O semblante de Okan endurece, e ele toma o uísque em um gole só, como se quisesse dissolver algo dentro de si.—Com você? —Ele diz demonstrando surpresa novamente. Seus olhos estreitados se voltam para mim e depois para ele novamente.—Sim, ficamos ensaiando hoje à tarde. Kayra aproveita o momento para segurar meu braço.— Dá uma licencinha, meu irmão. Vou levar Emily para apresentar aos tios.— Com sua licença. — Digo com uma leve mesura antes de me afastar com Kayra.Antes que nos distanciemos, lanço um último olhar para Okan e capto algo nos olhos dele — um brilho maquiavélico que me arrepia.— Amiga, o que foi aquilo? — Kayra pergunta entre risos, enquanto caminhamos. — Você nem parecia a garota insegura de hoje à tarde, quando falamos sobre você tocar piano.Dou de ombros, sorrindo.— É verdade, eu estava insegura. Mas tocar piano é como andar de bicicleta. Assim que toquei aquelas teclas, foi como acessar um arquivo antigo na minha memória e recuperar tudo o que aprendi.— Real
Okan se levanta com calma e esboça um sorriso discreto, desprovido de entusiasmo.— Vou orar. Ailem için, bize verdiği her şey için Allah'a teşekkür ederim. Kaçırdığımız hiçbir şey için. — Ele traduz sem cerimônia, com a voz firme: — Agradeço a Allah, por minha família, por tudo que Ele tem nos agraciado e por nada ter nos faltado.Eu abro um dos olhos, lançando um olhar avaliador para o senhorzinho. Sua expressão entrega um certo desagrado com a oração de Okan. Claramente, ele esperava algo mais tradicional, talvez um pedido por uma esposa piedosa que trouxesse felicidade ao jovem.Desvio minha atenção para Kayra, que também está de olho entreaberto, analisando o irmão. Ao lado, Ômer luta contra um sorriso que ameaça escapar. Quase me junto a ele na risada contida.Superado esse momento curioso, o jantar avança harmoniosamente para eles, enquanto, para mim, o ambiente permanece carregado. A tensão me faz parecer alheia, quase indiferente. Apesar da mesa farta de iguarias deliciosas,
Ele meneia a cabeça.—E nunca aconteceu de uma mulher flertar comigo, me deixar a mil com suas teias de sedução e depois me deixar do jeito que você me deixou. Isso não se faz com um homem. Lembre-se que eu insisti em te levar para casa, mas você não quis.Ele disse tudo com uma calma quase desconcertante. Suas palavras fluíram tranquilas, mas a ameaça nelas contida era inegável, como uma serpente enrolada, pronta para atacar. Eu senti o impacto. Era impossível não sentir.—Passou... o momento. — Digo, tentando soar firme, mas os lábios tremem, denunciando meu nervosismo. Meu coração está em completo descompasso, pulsando forte como se tentasse escapar do meu peito. A imagem de nós dois juntos, evocada por sua fala, invade minha mente, e é como se cada batida de meu coração ecoasse essa lembrança.Eu estremeço. Tento lutar contra a avalanche de sensações que me dominam, mas é inútil. Não consigo me blindar, não consigo ser fria como ele.Seus olhos, penetrantes e intensos, fixam-se no
EmilyOkan é uma tempestade que arrasa meu equilíbrio. Ele me desestabiliza de uma forma que odeio admitir. Será que vou pagar tão caro por um erro impensado?Antes de alcançar Kayra, Ômer surge ao meu lado, com seu sorriso fácil.—Venha, Emily. — Ele diz, colocando uma mão leve em minhas costas, guiando-me até seu tio. — Tio Mustafá, Emily é muito talentosa e toca lindamente o piano. Gostaríamos que o senhor a ouvisse.O homem sorri de maneira acolhedora.—Claro, por que não?Ômer me olha com expectativa, como se tivesse acabado de me colocar no centro do palco.—Emily, por favor, nos dê o prazer de ouvi-la! — Ele gesticula em direção ao piano, abrindo espaço para que eu avance.Os olhos do pai de Okan brilham quando se encontram com os meus. Ele se senta no sofá, rodeado por seus convidados, todos aguardando minha apresentação. O silêncio na sala parece crescer, quase palpável.Essa família tem a música no sangue. Isso é evidente.Respiro fundo, tentando controlar o nervosismo. Dou
—Okan, por que não toca para nós? — A voz de seu pai quebra o momento.O pedido faz meu corpo inteiro se arrepiar. A tensão na sala muda instantaneamente quando Okan me olha, seus olhos fixos, intensos. Há algo decidido naquele olhar que me faz prender a respiração.—Toco se Emily me acompanhar.Ofego levemente. A surpresa de sua proposta me deixa sem palavras. Sinto os olhares de todos os presentes voltarem-se para mim, aguardando minha resposta.Sem ensaio? Tocar com ele?Minha mente grita para eu dizer algo, qualquer coisa, mas minha voz parece ter sumido, presa em algum lugar dentro de mim. Acabo apenas acenando com a cabeça, incapaz de recusar. Seus olhos brilham com algo que não consigo decifrar, e um pequeno sorriso curvado aparece em seus lábios.—Posso ver as partituras? — Ele pede a Ômer.Ômer, sem hesitar, pega as folhas que eu e ele havíamos separado e as entrega a Okan. Ele folheia as partituras com cuidado, os olhos escaneando as opções até parar em uma. Seu sorriso se am
Ele inclina levemente a cabeça, os olhos ainda fixos nos meus. Há algo de insondável em seu olhar, como se estivesse me decifrando, me lendo de um jeito que ninguém jamais conseguiu. Então, ele finalmente fala, a voz baixa e rouca, carregada de algo que faz meu corpo inteiro arrepiar.— Você toca com a alma, Emily. Não é só música... É sentimento, vida. Isso não se aprende.Sinto meu rosto esquentar, o elogio me atingindo em cheio. Tento desviar o olhar, mas ele não permite. Sua presença é intensa demais, e aquele momento parece se alongar, como se o tempo tivesse decidido parar para nós.— Você me surpreendeu — continua ele, com uma sinceridade desarmante. — Cada nota, cada movimento... era como se eu pudesse sentir tudo o que você queria dizer.Meu coração dá um salto. Nunca ninguém havia falado comigo dessa forma.— Você tem uma força que esconde atrás desse sorriso tímido, mas... — Ele inclina levemente o rosto, como se quisesse examinar cada detalhe meu. — ...quando está no piano
—Pessoal, dois minutos para a meia-noite. —Kayra anuncia, sua voz ecoando pelo salão e me arrancando de meus pensamentos.Eu pisco, aturdida. Deus! Preciso me afastar dele o mais rápido possível.Com esse pensamento martelando na mente, levanto-me da banqueta apressadamente, o coração martelando no peito. Okan, com a calma que lhe é peculiar, faz o mesmo. Pela visão periférica, percebo quando ele ajusta o terno caro e desliza o anel de sinete no dedo mindinho da mão direita, como se marcasse sua presença com um gesto silencioso.Os empregados entram no ambiente, impecáveis, servindo champanhe em taças reluzentes. Um deles manipula o controle remoto, afastando as cortinas pesadas. As portas de vidro que levam à varanda se abrem em um movimento fluido, revelando o céu estrelado e o frio da noite. Kayra se aproxima, me pega pelo braço e sorri, puxando-me com energia contagiante.—Vem!De repente, todas as luzes da mansão são apagadas, e a excitação no ar é palpável. Kayra e Ômer iniciam a
Ele continua sorrindo, um brilho despreocupado nos olhos.—Ainda sigo alguns costumes, mas, em relação a relacionamentos, sou livre. Embora saiba que meu pai adoraria me ver casado com uma mulher do meu povo, não é uma exigência como acontece em algumas famílias por aqui.Uma inquietação se instala em mim. Minhas palavras escapam com uma naturalidade forçada:—E se Okan gostar de alguém de fora? —Minha voz soa calma, mas meu coração martela no peito.Ômer ri, um som grave e ligeiramente amargo.—Ir contra os costumes? Eles se enraízam na gente como raízes em terra firme. Rompê-los não é só difícil, é devastador. Desestrutura a família, cria um dramalhão digno de novela e ainda traz os dramas de consciência. Você já reparou no meu tio? Ele está com sérios problemas de saúde. Okan jamais o desagradaria.—Kayra mencionou. Ele tem problemas cardíacos, certo? —Pergunto, sentindo uma onda de empatia por aquele homem que mal conheço.—Sim, insuficiência cardíaca.—Que triste.Ômer balança a