Quando volto, respiro fundo e tento me recompor. Ainda assim, basta um pensamento sobre a cena para o riso quase escapar novamente.Depois do almoço, nos reunimos na sala, e eu, incapaz de me conter, comento sobre o episódio da faca. Kayra, com o humor que só ela tem, explica que é uma superstição turca. “Nunca se deve entregar uma faca diretamente para outra pessoa. O certo é colocá-la na mesa, e a outra pessoa a pega. Se for entregue diretamente, a pessoa deve cuspir nela para evitar brigas futuras.”Rimos juntas, mas logo nossa atenção é desviada pelo movimento na casa. Homens uniformizados entram carregando enormes buquês de flores do campo.— Deus! Essas flores custam uma fortuna nessa época do ano! — digo, com os olhos arregalados.— Tudo isso é para os preparativos do Ano Novo? — pergunto, sentindo uma ansiedade crescente. Quantas pessoas estarão nesta festa?— Sim, mas não se preocupe. Está tudo sob controle. Elma, nossa governanta, organiza tudo todos os anos. Que tal descansa
Restaram-me duas alternativas: ou ele era um homem decente, que não quis se aproveitar de mim naquele estado, ou simplesmente não me achou atraente.Deus! Que loucura.Sinto uma mistura de culpa e vazio. Culpa por desejar tanto alguém que mal conheço, e vazio porque o cara era... perfeito. Lindo de um jeito quase perigoso. Era exatamente o tipo de homem pelo qual eu me entregaria sem hesitar.Minha mãe sempre dizia: “Filha, controle-se! Nada de passar dos beijinhos e amassos.” Mas sejamos sinceros: com ele? Isso seria um desafio colossal. Claro, como a boa garota certinha que sou, eu o conheceria antes, talvez por dez encontros inteiros, mantendo tudo no limite.Dez encontros. Pimba!O pensamento faz meu corpo esquentar. É como se pegasse fogo só de lembrar daquele estranho.A memória vem viva na minha mente: que bumbum! Que pernas firmes, ombros largos e aquele sorriso... Ah, aquele sorriso! Ele poderia derreter a pessoa mais racional do mundo.Dez encontros mesmo? Rio, sabendo que s
Ofego enquanto ele caminha lentamente na minha direção, cada passo dele ressoando no chão como o eco de um destino iminente. Sinto-me pequena, como uma presa encurralada diante de um predador implacável. Não, ele não é um urso... É um leão, imponente, de olhos cravados na caça, com presas afiadas prontas para dilacerar.Ele para à minha frente, tão próximo que sinto o calor de sua presença avassaladora. Seu rosto sério e respiração pesada me atingem como uma onda, e o silêncio entre nós é sufocante, tão denso que parece roubar o ar dos meus pulmões. Meu coração, já disparado, tropeça em desespero quando ele avança um passo, aproximando-se como quem tem o controle absoluto da situação. Instintivamente, recuo, minhas costas se chocando contra a porta.O sorriso que surge em seus lábios não é acolhedor; é frio, predatório. Seus olhos, gélidos e fixos nos meus, carregam uma intensidade que me faz estremecer. Ele inclina o rosto, invadindo o espaço que restava entre nós. Meu coração dá um
A ironia me atinge em cheio, e eu não consigo evitar o riso que escapa, mesmo sabendo que estou provocando um vulcão prestes a entrar em erupção. A veia pulsando em seu pescoço é um aviso, mas não consigo me conter.— Diferente? Eu poderia ser uma ladra. Poderia me fazer de frágil e ter te drogado com um "boa noite, Cinderela". Qual é a diferença agora, hein? Senhor sabe tudo! Sabichão!A expressão dele vacila por um segundo, como se minha provocação tivesse atingido um ponto cego. Ele me olha, sem reação, e a satisfação triunfante que sinto é inebriante.Pontos para mim!Por um breve momento, ele parece perdido em seus próprios pensamentos. Mas então, seu olhar endurece, e a confiança retorna como uma tempestade.— Eu sabia que você não era assim. Eu sei ler as pessoas.O sorriso que surge nos meus lábios é desafiador.— Então estamos empatados. Eu sabia que você era apenas um cara no bar querendo se divertir. E não aconteceu nada, não é mesmo?Minhas palavras parecem acertar o orgul
OkanQuando ela sai, deixa seu perfume. O mesmo que me embriagou no dia em que a levei ao hotel. Esse aroma me persegue, impregnando minha memória olfativa, uma tatuagem invisível que me enlouquece.Eu a desejo como nunca desejei ninguém. Preciso possuí-la, antes que esse desejo se transforme em uma obsessão insuportável. Enquanto não saciar o fogo que ela acendeu em mim, não terei paz.Quero senti-la em meus braços, seus lábios provocantes trêmulos junto ao meu pescoço, sua respiração ofegante enchendo meus ouvidos, os gemidos denunciando sua rendição. Quero que ela se entregue, inteiramente, dominada por mim.Será como uma despedida de solteiro, uma última loucura antes de me regenerar. Allah, como preciso disso!Mas a imagem dela se afastando ecoa na minha mente, me queimando de raiva. Tento me controlar, respiro fundo. Calma!, ordeno a mim mesmo. Mulheres como ela adoram essa dança de poder, o jogo do homem obstinado que não desiste.Ah, elas amam ser desejadas, cortejadas.Cabe a
O semblante de Okan endurece, e ele toma o uísque em um gole só, como se quisesse dissolver algo dentro de si.—Com você? —Ele diz demonstrando surpresa novamente. Seus olhos estreitados se voltam para mim e depois para ele novamente.—Sim, ficamos ensaiando hoje à tarde. Kayra aproveita o momento para segurar meu braço.— Dá uma licencinha, meu irmão. Vou levar Emily para apresentar aos tios.— Com sua licença. — Digo com uma leve mesura antes de me afastar com Kayra.Antes que nos distanciemos, lanço um último olhar para Okan e capto algo nos olhos dele — um brilho maquiavélico que me arrepia.— Amiga, o que foi aquilo? — Kayra pergunta entre risos, enquanto caminhamos. — Você nem parecia a garota insegura de hoje à tarde, quando falamos sobre você tocar piano.Dou de ombros, sorrindo.— É verdade, eu estava insegura. Mas tocar piano é como andar de bicicleta. Assim que toquei aquelas teclas, foi como acessar um arquivo antigo na minha memória e recuperar tudo o que aprendi.— Real
Okan se levanta com calma e esboça um sorriso discreto, desprovido de entusiasmo.— Vou orar. Ailem için, bize verdiği her şey için Allah'a teşekkür ederim. Kaçırdığımız hiçbir şey için. — Ele traduz sem cerimônia, com a voz firme: — Agradeço a Allah, por minha família, por tudo que Ele tem nos agraciado e por nada ter nos faltado.Eu abro um dos olhos, lançando um olhar avaliador para o senhorzinho. Sua expressão entrega um certo desagrado com a oração de Okan. Claramente, ele esperava algo mais tradicional, talvez um pedido por uma esposa piedosa que trouxesse felicidade ao jovem.Desvio minha atenção para Kayra, que também está de olho entreaberto, analisando o irmão. Ao lado, Ômer luta contra um sorriso que ameaça escapar. Quase me junto a ele na risada contida.Superado esse momento curioso, o jantar avança harmoniosamente para eles, enquanto, para mim, o ambiente permanece carregado. A tensão me faz parecer alheia, quase indiferente. Apesar da mesa farta de iguarias deliciosas,
Ele meneia a cabeça.—E nunca aconteceu de uma mulher flertar comigo, me deixar a mil com suas teias de sedução e depois me deixar do jeito que você me deixou. Isso não se faz com um homem. Lembre-se que eu insisti em te levar para casa, mas você não quis.Ele disse tudo com uma calma quase desconcertante. Suas palavras fluíram tranquilas, mas a ameaça nelas contida era inegável, como uma serpente enrolada, pronta para atacar. Eu senti o impacto. Era impossível não sentir.—Passou... o momento. — Digo, tentando soar firme, mas os lábios tremem, denunciando meu nervosismo. Meu coração está em completo descompasso, pulsando forte como se tentasse escapar do meu peito. A imagem de nós dois juntos, evocada por sua fala, invade minha mente, e é como se cada batida de meu coração ecoasse essa lembrança.Eu estremeço. Tento lutar contra a avalanche de sensações que me dominam, mas é inútil. Não consigo me blindar, não consigo ser fria como ele.Seus olhos, penetrantes e intensos, fixam-se no