BeatrizCom os olhos fixos nas telas, vejo cada ângulo da boate. A iluminação intermitente e a música alta não me distraem; meu foco está totalmente nos movimentos de Lua, Luana, Robert e Rodrigo. Eles estão perfeitamente no papel, rindo, brincando e agindo exatamente como adolescentes deslumbrados pela atmosfera proibida de um lugar como esse.No canto da tela, vejo os dois aliciadores se aproximarem mais uma vez. Os homens falam algo, gesticulando casualmente, enquanto piscam o olho para Lua e Luana. É o momento que esperávamos. Aperto os fones de ouvido e escuto o diálogo filtrado pelos microfones escondidos.— Qualquer coisa, me liguem, tá? Tem muita oportunidade pra garotas lindas como vocês, — diz um deles, com um sorriso falso e condescendente.Lua finge um riso nervoso e olha para Luana, que interpreta perfeitamente o papel de uma menina insegura, mas curiosa.— Obrigada! Vamos pensar — responde Lua, girando o cartão entre os dedos.Assim que os aliciadores se afastam, os quat
JohnTudo começa de forma casual, quase despretensiosa. Estamos na sala de estar, quando Giulia, com aquele jeito calculado que só ela tem, sugere que Maria faça algo para se movimentar, aliviar o estresse. A ideia de uma aula de Pilates surge como um lampejo e, antes que eu possa processar, Maria, com sua inocência desarmante, transforma a sugestão em um convite coletivo.— Por que não chamamos todos? — ela diz, o rosto iluminado de entusiasmo. — Os empregados, os soldados... Todo mundo pode participar!Há um instante de silêncio. A proposta dela é tão fora do comum que até os seguranças, espalhados pela casa, trocam olhares hesitantes, como se não tivessem certeza se ouviram direito. Giulia, no entanto, sorri de canto, aquele sorriso que mistura autoridade e um toque de diversão.— Por mim, tudo bem. Mas terá que ser em turmas. Não podemos deixar a segurança vulnerável.O murmúrio de aprovação é instantâneo, e Maria, sempre prática, já começa a organizar as coisas. Ela não percebe
FelipeA manhã começa preguiçosa e tranquila. Decidimos aproveitar o último dia antes de arrumar as malas relaxando na piscina do hotel. A água está morna e cristalina, e o sol brilha intensamente, mas uma brisa suave ameniza o calor. Vívian está usando um biquíni branco que contrasta lindamente com a pele dela bem bronzeada, e eu não consigo desviar o olhar.— O que foi? — ela pergunta, percebendo o meu olhar.— Só estou admirando a paisagem.Ela revira os olhos, mas um sorriso se forma nos lábios.— Você tem resposta para tudo, não é?— Só para você.Ela ri e me puxa pela mão para a água. Nadamos, rimos e brincamos como se o mundo fosse só nosso. Às vezes, eu me pego pensando em como a vida seria sem ela, e a única conclusão que consigo alcançar é que seria incompleta.Depois de um tempo, decidimos almoçar no restaurante do hotel. A refeição é simples, mas deliciosa: peixes frescos, salada e suco de frutas tropicais. Conversamos sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo, apenas aprovei
GiuliaA luz fraca do abajur no canto do quarto lança sombras inquietas sobre as paredes. Estou sozinha, mas não exatamente. Ele chega sem fazer barulho, como sempre. Não há espaço para formalidades ou hesitação. Com um movimento rápido, ele fecha a porta e me entrega um envelope pardo grosso, pesado. Sei que o que está dentro dele pode mudar tudo.Ele é um homem de minha inteira confiança, um fantasma na estrutura da máfia. Desconhecido até para Gian e Felipe, ele trabalha fora do radar, entregando verdades que ninguém mais pode trazer. Suas mãos calejadas e olhar vazio dizem mais do que palavras. Não faço perguntas; ele também não. Apenas me sento e começo a ler.O primeiro relatório é sobre Felipe e Vivian. As páginas detalham o que eu já esperava, passeios tranquilos, mensagens cheias de entusiasmo e o brilho natural do início de uma lua de mel. Há transcrições de conversas, fotos de momentos íntimos cheios de amor e até mesmo registros das mensagens que trocam. Nada suspeito. Exc
Cesare VassaloNo silêncio da madrugada, enquanto o mundo lá fora repousa em uma falsa sensação de segurança, eu permaneço desperto. Meu mundo não conhece descanso. Aqui, não há espaço para fraqueza. A máfia não perdoa os despreparados, e eu sou a prova viva de que sobreviver é uma arte cruel.Diante do público, sou Cesare Vassalo, magnata de uma das maiores empreiteiras do Brasil, um homem de negócios impecável e dono de um império. Mas nas sombras, sou o estrategista implacável, o arquiteto de cada movimento no tabuleiro da máfia. Minhas mãos são de ferro, e meu coração, uma fortaleza. O destino me moldou para liderar, mas não sem antes me testar de todas as formas possíveis.Parte dessa provação foi Giulia. Ah, Giulia... Quando me forçaram a me casar, encarei o matrimônio como uma negociação, um acordo entre famílias que perpetuava o poder. As mulheres, para mim, eram ferramentas úteis, nada mais. Porém, naquele altar, ao levantar o véu de Giulia, o que vi não foi fragilidade, mas u
RafaelOs números nunca mentem, mas as pessoas, sim. E é nisso que reside minha vantagem. Aqui, no laboratório, eu sou o único com a visão completa do jogo. O silêncio ao meu redor é apenas uma fachada, sob ele, há uma complexa teia de segredos que se entrelaçam com cada experimento, cada fórmula, cada decisão.Enquanto ajusto os parâmetros do espectrômetro, minha mente viaja para além dos dados e dos reagentes. Contratar Beatriz foi um movimento estratégico, como mover um peão no tabuleiro. Jovem, recém-formada, idealista, sem vícios de mercado. Um vaso vazio esperando ser preenchido com aquilo que eu escolher.Ela chega amanhã. Seus olhos provavelmente brilharão diante dos equipamentos de última geração e da estrutura impecável deste lugar. Mal saberá que, por trás de cada detalhe cuidadosamente projetado, há um mundo oculto que ela jamais poderá acessar.Beatriz vai trabalhar aqui comigo, esse laboratório é a personificação de uma pesquisa legítima. Equipamentos de ponta, a document
BeatrizATENÇÃO SENHORES PASSAGEIROS ÚLTIMA CHAMADA PARA O VOO 1429 COM DESTINO A BRASÍLIA EMBARQUE NO PORTÃO SETE. É agora, um dos momentos mais importantes da minha vida, respiro fundo e caminho puxando a minha mala, repleta com os meus pertences, alguns sonhos não vividos, a frustração de um de amor frustrado, a maior ilusão de toda a minha vida. De cabeça erguida, sigo em direção ao portão de embarque rumo ao meu novo destino, foi por mérito ter conseguido esse emprego de auxiliar de biomédico em outra cidade logo após a minha formatura, essa colocação veio na hora exata! Mesmo diante de um dia lindo e ensolarado, sentindo a brisa fresca da manhã acariciando o meu rosto, sabia que a vida estava me presenteando com essa nova oportunidade, e mesmo assim, o meu pensamento vagava longe, muito próximo a minha dor.Não sou aquele tipo de pessoa que fica se martirizando, ou que se faz de coitada para ter a piedade alheia, mas a dor que sinto é tão profunda que as vezes me apego a ilus
BeatrizA turbulência no meu peito era muito maior do que qualquer sacolejo que o avião pudesse causar. O mundo lá fora parecia calmo, o céu sem nuvens refletindo uma tranquilidade que eu não sentia por dentro. Estava prestes a começar uma nova fase da minha vida, mas os fantasmas do passado insistiam em me acompanhar. Não era apenas o peso de um novo desafio profissional. Era algo mais profundo, algo que eu não conseguia nomear, mas que apertava meu peito com força a cada respiração.Enquanto o avião sobrevoava, tentei desviar meus pensamentos para o futuro. A pesquisa sobre a contaminação da água era essencial, não só para a preservação dos lençois freáticos, mas também para proteger o direito básico de populações vulneráveis, como os povos originários e quilombolas. Essa missão me motivava profundamente, e eu sabia que o Dr. Rafael Antonelli, o renomado cientista com quem trabalharia, era conhecido por sua seriedade e humanidade. A ansiedade para começar meu trabalho era tão grande