Sedução proibida: entre o amor e o desejo
Sedução proibida: entre o amor e o desejo
Por: Gabriel Carvalho
Encontro inesperado

O som da chuva batendo contra a vidraça preenchia o silêncio do pequeno café no centro da cidade. Clara ergueu o olhar do seu caderno de anotações quando a porta se abriu, trazendo uma rajada de vento frio e um homem de presença avassaladora. Ele era alto, com cabelos castanhos desordenados que combinavam com a barba rala. Os olhos, de um azul intenso, pareciam explorar cada canto do espaço antes de pousarem nela.

"Com licença," disse ele, a voz grave e carregada de uma confiança desarmante. "Este lugar está ocupado?"

Clara engoliu em seco, percebendo que a mesa onde estava era a última vaga no café lotado. Com um aceno de cabeça, apontou para a cadeira à sua frente. Ele sorriu de lado e sentou-se, ajeitando o sobretudo molhado com movimentos precisos.

"Obrigado," murmurou, antes de abrir um livro desgastado e começar a ler.

Mas Clara não conseguia desviar os olhos dele. Algo no jeito como ele parecia alheio ao ambiente a intrigava. Ela tentava voltar ao seu trabalho, mas as palavras fugiam-lhe à mente sempre que o homem ajeitava o cabelo ou molhava os lábios.

"Clara?" A voz dele, de repente, quebrou seus pensamentos. Ela piscou, surpresa.

"Desculpe, como sabe meu nome?"

Ele ergueu o livro que lia, revelando a capa. Era um dos romances que ela mesma havia escrito.

"Sou um grande fã," confessou ele, inclinando-se levemente. "E há tempos queria conhecê-la."

O coração de Clara disparou. Ela jamais esperaria que alguém como ele lesse seus livros, muito menos procurasse conhecê-la. Havia algo de proibido naquele encontro, algo que a fazia querer saber mais sobre aquele homem misterioso, mesmo quando a razão gritava para que fosse cautelosa.

"Pode me chamar de Miguel," disse ele, estendendo a mão. E, naquele toque, Clara sentiu algo que há muito estava ausente em sua vida: desejo puro, avassalador.

Clara recostou-se suavemente na cadeira, tentando recuperar o fôlego que, de repente, parecia escapar com facilidade absurda. As pontas dos dedos ainda formigavam por causa do aperto de mão firme, mas não desconfortável, de Miguel. O sorriso dele era disfarçado, como se soubesse o efeito que tinha sobre ela – e gostasse disso.

“Então, Miguel,” ela começou, esforçando-se para manter a compostura. “O que exatamente em meus livros chamou sua atenção? Espero que não tenha sido apenas a capa.”

Miguel riu baixo, e Clara sentiu o som percorrer seu corpo como um acorde bem afinado. Ele apoiou o cotovelo na mesa, inclinando-se um pouco mais para perto. “Você tem razão. As capas são interessantes, mas é o que está dentro que me fascina. Sua escrita tem... uma intensidade que ressoa. É cru, mas elegante. Parece que você conhece as partes mais sombrias das pessoas e não tem medo de explorá-las.”

Clara piscou, surpresa com a profundidade da análise. “Você parece ter pensado bastante nisso”, provocou, tentando disfarçar o rubor que subia por seu rosto. “Está tentando me impressionar?”

“Se eu disser que sim, estragaria a magia?” Ele arqueou uma sobrancelha, com um sorriso que era ao mesmo tempo despretensioso e perigosamente sedutor.

Ela não conseguiu evitar uma risada. “Talvez. Ou talvez só confirme que você é bom nisso.”

Miguel leu o livro novamente, tamborilando os dedos na capa como se refletisse sobre algo. “Mas me diga, Clara... Essas partes sombrias que você escreve, tão reais e viscerais... São puramente imaginação ou há algo mais?”

Clara sentiu o estômago revirar, mas não de maneira desagradável. A pergunta era direta, quase íntima, mas de alguma forma não parecia invasiva. Miguel tinha uma habilidade peculiar de tornar o que poderia ser desconfortável em algo instigante. Ela inclinou-se para a cabeça, observando-o com olhos curiosos.

“Você sempre é assim?”, perguntou ela, evitando a pergunta dele por um momento.

“Assim como?” Miguel retrucou, inclinando-se para frente, com um sorriso que parecia saber exatamente oque ela queria.

Ele deu de ombros, mas seus olhos não desviaram dos dela. “Acredito que são as partes mais honestas. É ali que as pessoas revelam quem realmente são”, completou Miguel, com a voz grave e controlada, como se estivesse afirmando um fato universal.

Clara inclinou-se um pouco para frente, cruzando os braços sobre a mesa. “Então, você acha que me conhece só porque leu meus livros?”

Miguel riu, baixo e profundo, e balançou a cabeça. “Conhecer? Não. Mas acho que você deixa algumas pistas. Talvez mais do que imagine.”

Ela arqueou uma sobrancelha, intrigada. “E o que você acha que sabe sobre mim, Miguel?"

Ele segurou o olhar dela, um brilho desafiador em seus olhos. “Acho que você é boa em esconder o que sente, mas escreve o que não consegue dizer em voz alta. Certo?"

Por um segundo, Clara não respondeu. Não porque ele estava errado, mas porque estava certo demais. Ela desviou o olhar, um leve sorriso surgindo em seus lábios. “Você é perigoso, sabia? Desse jeito, pode acabar me conhecendo mais do que deveria.”

Miguel deu um gole no café, relaxando na cadeira. “Não me parece tão ruim assim. Talvez você precise de alguém que você conheça melhor.”

Clara abriu a boca para responder, mas foi interrompida pelo alarme discreto de seu telefone. Olhou para a tela e suspirou. “Eu preciso ir.”

Miguel pareceu decepcionado por um momento, mas logo o sorriso voltou. “Foi um prazer te conhecer, Clara. Espero te ver novamente.”

Ela se levantou, recolhendo seu caderno e o casaco. Antes de sair, olhou para ele uma última vez, com um sorriso minimalista provocador. “Se você continuar lendo meus livros, quem sabe?”

Miguel apenas a esperou sair, o som da porta do café se fechando sendo abafado pela chuva lá fora. No entanto, ele já sabia: aquilo não seria a última vez.

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