Na delegacia, preparei-me para seguir até a sala de interrogatório, ansiosa para ver meu pai confessar.Mas ao chegar à porta, fui repelida, sentindo uma dor que já não experimentava há tempos.Tentei várias vezes, mas sem sucesso. A dor que queimava minha alma era insuportável, então tive que desistir, lamentando.Nos dias seguintes, andei pela entrada da delegacia, juntando informações das conversas que ouvia.Não eram muitas, mas consegui algumas que me alegraram.As provas contra meu pai por homicídio intencional eram irrefutáveis, ele havia confessado, e logo seria julgado, provavelmente sentenciado à morte.Sua empresa, envolvida em sonegação fiscal e outros problemas nos últimos três anos, já tinha sido fechada.Achei que Patrícia seria liberada, mas ouvi que durante a investigação, descobriram que o filho do tio de Patrícia não tinha morrido por acidente, mas que ela o empurrou para o rio para se afogar.Embora ela ainda fosse menor de idade quando cometeu o crime, ainda assim,
Hora do jantar.O pai olhou para os filhos sentados à mesa, aguardando para comer, e franziu a testa ao ver o lugar vazio na ponta.— Aquela menina não tem noção? Será que ela quer que a família inteira espere por ela para jantar?— Depois de ser punida, ainda não aprendeu a lição. Acho que a punição foi leve demais.O mordomo Fábio hesitou por um momento enquanto servia os pratos e, com certo cuidado, respondeu:— Senhor, a Srta. Débora ainda está de castigo na despensa. Devo soltá-la?O pai pausou ao pegar a taça de vinho, lançando um olhar para a direção da despensa, onde pareceu surpreso, mas logo reprimiu a expressão, mantendo um semblante indiferente enquanto falava de forma despreocupada:— Não, deixe-a lá por mais alguns dias. Se ela não sofrer um pouco, não vai parar de atormentar as irmãs de João.Fábio lançou um olhar para o casal de adolescentes sentados à mesa, com rostos corados e visivelmente bem cuidados.Sentiu um leve aperto no coração pela Srta. Débora, ainda trancad
Mesmo como alma, ao olhar para a porta de madeira da despensa, ainda sentia uma opressão sufocante.Parecia que a qualquer momento, eu seria engolida pela escuridão e sufocamento novamente.Apavorada, retrocedi rapidamente, me afastando da direção da despensa, e logo cheguei ao salão de jantar.No salão, o pai e João estavam de cada lado de Patrícia, consolando-a suavemente.O pai a abraçava parcialmente, dizendo: — Patrícia, você está mais magra ultimamente, precisa comer mais para ficar saudável.— A última vez te assustou, não foi? Papai sabe que você passou por maus momentos.— Você sofreu tanto, e Débora só recebeu uma leve punição. Verdadeiramente foi muito fácil para ela. Fique tranquila, papai nunca mais permitirá que você passe por isso novamente. Vou dar uma lição severa nela.João também a consolava: — irmã Patrícia, você é minha única irmã...Eu estava atrás deles, ouvindo as palavras do papai e do João, querendo chorar, mas sem conseguir derramar uma lágrima.Claramente, é
Após jantar com Patrícia, vendo seu sorriso feliz, papai finalmente decidiu como se estivesse concedendo uma graça: — Fábio, vá liberar a Débora, e certifique-se de que ela se limpe antes de sair, para não enojar ninguém.Papai tinha uma expressão magnânima, como se me deixar trancada por uma semana fosse um grande favor.Fábio recebeu a ordem e imediatamente providenciou o que fazer.Patrícia estava ao lado, parecendo gentil e obediente, puxando a mão do papai enquanto pedia com carinho.— Papai, quando a irmã Débora sair, não seja tão severo com ela.— Afinal, ela é sua filha biológica, ao contrário de mim... Já estou muito satisfeita com o que o senhor faz por mim.Os olhos do papai estavam cheios de carinho e satisfação.Ele acariciou os cabelos de Patrícia com ternura.— Não fale de biológica ou não, você também é minha filha, minha princesinha.— Patrícia, você é tão bondosa; eu realmente fui muito indulgente com ela.— Pode ficar tranquila, ela nunca mais vai te incomodar.— Ela
O pai, ao receber a ligação, estava em uma reunião na empresa, mas não hesitou em abandoná-la para voltar para casa imediatamente.Ao chegar, ele abraçou Patrícia, que estava pálida ao sair do armário, e gritou com determinação.— Patrícia, você é minha filha e ninguém pode te mandar embora.— Ouça bem, nunca mais diga que quer sair de casa.Naquele momento, pensei que algo sério havia acontecido em casa. Saí do meu quarto e presenciei a cena, achando-a ridiculamente irônica.Era inacreditável, Patrícia não era feita de porcelana, ela não tinha medo do escuro, e estava agindo como se tivesse enfrentado um pesadelo.Até que João gritou do andar de baixo.— Foi Débora! Foi Débora quem trancou Patrícia no armário. Se não fosse por mim, Patrícia ainda estaria lá.Até que meu pai subiu as escadas, me agarrou pelos cabelos e me arrastou de volta para o armário, amarrando-me com uma corda.Só então percebi claramente que eles três eram os verdadeiros membros da família.— Débora, como você po
Antes de Patrícia vir para nossa casa, as coisas não eram assim.Naquele tempo, eu tinha uma mãe e um pai que me amavam, e João ainda era pequeno.Eu brincava com João, minha mãe me contava histórias, e meu pai me levava para passear no parque.Tudo mudou naquele verão, três anos atrás.Meus pais foram visitar a casa do meu avô, mas João e eu tínhamos que ir à escola, então não fomos com eles.Alguns dias depois, meu pai voltou, trazendo duas notícias terríveis.Uma era que minha mãe havia falecido em um acidente de carro.A outra era que, antes de morrer, ela e meu pai adotaram a filha de um amigo.Perdi minha mãe e, de repente, surgiu uma irmã.No começo, pensei que ela era a irmã que minha mãe adotou antes de falecer, a única lembrança que minha mãe me deixou.Eu sempre quis ter uma irmã, então cuidei dela com dedicação.Eu me preocupava que ela pudesse ser intimidada na escola, então ia vê-la todos os dias em sua sala de aula.Eu ajudava com suas tarefas, cuidava dela quando estava
Meia hora se passou, e quando meu pai percebeu que eu ainda não havia aparecido, seu rosto escureceu instantaneamente.— Uma meia hora e ainda não apareceu, o que está acontecendo? Eu, como pai, não posso dar uma lição nela?— Ela é realmente teimosa, ficou trancada tanto tempo e ainda não reconhece o erro.— Quero ver o que ela está fazendo.Com raiva, meu pai levantou-se, atirando a xícara que segurava no chão.Eu estava silenciosamente atrás dele, observando-o, rindo internamente ao vê-lo, em sua fúria, esbarrar na cadeira, com uma expressão de desespero.— Patrícia, espere aqui um momento, vou buscá-la para que peça desculpas a você.Meu pai apressou-se em direção ao quarto onde eu estava trancada, mas antes de chegar lá, foi surpreendido por um rato que saiu correndo do depósito.— O que está acontecendo? De onde veio esse rato?Fábio, com o rosto pálido, virou-se com um olhar de relutância, dizendo: — Senhor, é melhor o senhor ver por si mesmo.Observei meu pai caminhar rigidamen
— Senhor...Foi a voz de Fábio que o trouxe de volta à realidade.Papai, ao se recompor, deu um chute em Fábio, que estava ao seu lado.— Trate de se livrar desses ratos agora mesmo!— Será que você combinou isso com ela? Trouxe esses ratos e um cadáver de não sei onde para me assustar.Fábio estava com uma expressão de injustiça, e eu também fiquei sem palavras.O mordomo Fábio, ao contrário de Patrícia e outros, era apenas um empregado obediente, que nunca se metia em assuntos que não eram da sua conta.— Senhor, isso é uma injustiça, a Srta. Débora realmente está aqui. Foi o senhor mesmo quem trancou a porta do depósito, e eu só abri agora.Infelizmente, as explicações de Fábio não abalaram a teimosia de papai, que ainda apontava para o depósito com descrença e raiva.— Débora não pode estar morta, isso é falso.— Ela deve estar tentando fugir sem admitir seu erro.— Espere, eu vou encontrá-la, e vou quebrar suas pernas.Eu ri ao ouvir o que papai dizia, girando ao redor dele, mesmo