— É um prazer, Chloe.
Estendi a mão para um aperto formal e ela retribuiu, parecendo muito gentil.
Aproveitei para cumprimentar Lily também, com outro aperto de mão, e Corey não se contentou apenas com esse mesmo cumprimento que fui lhe dar, ele teve que me puxar pela cintura ignorando todas as pessoas ali, tocando minhas costas com a pele exposta pelo decote, e beijando meu rosto com uma demora perceptível e quase incômoda.
Então, bem a contragosto, me desvencilhei dele para beijar Paul e Jason, meu pai adotivo e meu irmão do meio. Todos devidamente cumprimentados, e eu deixando bem destacado o meu papel ali.
Se Lily achava que eu era só uma funcionária da Hayans e melhor amiga do seu noivo, percebeu que tinha se enganado.
— Bom, todos estão no jardim. Vamos nos juntar a eles já que as majestades chegaram — Jason se referiu a mim e a mãe, saindo da cozinha acompanhado de Paul sem mais esperar.
Fiquei intacta ao lado de Marisa enquanto um silêncio reinou por alguns segundos.
A noiva do meu melhor amigo me olhava de um jeito estranho. Não parecia ter raiva ou coisa assim, mas foi um olhar que eu nunca havia recebido antes e não poderia explicar ao certo do que se tratava.
— Então, você pode ir até o escritório resolver aquele pequeno assunto que eu te pedi, meu amor? — Marisa se virou para mim e perguntou gentil, quase me fazendo ficar confusa, não fosse pelo sorriso falso me lançado.
Eu conhecia cada feição da mulher, e sabia que tinha coisa.
— Aham, claro que sim — concordei, tentando entender o porquê de ela ter mudado de ideia. Não me queria longe dela e agora pediu para que eu me afastasse.
— Corey, amor, acompanhe a Chloe, por favor. Ela precisará de uma ajudinha — disse sorridente ao filho que assentiu rapidamente. — Eu cuido de Lily e Jasmine por enquanto. Você não se importa, não é, Lily?
— N-não. Claro que não. — Se virou para Corey e lhe deu um selinho. — Vai lá, meu amor.
Eca. Não sabia que era nojento ver Corey beijando alguém até que vi.
Marisa tinha razão, os dois não combinavam, isso porque era visível que o homem nem feliz de verdade estava. Tinha alguma coisa muito errada.
Ainda sem entender, saí da cozinha em passos rápidos e meio desajeitados por causa dos saltos, pensando que talvez tivesse mesmo alguma coisa para ser resolvida no escritório de Marisa, então andei até chegar na escada pronta para subir os degraus mas fui parada antes de pisar no primeiro.
— O que você está fazendo? — Corey rodeou minha cintura com um braço e me puxou tão rápido contra seu corpo que só percebi o ato quando minhas costas tocaram o peito largo do homem.
— O que você está fazendo? — repeti a pergunta tentando me soltar dele. Em vão. — Desgruda, Corey!
— Chloe, que vestido é esse? Você quer deixar todo mundo maluco hoje?
Ainda me debatendo entre seus braços, formulei alguns palavrões para dizer a ele, mas não disse. Tinha que manter a postura e a sanidade, ou então ia gritar como uma louca.
— Corey Legard, me solta agora! — ordenei em bom som e enfim ele largou meu corpo.
Me virei para olhá-lo com as mãos na cintura e encontrei um Corey bravo de braços cruzados.
— Que caralho de roupa é essa, Chloe?
Franzi as sobrancelhas e fiz minha melhor cara de desentendida. Se Mia queria que eu usasse aquela roupa para provocar Corey Legard, ela poderia comemorar pois saiu triunfante no plano.
Meu melhor amigo estava terrivelmente incomodado, assim como eu.
— O vestido? Ah, nossa, você gostou? Foi eu quem escolhi, achei que hoje seria uma boa noite para usar algo especial. — Me fiz de ingênua, recebendo uma feição de reprovação vindo do homem à minha frente.
— Deixa de ser sínica, Chloe. Como é que você coloca uma coisa assim depois de eu dizer que sua bunda está dez vezes maior?
— Você não disse isso, só disse que ela está grande. E qual é o problema nisso afinal?
— O problema é que todos os outros homens desse lugar, menos o papai, vão ficar assim... — Olhou para baixo como se apontasse para algo.
Desci o olhar para a calça social de Corey e tenho certeza que fiquei vermelha quando entendi a merda que estava acontecendo.
Mas que porra.
— Corey Legard, você só pode estar brincando com a minha cara! — disse entredentes.
— Quem está brincando com a minha é você! — Se aproximou dois passos e me encurralou no corrimão da escada. — Vai subir até o quarto agora e procurar alguma roupa sua que dê pra usar no jantar, mas desse jeito você não aparece lá fora. Eles vão querer te devorar, Chloe.
— Deixa de ser idiota. Eu sou a irmãzinha deles. Ninguém vai querer me comer com os olhos, só o Jason, mas ele não é nenhuma surpresa, dá pra ignorar facilmente.
— Ok — passou a mão pelo rosto em um ato de frustração —, você não está querendo me ajudar. É tão simples não me fornecer dor de cabeça hoje.
— Ah claro, é isso que eu faço afinal. Forneço dor de cabeça pra você. É sempre assim, não é?
— Quando você resolve usar camisola de alcinhas e andar com vestidos que marcam cada curva do seu corpo, sim, você me proporciona uma dor de cabeça bem dolorida. Porque acredite em mim, é um saco conseguir aliviar.
Quando entendi para que lado Corey havia levado a conversa e sobre o que ele estava falando, ponderei responder alguma coisa mas nada foi formulado em minha mente.
Não que nunca tivéssemos falado sobre o assunto "sentir tesão um pelo outro", mas era sim um assunto que se tornou proibido com o tempo e que só podia ficar entalado em nossas gargantas assim como tínhamos que engolir o tesão.
Então, Corey não poderia ter confessado, nem de um modo informal, que seu pau ficava duro por minha causa.
Éramos "irmãos".
— Corey... — resmunguei em tom de alerta.
— Só confesso que não vou conseguir te ver assim a noite toda, pensando que na mente de cada um deles cenas perversas são criadas. Eu não quero que eles imaginem, Chloe. Quero que eles nunca pensem em te tocar e acabar te machucando.
— Você tem uma necessidade enorme de deixar o passado para trás, precisa fazer isso. Ninguém vai me machucar, Corey, muito menos os seus irmãos. Faça-me o favor!
Não permiti que a discussão continuasse. Comecei a subir os degraus da escada indo para o primeiro andar.
Tinha certeza de que Corey secou minha bunda enquanto eu rebolei a cada nível mais alto, no entanto, me movimentei ainda mais ousada, por pura birra.
— À propósito, você está magnífica essa noite. Completamente maravilhosa — constatou quando eu já estava nos últimos degraus.
— Vá se foder, Legard! — Levantei a mão e mostrei um dedo do meio para ele.
Continuei subindo até chegar no extenso corredor onde ficavam os quartos dos filhos de Marisa e Paul Legard. Andei um pouco mais até parar na terceira porta do lado esquerdo, a porta do meu antigo quarto.
Foi ali que dormi durante muitos anos, desde que minha mãe faleceu em um acidente no mar e sua patroa decidiu cuidar de mim, visto que meu pai não quis me criar.
Era isso, eu nasci filha da babá dos Legards. Minha mãe, Coral Clinton, foi contratada aos dezesseis anos para cuidar do primeiro filho, Scott Legard. Os próximos vieram e ela permaneceu como babá e membro fiel da família.
E então eu apareci em seu ventre.
Me contaram que quando Marisa descobriu que seria uma menina, ela vibrou mais que minha própria mãe. Seria uma garota no meio de três meninos. Uma menina para alegrar os dias deles. E então eu nasci, e fui criada junto a Scott, Jason e Corey.
Marisa foi quem mais me teve como sua, e aos quatro anos, quando minha mãe sumiu em uma tempestade no meio do mar que fez o barco virar, eu ganhei um quarto só para mim na mansão e fui apresentada ao mundo como filha dos Legards. Foi me dado o sobrenome deles já que nunca tive o do meu pai biológico e eu me tornei a garotinha de Marisa e Paul, a única, pois o caçula e último filho foi Buck.
Depois de muitos anos, sentindo o peso do sobrenome e sabendo quais os fardos de fazer parte da Família, eu fiz questão de não usar o sobrenome Legard, e garanti que ninguém na universidade saberia que eu era a garota que uma das famílias mais poderosas do país adotaram.
Foi assim até os dias atuais, principalmente quando entrei na Hayans para exercer minha profissão, fiz o possível e o impossível para que me vissem apenas como a melhor amiga de Corey e uma pessoa próxima dos outros.
As descobertas que fiz me levaram a isso, e meus pais adotivos não tiveram escolhas ao aceitar minhas condições para ainda ter contato com eles.
Respirando fundo, toquei a maçaneta gelada e a girei mesmo imaginando que estaria trancada. Marisa não permitia que ninguém entrasse lá senão eu e ela.
Contudo, quando empurrei a porta, ela se abriu e um vento gelado tocou meu corpo quando dei um passo para adentrar o quarto.
A janela do cômodo estava escancarada. As cortinas azuis claro balançavam forte e por um momento senti um cheiro que a muito, muito tempo não sentia.
Não foi nada bom.
Entrei em pânico. Um medo absurdo me dominou e um arrepio correu por todo o meu corpo, dos dedos dos pés até meu último fio de cabelo.
Meu estômago embrulhou, meu coração acelerou e por um momento senti minhas pernas falharem.
Era como se o ar do mundo inteiro tivesse sido sugado, e ainda assim, eu sentia aquele maldito cheiro, mesmo que as vias respiratórias pareciam não funcionar.
Não era possível. Não. Eu estava só fantasiando. Por algum motivo idiota fantasiei.
Não tinha como ser real.
Com toda a coragem que me sobrou, estufei o peito e dei mais alguns passos, fechando a porta atrás de mim. O cômodo estava do mesmo jeito que deixei quando me mudei há três anos. A cama de casal com o cobre leito branco e flores azuis estampando ele. Vários travesseiros na mesma estampa espalhados pela cama e poucos móveis espelhados pelo quarto. Sempre gostei de coisas simples e básicas. Uma cômoda e um armário grande eram suficientes para viver ali.Ainda trêmula, me aproximei de um criado mudo que nunca esteve ali antes, estranhando o móvel e seus "adornos".Havia três porta retratos em cima dele e pela escuridão do quarto não pude ver quais eram aquelas fotos. Não sei porquê preferi deixar só a luz da lua iluminar o cômodo, mas continuei sem acender a lâmpada. Quando estava próxima o bastante para identificar as fotografias, petrifiquei no lugar. Meus pés se fixaram no chão contra minha vontade, e meu corpo paralisou, quase junto à minha respiração.Que porra estava acontecen
Havia algo dentro de mim que me incomodava, algo como um bolo na garganta, um nó no cérebro e um aperto no peito, mas afinal, motivos não me faltavam para estar mal. Além do fato de ter tido um surto psicótico minutos antes, Jason já havia me lançado umas trezentas indiretas e sua língua enorme e afiada já havia proferido coisas cruéis, como sempre.Me remexi na cadeira de estofado macio e permaneci com a cara fechada, olhando para Lily e Corey que conversavam alegremente com a mãe da mulher, em uma mesa ao lado. Marisa se recusou a permanecer com eles, porém Paul foi bem expressivo e com apenas olhares os dois chegaram a conclusão de que desfazer das duas não era uma possibilidade. A garota tinha uma família pequena, chamou só algumas amigas para a festa e pelo que entendi, seu pai estava em uma viagem de negócios. Então, os meus pais, apesar de não estarem tão felizes, faziam a recepção das mulheres da melhor forma possível.— Chloe?Meu corpo deu um leve sobressalto ao ouvir a
Se dissesse que era novidade para mim as briguinhas dos três mosqueteiros, seria mentira. Durante toda a adolescência eles fizeram o meu inferno com isso, ou era Jason me enchendo o saco com sua chatice, ou Scott sempre querendo me ver andando na linha, ou Corey me mandando ficar longe dos dois porque eles eram problema e me olhavam com maldade. Só se juntavam de verdade no colégio, sempre que aparecia um interesse amoroso, ficavam em cima de mim como guarda costas impedindo que eu tivesse uma vida adolescente normal. Mesmo sabendo que pelas regras da Família eu não poderia me envolver com ninguém porque o meu casamento era decidido por eles, pelo menos uma parte, ainda assim eu queria vivenciar o primeiro beijo, as aventuras noturnas ao pular a janela, fugindo para encontrar alguém que me fizesse ter borboletas no estômago.Pude viver coisas das quais sonhei, no final, vivi até o que não imaginei. Quebrei todas as regras possíveis e fiz coisas que até hoje não acreditava. E era
— Você pediu a Lily em casamento porque a Família começou a planejar o seu? Está falando sério, Corey? Você é maluco?Enfim o empurrei para que se afastasse de vez. Mas era só o que me faltava!Claro que nenhum de nós gostava da ideia de deixar que a Família escolhesse em que ano e com quem nós deveríamos casar. Não era uma super regra deixar que eles escolhessem o pretendente, mas a data sim. Como Corey já estava beirando os trinta e não tinha arrumado ninguém, eles decidiram se intrometer, mas isso sempre foi o esperado.— A mamãe não aguentou e acabou me contando. Ela disse que não sabia quem seria a noiva, então com a convicção de que não seria alguém que me agradaria, fui atrás de uma pessoa por conta própria. Há regras que precisamos descumprir.Havia muitas regras para serem quebradas sim, mas agir por impulso quando o assunto era um casamento, de longe não seria a coisa mais sábia a se fazer.— Eu não acredito. Não consigo acreditar que você mal pensou em falar comigo sobre
Eu gostava de pensar que era humana, cheia de falhas, cometendo erros e equívocos quase todos os dias. Isso era bom, fazia com que a autocobrança não me enlouquecesse. Bastou quinze minutos conversando com Lily para eu entender que algo não estava certo. Ela não era um real problema, a manda chuva por trás de cada pedido chato e inusitado era Jasmine, futura sogra de Corey. Ao tentar fugir, acabei trombando com a jovem e ela quis saber se estava tudo bem. No início achei que só estivesse fingindo gentileza, mas logo percebi e entendi os motivos que fizeram Corey a escolher. Era boa, tinha um coração puro, parecia uma mulher simples, isso tudo longe dos olhos e da presença de sua querida mãe. Como precisava de uma distração para os fatores que passaram a tirar minha sanidade nas últimas três horas, acabei cedendo ao pedido de me sentar com minha família, que como Lily mesmo disse, logo seria "nossa" família. Minha mãe sorria alegre, conversando sobre coisas banais com Jasmine,
— Eu fui moldada durante todos os meus anos de vida. Treinei desde pequena, ouvi cada conselho seu e da Mari. O papai me ensinou cada método para ser firme, forte, e para resistir às piores situações. Me fizeram ser assim. Acho que a Lily pode ser boa também, após ser treinada. Quando entender os conceitos da Família, vai se adaptar. — Voltei a olhá-la e vi um pequeno sorriso nascendo em seus lábios. — És o meu orgulho, pequeno corvo. — Levou seus dedos um tanto enrugados até a minha mão que estava sobre a mesa e a acariciou. — Espero que ela realmente nos surpreenda. Odiaria ter que tirar aquele sorriso meigo do rosto dela. Oh sim, eu também não ia gostar disso, ainda mais com a superproteção de Jasmine sobre a filha. Provavelmente a polícia ficaria no pé da família para entender o que havia acontecido de fato, e isso ninguém queria. Pensei em arrumar um motivo para fugir, para mim, o assunto já havia sido encerrado. E como se nossas mentes estivessem ligadas uma à outra, Jason
O ar não entrava com facilidade em meus pulmões, e isso era assustador, mas não mais do que o que eu estava vendo.Corey se remexeu incomodado, cruzando os braços e manteve os olhos fixos no papel. — Um detetive me procurou faz dois dias. Por algum motivo estranho ele está revisando o caso do Joe, e sei lá porquê, quer falar comigo, claro, se eu aceitar. Não tem uma ordem judicial nem nada, é só um tipo de interesse pelo caso que nunca foi resolvido. Mas sinceramente, não sei o que pensar. É bem estranho que venham atrás de mim agora, de novo, e sobre uma coisa que… bom, o papai fez o belo trabalho de cortar qualquer ligação entre nós. Meu Deus. Que merda estava acontecendo nesses últimos dias? — Quer dizer então que esse detetive pode vir até mim também? Se ele está revirando o passado, se está em busca de alguma coisa, ele pode me encontrar lá, não pode, Corey? — perguntei atônita, olhando de lado. — Não se preocupe. Fiz tudo certo, você nunca teve nenhuma ligação com o Joe alé
— Quando eu disse que você era o nosso pecado, não menti. Quando começou a bater o pé dizendo que não tinha o nosso sangue e que nossos pais não eram os seus, nós três passamos a te ver com outros olhos, Jess — murmurou o apelido com uma sensualidade surreal. — Sei disso porque foi assim comigo. De um instante para o outro, você deixou de ser nossa irmãzinha para ser uma puta garota gostosa, que corria pela casa de biquíni tentando pegar seu celular da mão de algum de nós que sempre queria futricar. Sem saber o que dizer, umedeci os lábios, atordoada pelas palavras e pelo som de sua voz. Corey não parecia arrependido de nada, então continuou:— Por volta dos quinze você mudou seu estilo, passou a usar roupas mais discretas, e o efeito em mim foi contrário do que o imaginado. Eu me sentia tentado a saber o que você tanto escondia. O que tinha debaixo das calças, das camisetas largas. Então sim, acabei te desejando como o Jason desejava em segredo, e como o Scott também, por mais que