Escrever este livro foi uma jornada emocional e desafiadora. A história de Estelle, sua busca pela verdade e a luta para se libertar das mentiras que a aprisionam, não só refletiu uma narrativa de ficção, mas também me conduziu a uma profunda reflexão sobre as complexidades das relações humanas e as profundezas da mente. Foi uma experiência de autoconhecimento, na qual, a cada palavra escrita, eu me vi imersa nos dilemas de cada personagem, nas suas escolhas e nas suas fraquezas.
Estelle, como protagonista, atravessa um caminho tortuoso em sua jornada pessoal. Ela busca respostas, mas é constantemente confrontada com manipulações, tanto externas quanto internas. Sua luta não é apenas contra aqueles que desejam controlá-la, mas também contra as sombras que ela carrega dentro de si. O enredo é uma metáfora de como muitas vezes buscamos a verdade em lugares onde ela está distorcida, sendo vítima de promessas vazias e de ilusões que nos afastam de nossa própria liberdade.
A manipulação de Murilo e as mentiras de Paulo são, de certa forma, representações de um mal muito presente em nosso cotidiano: a manipulação emocional. Esses elementos exploram a ideia de como muitas vezes as pessoas tentam controlar as outras, disfarçando suas intenções, utilizando palavras doces para esconder verdades desconfortáveis. Acredito que este tema é particularmente relevante hoje, em uma sociedade onde, muitas vezes, a linha entre a verdade e a mentira se torna cada vez mais tênue.
O processo de escrita também me levou a questionar até que ponto estamos dispostos a aceitar o que nos é imposto. Estelle, ao longo da história, enfrenta uma verdade dolorosa: sua percepção da realidade está sendo manipulada, e ela é forçada a confrontar isso. A dor que ela sente ao perceber que sua própria mente não pode ser confiável é uma dor universal, uma que muitos de nós podemos reconhecer em momentos de crise, quando nossas certezas se desfazem e somos confrontados com uma realidade que não escolhemos.
No entanto, há algo profundamente libertador na jornada de Estelle. Sua luta é também uma busca pela autossuficiência e pela reconquista de sua própria voz. À medida que a história avança, ela começa a se levantar, a lutar contra os fantasmas que a assombram e, finalmente, a questionar suas próprias limitações. Essa transformação interna de Estelle é a essência do livro – o renascimento de uma mulher que, ao confrontar as mentiras e as sombras, encontra a força para se tornar dona de seu próprio destino.
Por trás da narrativa, há uma reflexão sobre as relações humanas e a maneira como nos deixamos afetar pelos outros. O que, a princípio, parece ser uma história de manipulação e controle, revela-se também uma história de redenção e autodescoberta. Às vezes, é necessário enfrentar a escuridão para que a luz se faça presente. Através da dor e do sofrimento, Estelle aprende a se conhecer de verdade, a reconhecer suas falhas e suas forças, e a fazer escolhas que, finalmente, a libertam das correntes que a prendem.
Neste livro, não há apenas o peso da mentira, mas também a beleza da verdade. A verdade é uma força poderosa, muitas vezes dolorosa, mas essencial para o crescimento pessoal. Espero que, ao acompanhar a jornada de Estelle, você tenha sido tocado por essa reflexão sobre como lidamos com a realidade ao nosso redor, com as pessoas que nos cercam e com as mentiras que nos contamos. A cada página, procurei tecer uma trama onde os personagens, suas falhas e seus dilemas, se tornassem um espelho para a própria humanidade.
Agradeço profundamente por ter embarcado nesta história e por ter permitido que ela tocasse sua alma. O que mais desejo é que a busca pela verdade de Estelle continue a ressoar em você, assim como sua jornada de autoconhecimento e liberdade, nos lembrando de que, às vezes, a maior libertação está na coragem de enfrentar as nossas próprias sombras.
AGRADECIMENTOS.
Nenhum livro nasce sozinho. A cada pessoa que, direta ou indiretamente, contribuiu para que essa história ganhasse vida, meu mais sincero agradecimento.
Aos leitores, que dedicaram tempo e emoção para acompanhar Estelle, minha eterna gratidão. Cada página lida, cada sentimento despertado, cada reflexão feita torna essa jornada ainda mais significativa.
Aos amigos e familiares que me incentivaram, seja com palavras de apoio ou com a paciência para ouvir minhas ideias e devaneios, muito obrigada. O apoio de vocês foi fundamental para que este livro fosse concluído.
E, por fim, a Estelle, que nasceu de palavras, mas se tornou muito mais do que um simples personagem. Obrigada por me permitir contar sua história.
Logo após a comissária de bordo informar que o avião pousaria em alguns minutos, e o piloto anunciar a temperatura de treze graus, bem como a chuva que caía sobre a cidade, Murilo fechou seu computador e o guardou na mochila que estava sob a poltrona à frente. Ele olhou pela pequena janela, onde a cidade iluminada se apresentou como um quadro vivo. De cima, a beleza da ilha era de tirar o fôlego; mas, dentro dele, tudo era cinza, um contraste gritante entre o espetáculo vibrante da paisagem e o peso sombrio de suas lembranças. Sentiu as mãos úmidas as secou no jeans que usava, esfregando com força, batendo as pontas dos dedos na coxa em seu estado de melancolia. Mesmo após três anos morando e trabalhando em Manaus, tentando esquecer o passado, não imaginava que estaria tão tenso ao retornar à sua cidade natal. A mesma pergunta não saia de sua cabeça. Por que voltara? Para procuraria seu irmão e tentar uma reaproximação? Talvez. A última vez que o tinha visto, tensão era muito grande
Era o sexto aniversário de Pablo. Estelle, sentada em uma cadeira na varanda, observava-o com um olhar afetuoso enquanto ele corria pelo jardim com seus amiguinhos. Não conseguia conter o fascínio pela semelhança entre ela e o filho. A pele escura e os cabelos castanhos anelados faziam dele quase uma cópia sua. Já as meninas, Marina, de nove anos, e Betriza, de doze, herdaram os cabelos lisos e os olhos castanhos claros do pai.Enquanto se divertia no jardim, Pablo frequentemente lançava olhares para a mãe, como se estivesse conferindo se ela ainda estava ali. A cada troca de olhares, um sorriso aliviado surgia em seu rosto. Era como se, de alguma forma, ele temesse perdê-la. No meio da brincadeira, Pablo parou de repente. O brilho habitual em seu rosto se apagou, dando lugar a uma expressão tensa e enigmática. Era como se uma presença invisível tivesse capturado sua atenção. Ele virou-se em direção à casa em frente, fixando seus olhos na construção de paredes descascadas e vidraças qu
Sem hesitar, ela correu em direção à escada. Antes que pudesse alcançar o primeiro degrau, uma rajada violenta de areia e vento atingiu seu rosto, forçando-a a parar. O impacto a fez fechar os olhos, enquanto um gemido de dor escapava de seus lábios. Mesmo sob o castigo impiedoso do vento que cortava sua pele, Estelle continuava a gritar por Pablo. Suas lágrimas e seu desespero se perdiam no caos ao redor. O turbilhão de areia dificultava seus movimentos, enquanto o medo e a dor a consumiam por dentro. De repente, algo pesado bateu contra suas pernas, derrubando-a de joelhos. Estelle caiu com um impacto seco, o chão áspero castigando ainda mais sua pele já ferida. Com o corpo tremendo de dor e medo, um terror gelado a invadiu: seria esse o fim? Ainda ajoelhada, lágrimas escorrendo por seu rosto sujo, ela ergueu a voz em súplica:— Leve-me, e deixe meu filho viver!" Em prantos, ela ficou ali, esperando o pior.Foi então que, de forma inesperada, um silêncio profundo tomou conta do ambie
Ele suspirou, suavizando o semblante.— Eu já te falei, Estelle. O incêndio na cozinha não foi de grandes proporções. As suas cicatrizes e as de Pablo não fazem sentido quando comparadas ao que aconteceu. É algo... incompreensível. Você e Pablo eram os únicos em casa naquele dia. Sei que você se sente culpada pelo incidente, mas precisa lembrar: ambos foram hospitalizados. E você, abalada pelo trauma, sofreu um colapso nervoso que resultou na sua amnésia seletiva.— Esse pesadelo repetitivo não representa a realidade. Acredite, Estelle, você não precisa carregar essa culpa. Vamos, tome um banho. Isso vai te ajudar a se acalmar. Sem resistência, ela deixou que ele a conduzisse até o banheiro. Seus passos eram leves, quase automáticos. No chuveiro, a água quente trouxe alívio momentâneo, envolvendo-a em um conforto superficial. As gotas escorriam pela pele, mas o peso em seu peito permanecia intacto. O eco do pesadelo ainda pairava em sua mente. Pouco depois, sentada diante do espelho, E
— Filho... — disse Paulo, a voz suave. Tinha que se policiar ao pronunciar as próximas palavras. Aquele momento era muito delicado. Não poderia falar algo que despertasse em Estelle a verdade sobre o incêndio. Não podia cometer qualquer deslize. Ele temia que qualquer palavra dita, qualquer gesto pudesse fazer Estelle lembrar da noite do incêndio, uma lembrança que ele sabia que não deveria ser despertada. Os medicamentos pareciam não surtir o efeito desejado, e ele se sentia cada vez mais impotente diante da situação.— Sua mãe precisa se alimentar. Já conversamos sobre isso. A calma em sua voz parecia ensaiada, como se ele estivesse seguindo um texto. Estelle apertou o abraço mais um pouco, como se estivesse tentando proteger Pablo de algo que nem ela mesma conseguia entender. Seus olhos estavam fixos em Paulo, com uma intensidade quase desesperada. Algo estava escondido no olhar dele, uma verdade que a prendia em um labirinto de sentimentos contraditórios e dúvidas sem fim. — Mamã
Sentado em sua poltrona favorita de couro branco, Rudney, com seu corpo magro de um metro e oitenta de altura, mantinha as longas pernas cruzadas, uma sobre a outra, enquanto o pé esquerdo balançava para cima e para baixo em um ritmo acelerado, denunciando seu nervosismo. O braço descansava na lateral da poltrona, enquanto os olhos permaneciam fechados. A cabeça, inclinada para a direita, repousava na mão em uma pose que exalava contrariedade consigo mesmo. Em sua mente, a conversa trocada com Paulo antes do início da terapia de Estelle se repetia como um eco insistente. Ele buscava desesperadamente uma solução, algo que o tirasse do buraco em que se meteu. Se tivesse sido mais firme, talvez não tivesse cedido à chantagem dele. Paulo o persuadiu a colaborar, cobrando favores do passado.O tratamento de Estelle, o processo de hipnoterapia, precisava ser minuciosamente direcionado. Paulo sempre dizia que era vital focar nos momentos felizes em família, evitando qualquer lembrança que rea
O sol se punha, tingindo o céu de laranja. A luz atravessava as cortinas entreabertas, mas ela mal notava a paisagem lá fora. Suspirou diante do peso das perguntas sem resposta. Mas uma certeza ela tinha: era evidente que Paulo conhecia a mulher. Estelle cruzou os braços, como se quisesse se abraçar — uma tentativa de se proteger do turbilhão que a atormentava.A luz fraca do pôr do sol tocava suavemente seu rosto, que exibia marcas visíveis de angústia, impossíveis de esconder. Ela queria lembrar. Queria gritar. Queria rasgar o véu denso que obscurecia suas memórias e finalmente encontrar a verdade. Mas, a cada tentativa, parecia esbarrar em uma parede invisível. Sua mente estava trancada em um lugar ao qual ela não tinha mais acesso.Seu corpo começou a tremer. Rapidamente, ela foi até a mesinha e pegou um de seus comprimidos. Conforme a medicação fazia efeito, sentiu-se mais relaxada. Tomou um banho e deitou-se, sem forças, para se juntar à família no jantar. Algum tempo depois, Bea
Pelas frestas da janela entreaberta, ele observava. Os dedos apertavam o parapeito, enquanto seu olhar permanecia fixo na porta da casa em frente. O coração batia com força, quase sufocado pela expectativa. Ela chegaria, ele tinha certeza. Estava tudo pronto para o novo começo. As malas já estavam no carro. Assim que Estelle chegasse, eles partiriam e nunca mais olhariam para trás. Um futuro juntos, uma vida nova, sem o peso das mentiras que os cercavam. Paulo nunca mais os encontraria.Então, finalmente, ele a viu. Ela saiu apressada, quase correndo, e atravessou a rua. Murilo sentiu uma onda de alívio percorrer seu corpo enquanto abria a porta para ela. O momento que ele tanto aguardava havia chegado. Ela entrou na casa sem hesitar. A porta se fechou suavemente atrás dela, e ele a esperava, o corpo tenso, os olhos fixos nela.Murilo percebeu imediatamente que algo havia mudado. Estelle não o olhou como fazia antes; seus olhos estavam cravados no topo da escada. A p