Os olhares cheios de desconfiança ao redor quase engoliam Daphne. Se ela não apresentasse uma justificativa convincente, toda a imagem que tanto lutara para construir desmoronaria em poucos segundos.Daphne apertou os lábios, e um brilho calculista passou por seus olhos. Com a voz doce, mas carregada de insinuações, ela disse:— Flor, será que você não está esquecendo do que estamos falando? O assunto aqui é você ter incentivado outras pessoas a me prejudicarem. Eu te dei a oportunidade de subir aqui e pedir desculpas justamente para resolvermos isso de forma amigável. Só assim você sai daqui sem problemas.Agora, a falsa vulnerabilidade de Daphne não surtia mais efeito. Então, ela partiu para a ameaça.Mas, mais uma vez, ela havia subestimado Florence.Florence virou-se para a policial com um olhar tranquilo, e a mulher fardada tomou a palavra.— Daphne, investigamos o homem que tentou te atacar. Ele não tem antecedentes criminais, apenas uma filha doente que precisava de dinheiro par
— Agradeço ao meu avô Theo. Foi ele que acreditou na minha inocência e organizou esta coletiva de imprensa para mim. Embora eu não tenha laços de sangue com a família Avery, eles sempre me trataram como se eu fosse uma deles. Nunca fariam nada para me prejudicar. Muito obrigada, de verdade.Florence se inclinou profundamente diante de Theo, demonstrando sua gratidão.Theo, mesmo com toda a raiva que sentia, não conseguiu dizer nada. Limitou-se a dar um sorriso forçado e acenar para os presentes, mantendo a compostura diante da situação. Não havia dúvidas de que aquela jogada havia sido a mais eficaz para dissipar a crise de reputação que rondava a família Avery.Quando a coletiva chegou ao fim, Florence apressou o passo para alcançar a policial que se retirava discretamente. Com um olhar cheio de gratidão, ela disse:— Obrigada. Se não fosse por você e pelas provas contra Gabriel, eu já estaria...Antes que Florence pudesse terminar, a policial fez um gesto para que seus colegas levass
Daphne se assustou. Quando Lucian levantou a mão, ela tentou pegar o pen drive, mas acabou deixando-o cair no chão, e, por fim, sem querer, pisou em cima dele com o salto, quebrando-o.Com uma expressão de culpa, Daphne tentou se justificar:— Me desculpa, Lucian... Eu não fiz por mal. Só queria pegar para você.Florence olhou para os pedaços quebrados do pen drive no chão. Sem dizer uma palavra, virou-se e saiu. O conteúdo do pen drive não importava. O que realmente valia era a reação de Daphne. Ela havia demonstrado sua culpa para todos ali, e isso era o suficiente.Ao sair do salão, Lyra a alcançou, passos apressados.— Você enlouqueceu, Florence? Como pôde entregar a prova para Daphne? — Perguntou Lyra, indignada.— Mãe, você realmente acha que nós duas conseguiríamos proteger essas provas? — Respondeu Florence, lançando-lhe um olhar firme.— Por que então você não tocou o áudio na hora? Todos teriam visto a verdadeira face de Daphne!— E o que aconteceria depois? Você acha que ai
Florence despertou novamente em um quarto de hospital. Seus olhos se moviam lentamente, mas a mente ainda estava enevoada. Apesar disso, conseguia ouvir vozes próximas à sua cama.— E então? — Perguntou uma voz masculina, grave, familiar e tingida com um tom perigoso.— Sr. Lucian, a paciente está fora de perigo. Eu coloco minha carreira em jogo: a recuperação da mão dela será completa. — Respondeu outro homem, em tom profissional.Mão? A palavra ecoou na mente de Florence, despertando-a de vez. Seus olhos entreabertos focalizaram a plaquinha no jaleco branco do médico ao seu lado: [Dr. Gustavo Barros – Chefe de Neurologia.] Aquele nome... Parecia tão familiar... De repente, ela se lembrou. Na vida passada, Daphne havia se cortado levemente na mão enquanto cozinhava. Lucian, desesperado, mandou chamar o melhor neurologista da cidade — o mesmo Dr. Gustavo — para tratar o que era apenas um ferimento superficial. Naquele mesmo dia, Florence teve a oportunidade da sua vida: apresen
Ao voltar para a universidade, Florence empurrou a porta do dormitório e encontrou o quarto vazio. Parecia que as colegas haviam saído para entrevistas, algo que comentaram no grupo de mensagens. Ela abriu o armário e começou a vasculhar suas coisas, mas, antes de pegar o que queria, uma voz soou atrás dela: — Flor. Florence parou o movimento e, ao se virar, viu Rosana correndo em sua direção. Antes que Florence pudesse reagir, Rosana começou a se dar tapas no próprio rosto. — Flor, me desculpa! Tudo isso foi culpa minha! Eu estava desesperada por dinheiro, e o João disse que seria algo simples, só postar umas coisas na internet usando sua conta. Eu acreditei! Você sabe como minha mãe sempre diz que pagar minha faculdade é um desperdício. Foi por isso que eu fiz isso! Por favor, tenha pena de mim! Enquanto falava, Rosana continuava a se bater, tentando arrancar alguma comoção de Florence. Seus olhos marejados e palavras carregadas de culpa buscavam manipular a situação. Flo
Florence nem precisou se virar para saber quem era. O café em suas mãos escorregou, e a lata rolou pelo chão.A lata fez um círculo antes de parar aos pés de um par de sapatos masculinos impecáveis.Florence se abaixou rapidamente para pegá-la, mas antes que pudesse, sentiu mãos frias e firmes deslizando sobre sua cintura. Era como uma serpente gelada que apertava cada vez mais, prendendo-a contra a mesa de café. O calor de uma respiração foi se espalhando da sua cabeça até seu ouvido, deixando-a confusa e sem ar.Os lábios dele quase tocaram sua orelha quando uma voz baixa e carregada de ironia cortou o silêncio:— Você gosta mesmo de segurar a mão de alguém assim?O ar quente que ele soltava parecia uma pluma roçando sua orelha, provocando uma coceira incômoda e íntima. Florence queria se afastar, mas qualquer movimento era interrompido pela presença dominante e opressora atrás dela, que a subjugava ainda mais.A proximidade era sufocante. O calor do corpo dele parecia atravessar a
Bastava um toque para que ela sentisse como se uma corrente elétrica atravessasse seu corpo, causando tremores incontroláveis.Lucian percebeu isso. Seu olhar se tornou mais intenso enquanto ele se inclinava levemente na direção dela. Uma gota de água escorreu de sua gola e caiu direto em sua barriga, fazendo Florence tremer ainda mais.Lucian encarou Florence sem desviar os olhos. Nos fundos de suas íris escuras, o desejo era evidente, sem qualquer tentativa de esconder.— Você é tão sensível quanto naquela noite. — Não sou! — Florence rebateu imediatamente.— Não? Naquela noite você dizia outra coisa. — Ele riu baixo, a voz carregada com um tom provocador e perigoso.O homem deslizou o polegar, adornado por um anel, sobre a gota d’água que corria por sua pele. O toque tinha uma temperatura peculiar, ao mesmo tempo confortável e perturbadora. Florence encolheu levemente o abdômen, soltou um leve suspiro e, antes que pudesse reagir, já estava novamente sendo beijada por Lucian.— Hm…
Depois de preparar o café, Florence o levou para a sala de estar.Naquele dia, era raro ver tantas pessoas juntas, e até mesmo Theo, com sua sempre rígida expressão, demonstrava um leve sorriso.Após distribuir as xícaras, Florence se colocou discretamente atrás de Lyra e Bryan, tentando permanecer invisível, como de costume.Foi então que Lucian entrou na sala. A mancha de água ainda estava visível na sua gola.Melissa franziu as sobrancelhas, curiosa.— Lucian, você é sempre tão cuidadoso com sua aparência. Como é que sua roupa está suja?Lucian se sentou, pegou sua xícara de café e, após lançar um olhar breve para Florence, respondeu com indiferença:— Foi o gato.Melissa riu, levando a xícara aos lábios.— Que gato interessante. Bateu direto na sua boca, foi?Lucian soprou levemente o café antes de tomar um gole.— Foi. Com bastante força, inclusive.Ao ouvir isso, Florence abaixou rapidamente a cabeça. O vapor quente do café parecia subir direto para seu rosto, que já estava em ch