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Hum, que homem possessivo!

Eu ofego. Carol está para chegar. Com certeza ela vai me envergonhar. Quando está bêbada ela se torna muito sem noção e eu quero passar para ele um ar de maturidade.

E mais! Tenho quase vinte anos e um bom emprego como bancária.

Sempre fui tão certinha e o que adiantou?

Afastei aquele idiota da minha cama e o perdi para minha amiga que o acolheu na dela.

Por que não sair com ele?

Sempre vivi debaixo das asas de meus pais e não conheço nada da vida. Vou ficar calmamente sentada, deixando os dias passarem, à espera do cara certo?

—Aonde pretende me levar?

Ele segura a minha cintura.

—Não sei. Depende de você.

—Tudo bem. —Digo com um sorriso. —Só um minutinho.

Olho para a minha amiga Letícia que observa tudo calada.

—Estou saindo. —Digo e fico tonta quando desço do banquinho.

Ela segura meu braço.

—Não faça isso. Irá se arrepender depois. Você não está sóbria. Seu coração está partido e esse é um péssimo momento para tomar uma decisão. —Ela diz duramente. Parece um sermão.

—Estou sóbria o suficiente para sair com esse homem fino. —Falo baixo, irritada, no seu ouvido.

Ela me puxa pelo braço e sussurra:

—Você é louca? Você nem o conhece!

Eu puxo o meu braço.

—Não seja por isso, vou conhecê-lo.

Vejo Carol vindo em nossa direção.

—Podemos ir? —Digo olhando para o homem lindo.

Ele bebe de uma vez seu uísque e sorri.

—Claro.

Ele pega com possessividade minha cintura e me conduz para fora. Tento andar o mais certo possível, não quero que ele perceba o quanto estou bêbada. Tropeço nos meus saltos quando estamos já na calçada.

Droga!

—Você não bebeu demais, não?

Eu sorrio para ele, apreciando muito o seu cheiro gostoso.

—Isso importa?

—Você costuma beber sempre assim?

— Não, é a primeira vez. Acontece que estou meio de saco cheio da vida.

—Acho melhor eu te levar para casa. —Ele diz abrindo a porta da Mercedes preta.

Uau! Que carro!

O quê? Para a casa?

—Não, por favor. A não ser que você também não me ache atraente?

Ele sorri e sua respiração se agita.

—Também? Alguém disse que você não é atraente? Você é linda.

Eu me sinto bem quando ele fala isso.

—Ótimo.

O homem lindo ainda olha para mim inseguro.

—Como é seu nome?

—Suzy. —Minto novamente.

—Não acho que seja esse seu nome.

—Importa?

Ele me encara como se eu fosse algo bom de se comer, mas proibido. Seus magníficos olhos me estudam e depois ele dá um suspiro.

—Entre! — Ele diz como se tivesse tomado uma decisão.

Eu entro. Ele dá a volta e entra em seguida.

—Aonde vamos? —Questiono.

—Para o hotel que estou hospedado. Tudo bem para você? —Ele diz tentando me assustar.

O olho com desafio e digo segurando seu olhar:

—Tudo.

Só então me lembro de procurar aliança em sua mão. E se ele for casado? Passo meus olhos por elas que estão pousadas no volante.

Nenhuma.

—Não sou casado.

Eu fico vermelha.

—Ótimo, pois se fosse, eu não sairia com você.

—Hum, gostei disso.

—Detesto traição. —Digo com o queixo erguido me lembrando de Henrique.

—Seus pais não ficam preocupados com você a essa hora da noite na rua? —Outra vez ele tenta me mandar para casa.

Eu digo calmamente:

—Eu ia dormir na casa da minha amiga. Então eles só me esperam no dia seguinte.

Eu viro minha cabeça para a janela quando ele coloca o carro em movimento.

—Você não parece no seu normal. Aconteceu alguma coisa?

Eu o encaro.

—Olha, eu não gostaria de falar sobre isso se não se importar. Não quero saber nada da sua vida, e não quero que saiba nada da minha. Quero apenas curtir o momento. Entendeu?

Ele sorri.

—Como sabe que não sou um psicopata?

Eu ofego pensando nisso.

—Se você fosse, teria demonstrado frieza ao sairmos, e não estaria preocupado em saber da minha vida ou o meu nome. Ou estaria querendo toda hora me levar para casa.

Ele sorri e balança a cabeça com um sim.

—Boa resposta.

Eu fecho os olhos quando tudo começa a rodar.

—Mesmo assim, acho que se arrisca demais. —Ele diz.

Eu relanceio meu olhar para ele, mas não digo nada. Por que ele tem que bancar o homem mais velho agora? Detesto esse sentimento de rejeição.

—Relaxe. —Digo para ele que ri.

—Estou relaxado. Só estou preocupado com você.

—Não fique. —Digo rebelde e volto meu nariz para a janela do carro.

Tudo bem. Tudo isso é contrário aos meus princípios.

Princípios?

A imagem de Henrique surge na minha frente me dizendo:

—Sim, saí com Zoe e transamos. Cansei desses seus não me toques. Quero uma mulher quente na minha cama e não um iceberg. O homem não admite, mas no fundo ele quer uma puta na cama e uma dama na sociedade.

Idiota! Quase falo em voz alta.

Os momentos depois ficamos no mais completo silêncio. Algumas vezes, sem ele perceber, limpei lágrimas furtivas dos meus olhos quando, em uma retrospectiva louca e embaralhada vejo Henrique na minha frente.

Quando ele estaciona na porta do hotel Savoy, fico impressionada com o requinte do lugar. Imperioso, majestoso. Nunca pisei num lugar assim.

O manobrista abre a porta do carro para mim. Embora esteja frio eu saio ajeitando meu vestido preto curto que sobe. E isso não escapa dos olhos do manobrista que olha minhas pernas como um lobo babão.

O lindo desconhecido logo se coloca ao meu lado e coloca a mão nas minhas costas. Tropeço nos meus próprios pés novamente e quase vou ao chão, mas sua grande mão me segura e me traz para junto dele.

Quando entramos no hotel, a impressão é que todos os olhares se voltam para mim. A culpa me toma. Parece que eles sabem o que estou prestes a fazer.

O lindão coloca o braço envolta de mim e eu reparo que ele olha os caras de um jeito duro. Como se fosse voar no pescoço deles. Isso surti efeito imediato e todos desviam o olhar de nós dois.

Hum, que homem possessivo!

Devo estar chamando atenção com esse vestido lindíssimo e curto que eu comprei num momento de raiva e que minha mãe ficou na minha cabeça para eu não sair desse jeito. Caprichei também na maquiagem. Meus cabelos castanhos dourados estão soltos. Eles vão até as minhas costas.

Suspiro. Mesmo assim ainda me lembro de tudo que ouvi daquele idiota que apostei minha vida. Eu sonhava em me casar com ele. Quantas vezes me neguei a compra de uma roupa para mim pensando em juntar dinheiro?

Canalha!

 

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