Antes de Patrícia vir para nossa casa, as coisas não eram assim.Naquele tempo, eu tinha uma mãe e um pai que me amavam, e João ainda era pequeno.Eu brincava com João, minha mãe me contava histórias, e meu pai me levava para passear no parque.Tudo mudou naquele verão, três anos atrás.Meus pais foram visitar a casa do meu avô, mas João e eu tínhamos que ir à escola, então não fomos com eles.Alguns dias depois, meu pai voltou, trazendo duas notícias terríveis.Uma era que minha mãe havia falecido em um acidente de carro.A outra era que, antes de morrer, ela e meu pai adotaram a filha de um amigo.Perdi minha mãe e, de repente, surgiu uma irmã.No começo, pensei que ela era a irmã que minha mãe adotou antes de falecer, a única lembrança que minha mãe me deixou.Eu sempre quis ter uma irmã, então cuidei dela com dedicação.Eu me preocupava que ela pudesse ser intimidada na escola, então ia vê-la todos os dias em sua sala de aula.Eu ajudava com suas tarefas, cuidava dela quando estava
Meia hora se passou, e quando meu pai percebeu que eu ainda não havia aparecido, seu rosto escureceu instantaneamente.— Uma meia hora e ainda não apareceu, o que está acontecendo? Eu, como pai, não posso dar uma lição nela?— Ela é realmente teimosa, ficou trancada tanto tempo e ainda não reconhece o erro.— Quero ver o que ela está fazendo.Com raiva, meu pai levantou-se, atirando a xícara que segurava no chão.Eu estava silenciosamente atrás dele, observando-o, rindo internamente ao vê-lo, em sua fúria, esbarrar na cadeira, com uma expressão de desespero.— Patrícia, espere aqui um momento, vou buscá-la para que peça desculpas a você.Meu pai apressou-se em direção ao quarto onde eu estava trancada, mas antes de chegar lá, foi surpreendido por um rato que saiu correndo do depósito.— O que está acontecendo? De onde veio esse rato?Fábio, com o rosto pálido, virou-se com um olhar de relutância, dizendo: — Senhor, é melhor o senhor ver por si mesmo.Observei meu pai caminhar rigidamen
— Senhor...Foi a voz de Fábio que o trouxe de volta à realidade.Papai, ao se recompor, deu um chute em Fábio, que estava ao seu lado.— Trate de se livrar desses ratos agora mesmo!— Será que você combinou isso com ela? Trouxe esses ratos e um cadáver de não sei onde para me assustar.Fábio estava com uma expressão de injustiça, e eu também fiquei sem palavras.O mordomo Fábio, ao contrário de Patrícia e outros, era apenas um empregado obediente, que nunca se metia em assuntos que não eram da sua conta.— Senhor, isso é uma injustiça, a Srta. Débora realmente está aqui. Foi o senhor mesmo quem trancou a porta do depósito, e eu só abri agora.Infelizmente, as explicações de Fábio não abalaram a teimosia de papai, que ainda apontava para o depósito com descrença e raiva.— Débora não pode estar morta, isso é falso.— Ela deve estar tentando fugir sem admitir seu erro.— Espere, eu vou encontrá-la, e vou quebrar suas pernas.Eu ri ao ouvir o que papai dizia, girando ao redor dele, mesmo
À noite, de volta ao escritório, meu pai ainda estava convencido de que eu havia fugido.Para confirmar sua teoria e me encontrar, ele mesmo foi verificar as câmeras de segurança da casa.Não havia câmeras dentro da mansão, mas ao redor de cada canto da propriedade havia câmeras de vigilância, sem nenhum ponto cego; qualquer entrada ou saída era claramente registrada.As câmeras mostraram claramente que, no dia em que fui trancada no depósito, eu nunca mais saí de lá.— Isso é impossível!Meu pai não acreditava, e com raiva, jogou o laptop contra a parede, espalhando pedaços por todo o escritório.— Essas imagens, Débora Nunes deve ter modificado. Ela não era boa nos estudos? Ter essa habilidade não é surpreendente.— Como pude ter uma filha tão ingrata?Mesmo depois de xingar, ele ainda estava irritado e jogou o cinzeiro da mesa longe.Nesse momento, Patrícia entrou com um copo de leite, e o cinzeiro a assustou, fazendo com que o copo caísse e se quebrasse no chão.Meu pai, percebendo
— Por que você não estava assustada quando trancou a Patrícia? Agora é tarde para implorar e gritar!— Você foi mimada por nossos pais por tantos anos e parece que aproveitou o suficiente. A Patrícia, sem pai nem mãe, tão triste, e você ainda teve a audácia de intimidá-la.— Eu te aviso, se você ousar machucá-la, minha lição será algo que você lembrará para sempre.— Débora, você é uma mulher cruel, a disciplina do papai foi muito leve com você.— De agora em diante, você não é mais minha irmã, não tenho parentes tão cruéis.— Seria melhor se você estivesse morta, é uma vergonha ter uma irmã como você.Eu ouvi essas palavras enquanto lutava no escuro, até que a esperança se esvaiu completamente.No desespero e na escuridão, o que eu estava pensando?Pensei em tantas coisas, que agora nem consigo lembrar com clareza.Provavelmente arrependimento.Arrependimento por ser tão ingênua, por não ter desconfiado de um estranho.Arrependimento por não ter voltado para a casa dos meus pais com e
O barulho assustou os dois no sofá.Papai foi o primeiro a se levantar, tentando disfarçar suas roupas. Quando viu que não havia ninguém por perto, suspirou aliviado.Eu também me assustei, não esperava conseguir segurar algo, e instintivamente me aproximei para investigar.Ah!— Tem um fantasma!Patrícia, no entanto, viu uma sombra, e gritou de medo.O que está acontecendo? Ela pode me ver?Fiquei paralisada, sem entender o que estava acontecendo, com medo de me mover.Após alguns segundos de pausa, sem ver nada ao seu redor, Patrícia agarrou a cintura do papai, manhosa.— Estou com medo, me abraça.Ela de repente se sentou no colo do papai, com a parte superior do corpo quase despida.Os dois voltaram a ficar íntimos, restando apenas ocasionais gemidos.Assistindo a essa cena, desejei ser cega!Justo quando estavam no auge, a porta do quarto foi subitamente aberta.O movimento repentino fez com que papai, um homem mais velho, se descontrolasse, com uma mancha embaraçosa em sua calça.
Na delegacia, preparei-me para seguir até a sala de interrogatório, ansiosa para ver meu pai confessar.Mas ao chegar à porta, fui repelida, sentindo uma dor que já não experimentava há tempos.Tentei várias vezes, mas sem sucesso. A dor que queimava minha alma era insuportável, então tive que desistir, lamentando.Nos dias seguintes, andei pela entrada da delegacia, juntando informações das conversas que ouvia.Não eram muitas, mas consegui algumas que me alegraram.As provas contra meu pai por homicídio intencional eram irrefutáveis, ele havia confessado, e logo seria julgado, provavelmente sentenciado à morte.Sua empresa, envolvida em sonegação fiscal e outros problemas nos últimos três anos, já tinha sido fechada.Achei que Patrícia seria liberada, mas ouvi que durante a investigação, descobriram que o filho do tio de Patrícia não tinha morrido por acidente, mas que ela o empurrou para o rio para se afogar.Embora ela ainda fosse menor de idade quando cometeu o crime, ainda assim,
Hora do jantar.O pai olhou para os filhos sentados à mesa, aguardando para comer, e franziu a testa ao ver o lugar vazio na ponta.— Aquela menina não tem noção? Será que ela quer que a família inteira espere por ela para jantar?— Depois de ser punida, ainda não aprendeu a lição. Acho que a punição foi leve demais.O mordomo Fábio hesitou por um momento enquanto servia os pratos e, com certo cuidado, respondeu:— Senhor, a Srta. Débora ainda está de castigo na despensa. Devo soltá-la?O pai pausou ao pegar a taça de vinho, lançando um olhar para a direção da despensa, onde pareceu surpreso, mas logo reprimiu a expressão, mantendo um semblante indiferente enquanto falava de forma despreocupada:— Não, deixe-a lá por mais alguns dias. Se ela não sofrer um pouco, não vai parar de atormentar as irmãs de João.Fábio lançou um olhar para o casal de adolescentes sentados à mesa, com rostos corados e visivelmente bem cuidados.Sentiu um leve aperto no coração pela Srta. Débora, ainda trancad