficar longe dos dois porque eles eram problema e me olhavam com maldade. Só se juntavam de verdade no colégio, sempre que aparecia um interesse amoroso, ficavam em cima de mim como guarda costas impedindo que eu tivesse uma vida adolescente normal. Mesmo sabendo que pelas regras da Família eu não poderia me envolver com ninguém porque o meu casamento era decidido por eles, pelo menos uma parte, ainda assim eu queria vivenciar o primeiro beijo, as aventuras noturnas ao pular a janela, fugindo para encontrar alguém que me fizesse ter borboletas no estômago.Pude viver coisas das quais sonhei, no final, vivi até o que não imaginei. Quebrei todas as regras possíveis e fiz coisas que até hoje não acreditava. E era
— Você pediu a Lily em casamento porque a Família começou a planejar o seu? Está falando sério, Corey? Você é maluco?Enfim o empurrei para que se afastasse de vez. Mas era só o que me faltava!Claro que nenhum de nós gostava da ideia de deixar que a Família escolhesse em que ano e com quem nós deveríamos casar. Não era uma super regra deixar que eles escolhessem o pretendente, mas a data sim. Como Corey já estava beirando os trinta e não tinha arrumado ninguém, eles decidiram se intrometer, mas isso sempre foi o esperado.— A mamãe não aguentou e acabou me contando. Ela disse que não sabia quem seria a noiva, então com a convicção de que não seria alguém que me agradaria, fui atrás de uma pessoa por conta própria. Há regras que precisamos descumprir.Havia muitas regras para serem quebradas sim, mas agir por impulso quando o assunto era um casamento, de longe não seria a coisa mais sábia a se fazer.— Eu não acredito. Não consigo acreditar que você mal pensou em falar comigo sobre
Eu gostava de pensar que era humana, cheia de falhas, cometendo erros e equívocos quase todos os dias. Isso era bom, fazia com que a autocobrança não me enlouquecesse. Bastou quinze minutos conversando com Lily para eu entender que algo não estava certo. Ela não era um real problema, a manda chuva por trás de cada pedido chato e inusitado era Jasmine, futura sogra de Corey. Ao tentar fugir, acabei trombando com a jovem e ela quis saber se estava tudo bem. No início achei que só estivesse fingindo gentileza, mas logo percebi e entendi os motivos que fizeram Corey a escolher. Era boa, tinha um coração puro, parecia uma mulher simples, isso tudo longe dos olhos e da presença de sua querida mãe. Como precisava de uma distração para os fatores que passaram a tirar minha sanidade nas últimas três horas, acabei cedendo ao pedido de me sentar com minha família, que como Lily mesmo disse, logo seria "nossa" família. Minha mãe sorria alegre, conversando sobre coisas banais com Jasmine,
— Eu fui moldada durante todos os meus anos de vida. Treinei desde pequena, ouvi cada conselho seu e da Mari. O papai me ensinou cada método para ser firme, forte, e para resistir às piores situações. Me fizeram ser assim. Acho que a Lily pode ser boa também, após ser treinada. Quando entender os conceitos da Família, vai se adaptar. — Voltei a olhá-la e vi um pequeno sorriso nascendo em seus lábios. — És o meu orgulho, pequeno corvo. — Levou seus dedos um tanto enrugados até a minha mão que estava sobre a mesa e a acariciou. — Espero que ela realmente nos surpreenda. Odiaria ter que tirar aquele sorriso meigo do rosto dela. Oh sim, eu também não ia gostar disso, ainda mais com a superproteção de Jasmine sobre a filha. Provavelmente a polícia ficaria no pé da família para entender o que havia acontecido de fato, e isso ninguém queria. Pensei em arrumar um motivo para fugir, para mim, o assunto já havia sido encerrado. E como se nossas mentes estivessem ligadas uma à outra, Jason