— Não é que ela e o Gabriel sejam diferentes. É que ela e eu somos diferentes. Ela é santa, intocável, perfeita. É a sua mulher. E eu? Eu não sou nada. Não deveria competir com a Daphne. Não deveria me defender, nem lutar, nem questionar. Deveria abaixar a cabeça, aceitar meu destino, pedir desculpas por existir. É isso, não é, tio Lucian? Você já pensou no que acontece quando eu simplesmente aceito? Você acha que vão me deixar em paz? Então o que eu devo fazer? Me matar? — Florence disparou cada palavra como se fosse uma lâmina, cortando qualquer resquício de apatia no ar.Quando terminou, soltou uma risada amarga, como se a ironia fosse sua última companhia. Levantou a mão ferida e a balançou levemente diante de Lucian.— Faltaram só alguns milímetros para cortar o nervo. Você está decepcionado, não está? Se minha mão ficasse inutilizada, a Daphne seria a única representante da escola na competição. A mídia cairia em cima de mim, dizendo que tudo foi culpa minha, que eu mereci. O vov
Florence se acalmou por um momento, depois se aproximou da única policial em quem podia confiar.— Por favor...— Certo. — Respondeu a policial, assentindo com a cabeça.Depois de explicar tudo o que precisava, Florence finalmente sentiu um alívio, como se um peso tivesse saído de seus ombros. Para não complicar a situação da policial, ela respirou fundo e disse com serenidade:— Já falei tudo o que precisava. Não quero colocar você em uma posição difícil, faça o que achar que deve ser feito comigo.A policial, que sempre tinha tratado Florence com respeito, hesitou. Florence, por sua vez, sentiu culpa ao imaginar que ela poderia ter problemas com Lucian por sua causa. Por isso, sem resistência, ergueu as mãos algemadas, pronta para cooperar.A policial olhou para ela com certa hesitação, mas logo soltou uma risada breve:— Sabe... Na verdade...Ela começou a falar, mas as palavras morreram em seus lábios. Depois de um instante de silêncio, deu um sorriso enigmático e acrescentou:— Vo
― Srta. Florence, como advogado, devo dizer com toda a responsabilidade que este é o melhor desfecho para você. Magnus falou com leveza, como se tivesse certeza de que uma mulher sem apoio, como Florence, só pudesse aceitar o destino. Florence fechou o discurso que segurava e ergueu o olhar, fixando-o em Dr. Magnus sem dizer uma palavra. Sob aquele olhar límpido, Magnus sentiu-se, pela primeira vez em tempos, um tanto inseguro. ― Srta. Florence, por que está me olhando assim? ― Dr. Magnus, se bem me lembro, foi ajudando pessoas pobres sem cobrar que você acabou sendo perseguido e, por conta disso, ganhou o reconhecimento da família Avery, não foi? A voz de Florence era calma, quase casual, mas as palavras atingiram Magnus como um golpe inesperado. Ele ficou surpreso. Aquela história era conhecida apenas por Lucian e Theo. Como ela sabia disso? Porém, sendo um advogado experiente e acostumado a situações difíceis, Magnus rapidamente recuperou a compostura. ― E daí? ― E
Lucian não disse nada. Lançou um olhar para trás de Florence, e sua expressão tornou-se ainda mais fria, quase glacial, como se dissesse claramente que ninguém deveria se aproximar.Por dentro, Florence soltou um riso sarcástico. Esse era o Lucian que ela conhecia.Nesse momento, uma voz firme e carregada de autoridade surgiu atrás dela. Era Theo.— Florence, vai ficar parada aí até quando? Está todo mundo esperando por você.Florence virou-se e viu que, logo atrás de Theo, estavam Lyra e Bryan.Normalmente, aqueles dois jamais teriam importância suficiente para ocupar um lugar tão central. Mas, pelo visto, Theo estava mais preocupado com a possibilidade de Florence mudar de ideia e se recusar a subir no palco.— Flor… — Bryan, com o rosto sombrio, deu um passo à frente, como se quisesse protegê-la.Florence rapidamente balançou a cabeça, interrompendo-o:— Tio, fique ao lado da minha mãe. É o suficiente.Sob o olhar de advertência de Theo, Florence subiu ao palco.Lá embaixo, Gabriel,
João ficou paralisado por um instante. Em seguida, apontou nervosamente para a tela:— E daí? Isso só prova que foi a Florence quem me deu informações falsas para eu acusar Daphne!As pessoas ao redor começaram a murmurar em concordância.Mas Florence, mantendo a calma, lançou um olhar frio para Daphne e perguntou:— Daphne, quem entregou essas informações para os jornalistas, afinal? Você não sabe? Não tem nada a dizer?Daphne hesitou por um momento, mas logo respondeu, apressada:— O que isso tem a ver comigo? Não fui eu!Florence fixou os olhos nela, com um tom afiado:— Eu disse que tinha algo a ver com você? Só perguntei por que, naquele dia, no escritório do diretor, já esclareci tudo. Então por que, quando os jornalistas e os fãs começaram a me atacar, você não explicou nada?— Eu... Eu... — Daphne gaguejou, incapaz de responder, e decidiu apelar para o choro.Florence suspirou com falsa compaixão:— Daphne, não chore. Parece até que eu estou te maltratando. Que tal você me ajud
A tranquilidade de Florence surpreendeu a todos. Aquela que sempre foi a pessoa mais insignificante da família Avery agora não era mais submissa, nem falava com a cabeça baixa.Ela estava ali, de pé, no palco, enfrentando tudo e todos por si mesma. Seus olhos, claros e firmes, passaram por Lucian, que mantinha seu semblante frio e perigoso, mas dessa vez ela não demonstrou nem uma sombra de hesitação.Com a reviravolta da situação, todas as câmeras se voltaram para João e Daphne.João sentiu o chão sumir sob seus pés e, instintivamente, olhou para Daphne em busca de ajuda. Ela franziu levemente as sobrancelhas e, discreta, lançou-lhe um olhar significativo.João então levantou a voz, tentando rebater:— Florence, só porque eu te fiz algumas perguntas, você acha que pode me acusar de conspirar com a Daphne?Daphne, com os olhos ligeiramente vermelhos, assumiu um tom dócil:— Flor, eu sei que o colégio ter me dado a vaga na competição te deixou magoada, e eu entendo. Só queria um pedido
Os olhares cheios de desconfiança ao redor quase engoliam Daphne. Se ela não apresentasse uma justificativa convincente, toda a imagem que tanto lutara para construir desmoronaria em poucos segundos.Daphne apertou os lábios, e um brilho calculista passou por seus olhos. Com a voz doce, mas carregada de insinuações, ela disse:— Flor, será que você não está esquecendo do que estamos falando? O assunto aqui é você ter incentivado outras pessoas a me prejudicarem. Eu te dei a oportunidade de subir aqui e pedir desculpas justamente para resolvermos isso de forma amigável. Só assim você sai daqui sem problemas.Agora, a falsa vulnerabilidade de Daphne não surtia mais efeito. Então, ela partiu para a ameaça.Mas, mais uma vez, ela havia subestimado Florence.Florence virou-se para a policial com um olhar tranquilo, e a mulher fardada tomou a palavra.— Daphne, investigamos o homem que tentou te atacar. Ele não tem antecedentes criminais, apenas uma filha doente que precisava de dinheiro par
— Agradeço ao meu avô Theo. Foi ele que acreditou na minha inocência e organizou esta coletiva de imprensa para mim. Embora eu não tenha laços de sangue com a família Avery, eles sempre me trataram como se eu fosse uma deles. Nunca fariam nada para me prejudicar. Muito obrigada, de verdade.Florence se inclinou profundamente diante de Theo, demonstrando sua gratidão.Theo, mesmo com toda a raiva que sentia, não conseguiu dizer nada. Limitou-se a dar um sorriso forçado e acenar para os presentes, mantendo a compostura diante da situação. Não havia dúvidas de que aquela jogada havia sido a mais eficaz para dissipar a crise de reputação que rondava a família Avery.Quando a coletiva chegou ao fim, Florence apressou o passo para alcançar a policial que se retirava discretamente. Com um olhar cheio de gratidão, ela disse:— Obrigada. Se não fosse por você e pelas provas contra Gabriel, eu já estaria...Antes que Florence pudesse terminar, a policial fez um gesto para que seus colegas levass