Ele inclina levemente a cabeça, os olhos ainda fixos nos meus. Há algo de insondável em seu olhar, como se estivesse me decifrando, me lendo de um jeito que ninguém jamais conseguiu. Então, ele finalmente fala, a voz baixa e rouca, carregada de algo que faz meu corpo inteiro arrepiar.— Você toca com a alma, Emily. Não é só música... É sentimento, vida. Isso não se aprende.Sinto meu rosto esquentar, o elogio me atingindo em cheio. Tento desviar o olhar, mas ele não permite. Sua presença é intensa demais, e aquele momento parece se alongar, como se o tempo tivesse decidido parar para nós.— Você me surpreendeu — continua ele, com uma sinceridade desarmante. — Cada nota, cada movimento... era como se eu pudesse sentir tudo o que você queria dizer.Meu coração dá um salto. Nunca ninguém havia falado comigo dessa forma.— Você tem uma força que esconde atrás desse sorriso tímido, mas... — Ele inclina levemente o rosto, como se quisesse examinar cada detalhe meu. — ...quando está no piano
—Pessoal, dois minutos para a meia-noite. —Kayra anuncia, sua voz ecoando pelo salão e me arrancando de meus pensamentos.Eu pisco, aturdida. Deus! Preciso me afastar dele o mais rápido possível.Com esse pensamento martelando na mente, levanto-me da banqueta apressadamente, o coração martelando no peito. Okan, com a calma que lhe é peculiar, faz o mesmo. Pela visão periférica, percebo quando ele ajusta o terno caro e desliza o anel de sinete no dedo mindinho da mão direita, como se marcasse sua presença com um gesto silencioso.Os empregados entram no ambiente, impecáveis, servindo champanhe em taças reluzentes. Um deles manipula o controle remoto, afastando as cortinas pesadas. As portas de vidro que levam à varanda se abrem em um movimento fluido, revelando o céu estrelado e o frio da noite. Kayra se aproxima, me pega pelo braço e sorri, puxando-me com energia contagiante.—Vem!De repente, todas as luzes da mansão são apagadas, e a excitação no ar é palpável. Kayra e Ômer iniciam a
Ele continua sorrindo, um brilho despreocupado nos olhos.—Ainda sigo alguns costumes, mas, em relação a relacionamentos, sou livre. Embora saiba que meu pai adoraria me ver casado com uma mulher do meu povo, não é uma exigência como acontece em algumas famílias por aqui.Uma inquietação se instala em mim. Minhas palavras escapam com uma naturalidade forçada:—E se Okan gostar de alguém de fora? —Minha voz soa calma, mas meu coração martela no peito.Ômer ri, um som grave e ligeiramente amargo.—Ir contra os costumes? Eles se enraízam na gente como raízes em terra firme. Rompê-los não é só difícil, é devastador. Desestrutura a família, cria um dramalhão digno de novela e ainda traz os dramas de consciência. Você já reparou no meu tio? Ele está com sérios problemas de saúde. Okan jamais o desagradaria.—Kayra mencionou. Ele tem problemas cardíacos, certo? —Pergunto, sentindo uma onda de empatia por aquele homem que mal conheço.—Sim, insuficiência cardíaca.—Que triste.Ômer balança a
EmilyNo mínimo, ele está julgando que eu não sou boa o suficiente para ser amiga da irmã dele. E mais, é evidente que está louco para que eu seja sua sobremesa, apenas para me descartar depois como se eu fosse qualquer uma.Meus olhos encontram os dele, desafiadores, como se gritassem silenciosamente: "Buuuuu! Não tenho medo de cara feia. Pode me olhar assim o quanto quiser." Ele que tire da cabeça a ideia de que me retirarei deste lugar apenas porque assim deseja. Se for para sair, será por minha própria vontade, e não para satisfazer a dele.— Boa noite, amiga! — Sorrio para Kayra, com suavidade.— Boa noite. — Ela me retribui com um beijo carinhoso antes de se dirigir ao pai.— Já vai deitar? — pergunta Ômer, aproximando-se de nós.— Sim, até amanhã. Foi maravilhoso tocar com você.— Você que é encantadora. E que voz linda você tem.— Obrigada. — Respondo, quase sem perceber que estou piscando os cílios para ele.— Ômer! — Um senhorzinho o chama ao longe.Ele se afasta, mas não se
Eu ofego, minhas defesas quase desmoronando.— E você está aqui para me intimidar? — Tento enfrentá-lo, mas sua expressão muda, os olhos brilhando perigosamente. — O que foi? Por... que você está... me olhando desse jeito? — Minha voz gagueja enquanto ele ergue a mão, deslizando os dedos pelo meu braço.— Pare de me olhar assim. Você... está me assustando.— Por que ficou, Emily? Foi para me desafiar? Ou para me atormentar?Sua pergunta me deixa nervosa e sem palavras. A intensidade no olhar dele me prende no lugar, e sinto que o verdadeiro confronto está apenas começando.Eu deveria ter negado o convite de Kayra, mas como eu ia adivinhar que ele levaria a chave da porta do quarto?Ele se aproveita do meu momento no vácuo, e seus braços me tomam e me cercam. Um arrepio percorre meu corpo, deixando-me completamente sem reação. Quando sinto o calor dele ao meu redor, seu cheiro maravilhoso me envolve, e eu fecho os olhos, permitindo-me um instante de rendição. Parece que seus braços são
Ele ri, inclinando a cabeça para o lado, enquanto seus lábios tremem com a intensidade das palavras que estão por vir.— Eu? E você? Não está sentindo o que está acontecendo conosco? Você quer que eu esqueça aquele dia depois de tê-la nos meus braços, seu cheiro impregnado no meu nariz, a maciez de sua pele em contato com minhas mãos, sua imagem seminua na minha cama? Allah! Ainda que eu me esforce, não consigo aplacar meu desejo. Só se eu mergulhar em um lago gelado e meu corpo ficar dormente, mas eu correria o risco de morrer congelado. Você sabe que é impossível o que me pede.Eu abro minha boca para falar, mas as palavras não chegam. Deus! Ele falando assim me desnorteia, desarma, deixa-me vulnerável como uma folha ao vento.Ele sorri, lento, vitorioso, ao ler minha expressão que denuncia tudo o que eu tento esconder.— Você sabe que estou certo... Se eu não te tiver agora, a sensação que tenho é que seguirei minha vida olhando para trás. Você precisa me libertar disso. Você me de
Quando ele finalmente se vira e caminha até a porta, a tensão que me sufoca começa a se dissipar. Ele gira a chave nafechadura, abre a porta e olha para o corredor antes de sair. Quando a porta se fecha, a tensão dentro de mim se dissolve em ondas de alívio e exaustão. Ofegante, deixo meu corpo cair pesadamente sobre a cama.Passo a mão pelos olhos enquanto suas últimas palavras dançam em minha mente. Preciso tomar cuidado, manter o distanciamento e, acima de tudo, não me deixar envolver por ele. Se eu ceder, de luxúria terei um coração partido. Deus! Nunca conheci um homem como Okan.Seus encantos e persuasão me desafiam a todo momento. Mas sua cultura, seu machismo e seus julgamentos criam um abismo intransponível entre nós. Mesmo assim, a intensidade de sua presença me faz questionar minha força. Determinada, levanto-me da cama e começo a me preparar. Retiro o colar e os brincos, guardando-os no fundo da mala como se quisesse trancar junto as lembranças dessa noite tumultuada.Vis
No dia seguinte, acordo com um calafrio que atravessa minha espinha. A sensação de bem-estar, envolta nas cobertas macias e cheirosas, dissipou-se por completo. O quarto está gelado, e meu corpo, encolhido, parece implorar por calor. Levanto-me devagar, ainda meio sonolenta, e procuro apressadamente por roupas mais quentes na mala. Troco-me rápido, tentando afastar o incômodo frio que parece grudar na pele.Antes de sair do banheiro, paro em frente ao espelho. Meu reflexo encara-me com determinação. Carrego um pouco mais na sombra dos olhos, como fiz na véspera de Ano Novo. Quero passar a imagem de uma mulher segura e madura, que sabe o que quer — não de uma garotinha que pode ser manipulada ao bel-prazer de alguém.De volta ao quarto, a porta se abre de repente, como se soubesse que eu estava pronta. Okan entra, com aquele sorriso que oscila entre a arrogância e o charme. Ele tranca a porta com a chave, um gesto calculado para me lembrar de sua autoridade. Ele retira a chave do lugar