Miguel sentia o peso da tensão crescer a cada dia. O silêncio de Clara ainda o incomodava, mas não era só isso. Desde que entregara o vídeo da destruição dos documentos, notara pequenas mudanças no comportamento das pessoas ao seu redor – contatos que antes eram breves em suas interações agora pareciam mais inquisitivos.No apartamento, sentia-se constantemente vigiado, mesmo quando estava sozinho. Os movimentos da organização eram quase imperceptíveis para os desatentos, mas Miguel havia passado anos entendendo suas táticas. Algo estava diferente, e ele sabia o que isso significava: eles desconfiavam dele. A quantidade de pessoas junto com ele para uma tarefa que ele resolveria sozinho também era um fator que ele questionava.No fim da tarde, enquanto andava por uma rua movimentada, Miguel recebeu uma ligação inesperada. O número não estava registrado em seu telefone descartável, mas ele atendeu, hesitante."Fique atento, tentarão te matar” disse a voz do outro lado.“Gabriel, é você
Miguel entrou no armazém com passos firmes, mas por dentro, estava em alerta máximo. O silêncio opressivo do lugar, combinado com a escuridão das sombras nas extremidades, fazia seu coração bater mais rápido. Ele sabia que estava pisando em território perigoso, mas a alternativa – recusar a ordem – era ainda mais fatal. Conforme avançava, viu uma figura conhecida emergir da escuridão. Era Hector Moreau, o homem que o trouxera para o mundo do crime. Hector era impecável como sempre: um terno cinza sob medida, abotoaduras reluzentes, um relógio luxuoso. A aparência refinada era um contraste perturbador com a aura ameaçadora que ele exalava. Cercando Hector estavam cinco capangas, todos armados, todos com os olhos fixos em Miguel. "Miguel," disse Hector, com um tom calmo, quase paternal. "Que bom que veio. Estávamos começando a pensar que você tinha perdido o gosto pelas reuniões importantes." Miguel parou a poucos passos dele, mantendo a expressão neutra. "Recebi a mensagem. Achei qu
Miguel manteve-se em silêncio por um momento, considerando suas opções. Ele sabia que não podia recusar, mas também sabia que, se seguisse o plano de Hector, estaria condenando não apenas a si mesmo, mas também a Clara.Finalmente, assentiu. "Entendido."Hector deu um leve tapinha no ombro de Miguel, seu sorriso agora mais caloroso – mas ainda falso. "Sabia que você tomaria a decisão certa. Agora, vá. Sua amada espera por você."Miguel deu meia-volta e saiu do armazém, sentindo o peso da situação crescer a cada passo. Ele sabia que não poderia cumprir o plano de Hector, mas também sabia que não poderia deixar Clara desprotegida.Dois dias depois, Miguel estava em frente onde Clara morava. Ele subiu as escadas do prédio de Clara com passos lentos. O peso das últimas horas ainda pairava sobre ele, mas a visão da luz em sua janela deu-lhe um breve alívio. Ele sabia que enfrentaria perguntas e suspeitas, mas estava determinado a fazer as pazes com ela – ou pelo menos tentar.Bateu na port
Clara ficou em silêncio, observando-o atentamente, mas sem baixar a guarda."Eu li o livro inteiro em duas noites," continuou ele, a voz agora mais suave. "E, no final, eu sabia que precisava te conhecer. Não porque era minha missão, mas porque algo nas suas palavras me fez querer ser alguém melhor. "Quando entrei naquele café para te encontrar," disse Miguel, olhando diretamente nos olhos dela, "eu sabia qual era minha missão. Mas, quando vi você... tudo o que planejei dizer desapareceu. Eu não consegui.""Por quê?" perguntou Clara, o tom desafiador, mas mais baixo."Porque eu sabia que tinha acabado de encontrar o amor da minha vida," confessou ele, a voz falhando.Clara piscou, surpresa pela sinceridade."Eu sabia que, se te enganasse, te colocasse nesse esquema, destruiria tudo o que você representava. E eu não podia fazer isso," continuou Miguel. "Então, eu tentei proteger você. Tentei mantê-los afastados, enquanto ainda fingia que estava cumprindo o plano."Clara balançou a cab
Os dias que se seguiram foram um turbilhão de emoções para Clara. Desde o confronto com Miguel, ela se isolou no apartamento, mergulhada em pensamentos e sentimentos conflitantes. Apesar de tudo, sentia sua falta. O som de sua voz, o jeito como ele a olhava, como se ela fosse a única coisa que importava no mundo – tudo isso permanecia vivo em sua memória.Mas a mágoa ainda era forte. Ele havia mentido. Como confiar em alguém que havia sido enviado para manipulá-la?Na manhã do quarto dia, enquanto Clara tomava seu café, ouviu uma batida suave na porta. Seu coração disparou, mas ela hesitou antes de se levantar. Ao abrir, encontrou um homem alto e bem vestido. "senhorita, Clara. O senhor Miguel está a sua espera" - disse ele enquanto entregava um envelope.Dentro, havia um bilhete escrito à mão:Estarei no local onde tudo começou às 18h. — MiguelClara leu e releu o bilhete, o coração dividido. Parte dela queria ignorá-lo, mas outra parte, mais forte, ansiava por respostas – e talvez
Clara colocou o garfo de lado, observando Miguel enquanto ele terminava de comer. Apesar do clima intimista que ele criou, o peso das circunstâncias pairava sobre eles. Ela sabia que precisavam falar sobre o que realmente importava, mesmo que a ideia de encarar a verdade fosse assustadora."Isso não pode continuar assim, Miguel," disse ela, quebrando o silêncio.Ele levantou o olhar, limpando a boca com o guardanapo antes de responder. "Eu sei. Mas não podemos nos apressar. Se dermos um passo errado, a organização vai perceber. E não somos apenas nós que estaremos em perigo."Clara cruzou os braços, inclinando-se levemente para frente. "Então o que fazemos? Fingimos que está tudo normal enquanto eles nos controlam?""Por enquanto, sim," respondeu Miguel, o tom grave. "Mas eu tenho algo que pode mudar isso."Ela franziu a testa. "O que é?"Miguel hesitou por um momento antes de continuar. "Eu não contei isso a ninguém, Clara. Mas eu estou em posse de documentos comprometedores da organ
"Eu tenho um plano," disse Miguel, com a voz baixa, mas firme. "Os documentos que escondi, todas as provas das operações da organização... Vou entregá-los ao novo chefe do Quai des Orfèvres."Clara franziu a testa, surpresa. "O mesmo que eles te mandaram matar?"Miguel assentiu. "Sim. Ele ainda nem assumiu, mas já mostrou que não será comprado. É o tipo de pessoa que pode usar essas informações para desmantelar a organização de uma vez por todas."Clara cruzou os braços, pensativa. "E como você pretende fazer isso? Eles vão perceber se você fizer qualquer movimento fora do comum.""Por isso precisamos ser cuidadosos," disse Miguel. "Enquanto eles acharem que estou cumprindo suas ordens, posso me aproximar dele e garantir que os documentos sejam entregues em segurança."Ela balançou a cabeça, preocupada. "Isso é perigoso, Miguel. E se eles descobrirem antes?""Então eu caio," respondeu ele, sem hesitar. "Mas você não. Tudo o que faço agora é para garantir sua segurança, Clara. É a únic
A lancha deslizava suavemente pelas águas, cercada pelo reflexo das luzes da cidade. Clara sentiu o vento suave acariciar seu rosto enquanto observava Miguel ao volante, os olhos fixos no horizonte. Ele parecia mais calmo ali, como se o peso do mundo diminuísse sob o brilho da lua."Para onde estamos indo?" perguntou ela, sorrindo levemente.Miguel olhou para ela, um brilho travesso nos olhos. "Sem destino. Só nós dois, a noite e o rio."Clara riu suavemente, deixando-se levar pelo momento. Por um instante, o caos do mundo parecia distante, e ela podia se concentrar apenas no homem ao seu lado.Miguel parou a lancha em uma área mais tranquila, onde a água parecia se abrir em um espaço de calma absoluta. Ele desligou o motor, deixando a embarcação flutuar suavemente.Clara olhou ao redor, fascinada pelo silêncio e pela sensação de isolamento. Apenas o som da água contra o casco e o canto ocasional de um pássaro distante quebravam o silêncio.Miguel aproximou-se dela, estendendo uma taç