O Café Aurora era um pequeno refúgio escondido no centro da cidade, com cadeiras de madeira desgastadas e uma luz suave que passava pelos vitrais coloridos. Clara chegou pontualmente, mas a sensação de desconforto a acompanhava desde o momento em que decidiu ir.O lugar estava relativamente vazio para a tarde, exceto por um homem sentado em um canto isolado. Ele usava um chapéu escuro e um casaco que parecia grande demais para o clima ameno. Clara reconheceu-o pela descrição da mensagem enviada na noite anterior: "Estarei no canto esquerdo, com um chapéu cinza."Clara respirou fundo e aproximou-se hesitante. O homem ergueu o olhar assim que ela parou ao lado da mesa. Seus olhos eram penetrantes, mas havia algo familiar neles, como se conhecesse sua história antes mesmo de ouvi-la."Clara Monteiro?" perguntou ele, com a voz baixa e firme."Sim," respondeu ela, tentando soar confiante."Por favor, sente-se. Temos muito a conversar."Ela obedeceu, mas manteve os braços cruzados, como se
Naquela noite, enquanto Clara tentava dormir, flashes de seu passado a assombravam como se estivessem vivos. Não era apenas Miguel que a perturbava, mas a sensação de que, por toda a sua vida, ela havia esperado por algo – ou alguém – que finalmente desse sentido às histórias que escrevia.Clara cresceu em uma pequena cidade, cercada por colinas e pouco mais. Sua infância foi marcada por uma educação rígida. Seus pais, práticos e reservados, acreditavam que sonhos eram uma distração perigosa. Sempre que Clara mencionava o desejo de ser escritora ou falava sobre paixões, sua mãe respondia com a mesma frase: "Paixão é para os fracos. A vida precisa de equilíbrio."Ela nunca conhecera o tipo de amor que descrevia em seus livros. O mais próximo disso fora um relacionamento monótono com Pedro, um contador que ela namorara durante a universidade. Ele era gentil, mas previsível. Com ele, não havia adrenalina, nem a sensação de perder o chão. Quando terminaram, Clara sentiu alívio, mas também
O Encontro no CaféQuando Clara chegou ao café, Miguel já estava lá, sentado à mesma mesa em que haviam se conhecido. Ele parecia distraído, o olhar perdido na chuva que batia contra o vidro."Você veio," disse ele, levantando-se assim que a viu e caminhando em sua direção."Eu precisava vir," respondeu Clara, sentando-se à sua frente.Por um momento, nenhum dos dois falou. O som da chuva preenchia o silêncio entre eles, até que Miguel suspirou profundamente como se estivesse se preparando para conversa que viria em seguida."Clara, eu sei que te dei motivos para desconfiar de mim. Mas preciso que saiba que, desde o início, tudo o que fiz foi para proteger você."Ela o encarou, seus olhos buscando qualquer sinal de mentira. "Você quer que eu confie em você, mas como posso? Cada vez que descubro algo sobre o seu passado, parece que há mais segredos escondidos."Miguel inclinou-se para frente, sua voz baixa e séria. "Eu já te disse que fiz coisas das quais me arrependo. Mas não quero ma
O silêncio que se seguiu à promessa de Miguel parecia carregado de algo mais, como se ele tivesse mais a dizer, mas estivesse lutando para encontrar as palavras certas. Clara sentiu isso e decidiu pressioná-lo."Há mais, não é?" perguntou ela, sua voz baixa, mas firme. "Se vamos fazer isso juntos, Miguel, quero tudo. Nada de segredos."Ele desviou o olhar, visivelmente desconfortável. Passou as mãos pelo cabelo e suspirou profundamente antes de encará-la novamente."Há algo que você precisa saber... sobre como eu te encontrei," começou ele, escolhendo cada palavra com cuidado. "Não foi por acaso, Clara. Eu sabia quem você era antes mesmo de entrar naquele café."O coração dela acelerou. "O que quer dizer com isso?"Miguel inclinou-se para frente, seus olhos intensos fixos nos dela. "Há alguns meses, encontrei um dos seus livros por acaso. Foi deixado em um apartamento que eu... precisei visitar a trabalho. Não sei como ele foi parar lá, mas, enquanto esperava, comecei a ler. E, Clara,
A noite estava envolta em uma calma incomum, a chuva que antes castigava as ruas agora transformada em um leve gotejar que ecoava nas calçadas molhadas. Clara sentia o ar úmido contra sua pele enquanto Miguel a acompanhava até a porta do apartamento. Os dois haviam caminhado lado a lado, suas conversas pontuadas por silêncios carregados de tensão.Quando chegaram à entrada, Clara virou-se para ele, com as chaves na mão. Seus olhos encontraram os dele, e o mundo pareceu parar."Quer entrar?" A pergunta saiu mais como um sussurro do que uma decisão.Miguel hesitou por um instante, mas então assentiu. "Só se você quiser."Clara não disse mais nada. Virou-se, destrancou a porta e abriu espaço para que ele passasse. Assim que entrou, Miguel tirou o casaco molhado e pendurou-o no cabideiro ao lado da porta. O ambiente estava quente e acolhedor, iluminado pela luz suave de um abajur.Clara fechou a porta, mas permaneceu de costas para ele por um momento, tentando controlar a tempestade de em
Clara acordou com a luz suave da manhã filtrando-se pelas cortinas. Por um momento, tudo parecia tranquilo, quase perfeito. A presença quente de Miguel ao seu lado era um lembrete do que havia acontecido na noite anterior. Ele dormia profundamente, o peito subindo e descendo em um ritmo sereno, e Clara ficou observando-o por um instante, como se quisesse memorizar cada detalhe daquele momento.Mas, enquanto o silêncio preenchia o espaço, a realidade começou a se insinuar. Apesar da conexão intensa e do carinho genuíno que sentira, Clara sabia que o mundo fora daquele quarto ainda estava repleto de incertezas e perigos.Ela levantou-se silenciosamente, puxando um roupão para cobrir o corpo e dirigiu-se à cozinha. Precisava de café – e de tempo para organizar seus pensamentos.Enquanto a cafeteira trabalhava, Clara sentiu um peso crescer em seu peito. A entrega emocional e física a Miguel fora tão natural, tão intensa, que ela mal reconhecia a pessoa que havia sido na noite anterior. Se
Enquanto Miguel segurava as mãos de Clara, tentando acalmá-la com sua promessa de protegê-la, o som do telefone dele cortou o silêncio, vibrando sobre a mesa. Ele olhou para o aparelho, a mandíbula tensionando ao ver o número no visor."Eu preciso atender," disse ele, soltando as mãos dela com relutância.Clara assentiu, observando enquanto ele se afastava para o quarto, levando o telefone. Fechou a porta atrás de si, mas mesmo assim, Clara conseguia ouvir o tom abafado de sua conversa, carregado de tensão.Os minutos que se seguiram pareciam uma eternidade. Ela permaneceu na cozinha, tentando controlar a ansiedade que crescia em seu peito. Quando Miguel finalmente voltou, seu rosto estava mais sombrio do que nunca."Eu preciso ir," disse ele, sem rodeios."O que quer dizer com isso?" perguntou Clara, sentindo o coração disparar."Acabei de receber uma ordem" explicou ele, passando a mão pelo cabelo em um gesto de frustração. "Eles querem que eu viaje para Paris amanhã. É um trabalho
Os dias passavam até que em um deles, Clara escutou o som de batidas firmes na porta e o som ecoou pelo apartamento, interrompendo o silêncio da manhã. Clara, ainda abalada pela saudade e pela tensão, sentiu o coração disparar. Levantou-se devagar, tentando controlar o medo que já se instalava em seu peito.“Quem é?” perguntou ela, a voz falhando levemente.“Abra a porta, Clara. Precisamos conversar,” veio a resposta de uma voz masculina, firme e impaciente.Ela hesitou, mas ao olhar pelo olho mágico, viu três homens parados ali. O que estava mais à frente parecia ser o líder, de aparência impecável, com um terno cinza ajustado e um sorriso que não alcançava os olhos. Os outros dois, grandes e imponentes, estavam claramente ali para intimidar.Sentindo que não tinha outra opção, Clara abriu a porta."Bom dia," disse o homem de terno, entrando sem ser convidado. "Vamos direto ao ponto, certo? Você sabe por que estamos aqui."Clara balançou a cabeça, confusa. "Não, não sei. Quem são voc