A noite estava envolta em uma calma incomum, a chuva que antes castigava as ruas agora transformada em um leve gotejar que ecoava nas calçadas molhadas. Clara sentia o ar úmido contra sua pele enquanto Miguel a acompanhava até a porta do apartamento. Os dois haviam caminhado lado a lado, suas conversas pontuadas por silêncios carregados de tensão.Quando chegaram à entrada, Clara virou-se para ele, com as chaves na mão. Seus olhos encontraram os dele, e o mundo pareceu parar."Quer entrar?" A pergunta saiu mais como um sussurro do que uma decisão.Miguel hesitou por um instante, mas então assentiu. "Só se você quiser."Clara não disse mais nada. Virou-se, destrancou a porta e abriu espaço para que ele passasse. Assim que entrou, Miguel tirou o casaco molhado e pendurou-o no cabideiro ao lado da porta. O ambiente estava quente e acolhedor, iluminado pela luz suave de um abajur.Clara fechou a porta, mas permaneceu de costas para ele por um momento, tentando controlar a tempestade de em
Clara acordou com a luz suave da manhã filtrando-se pelas cortinas. Por um momento, tudo parecia tranquilo, quase perfeito. A presença quente de Miguel ao seu lado era um lembrete do que havia acontecido na noite anterior. Ele dormia profundamente, o peito subindo e descendo em um ritmo sereno, e Clara ficou observando-o por um instante, como se quisesse memorizar cada detalhe daquele momento.Mas, enquanto o silêncio preenchia o espaço, a realidade começou a se insinuar. Apesar da conexão intensa e do carinho genuíno que sentira, Clara sabia que o mundo fora daquele quarto ainda estava repleto de incertezas e perigos.Ela levantou-se silenciosamente, puxando um roupão para cobrir o corpo e dirigiu-se à cozinha. Precisava de café – e de tempo para organizar seus pensamentos.Enquanto a cafeteira trabalhava, Clara sentiu um peso crescer em seu peito. A entrega emocional e física a Miguel fora tão natural, tão intensa, que ela mal reconhecia a pessoa que havia sido na noite anterior. Se
Enquanto Miguel segurava as mãos de Clara, tentando acalmá-la com sua promessa de protegê-la, o som do telefone dele cortou o silêncio, vibrando sobre a mesa. Ele olhou para o aparelho, a mandíbula tensionando ao ver o número no visor."Eu preciso atender," disse ele, soltando as mãos dela com relutância.Clara assentiu, observando enquanto ele se afastava para o quarto, levando o telefone. Fechou a porta atrás de si, mas mesmo assim, Clara conseguia ouvir o tom abafado de sua conversa, carregado de tensão.Os minutos que se seguiram pareciam uma eternidade. Ela permaneceu na cozinha, tentando controlar a ansiedade que crescia em seu peito. Quando Miguel finalmente voltou, seu rosto estava mais sombrio do que nunca."Eu preciso ir," disse ele, sem rodeios."O que quer dizer com isso?" perguntou Clara, sentindo o coração disparar."Acabei de receber uma ordem" explicou ele, passando a mão pelo cabelo em um gesto de frustração. "Eles querem que eu viaje para Paris amanhã. É um trabalho
Os dias passavam até que em um deles, Clara escutou o som de batidas firmes na porta e o som ecoou pelo apartamento, interrompendo o silêncio da manhã. Clara, ainda abalada pela saudade e pela tensão, sentiu o coração disparar. Levantou-se devagar, tentando controlar o medo que já se instalava em seu peito.“Quem é?” perguntou ela, a voz falhando levemente.“Abra a porta, Clara. Precisamos conversar,” veio a resposta de uma voz masculina, firme e impaciente.Ela hesitou, mas ao olhar pelo olho mágico, viu três homens parados ali. O que estava mais à frente parecia ser o líder, de aparência impecável, com um terno cinza ajustado e um sorriso que não alcançava os olhos. Os outros dois, grandes e imponentes, estavam claramente ali para intimidar.Sentindo que não tinha outra opção, Clara abriu a porta."Bom dia," disse o homem de terno, entrando sem ser convidado. "Vamos direto ao ponto, certo? Você sabe por que estamos aqui."Clara balançou a cabeça, confusa. "Não, não sei. Quem são voc
O apartamento parecia mais vazio do que nunca, apesar de Clara ainda estar lá. O novo celular estava jogado sobre a mesa de centro, um lembrete constante de que cada movimento, cada palavra, estava sendo monitorada.Clara encarou o telefone por longos minutos, o peso da incerteza esmagando-a. Por mais que quisesse ligar para Miguel, precisava admitir a verdade para si mesma: não sabia se podia confiar nele.A DúvidaAs palavras de Duarte ecoavam em sua mente, misturadas com as lembranças dos momentos que havia compartilhado com Miguel. Tudo parecia tão perfeito, tão genuíno... até agora.E se tudo não passasse de uma farsa?Clara levantou-se e começou a andar pelo apartamento, a mente girando. "Ele sabia", disse em voz alta, tentando organizar os pensamentos. "Ele sabia que me queriam no esquema... mas nunca me contou."O que mais Miguel havia escondido dela? E, pior, aquelas histórias sobre ter lido seus livros, sobre como suas palavras haviam mudado sua vida – será que eram verdadei
Miguel estava em um pequeno apartamento alugado em Paris, uma base improvisada que mal tinha o essencial. A luz da tarde passava pelas cortinas gastas, iluminando a expressão sombria em seu rosto enquanto ele folheava um dossiê entregue na noite anterior.A missão era clara: recuperar uma série de documentos que comprometiam um dos líderes da organização. Esses papéis estavam nas mãos de um antigo aliado que havia traído o grupo e agora ameaçava expor suas operações.Para Miguel, isso era apenas mais uma tarefa em uma longa lista de trabalhos sujos que fizera ao longo dos anos. Mas, desta vez, a culpa parecia mais pesada. Cada decisão que tomava parecia um passo para mais longe de Clara.Enquanto lia os detalhes do dossiê, flashs de memórias vieram à tona – memórias que ele preferia esquecer.Havia uma mulher. Seu nome era Valentina, uma escritora iniciante que, anos atrás, havia sido empurrada para o mesmo esquema em que Clara agora se encontrava. Miguel fora encarregado de convencê-
Miguel caminhava pelas ruas movimentadas de Paris, com um disfarce cuidadosamente montado para se misturar à multidão. Vestia um casaco longo e carregava uma pasta com documentos falsos, prontos para enganar qualquer um que precisasse. Seu alvo era um pequeno restaurante no Marais, onde o traidor da organização costumava se reunir com contatos.Ele já havia estudado os horários e os hábitos do homem, sabia como abordá-lo e o que dizer. A missão parecia simples no papel, mas Miguel sabia que qualquer deslize poderia ser fatal.Enquanto caminhava, sentiu a presença invisível da organização. Não havia dúvida de que estava sendo monitorado; eles queriam garantir que ele estava obedecendo. A pressão era esmagadora, mas Miguel não podia errar.Antes de seguir para o restaurante, Miguel parou em uma esquina mais isolada e pegou o telefone descartável que usava para tentar se comunicar com Clara. Digitou rapidamente:"Clara, como você está? Por favor, me responda. Estou preocupado."Esperou a
Miguel continuava encarando o telefone em silêncio, a falta de resposta de Clara pesando mais do que qualquer ameaça que já enfrentara. Ele fechou os olhos e respirou fundo, lutando para não deixar o medo tomar conta. Algo estava errado, mas ele não podia arriscar movimentos precipitados.Pegou os documentos comprometedores e os espalhou sobre a mesa. Os nomes, os números, as transações – tudo era evidência suficiente para destruir a organização. Se caíssem nas mãos certas, poderiam desmantelar todo o esquema. Mas Miguel sabia que, se a organização sequer suspeitasse que ele guardava esses papéis, sua vida acabaria.Precisava de um plano.Miguel passou horas pensando, até que uma ideia surgiu. Pegou uma pasta idêntica à que havia usado para guardar os documentos e a encheu com papéis irrelevantes: folhetos antigos, páginas de revistas e contratos falsificados. Certificou-se de que, à primeira vista, parecessem autênticos.Então, levantou o colchão da cama do apartamento e colocou os d