Depois daquele beijo, tudo mudou.
Nos dias que seguiram, Fellipo a evitava como se o próprio toque dela o queimasse. Ele sumia da mansão, mergulhando nas missões mais perigosas, voltando coberto de sangue e com o olhar ainda mais sombrio. Cecilia fingia que nada tinha acontecido, mas por dentro sentia-se despedaçada. A cada noite que passava, ela se perguntava se tinha feito algo errado ou se o que viveram havia sido só um impulso do momento.
Até que, uma noite, ela o encontrou no jardim, sentado no banco de pedra sob a luz fraca da lua. Ele estava com um cigarro entre os dedos, mas nem parecia notar a fumaça que subia lenta no ar.
— Por que você está fugindo de mim? — Cecilia perguntou, sua voz quebrada, mas firme.
Fellipo riu sem humor, balançando a cabeça.
— Eu não estou fugindo, Cecilia. Estou te protegendo.Ela se sentou ao lado dele, mesmo quando ele se enrijeceu com a proximidade.
— Protegendo de quê? De você?Ele virou o rosto para encará-la, os olhos carregados de um peso que Cecilia ainda não entendia completamente.
— Eu não sou como você. Não posso te dar o que você quer... o que você merece.— E o que eu quero, Fellipo? — ela sussurrou, com o coração disparado.
Ele apertou a mandíbula, os dedos tremendo sobre o joelho.
— Você quer amor. Quer ser cuidada, protegida... quer alguém que fique. Mas eu sou feito de destruição, Cecilia. Eu só sei quebrar as coisas que toco.As palavras dele rasgaram o peito dela, mas, ao invés de recuar, Cecilia segurou a mão dele com delicadeza.
— Eu não tenho medo de você, Fellipo. E, se você acha que vai me afastar com essas palavras, está enganado.Ele a olhou como se estivesse diante do maior desafio da sua vida — e, talvez, estivesse mesmo. Sem dizer nada, levantou-se e foi embora, deixando Cecilia com a sensação de que estava lutando contra um muro que não sabia se algum dia desmoronaria.
Mas a vida, imprevisível como sempre, tinha outros planos.
Nos meses que se seguiram, a amizade entre Cecilia e Samara floresceu como uma árvore forte e cheia de vida. Elas se apoiavam mutuamente, compartilhando segredos, risadas e lágrimas. O vínculo se tornou tão profundo que, em pouco tempo, já não eram apenas amigas — eram irmãs de alma. Cecilia se sentia finalmente pertencendo a um lugar, com alguém que a compreendia sem julgamentos.
Uma noite especial foi o baile organizado pela família da máfia. Cecilia se sentiu como uma princesa ao se arrumar com a ajuda de Samara, que, mesmo grávida e cansada, não poupou esforços para vê-la linda. No baile, Cecilia conheceu John subchefe americano — um rapaz carismático, educado, que logo se tornou um amigo constante. Eles trocaram números e começaram a conversar com frequência, o que trouxe leveza aos dias dela.Fellipo morria de ciúmes mas além de surta nada fala , e John não se abalava pois dizia que Fellipo era um medroso.
Enquanto isso, os encontros com Fellipo mudaram. Se antes ele aparecia uma vez por semana, agora era quase diário. Ele a buscava com desculpas bobas — dizer que estava de passagem ou que precisava ver se Thor estava bem. Mas, apesar da presença constante, Fellipo nunca falava sobre o que eram. Nunca a chamava de namorada, nunca mencionava a possibilidade de estarem juntos de verdade.
Cecilia se pegava remoendo pensamentos dolorosos. Será que ele não a queria porque ela não era mais virgem? Será que, para ele, isso a tornava indigna? A dúvida corroía sua autoestima, e, por mais que tentasse afastar a ideia, ela voltava como um fantasma cruel.
Antes, ela conversava com Samara sobre tudo, mas agora isso era mais difícil. Samara estava cada vez mais envolvida com Leonardo, sob a vigilância constante do Dom, e as duas quase não tinham mais tempo para longas conversas. Cecilia entendia, claro — sabia que a amiga estava vivendo sua própria história, com seus próprios desafios. Mas isso não tornava a solidão menos dolorosa.
Ela se sentia desgastada, confusa, presa em uma montanha-russa emocional que não sabia como parar. Amava Fellipo, mas era como se estivesse amando um homem que nunca a deixaria entrar completamente. E isso a estava destruindo, pedacinho por pedacinho.
Cecilia sempre foi o alicerce do pai. Desde que a mãe morreu, ela assumiu o papel de cuidadora com uma devoção que ia além do dever filial — era amor puro, incondicional. Pietro Romano seu pai seu herói, mesmo nos dias mais confusos, ainda enxergava a filha como sua maior alegria.Nos bons momentos, ele a chamava para sentar no jardim e contava histórias do tempo em que servia à máfia com honra. Falava dos amigos que se tornaram irmãos e de como o código de lealdade era tudo para ele. Cecilia ouvia cada palavra com atenção, mesmo que já conhecesse as histórias de cor. Ela sorria, concordava, fazia perguntas — tudo para prolongar aqueles momentos de lucidez que pareciam se dissipar cada vez mais rápido.Nos dias ruins, porém, era como se Pietro se perdesse dentro de si mesmo. Havia vezes em que ele não reconhecia Cecilia, a olhando com desconfiança ou chamando-a pelo nome da falecida esposa. Isso dilacerava a alma dela, mas, ao invés de se afastar, ela se agarrava ainda mais a ele. Tro
Naquela noite, depois de colocar o pai para dormir e conferir se Thor estava tranquilo aos pés da cama, Cecilia se recolheu ao quarto. O cansaço pesava nos ombros, mas a mente girava sem parar — revivendo cada palavra dita pelo pai, cada olhar silencioso que Fellipo lançava para ela.Ela se deitou, abraçada ao travesseiro, tentando se convencer de que estava tudo bem. Que ela era forte. Que conseguia carregar aquele fardo sozinha. Mas, antes que o sono a vencesse, ouviu três batidas suaves na porta.Era sempre assim.Cecilia levantou, o coração acelerado, e abriu a porta. Fellipo estava lá, com a postura descontraída de sempre, mas os olhos escuros denunciavam algo mais profundo. Ele não disse nada — apenas segurou o rosto dela com uma mão firme, puxando-a para um beijo intenso, como se aquilo fosse a única maneira de dizer o que sentia.Depois, abaixou-se para acariciar Thor, que já o conhecia o suficiente para abanar o rabo, satisfeito. Só depois disso, Fellipo entrou, sentando-se n
Depois de um tempo, os soluços de Cecilia foram diminuindo, e o corpo dela relaxou nos meus braços. O peito dele subia e descia devagar, como se quisesse ditar o ritmo para que ela se acalmasse.Ela ficou ali, de olhos fechados, sentindo o calor dele contra a pele. A mão de Fellipo continuava a deslizar pelos fios do cabelo dela com uma delicadeza que contrastava com a brutalidade que ele mostrava para o mundo ela tinha dormido no seu peito mais uma vez. Era como se, com ela, ele pudesse se permitir ser outra coisa. ela já tinha acordado fazia 4 minutos mais ele não a tirou do seu peito e quando ela falou :— Você deve me achar fraca — Cecilia sussurrou, quebrando o silêncio.Fellipo parou de acariciar o cabelo dela por um instante, mas logo retomou o movimento.— Fraca? — ele repetiu, com um tom de descrença. — Você segura o peso de duas vidas sozinha, Cecilia. Não tem nada de fraca nisso.Ela mordeu o lábio, sentindo as lágrimas voltarem a ameaçar cair.— Mas às vezes eu só queria..
Depois que tudo estava organizado e todos trabalhado, Cecilia ficou sentada por um tempo, olhando para o jardins. O peito ainda estava apertado, como se as palavras dele estivessem presas na pele dela. "Eu tô aqui." Mas até quando? A promessa parecia grande demais para quem se recusava a assumir o que sentiam.Mais tarde, Cecilia foi até o quarto de Samara. Assim que a amiga abriu a porta e viu o rosto cansado dela, não hesitou em puxá-la para dentro.— O que aconteceu? — Samara perguntou, fechando a porta e guiando Cecilia até a cama.Cecilia sentou-se, passando as mãos pelo rosto.— Eu não sei mais o que fazer com o Fellipo — confessou, a voz embargada. — Ele é tão... confuso. Parece que se importa, mas ao mesmo tempo foge de mim como se eu fosse algum tipo de ameaça.Samara franziu a testa, sentando-se de frente para ela.— Ele te trata mal? — perguntou, já com aquele tom protetor que Cecilia conhecia bem.— Não... é o contrário, na verdade — Cecilia murmurou, encarando as próprias
Cecilia guardou o celular sem terminar a mensagem para a clínica. Ela respirou fundo, tentando afastar a culpa que latejava no peito, e decidiu ir até o jardim onde o pai costumava ficar nas tardes mais tranquilas.Thor seguiu animado ao lado dela, mas assim que chegaram perto do banco de madeira sob a grande árvore, o cachorro diminuiu o ritmo, como se entendesse que precisava ser mais delicado. O pai de Cecilia estava sentado, olhando para as flores com um sorriso sereno, os dedos trêmulos acariciando o ar como se quisesse tocá-las de longe.— Papai? — Cecilia chamou baixinho, se aproximando devagar.Ele virou o rosto e, por um instante, o olhar pareceu perdido. Mas, então, ele olhou para Thor e os olhos brilharam de reconhecimento.— É o Thor! — ele disse, rindo. — Aquele grandão desajeitado.Cecilia sorriu, o coração apertado, mas grata pelo momento. Thor, como se soubesse que precisava ser gentil, deitou-se ao lado do banco e enfiou a cabeça sob a mão do pai dela, que começou a f
Depois de passarem um tempo no jardim, os três foram para a cozinha, onde Cecilia preparou o café da manhã. Ela montou a mesa com calma, tentando estender aquele momento simples, mas precioso.Fellipo se sentou ao lado do pai dela, enquanto Thor se deitava aos pés da mesa, sempre atento. Eles comeram juntos, conversando sobre trivialidades — ou, melhor, Cecilia e Fellipo conversavam. O pai dela divagava entre memórias confusas e momentos de lucidez, mas, mesmo assim, sorria.— Você gosta de cozinhar, menina? — o pai de Cecilia perguntou, como se não a conhecesse.Ela sorriu com gentileza, já acostumada com as perguntas repetidas. — Gosto, sim, senhor.Ele assentiu, pensativo, depois apontou para Fellipo com a xícara de café. — E esse aí? Seu namorado?Fellipo engasgou com o café, tossindo, enquanto Cecilia ficava vermelha como um tomate. — Ele é meu amigo — ela disse, desviando o olhar.O pai dela balançou a cabeça, rindo baixinho. — Sei.Fellipo limpou a boca com o guardanapo e m
Depois de passarem um tempo no jardim, os três foram para a cozinha, onde Cecilia preparou o café da manhã. Ela montou a mesa com calma, tentando estender aquele momento simples, mas precioso.Fellipo se sentou ao lado do pai dela, enquanto Thor se deitava aos pés da mesa, sempre atento. Eles comeram juntos, conversando sobre trivialidades — ou, melhor, Cecilia e Fellipo conversavam. O pai dela divagava entre memórias confusas e momentos de lucidez, mas, mesmo assim, sorria.— Você gosta de cozinhar, menina? — o pai de Cecilia perguntou, como se não a conhecesse.Ela sorriu com gentileza, já acostumada com as perguntas repetidas.— Gosto, sim, senhor.Ele assentiu, pensativo, depois apontou para Fellipo com a xícara de café.— E esse aí? Seu namorado?Fellipo engasgou com o café, tossindo, enquanto Cecilia ficava vermelha como um tomate.— Ele é meu amigo — ela disse, desviando o olhar.O pai dela balançou a cabeça, rindo baixinho.— Sei.Fellipo limpou a boca com o guardanapo e mudou
Cecilia passou a noite virando de um lado para o outro na cama, com Thor deitado aos pés, respirando pesado no sono tranquilo de quem não carregava o peso de um coração partido.Ela havia preparado o quarto, tomado banho, arrumado os cabelos, na esperança de que Fellipo aparecesse como fazia todas as noites. Mas o tempo passou, e a madrugada engoliu sua expectativa. Quando o sol começou a invadir as frestas da cortina, ela desistiu de lutar contra o cansaço.Por volta das cinco da manhã, o barulho do portão da mansão abriu seus olhos de súbito. Cecilia vestiu uma blusa qualquer e desceu as escadas devagar. A cena que encontrou a fez sentir o estômago revirar.Fellipo atravessava o hall, a camisa branca amassada, marcada por uma mancha de batom vermelho. O cheiro forte de perfume doce e barato impregnava o ar ao redor dele. Os cabelos bagunçados denunciavam uma noite que ele, claramente, não passara sozinho.Ele percebeu a presença dela, mas não levantou o olhar.— Tá acordada cedo — m